1/10/2013, [*] Manlio Dinucci, Il Manifesto, It. – L'ARTE DELLA
GUERRA
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Barack Obama por Donkey Hotey |
Durante
o primeiro mandato, o presidente Obama afastou-se formalmente da política
exterior e militar de seu antecessor, George W. Bush, dando a impressão de que
os EUA já não desejariam continuar sendo “os policiais do mundo”, e que
alterariam o desempenho que tinham então no Afeganistão e em outros pontos, para
concentrar-se em seus problemas internos. Nasceu assim a doutrina que seria
chamada “doutrina Obama”.
Mas
a guerra jamais saiu da agenda do governo Obama: foi o que se viu na guerra
contra a Líbia, conduzida em 2011 pela OTAN sob o comando dos EUA, com massivo
ataque aéreo e com força sustentada infiltrada do exterior.
No
início do segundo mandato, o presidente anunciou que “os EUA estão virando a
página”. Mas a página seguinte também era página de guerra.
A
nova estratégia previa o uso de forças armadas mais flexíveis e prontas a agir
rapidamente, dotadas de sistemas de armas sempre da mais alta tecnologia. Previa
emprego sempre maior dos serviços secretos e das forças especiais. No novo modo
de fazer guerras, o ataque aberto é preparado e acompanhado por ação
clandestina, orientada para minar por dentro o país atacado. Como foi feito na
Líbia, e faz-se hoje na Síria, armando e treinando “rebeldes”, na maioria não
sírios, muitos dos quais alistados em grupos islamistas oficialmente
considerados grupos terroristas.
Simultaneamente,
o presidente Obama enuncia a nova “estratégia de contraterrorismo”: da “guerra
ilimitada ao terror”, passava-se a uma série de “ações letais focadas” com o
objetivo de “desmantelar redes específicas de extremistas violentos que ameaçam
os EUA”. Essas ações empregavam cada vez mais drones armados, cujo
emprego é considerado “legal”, porque os EUA estariam numa “guerra justa, de
autodefesa”.
O
Democrata Obama, se autoapresentando como “pomba” (laureado com o Prêmio Nobel
da Paz), apenas dá continuidade à estratégia do ‘falcão’ Republicano, apoiador
declarado da intervenção armada.
Samantha Power |
Como justificar tal metamorfose? É
quando entra em cena Samantha Power, então docente em Harvard [1], ganhadora de um Prêmio Pulitzer
[2003] com um livro no qual expõe sua teoria da “responsabilidade de proteger”
que caberia aos EUA em “tempos de genocídio”. [2] La Power é nomeada para o
Conselho de Segurança Nacional (órgão do qual fazem parte os principais
comandantes das Forças Armadas e dos serviços secretos, com a competência de dar
aconselhamento ao presidente sobre sua política externa e militar). Obama em
seguida a põe na presidência de um novo “Comitê para a Prevenção de Atrocidades”
e, por fim, lhe dá o posto de embaixadora dos EUA nas Nações Unidas. E La
Power será a principal artífice da campanha que preparou a guerra contra a
Líbia, apresentando-a como necessária para pôr fim a violações de direitos
humanos. E é sempre ela que, sob os mesmos motivos, trabalha a favor de que os
EUA ataquem a Síria.
Sem dúvida há a mão de Samantha
Power também no recente discurso do presidente Obama à ONU. Sobretudo quando diz
que, ante os conflitos no Oriente Médio e no Norte da África, “o perigo para o
mundo não advém de EUA impacientes demais para imiscuir-se em assuntos de outros
países”, mas, sim, “de os EUA não se empenharem suficientemente, criando um
vácuo de liderança que nenhum outro país está pronto para preencher.” E assim,
os EUA reivindicam o direito de intervir militarmente onde bem entendam. Não por
autointeresse, mas porque lhes cabe a sacrossanta “responsabilidade de
proteger”. [3]
____________________________
Notas
dos tradutores
[1]
Samantha Power é jornalista, foi
correspondente de guerra nos Bálcãs, antes de fundar o Centro Carr de Políticas
de Direitos Humanos em Harvard, onde passou a
lecionar.
[2]
O livro é A Problem from Hell: America in the Age of Genocide [Um
problema do inferno: EUA na Era do Genocídio], de 2002. Sobre ele, ver também
8/10/2013, redecastorphoto em: “Abusos da Realidade: o excepcionalismo dos EUA e a
doutrina Obama”, Noam Chomsky, Information Clearing House,
em port..
[3]
Ao conceito da “responsabilidade de proteger”, a presidenta Dilma Rousseff do
Brasil opôs o conceito de “responsabilidade ao proteger”: “O Brasil sempre
lutará para que prevaleçam as decisões emanadas da ONU. Mas queremos ações
legítimas, fundadas na legalidade internacional. Com esse espírito, senhor
presidente, defendi a necessidade da “responsabilidade ao proteger”, como
complemento necessário da “responsabilidade de proteger” (21/9/2011, “Discurso da presidenta Dilma Rousseff”,
66ª. Assembleia Geral da ONU.
[*] Manlio
Dinucci é geógrafo e
geopolíticólogo italiano. Últimas publicações : Geocommunity
Ed. Zanichelli 2013 ; Geografia
del ventunesimo secolo, Zanichelli 2010; Escalation.
Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi
2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.