11/1/2014, [*] Wayne Madsen, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Entreouvido de um “papagaio-de-pirata”
durante a tradução na Vila Vudu: Nesse artigo, afinal, SE APRENDE que a notícia repetida no
Portal Terra de que Snowden “deveria” ser enforcado foi “notícia” inventada
pela rede FoxNews, produzida durante
entrevista com um facínora. E as “notícias” de que Snowden “quer pedir” asilo
ao Brasil e “promete” trocar informações por asilo foram invenções,
simultâneas, da revista Exame e da Folha de S.Paulo, “interpretando”
[só rindo!], uma carta que Snowden escreveu aos brasileiros (vide nota [1]).
Quem precisa do “jornalismo”
brasileiro?
Vê-se claramente que quem precisa do “jornalismo” brasileiro é o
Mercadante, o Paulo Bernardo, a Helena Chagas e demais membros da 5ª Coluna PETISTA alocados no Governo Federal... E na militância profissionalizada... Pobre Dilma!
Castor Filho
Edward Snowden |
Em
entrevista à rede de televisão reacionária de direita Fox News, o ex-diretor da CIA James Woolsey disse [1]
que:
James Woolsey |
(...) o alertador-vazador [orig. whistleblower] de documentos da Agência de Segurança Nacional
dos EUA, Edward Snowden, deve ser
processado por traição. Se condenado por tribunal de seus pares, deve ser
enforcado, pendurado pelo pescoço até morrer.
Woolsey,
notório conservador linha dura foi demitido do posto de diretor da CIA, pelo
presidente Bill Clinton, em 1995. Clinton achava que Woolsey não fora
suficientemente agressivo no trabalho de controlar os altos funcionários da
CIA, no caso em que se descobriu que um alto funcionário da CIA, Aldrich Ames,
trabalhara durante anos como agente da inteligência soviética. Muita gente
dentro da CIA acredita que Woolsey temia que, se a CIA embarcasse em caçada
massiva a possíveis “infiltrados”, outros agentes, particularmente os leais a
Israel, país com o qual Woolsey mantinha relações suspeitamente próximas,
seriam descobertos. Woolsey, é claro, é a última pessoa do mundo cuja opinião
sobre o destino de Snowden mereça qualquer credibilidade.
Mas, sim, o
destino de Snowden está sendo analisado nos mais altos escalões do governo dos
EUA... Alguns, dentro da ASN-EUA entendem que o presidente Obama deva anistiar
Snowden, se o autoexilado alertador-vazador concordar em não revelar mais
segredos da ASN-EUA. Muitos especialistas em lei e direito entendem que tal
anistia seria questionável em termos legais; e que pode não passar de
armadilha, uma espécie de cenoura para atrair Snowden aos EUA, armadilha que
pode resultar em prisão perpétua; ou, se Woolsey e seus amigos neoliberais
encontrarem caminho desimpedido, pode levá-lo à pena de morte.
Apoiadores
da ASN-EUA argumentam que Snowden teria causado dano irreparável à segurança
nacional dos EUA e aliados, por ter fugido com, diz a imprensa, 50 a 60 mil documentos
secretos da ASN-EUA. Seja como for, até agora nem 2% desse número estimado de
documentos foram distribuídos para empresas de imprensa.
David Lange |
Em 2006,
outro indivíduo que tinha autorização de acesso a apenas uma pequena porção das
operações de vigilância da ASN-EUA e de seus “Cinco Olhos” – países parceiros
de inteligência dos EUA – revelou, postumamente, informação secreta. Mas, no
caso desse indivíduo, David Lange, ele era ex-Primeiro Ministro de um dos
países “Cinco Olhos”, a Nova Zelândia. E morrera um ano antes, em 2005.
Dia
15/1/2006, o jornal Sunday Star Times da Nova Zelândia noticiou que,
entre os documentos arquivados do falecido Primeiro-Ministro Lange, havia um
relatório de 31 páginas, “TOP SECRET UMBRA HANDLE VIA COMINT CHANNELS ONLY New
Zealand Government Communications Security Bureau (GCSB)” [TOP SECRET,
para ser lido exclusivamente pelo Gabinete de Segurança das Comunicações do
Governo da Nova Zelândia], de comunicações que aquele gabinete interceptara
para a ASN-EUA.
As
comunicações haviam sido capturadas em duas grandes estações-alvos no Pacífico
Sul e da Antártica. O governo da Nova Zelândia manteve as duas grandes estações
de interceptação de comunicações em Waihopai e Tangimoana.
