quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Secretário-Geral, Sayyed Hassan Nasrallah, do Hezbollah: “Nossa presença na Síria nos honra”

3/12/2013, Al-ManarTV, Líbano
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Sayyed Hassan Nasrallah durante a entrevista no canal OTV, do Líbano
O secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, disse na 3ª-feira, 3/12, que o acordo nuclear iraniano teve implicações significativas; e que acredita que os principais vencedores já são os povos da região.

Nos anos recentes houve interesses regionais e internacionais que empurraram na direção de guerra contra o Irã. Não foi fácil ou simples, porque o Irã não é país fraco nem isolado. A opção pela guerra ao Irã teve implicações sérias sobre a região – disse o secretário-geral, em entrevista ao vivo ao canal OTV, do Líbano.

Assim sendo, a primeira implicação do acordo foi o adiamento da guerra contra o Irã – disse Sua Eminência.

Para ele, não é viável que a entidade sionista venha a atacar as instalações nucleares iranianas, se não receber luz verde dos EUA. Disse também que entende que o acordo não terá impactos negativos sobre Líbano ou Síria.

Para Sayyed Nasrallah, o acordo nuclear firmado no âmbito das negociações entre o P5+1 e o Irã declarou uma nova realidade de multipolaridade, onde já nenhum estado comanda o mundo, como antes.

A liderança multipolar impede a dominação e a ditadura de um sobre todos, e abre espaço para a ação dos países do Terceiro Mundo – continuou Sua Eminência.

A política externa dos EUA

Sayyed Nasrallah disse que há vastos pontos de virada na política externa dos EUA, lembrando que mesmo o acordo nuclear para o Irã é acordo provisório, por mais que alguns já tenham dito, até, que seria um acordo entre a Valiye Faqih (República Islâmica do Irã) e o Grande Satã (os EUA).

A guerra dos EUA contra o Iraque está condenada ao fracasso. No Afeganistão, os EUA chegaram a um beco sem saída. No Líbano e em Gaza, o “novo oriente médio” também já fracassou. Como estão fracassando até aqui, também na Síria. O Irã suportou sanções terríveis, e nem assim os EUA conseguiram derrubar o regime. Bem ao contrário, a situação econômica e financeira nos EUA e em países europeus é que é crítica. Por tudo isso, pode-se dizer que há uma nova situação para EUA e Europa – disse Sua Eminência.

Justificando o patrocínio que EUA deram ao acordo Irã-P5+1, Sayyed Nasrallah explicou que os norte-americanos não querem mais guerras, que a população dos EUA está farta de guerras. Por isso, se abriu uma porta, e chegou-se ao acordo nuclear provisório.

O secretário-geral do Hezbollah explicou também que:

Os negociadores norte-americanos queriam envolver outros assuntos naquela discussão, mas os iranianos estavam decididos a negociar a questão nuclear e nada mais. Os iranianos não tinham qualquer interesse em misturar outras questões naquela discussão e insistiram em que só se tratasse, ali, da questão nuclear.

Lembrou que:

(...) o Irã já declarou há muito tempo que sua visão política sobre os EUA é em tudo diferente da visão que os iranianos têm sobre a entidade sionista. E que, por isso a posição iraniana sobre a entidade sionista é definitiva e não mudou.

O que os iranianos disseram é que quando os EUA admitem nossos direitos e mostram-se dispostos a reconhecer aos povos dessa região os nossos próprios direitos, então estaremos sempre prontos a dialogar com eles – explicou Sua Eminência.

Os EUA mudaram de posição; e os iranianos mantêm-se onde sempre estivera. Ainda é cedo para falar de normalização entre os dois países, e há ainda muitas questões pendentes. Não antevejo que as relações sejam normalizadas entre esses dois países em futuro próximo – acrescentou.

Sobre a recente visita do primeiro-ministro de Relações Exteriores do Irã Mohammad Javad Zarif aos Estados do Golfo, Sayyed Nasrallah disse que:

(...) o Irã jamais rompeu relações com países vizinhos. O problema sempre foi do outro lado, não do lado dos iranianos; e o primeiro-ministro do Irã entendeu que seria importante levar ao conhecimento dos países do Golfo que nada havia sido acertado que ferisse qualquer de seus interesses.

