Mas há uma deriva histórica inevitável
10/11/2013, Blog Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Conversações P5+1 (França, Reino Unido, EUA, Russia , China + Alemanha) e Irã |
A França
foi e é um dos maiores proliferadores nucleares no Oriente Médio. Ao mesmo
tempo em que trabalhou e continua a trabalhar para que vários países construam
bombas atômicas, trabalha também para negar todas e quaisquer capacidades
nucleares civis a outros países. As razões básicas são ganância e certa
nostalgia da passada grandeur que hoje já não dispõe dos necessários
meios econômicos e militares.
Evolução do estoque de bombas nucleares por Israel |
Dia 3/10/1957,
França e Israel assinaram acordo revisto pelo qual a França compromete-se a
construir um reator de 24 MWt (cujos sistemas de resfriamento e disposição de
resíduos estão previstos com capacidade para três vezes essa potência) e, por
protocolos não formalizados em acordo escrito, uma usina de reprocessamento químico.
Esse complexo foi construído em segredo, sem qualquer inspeção pelo sistema
da Agência Internacional de Energia Atômica, por técnicos franceses e
israelenses em Dimona, no deserto de Negev sob o comando do coronel Manes
Pratt do Ordinance Corps do Exército de Israel.
Saudi
Gazette [Gazeta Saudita], 3/10/2013: “França
preparada para ser parceira estratégica do Reino Saudita em energia atômica
renovável”
Foto da reunião França Sauditas em 2/10/2013 sobre o programa nuclear da Arábia Saudita |
Em
entrevista à Saudi Gazette, o
embaixador francês ao Reino Saudita disse que: “o objetivo dessa reunião é
muito claro. A França foi o primeiro país a assinar acordo governo-a-governo
para energia nuclear, porque nós optamos por levar a sério o gigantesco
programa que o governo saudita quer implantar no campo nuclear, e
a França tem muito a oferecer em termos da melhor tecnologia nuclear que há no
mundo”.
Hollande e Netanyahu - Paris 31/10/2013 |
Um dia
depois que Benjamin Netanyahu pediu à França que endurecesse contra o Irã, o
presidente francês François Hollande falou com o primeiro-ministro de Israel
por telefone e prometeu o apoio francês.
Laurent Fabius, Ministro de RE da França, bloqueou o que chamou de "acordo tolo" |
Três dias
intensos de diplomacia de alto nível e altas apostas terminaram em Genebra sem
acordo sobre o programa nuclear iraniano, depois que a França bloqueou
um acordo conciliatório que visava a diluir as tensões e a ganhar mais
tempo para mais negociações.
(...)
Os
diplomatas reunidos para as conversações mostraram-se indignados com o que fez
o ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, o qual acusam de
ter rompido o pacto dos negociadores e ter revelado detalhes das negociações já
ao chegar a Genebra no sábado pela manhã; Fabius outra vez quebrou o protocolo
ao anunciar resultados à imprensa, antes que Ashton e Zarif tivessem chegado à
conferência de imprensa final.
Um acordo
temporário em Genebra teria sido um primeiro passo para acordo nuclear mais
amplo que teria resgatado o Irã, “do frio”. Teria sido o início de um movimento
de “Pivô para a Pérsia”, depois do qual os EUA poderiam contrabalançar suas
difíceis relações com Israel e Arábia Saudita, com relações mais harmoniosas
com o Irã. Sem esse realinhamento no Oriente Médio, os EUA ficarão militarmente
e financeiramente incapazes de executar seus planos de movimento de “pivô para
a Ásia”.
A França
fez gorar o acordo histórico e, apesar de a França já ter dados sinais prévios,
os demais países “ocidentais” envolvidos não estavam preparados para o golpe,
nem seus ministros de Relações Exteriores encontraram meios para enfrentar a
intransigência dos franceses. Essa divisão dentro do grupo P5+1 de negociações
com o Irã compromete o futuro de quaisquer negociações: com quem o Irã
negociará, se não há unidade na oposição?
Esse
rompimento que se enfrenta hoje dá ao Congresso dos EUA e aos lacaios de
Netanyahu uma chance para introduzir mais sanções contra o Irã, incluindo-as
nas próximas semanas na Lei de Autorização da Defesa Nacional [orig. National
Defense Authorization Act].
Mas a
desunião interna no P5+1 é, pelo menos no curto prazo, positiva para o Irã. Já
ninguém pode acusar a República Islâmica de não querer negociar e de não estar
buscando ativamente algum tipo de composição.
As sanções
que o Congresso dos EUA está para aprovar são sanções contra terceiros, pelas
quais serão “punidos” outros países que negociem com o Irã. Dado que obviamente
não se trata apenas do interesse do Irã em negociar com outros países, mas de
outros países negociarem com o Irã, nada assegura que esses terceiros países
disponham-se a obedecer a algum diktat do Congresso dos EUA.
Não há
dúvidas de que o regime de sanções está ruindo. De início, está ruindo em ritmo
lento; mas adiante ruirá cada vez mais rapidamente.
É muito
improvável que França, Arábia Saudita e Israel consigam bloquear por mais de um
ano, um ano e pouco, um acordo para o Irã.
Mas há uma
lógica histórica em os EUA e, em geral, o “ocidente” mudarem de rumo na direção
da Pérsia, porque esse movimento “de pivô”, em nova direção, os livra dos
“aliados” muito caprichosos aos quais estão ligados atualmente no Oriente
Médio.
A reação
hostil da opinião pública dos EUA contra a ideia de o país fazer guerra à Síria
foi sinal de que várias mudanças (históricas) nas atuais alianças já são
inevitáveis.
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