10/12/2013, [*] Tony Cartalucci, Blog Land Destroyer (excertos)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Seymour Hersh |
O
jornalista e prêmio Pulitzer, Seymour Hersh, que em 2007 já denunciara planos
de EUA-Israel-Sauditas para usar a al-Qaeda como “preposta” para derrubar
o governo sírio, acaba de publicar outro artigo importantíssimo, “Sarin
de quem?” No artigo, Hersh diz (negritos nossos):
Barack Obama não contou a história inteira
esse outono, quando tentou argumentar que Bashar al-Assad seria responsável
pelo ataque com armas química próximo de Damasco, dia 21 de agosto. Em alguns pontos omitiu inteligência
importante, em outros apresentou pressuposições como se fossem fatos. Mais
importante, não reconheceu algo que toda a comunidade de inteligência dos EUA
já sabe: que o exército sírio não é o único envolvido na guerra civil síria que
tem acesso ao gás sarin, o agente de ação neurológica que, conforme estudo da
ONU – sem competência para fazer esse tipo de avaliação – teria sido usado no
ataque com foguete. Nos meses anteriores ao ataque, as agências de inteligência
norte-americanas produziram vários relatórios altamente secretos, que
culminaram numa Operations Order formal – documento de planejamento que precede
invasão por terra – que cita provas de que a Frente al-Nusra, grupo
jihadista afiliado à al-Qaeda, já dominava a mecânica da produção de gás sarin
e podia produzir em grandes quantidades. Quando o ataque aconteceu, a Frente
al-Nusra tinha de estar na lista de suspeitos; mas o governo Obama selecionou a
dedo a inteligência que lhe interessava para justificar um ataque contra Assad.
O longo artigo
expõe detalhes, cobrindo o modo como líderes ocidentais intencionalmente
manipularam – e até inventaram! – inteligência, para justificar a intervenção
militar na Síria, delírio semelhante às mentiras
criadas para justificar a invasão e a ocupação do
Iraque e a escalada na guerra no Vietnã, depois do incidente
no Golfo de Tonkin.
....
A matéria
também revela que a Frente Al-Nusra, afiliada da Al-Qaeda na Síria, foi
identificada por agências de inteligência dos EUA como o único grupo que
possuía armas químicas.
São, aliás,
os mesmos terroristas para cuja ação o mesmo Hersh já alertava em 2007, em
artigo intitulado “O
redirecionamento: a nova política do governo [dos EUA] estará beneficiando os
inimigos dos EUA, na guerra ao terror?”, [1]
no qual Hersch escreveu, profético (negritos nossos):
Para minar o Irã, que é predominantemente
xiita, o governo Bush já decidiu reconfigurar suas prioridades no Oriente
Médio. No Líbano, o governo Bush cooperou com o governo da Arábia Saudita, que
é sunita, em operações clandestinas que visavam a enfraquecer o Hezbollah,
organização xiita apoiada pelo Irã. Os EUA também tomaram parte em operações
clandestinas contra o Irã e sua aliada, a Síria. Efeito colateral dessas
atividades foi o crescimento explosivo de grupos sunitas extremistas que têm
uma visão militante do Islã e que são hostis aos EUA e simpáticos à Al-Qaeda.
Agora, em
2013, Hersh volta a alertar a opinião pública de que há uma conspiração,
orquestrada pelo ocidente, para usar terroristas no golpe para derrubar o
governo soberano da Síria (com eventos que são o exato desdobramento do que Hersh
já previra há vários anos); e que aqueles terroristas podem usar e
usaram armas químicas. Hersh também expôs o modo sistemático como o ocidente mentiu
sobre o ataque em Damasco, dia 21/8/2013, em que se usaram armas
químicas.
Em seu
artigo dessa semana, Hersh propôs uma pergunta fundamental que, contudo, ainda
não foi adequadamente respondida por nenhum dos que insistem que o governo
Assad teria sido responsável pelo uso de
armas químicas:
A distorção que o governo Obama criou em
todos os fatos que cercam o gás sarin obriga a fazer uma pergunta inevitável:
será que já conhecemos, mesmo, toda a história do quão rapidamente Obama
afastou-se da “linha vermelha” que ele mesmo criara, sua ameaça de bombardear a
Síria? (...) Parece razoável e possível que, em algum momento desse processo,
Obama tenha recebido informação que andava na direção contrária de tudo que a
inteligência dos EUA lhe dizia: provas suficientemente fortes para convencê-lo,
muito rapidamente, a cancelar o plano de ataque e ver-se obrigado a encarar a crítica
que, sem dúvida possível, receberia dos
Republicanos.
O ocidente
abandonou seus planos de intervenção militar na Síria, porque o mundo rejeitou
essa narrativa e, apesar das garantias de que o ocidente tinha inteligência
aérea forte e confiável, mesmo muitos meses depois ainda nada se ouviu: o “sigilo”
permanece. É claro que o ocidente desejava intervenção militar plena; e que, se
tivesse inteligência real que ligasse os ataques ao governo sírio, as provas
com certeza teriam sido expostas.
É o que
Hersh explica: para começar, jamais existiu prova alguma; e a “ação” dos EUA na
Síria ficou na total dependência da capacidade dos norte-americanos para
conseguir impingir à opinião pública mais um pacote de mentiras.
Contudo,
apesar da capitulação do ocidente na Síria, e de meses já transcorridos sem que
sequer um fiapo de prova tenha sido exibida, jornalistas empregados da
imprensa-empresa ocidental continuam a repetir e perpetuar a narrativa das
mentiras.