A Arábia Saudita

O comandante da Resistência libanesa do Hezbollah disse que o Irã sempre buscou abrir portas para os sauditas, tentativas que nunca tiveram sucesso, porque o Reino sempre insistiu em fechar todas as portas. Sayyed Nasrallah revelou que houve uma iniciativa paquistanesa, que foi aceita pelos iranianos, e que os sauditas também rejeitaram.

Antes do falecimento do príncipe Nayef [dia 16/6/2012], o ministro de segurança do Irã visitou a Arábia Saudita e teve contato com ele. O ministro tentava criar compreensão mútua. Mas a reação foi 100% negativa.

Sua Eminência observou que desde o início a Arábia Saudita lida com o Irã como inimigo; a guerra de Saddam Hussein contra o Irã foi financiada pelos sauditas. E os povos do Iraque e do Irã pagaram por aquela guerra, como também pagaram e pagam os palestinos e o povo do Kuwait.

A guerra saudita contra o Irã nunca parou desde 1979. Os sauditas não se atrevem a fazer guerra diretamente contra alguém, e lutam “por procuradores”, e pagam mercenários para lutar na Síria, no Irã, no Iraque e no Líbano – disse o secretário-geral do Hezbollah. 

Sayyed Nasrallah destacou que o problema entre a Arábia Saudita e o Irã é fundamental; que o discurso do príncipe Al-Walid Bin Talal não expressa o pensamento dos sunitas. O problema dos sauditas com o Irã não é sectário, porque já, antes, tiveram problemas com o Egito, Iêmen e Síria, países que não são xiitas.

A Arábia Saudita não aceita nenhum parceiro. Quer que todos os países árabes sejam subordinados dela.

Sua Eminência disse também que:

(...) há espiões e inteligência saudita por trás de muitas das explosões no Iraque, e operam também alguns ramos da al-Qaeda.

Para ele, tudo sugere que as Brigadas Abdullah Azzam esteja realmente por trás do ataque à bomba contra a embaixada do Irã em Beirute, há duas semanas, o que revelaria que a Arábia Saudita apóia tais grupos.

Sayyed Hassan Nasrallah e entrevistador da OTV, Líbano
Relações Hezbollah-Qatar

O secretário-geral do Hezbollah informou que há alguns dias recebeu uma delegação do Qatar, e que o Qatar pode vir a revisar sua posição e sua estratégica para a região; contou também que o país também oferecera boa iniciativa no caso dos libaneses sequestrados em Aazaz.

Sayyed Nasrallah destacou que:

(...) o Hezbollah jamais causa problema a quem quer que seja. O Partido da Resistência sempre insistiu na necessidade de uma solução política para a Síria, [1] e que sempre houve uma linha de comunicação entre o Hezbollah e o Qatar, mas as duas partes sempre tiveram visões políticas diferentes.

Falando da nova relação Hezbollah-Qatar, Sayyed Nasrallah disse que:

(...) o partido libanês manifestara que a opção militar na Síria não é a melhor saída e derrubar o atual governo tampouco melhorará alguma coisa; e conclamou todos os estados que podem influenciar os eventos na Síria e trabalhar por uma solução política. Nossa conversa com o Qatar começou assim. E cuidamos de manter o Líbano à parte de qualquer problema – disse Sua Eminência.

Relações Hezbollah-Turquia

Nossos contatos com a Turquia não foram rompidos. Também têm havido reuniões com o embaixador da Turquia no Líbano. Não há novidades em nossas relações com os turcos – disse Sayyed Nasrallah.

Contudo, Sua Eminência disse que:

(...) depois dos eventos sírios houve visível tentativa dos turcos para rearranjar as relações com o Hezbollah, porque os turcos entendem que perderam muito nas relações com o Líbano, o presidente Bashar al-Assad e o Irã, que eram relações excelentes antes de a crise síria irromper.

Agora, estão fora da Síria, enfrentando um grande problema com o Iraque, com relações frias, semirrompidas com o Irã. O projeto turco para a Síria falhou. E onde está hoje a Turquia, no Egito e em toda a região?  – perguntou Sua Eminência.

O Irã na Região

Sua Eminência Sayyed Hassan Nasrallah disse que:

(...) a posição ideológica do Irã sobre Israel não mudará, nem mudará a posição do Irã sobre a Resistência. Na questão palestina, tampouco o Irã abandonará as posições que teve até agora.

Sua Eminência disse que:

(...) não vê horizonte próximo para a solução da questão palestinos-Israel, porque as negociações não envolvem ainda nem direitos mínimos para os palestinos.