Waihopai,
codinome IRONSAND, intercepta comunicações via satélite, de outros países da
região trans-pacífico. O relatório anual 1985/86 do Gabinete de Segurança das
Comunicações do Governo da Nova Zelândia registrava que, dentre outros alvos da
vigilância havia telegramas diplomáticos da ONU. O relatório dizia também que,
dentre as principais tarefas do Gabinete de Segurança das Comunicações do
Governo da Nova Zelândia estava traduzir e analisar “a maior parte do tráfego
bruto [recebido] de fontes do GCHQ/Agência de Segurança Nacional dos EUA”.
GCHQ é a a
sigla de Government Communications Headquarters [Quartel-general das
Comunicações do Governo] da Grã-Bretanha, a agência encarregada pela ASN-EUA
para fazer “avançadas” [orig. surge] de bisbilhotagem-espionagem contra
delegações de países do Conselho de Segurança da ONU antes de os EUA invadirem
o Iraque. O comunicado no qual a ASN-EUA passou a tarefa aos britânicos foi
vazado por uma analista da agência britânica, Katharine Gun, para empresas de imprensa
britânicas. Adiante, as acusações contra Gun foram retiradas.
Depois que
o sistema UMBRA foi divulgado por várias fontes, a ASN-EUA deixou de usá-lo.
Foi substituído por classificações de grau de sigilo e segredo como TOP
SECRET/COMINT [Top Secret/Comunicação Interna]/NOFORN [Not Foreigners
(leitura proibida para estrangeiros)] e TOP SECRET/COMINT/X1.
Mapa do Pacífico Sul abrangida pela espionagem EUA-Inglaterra-Nova Zelândia (clique na imagem para visualizar) |
O relatório
da Nova Zelândia também diz que a tarefa do Gabinete de Segurança das
Comunicações do Governo da Nova Zelândia incluía “reportar sobre itens de
inteligência derivados de mensagens de telex do Pacífico Sul em links de
comunicação por satélite”. Acrescentava que “o trabalho de reportar foi
acelerado durante o ano (...) Um total de 171 notificações foram reportadas,
cobrindo as Ilhas Solomons, Fiji, Tonga e organizações internacionais que
operavam no Pacífico. O tráfego bruto para o trabalho era fornecido pela
ASN-EUA”.
O relatório
também informava que o trabalho sobre 238 relatórios de inteligência do
Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia, sobre
telegramas diplomáticos japoneses interceptados” a partir do “tráfego bruto
recebido das fontes GCHQ [britânica]/ASN-EUA”, estava sendo muito
dificultado por causa de um novo sistema japonês de encriptação. “O governo
japonês implementou um novo sistema de encriptação de alto nível [orig. a
new high grade cypher system], que reduziu seriamente a produção final do
Gabinete” – diz o relatório. O Gabinete de Segurança das Comunicações do
Governo da Nova Zelândia “dependeu pesadamente do material do satélite
França-Pacífico obtido e passado adiante”, para traduzir e analisar. Tráfego da
diplomacia chinesa interceptado pela ASN-EUA e pelo GCHQ [britânico] era
também enviado ao Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova
Zelândia para análise e tradução.
O relatório
encontrado entre os documentos do falecido Primeiro-Ministro Lange da Nova
Zelândia dizia que os alvos de Tangimoana em 1985 e 1986 eram “civis, navais e
militares do Pacífico Sul francês; civis da Antártica francesa; diplomatas do
Vietnã; diplomatas da Coreia do Norte; diplomatas do Egito; embarques da
marinha mercante e pesquisa científica soviética; civis da Antártica soviética;
pesqueiros soviéticos; marinha argentina; civis da Antártica não soviética
(incluindo comunicações indianas e polonesas); diplomatas da Alemanha Oriental;
diplomatas japoneses; diplomatas filipinos; Forças Armadas da África do Sul;
diplomatas do Laos [e] diplomatas da ONU”. No geral, a estação de espionagem “deslocalizada”
neozelandesa de Tangimoana interceptara 165.174 mensagens dos alvos a ela
atribuídos, o que representava “um aumento de aproximadamente 37 mil mensagens,
em comparação com os números de 84/85”. E o relatório acrescentava: “O trabalho
sobre o alvo soviético aumentou 20% em relação ao ano anterior”.
O Gabinete
de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia era também
responsável pela escuta das comunicações da Nova Caledônia e da Polinésia
Francesa (ambos territórios franceses), Vanuatu, Kiribati, Nauru e Tuvalu. Dado
que Waihopai interceptava a maior parte do tráfego Intelsat do Pacífico, as comunicações de Samoa norte-americana
(cujos habitantes são cidadãos norte-americanos) estavam acessíveis para a
ASN-EUA e os outros Cinco Olhos. Mas, por causa do papel da ASN-EUA como líder
operacional da rede dos Cinco Olhos, a Nova Zelândia e, quase nos mesmos
termos, Austrália, Grã-Bretanha e Canadá não tem acesso a inteligência da
ASN-EU ou recebe de Waihopai/IRONSAND.
