27/11/2013, Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Papa Francisco e o menino |
O Papa
Francisco distribuiu uma Exortação Apostólica (já em português) na qual expõe seus
pensamentos sobre como e por quais vias deve andar a igreja católica. Parte do
documento é uma crítica ao sistema econômico neoliberal dominante no “ocidente”
e que se dissemina pela globalização.
Aqui,
alguns excertos da Evangelium
Gaudium [A Alegria do Evangelho] (negritos do autor)
Não a uma
economia da exclusão
53. Assim
como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da
vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e
da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por
enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de
dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se
lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade
social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte,
onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes
massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem
perspectivas, num beco sem saída.
[...]
54. Neste
contexto, alguns defendem ainda as teorias da «recaída favorável» que
pressupõem que todo o crescimento econômico, favorecido pelo livre mercado,
consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta
opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua
na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados
do sistema econômico reinante. [...] A cultura do bem-estar anestesia-nos,
a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não
compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos
parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma.
Não à nova
idolatria do dinheiro
[...]
56.
Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se
cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio
provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação
financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados
de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível,
às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e
as suas regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os
países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real
poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma
evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e
do ter não conhece limites. Neste sistema que tende à antropofagia em cada um e
todos para aumentar os lucros, qualquer realidade que seja frágil, como o meio
ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado,
transformados em regra absoluta.
Não a um
dinheiro que governa em vez de servir.
[...]
58. Uma
reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança
de atitudes por parte dos dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este
desafio com determinação e clarividência, sem esquecer naturalmente a
especificidade de cada contexto. O dinheiro deve servir, e não governar! O Papa
ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de Cristo, de lembrar
que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a
uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a
uma ética propícia ao ser humano.
Não à desigualdade social que gera violência
59. [...] Quando
a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de
si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos
que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece
apenas porque a desigualdade social provoca a reação violenta de quantos são
excluídos do sistema, mas porque o sistema social e econômico é injusto na sua
raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido,
que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar,
silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais
sólido que pareça. Se cada acção tem consequências, um mal embrenhado nas
estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte.
É o mal cristalizado nas estruturas sociais injustas, a partir do qual não
podemos esperar um futuro melhor. Estamos longe do chamado «fim da
história», já que as condições dum desenvolvimento sustentável e pacífico ainda
não estão adequadamente implantadas e realizadas.
Deputados e
senadores conservadores nos EUA [no Brasil, então NEM SE FALA!] muitos
dos quais são católicos, terão problemas com essas teses.
Será que
denunciarão o Papa como comunista antissemita?
Se a igreja
católica, os crentes e os simpatizantes abraçarem esse discurso e começarem a
trabalhar na linha que o seu Papa Francisco sinalizou, haverá grandes e muito
positivas consequências para todos nós.
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[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar”
ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com
música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na
ópera A Ascensão e a Queda da
Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem
Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita
em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por
vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967).
No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em
“Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à guisa de
homenagem. Pode ser ouvida a seguir:
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