O Irã é um grande estado regional, com grande influência hoje em toda a região. Mantemos consultas com o Irã e não raras vezes o Irã abraço plenamente as nossas posições. Mas isso não envolve o Líbano – disse Sayyed Nasrallah.

Acrescentou que:

(...) se as relações do bloco 14 de Março com a Arábia Saudita fossem iguais à nossa relação com o Irã, o Líbano estaria livre de problemas. O Irã não interfere em nossos assuntos domésticos. Não nos manda participar do Gabinete. O que o Irã quer no Líbano é que as pessoas entendam-se umas as outras; e que o Líbano não seja arrastado para a guerra.

Queria que o outro lado fosse uma Valiye Faqih [República Islâmica do Irã]!” – disse ele.

Hezbollah na Síria

Revisando a participação do Hezbollah na Síria, o secretário-geral do Hezbollah explicou que a posição do Hezbollah foi-se modificando gradualmente.

Quando irrompeu a crise na Síria, nos mantivemos em silêncio por três semanas, à espera de ver com clareza a natureza daqueles eventos. Por outro lado, enquanto ainda estávamos usando nossas boas relações para não nos envolver sem conhecer os fatos, toda a oposição síria, líderes da Fraternidade Muçulmana e alguns grupos extremistas puseram-se a nos ameaçar, antes mesmo de termos decidido qual seria nossa posição política. Apesar disso, recomendamos solução política, para evitar a opção militar – disse Sua Eminência.

Sayyed Hassan Nasrallah explicou a principal causa por trás da intervenção do Partido de Deus em al-Qussayr, no sul da Síria, na fronteira com o Líbano; disse que:

(...) o Hezbollah nada tem diretamente contra nenhuma figura da oposição, mas, sim, contra estados que tenham conexão com eles. O presidente Assad sempre esteve aberto e disposto para o diálogo e as reformas, já quando muitos na região diziam que seria “coisa rápida”, que estaria tudo terminado em dois, três meses; e que, portanto, não havia necessidade alguma de diálogo.

Há países na região trabalhando para derrubar militarmente o regime sírio, sem jamais ter-se preparado para nenhum diálogo. Os eventos na Síria prosseguiram, mas nós não interviemos militarmente. Não interviemos em cidades habitadas por libaneses em al-Qussayr, enquanto o exército sírio ali esteve – lembrou Nasrallah.

Mas, quando o exército sírio foi forçado a deixar aquela área, os residentes libaneses convocaram o Hezbollah para que os ajudassem a defender suas cidades, porque o governo do Líbano não os estava protegendo e deixara as fronteiras abertas ao contrabando de armas para al-Qussayr, a partir do norte e do leste do Líbano.

Fomos a al-Qussayr em operação preventiva. Se não tomássemos a iniciativa, milícias armadas cairiam como enxame sobre todas as cidades da fronteira com o Líbano.

Sayyed Nasrallah disse que se as milícias armadas atacassem “o santuário de Sayyed Zeinab, seria como pôr fogo em toda a região”; acrescentou que o Hezbollah enviou só 40-50 combatentes para aquela área, para ajudar a proteger o santuário. Destacou que “nosso interesse na Síria era lógico e realista”.

Sua Eminência destacou que:

(...) o Hezbollah não destacara combatentes para outras áreas, mas a situação evoluiu gradualmente; de fato, dezenas de libaneses foram mortos em guerra, pelas milícias ativas na Síria.

Nós, o Hezbollah, sempre declaramos nossos mártires. Chegou então o momento de anunciar nossa ação na Síria, porque nós não nos envergonhamos dos nossos mártires: nós nos orgulhamos deles – disse Sayyed Nasrallah.

Sua Eminência disse também que sua fotografia ao lado do Grande Aiatolá Sayyed Ali Khamenei foi feita dois anos antes do combate em Al-Qussayr; e repetiu:

O Hezbollah não interveio na Síria por decisão do Irã, mas por decisão nossa. O que se disse sobre o Irã ter solicitado que interviéssemos na Síria não é verdade; é mentira.

Sua Eminência disse que

(...) se deixássemos de cumprir nossa obrigação em al-Qussayr e Qalamoun, dezenas e centenas de toneladas de carros-bomba teriam entrado no Líbano; tivemos de ir à Síria, para evitar que isso acontecesse.

Disse também que:

(...) o carro-bomba que explodiu no Líbano veio de Yabrood, passando por Arsal. E perguntou: Que destino esperaria o Líbano, se a Síria caísse em mãos de milícias armadas?