Entre esses
agentes de deformação da opinião pública estão muitos think-tanks mantidos
por empresas e empresários, como a Brookings
Institution, a revista Foreign Policy, a Foundation for the Defense of Democracies (FDD) e jornalões do establishment
como o The Guardian. E no centro dessa “avançada” do atraso
jornalístico está, dessa vez, um autoproclamado especialista de armas, Eliot
Higgins, que se vê como manifestação encarnada da propaganda ocidental
2.0. (...)
A
imprensa-empresa ocidental, com seus agentes de propaganda expulsos da Síria, e
com muitas de suas “fontes” na Síria já desmascaradas, depois de várias
tentativas para implantar informes
falsos e inventar provas, rapidamente convocou Higgins, que foi
promovido, do cargo de autoproclamado blogueiro de poltrona, para o trono de
“especialista e analista conhecido”. Nessa nova condição, Higgins uniu-se, como
mais um agente individual, à já desacreditada ONG “Observatório Sírio
de Direitos Humanos”. Assim se
constituiu a base a partir da qual são emitidas todas as invencionices e todos
os boatos de que se alimenta a narrativa ocidental “jornalística” sobre a
Síria. (...)
Exército
Eletrônico Sírio (Syrian Electronic Army, SEA) expõe uma “mídia”
ocidental depravada
Higgins &
Cia. talvez ainda não tenham visto, mas matéria distribuída pela CNN acaba de
revelar que Higgins (com certeza) e provavelmente vários outros jornalistas
receberam informações de um empresário norte-americano que estava na Síria, de
que militantes islamistas haviam tido acesso liberado às armas químicas e –
mais importante – estavam planejando usá-las em ataque a ser atribuído ao
Exército Árabe Sírio. Essa informação foi dada àqueles jornalistas meses antes
do ataque de 21/8 em Damasco.
Essa
semana, o Exército Eletrônico Sírio (Syrian Electronic Army, SEA) distribuiu e-mails
trocados entre o empresário norte-americano, Matthew Van Dyke e jornalistas da
empresa-imprensa ocidental, dentre os quais o próprio Higgins. Os e-mails
mostravam que os militantes já tinham armas químicas e que planejavam usá-los
num ataque que seria atribuído ao governo sírio – e que abriria o caminho para
intervenção estrangeira mais ampla. Os e-mails do SEA foram
confirmados pelo próprio Higgins em uma série de tuítes autoincriminatórios, nos quais tenta responder, ponto a
ponto, às revelações que o comprometem.
Os e-mails agora distribuídos são mensagens trocadas sobre armas químicas que teriam caído nas mãos de terroristas que planejavam usá-las numa operação a ser atribuída a outros, com o “benfeitor” de Higgins e Van Dyke, localizado em Virginia, “perto de DC” (Langley, Virginia?), e ofertas de emprego para Higgins, feitas por ONGs, e um empresário fornecedor do Departamento de Defesa e que envolviam “inteligência de fonte aberta” – a nova “palavra de trabalho” que Higgins e Whitaker usavam para falar da forma de propaganda em que estavam trabalhando.
Jornalistas-propagandistas
podem ganhar MUITO dinheiro
Os e-mails
comprovam que já havia quem soubesse que as armas químicas haviam caído em mãos
de terroristas que planejavam usá-las em crime que seria atribuído a outros.
Higgins e outros jornalistas sabiam disso – o que agora também aparece
reafirmado no artigo de Seymour Hersh – embora continuem a repetir que os
terroristas não teriam nem a capacidade nem os meios para realizar os ataques
químicos. De fato, tudo leva a crer que os grandes jornais ocidentais e
subalternos como Higgins operaram como o fizeram, especificamente para
desacreditar a ideia, que então já estava circulando, de que [o ataque de 21/8
em] Damasco poderia ter sido “encenado” para ser atribuído ao governo Assad. Em
outras palavras, todo o trabalho desses jornalistas e empresas pode ter sido,
todo ele, preparado para dar cobertura ao ataque à Síria.
Os
e-mails acima e outros naquele grande arquivo também revelam a possível motivação para
todas aquelas mentiras.
Os ditos “jornalistas”
e pesquisadores dedicados a repetir e repetir a narrativa ocidental parecem ter
recebido várias ricas ofertas de dinheiro e de financiamento, para que
continuassem a fazer o trabalho no qual já estavam envolvidos. Pagamentos que
se manteriam, é claro, só enquanto a produção “jornalística” deles se
mantivesse afinada com os desejos de instituições, empresas e indivíduos que
assinam os cheques. (...)
Nota do autor: Os interessados encontram farto material para
pesquisa nos arquivos de e-mails
vazados pelo Exército Eletrônico Sírio (SEA). E podem seguir o
SEA, pelo Twitter: @Official_SEA16.
Nota dos tradutores
[1] 5/3/2007 (orig.) “The
Redirection. Is the
Administration’s new policy benefitting our enemies in the war on terrorism?”, Seymour M.
Hersh, New Yorker. (Atenção: Observar que, então, em 2007,
o “[movimento de] pivô”, de Obama, para fora de lá, ainda era o “redirecionamento”,
de Bush, para dentro: O “redirecionamento”, como alguém dentro da Casa Branca
chamou a nova estratégia, empurrou os EUA para mais perto de um confronto com o
Irã e, em algumas partes da região, inflou um conflito sectário entre
muçulmanos xiitas e sunitas” (loc. cit., aqui traduzido)
____________________
[*] Tony Cartalucci é um pesquisador de geopolítica e escritor sediado em
Bangkok, Tailândia. Seu trabalho visa cobrir os eventos mundiais a partir de
uma perspectiva do Sudeste Asiático, bem como promover a auto-suficiência como
uma das chaves para a verdadeira liberdade.
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