A
inteligência inclui interceptar comunicações que partem de Niue e das Ilhas
Cook (territórios da Nova Zelândia), Ilha Norfolk (território da Austrália) e
Samoa (Samoa Ocidental).
Lange
sempre acreditou que sua própria agência SIGINT, por ordens da ASN-EUA e dos
norte-americanos não era clara com ele, sobre a extensão da vigilância sobre
comunicações em seu país. Seus medos coincidiam com os do Primeiro-Ministro
australiano, Gough Whitlam, que exigiu que os norte-americanos o informassem
exatamente sobre a natureza das bases dos EUA na Austrália, incluindo a
gigantesca base em Alice Springs.
Lange e Whitlam foram ambos expelidos de seus respectivos gabinetes mediante
“golpes constitucionais” nos quais se veem impressões digitais da CIA e da
ASN-EUA.
O documento
de Lange sobre a atividade de espionagem do Gabinete de Segurança das
Comunicações do Governo da Nova Zelândia é muito parecido com o documento do
Quartel-general de Comunicações de Governo britânico (GCHQ) vazado por
Snowden e intitulado “Bude
Sigint Development Reports”
Mohamed Ibn Chambas |
O documento
do GCHQ britânico delineia as interceptações pelo GCHQ/ASN-EUA na
base de Bude, Cornwall, codinome CARBOY, e na base TIMBERLINE da ASN-EUA em Sugar
Grove, West Virginia, das
comunicações de: Mohamed Ibn Chambas, funcionário da Comunidade Econômica dos
Estados da África Ocidental [orig. Economic Community of West African States
(ECOWAS)]; várias empresas em Pequim; da ONG Medecins du Monde; da
UNICEF com base em Genebra e do Instituto de Pesquisa para o Desarmamento, da
ONU; das empresas francesas Thales e Total; da embaixada alemã em Rwanda; de
uma equipe estoniana de segurança da empresa Skype; de um embaixador francês; do Comissário Antitruste da União
Europeia, Joaquin Almunia; do Primeiro-Ministro de Israel, Ehud Olmert; do
Instituto de Física da Universidade Hebraica em Jerusalém; do Ministro da
Defesa de Israel, Ehud Barak; de ministérios alemães em Berlin; de links de
comunicação alemã com Turquia e Georgia; e do Programa de Desenvolvimento da
ONU (presidido por Helen Clark, do Partido Trabalhista do Primeiro-Ministro
Lange).
Sejam as
revelações-vazamentos de Lange em 2006, ou as revelações-vazamentos de Snowden
em 2013, os documentos vazados que mostram a aliança de vigilância
anglo-norte-americana só provam uma coisa: indivíduos, grandes e pequenos são “grampeados”,
bisbilhotados, espionados, exclusivamente porque comunicam algo que os
arapongas-bisbilhoteiros-espiões de agências de inteligência querem ouvir. Nada
há aí que interesse ao contraterrorismo nem, sequer, à contrainteligência. É
vigilância em nome da vigilância, pela obsessão de vigiar.
___________________________
Nota dos
tradutores
[1]
A matéria da FoxNews “Ex-CIA
director: Snowden should be ‘hanged’ if convicted for treason” foi
IMEDIATAMENTE repetida, em português, pelo portal Terra, em: “Ex-chefe
da CIA diz que Snowden deveria ser condenado à forca” (matéria não assinada). Na Folha de S.Paulo, em matéria assinada
por Fábio Zanini (Editor de “Mundo” \o/ \o/ \o/) inventa-se
a “notícia” de que Snowden “quer” pedir asilo ao Brasil. E na revista Exame,
do Grupo Abril, em matéria assinada por Beatriz Souza já se “noticia”
que Snowden “vai pedir asilo ao Brasil”.
Pior jornalismo, IMPOSSÍVEL!.
________________________
[*] Wayne Madsen é jornalista
investigativo, autor e colunista. Tem cerca de vinte anos de experiência em
questões de segurança. Como oficial da Marinha dos EUA projetou um dos
primeiros programas de segurança de computadores para a Marinha os EUA. Tem
sido comentarista freqüente da política de segurança nacional na Fox News e também nas redes ABC, NBC, CBS, PBS, CNN,
BBC, Al Jazeera, e MS-NBC. Foi
convidado a depor como testemunha perante a Câmara dos Deputados dos EUA, o
Tribunal Penal da ONU para Ruanda, e num painel de investigação de terrorismo
do governo francês. É membro da Sociedade de Jornalistas Profissionais (SPJ) e
no National Press Club. Mora em
Washington, DC.
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