É,
mas...
The Saker |
21/1/2014, The Saker, The
Vineyard of the Saker
Traduzido pelo
pessoal da Vila Vudu
Eis o que
disse Lavrov hoje, depois de o Irã ter sido “desconvidado” para Genebra-2:
Foi um erro, mas não um desastre.
Disse também
que:
(...) o Irã havia sido “desconvidado” por dizer
exatamente o que a Rússia diz: que não é verdade que Genebra-1 tenha de ser “interpretada”
como se tivesse já decidido que Assad “tem de sair”.
E
acrescentou:
E agora? Será que, na sequência, vão “desconvidar”
também a Rússia? É loucura.
Eh...
Lamento, amigos, mas a Rússia pisou no tomate. Pisou feio no tomate. Explico
por quê:
Sergey Lavrov - Ministro de Relações Exteriores da Rússia |
Erro lógico:
Primeiro, o que são “negociações”? São discussões
entre duas ou mais partes. Nesse caso, há realmente duas partes: a parte pró-Assad
e a parte anti-Assad. Pois bem. E desde quando uma das partes decide quem se
inclui e quem não se inclui na outra parte? Se a parte anti-Assad diz que o Irã
não é convidado, por que a parte pró-Assad não exigiu que a França fosse também
“desconvidada”, sob o argumento de que o Ministro de Relações Exteriores da
França, Laurent Fabius, declarou que Assad não merece viver no planeta Terra?
Erro tático:
Segundo, não pode haver dúvidas de que o lado
pró-Assad está vencendo a guerra. Assim sendo, por que o lado perdedor ainda
está definindo as regras?! No mínimo, deveria ser o contrário. Se o lado
perdedor está definindo termos tão absurdamente ultrajantes, é claro que o lado
que está vencendo a guerra teria de simplesmente rejeitar tudo e deixar a
reunião. Ao aceitar os termos atuais, o lado pró-Assad age como se estivesse
perdendo a guerra.
Erro político:
Terceiro, agora que as forças pró-Assad aceitaram
esse “tapa na cara” sem qualquer reação, as forças anti-Assad serão encorajadas
a nada ceder. Negociação que começa assim não pode terminar em acordo. Por que
o lado anti-Assad cederia alguma coisa, adiante, se já tem reconhecida sua
posição de nada ceder? O lado anti-Assad, daqui em diante, só exigirá, exigirá
e exigirá.
Erro moral:
Quarto, o Irã tem pleno, integral, inegável
direito de sentar-se àquela mesa. A ética e a moral têm de contar, se não para
os sionistas doidos e os anglos, pelo menos para a Resistência. O Irã lutou
para proteger a Síria, iranianos morreram para defender os sírios dos répteis
wahhabistas. O Irã defendeu a Síria quando ninguém mais teve coragem de se opor
abertamente à constelação terrorista internacional que a imprensa-empresa global
chama de “oposição” a Assad. Como admitir que Rússia e Síria afastem-se do Irã,
depois do papel crucial que o Irã desempenhou na aliança sírio-iraniano-russa? Como
sírios e russo podem admitir que Indonésia ou Brasil participem de Genebra-2...
mas não o Irã? Não é coisa que se faça a aliados. Não é decente. Minha opinião.
Erro diplomático:
Quinto e último, considerando que a tal
conferência começa desse modo absurdo, é praticamente certo que fracassará. De
fato, acho muito melhor que fracasse, porque o fracasso dessa conferência pode
ser usado para provar que a presença do Irã é absolutamente indispensável para
qualquer acordo. E aí começará o jogo de empurra-empurra das culpas, de um lado
para o outro.
Se Síria e
Rússia se tivessem retirado, se nem aparecessem lá, em solidariedade ao Irã, se
tivessem tentado pelo menos começar a argumentar, a culpa cairia integralmente
sobre os doidos norte-americanos e suas exigências doidas. Em vez disso, os EUA
conseguem sabotar a conferência e escapar, como se nada tivesse acontecido.
E agora? O
que virá agora?
Bósnia redux
Tudo leva a
crer que nem Síria nem Rússia se retirarão da “conferência”.
Sinceramente:
minha melhor esperança, agora, é um amplo, vasto fracasso da “conferência”,
porque prefiro acordo nenhum, que acordo que perca todas as vantagens que o
exército sírio asseguraram ao preço do sangue e da vida de seus soldados.
Infelizmente, Само слога Србина спасава (Samo
sloga Srbina spasava), que se pode traduzir como “só a unidade salvará os
sérvios”.
Agora
começará a pressão para qualquer acordo, algum tipo de qualquer coisa que se
assemelhe a acordo: é outra vez a Bósnia, e todos sabemos como terminou da
primeira vez; os sérvios venceram a guerra, os muçulmanos recusaram-se a
negociar de boa fé e veio a intervenção dos EUA. Mas, mais importante: os
anglo-sionistas conseguiram dividir os sérvios em vários grupos. Primeiro,
Milosevic apunhalou pelas costas os bósnios-sérvios e aceitou ajudar o bloqueio
contra eles. Depois, dentro da Bósnia, as chamadas “forças federais” ou foram
retiradas ou aceitaram depor as armas sob controle da ONU. Depois, os sérvios
de Krajinas na Croácia foram convencidos de que a questão deles era separada da
questão dos sérvios bósnios; e assim, tendo lindamente os feito rachar, EUA e
OTAN atacaram todos eles. Todos os
sérvios haviam esquecido, naquele momento, o significado de seu principal
símbolo, os “quatro Ss”.
Os “Quatro Ss” Само слога Србина спасава |
A força da
aliança Hezbollah-Síria-Irã-Rússia está também na unidade. Essa unidade
derrotou os wahhabistas em al-Qusayr. Essa unidade impediu o ataque já iminente
dos EUA à Síria. Agora, essa unidade está comprometida, se não
fundamentalmente, pelo menos externamente.
Não e não.
Rússia e Síria cometeram erro gigantesco ao aceitar essa afronta de última
hora, vinda do campo anti-Assad e de seu fantoche na ONU. Usando as palavras de
Lavrov, acho que agir com tão absoluta e temerária arrogância também é erro,
não desastre. Mas acrescento que há um desastre à vista, na ordem do dia. Nada
que preste poderá brotar de Genebra-2.
[assina] The
Saker
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