Sayyed Nasrallah revelou que

(...) o ex-primeiro-ministro Saad Hariri e o deputado Okaq Sakr estão envolvidos na operação de mandar mercenários e armas para a Síria. Perguntem ao outro lado que garantias oferecem, se a oposição vencer... E completou: o nível de apoio do povo libanês à nossa intervenção na Síria é mais alto que o nível de apoio aos movimentos de Resistência entre 1982 e 1990.

Dia virá em que nos agradecerão por nossa intervenção na Síria – disse Sayyed Nasrallah.

Sua Eminência disse que:

(...) há muito exagero no que se diz sobre a intervenção do Hezbollah na Síria. Os que estão lutando na Síria na defesa do regime são o Exército Sírio e as forças de defesa nacional, formadas pelo próprio povo, nas áreas onde têm de se autodefender. E disse: Não há combatentes do Hezbollah nas províncias de Daraa, Soweida', Qunitra, Deir Ezzor e em Aleppo, no norte.

Nossa presença na Síria está limitada a Damasco, Homs e em áreas próximas do Líbano. Estamos em al-Qussayr e Damascus. Hoje o Exército Sírio está em operações em Qalamoun, com forças de defesa nacional.

Perguntado sobre o número de combatentes que o Hezbollah teria deslocado para a Síria, Sayyed Nasrallah disse:

(...) alguns no Líbano dizem que 250 combatentes do Hezbollah foram mortos lá, e alguns dos jornais do bloco 14 de Março falam de 600 mortos do Hezbollah em Ghota. É o que queriam que fosse. É delírio. São números do delírio deles.

Nasrallah disse também que:

(...) nenhum combatente do Hezbollah foi sequestrado na Síria, mas as milícias capturaram os corpos de alguns de nossos mártires; não os deixaremos lá.

Sua Eminência disse que

(...) desde o início dos eventos na Síria, o número de nossos mártires não chegou aos 200 de que tanto falam, conforme a natureza dos combates. E lembrou que: hoje a ameaça já é menor e que o número de mártires foi menor que o que se previa no início.

Sayyed Nasrallah disse que:  

(...) espera novos confrontos, em mais de uma área, mas que todas as provocações fracassarão, como aconteceu em Ghota, e completou: há gente trabalhando para desmontar a Conferência Genebra-2.

Sayyed Hassan Nasrallah ao final da entrevista de 3/12/2013
Líbano

Sayyed Nasrallah lembrou que o Hezbollah foi o primeiro a condenar as bombas de Trípoli; disse que aquele foi dia ainda mais triste que o dia das bombas de Ruwais e Bir al-Abed, porque se via claramente que “alguém quer arrastar o Líbano para a guerra”.

Sobre a situação da segurança na cidade de Trípoli, norte do Líbano, Sua Eminência disse:

(...) o que se noticiou sobre o Mufti de Trípoli e o xeique Malek Al-Shaa'r no norte, e relações entre os pistoleiros e os serviços de segurança, é informação verdadeira. E continuou, dizendo que: sabemos que o Diretorado Geral das Forças Internas de Segurança, e há muitos anos, paga para armar grupos e transportar munição em carros das forças de segurança interna; e já há vários anos . A solução, aí, é que o estado deve assumir logo o controle da segurança em Trípoli; deve, em seguida, organizar uma “célula de crise”. Trípoli e o Norte têm de dialogar; todos os partidos têm de reunir-se.

Sobre a cena política no Líbano, Sayyed Nasrallah disse que:

(...) as escolhas e opções políticas para o Bloco 8 de Março têm-se revelado acertadas e vão-se impondo como ganhadoras; e o Blovo 14 de Março só perde posições e espaços. Nós não temos qualquer grande projeto para o Líbano; nós apoiamos uma parceria real no Líbano, com a participação de todos.

Finalizando, Sua Eminência disse que:  

(...) o Hezbollah crê no Líbano. E conclamou os apoiadores da Resistência e os que o assistiam a defender a ordem e a não promover manifestações de rua, ainda que provocados. Quem tiver objeções, que use os canais formais, judiciais. É importante, hoje mais do que nunca, que não insultemos ninguém. E esperemos que não nos insultem.




Nota dos tradutores

[1] Sobre isso ver:  18/4/2012, redecastorphoto em: Assange entrevista Nasrallah, Russia Today (traduzido)

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