13/1/2014, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Usina nuclear iraniana em Bushehr, no sul do Irã, em foto de 21 de agosto de 2010 |
Em
negociações recentes com o Irã, os EUA outra vez tentaram assaltar o direito do
Irã, de enriquecer urânio. Foram necessárias pressões severas de Rússia e China
para reverter a tentativa de assalto e tornar possível o acordo. Para o Washington
Post:
Irã e seis potências mundiais deram passo
significativo, mas difícil, na direção de uma reaproximação nuclear, no
domingo, com o anúncio de que chegaram a um acordo que detém o disputado
programa nuclear iraniano, em troca de uma modesta redução nas sanções econômicas
incapacitantes.
...
As semanas de barganha para pôr em prática o
acordo de novembro foram mais difíceis do que se previa, com rápido
desligamento dos negociadores iranianos e rancor no bloco de nações que
negociavam o acordo. Rússia e China, há muito tempo protetores do
Irã na ONU, empurraram os EUA para que aceitassem concessões técnicas que
deixaram ainda mais evidente que o Irã está mantendo a capacidade para
enriquecer urânio, demanda chave dos iranianos, tão logo se aprove um
conjunto definitivo de limitações ao seu programa.
Rússia e
China ameaçaram atropelar as sanções e criar condições para que o Irã prossiga
o próprio programa nuclear como bem entender, sem qualquer limitação, enquanto
dá vida nova à economia. A ameaça foi lançada via matéria
“exclusiva” da Agência Reuters, na 6ª-feira (10/1/2014) à tarde:
Irã e Rússia estão negociando uma troca de
petróleo por produtos no valor equivalente a US $1,5 bilhão/mês, que permitirá
que o Irã aumente consideravelmente as exportações de petróleo, mas mina as
sanções ocidentais que ajudaram a persuadir Teerã em novembro a aceitar um
acordo preliminar para suspender seu programa nuclear.
Fontes russas e iranianas próximas da mesa de
negociações disseram que estão sendo discutidos detalhes finais de um acordo
pelo qual Moscou passará a comprar cerca de 500 mil/barris dia de petróleo
iraniano, em troca de equipamentos e outros produtos russos.
Se esse
acordo acontecer, equipamento “ocidental” exportado para Rússia e China poderá
chegar facilmente até o Irã. Rússia e Irã interconectam-se pelo Mar Cáspio,
onde os EUA não têm meios para impor qualquer bloqueio.
Por hora, o
governo Obama cedeu à pressão dos russos, mas as dificuldades só aumentarão com
as negociações de um acordo permanente. Rússia e China já fixaram um conjunto
de limites às escandalosas exigências que os EUA insistem em fazer. Até aliados
dos EUA já pressionam pelo fim das
sanções e para que se assine um acordo o mais rapidamente possível:
Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum |
Falando a Jon Sopel da BBC, Sheikh Mohammed
bin Rashid, vice-presidente e Primeiro-Ministro dos Emirados Árabes Unidos e
governador de Dubai, referiu-se a grande número de questões políticas na
região, em particular ao conflito sírio, às sanções contra o Irã e o futuro do
Egito.
...
Na entrevista, Sheikh Mohammed menciona a
necessidade de levantarem-se as sanções contra o Irã, para assegurar que melhor
cooperação no processo de desarmamento nuclear do país.
O Irã é nosso vizinho e não queremos
problemas. Levantem-se as sanções, e todos serão beneficiados – disse
Sheikh Mohammed.
O governador de Dubai disse também que acredita
que o Irã esteja dizendo a verdade quando diz que a tecnologia nuclear só
interessa ao país para finalidades civis.
Conversei com Ahmadinejad e ele disse: “se eu
disparar um foguete contra Israel, matarei quantos palestinos?! Não sou louco.
Nunca tentaria esse tipo de loucura. Bomba atômica é arma do passado” – disse
Sheikh Mohammed.
Obama só
tem, como alternativa racional, não enlouquecida, negociar com seriedade e buscar
um acordo permanente. Se não conseguir acordo agora, o próprio sistema de
sanções cairá em ruínas. E fazer guerra ao Irã tampouco é alternativa viável.
Atacar o Irã, que não está construindo bombas atômicas, sob algum argumento da “não
proliferação”, destruirá completamente a posição político-moral dos EUA no
mundo; ao mesmo tempo, ataque
desse tipo não deterá e, além do mais, dará justificativa para que
o Irã, sim, passe a procurar força nuclear de contenção. Uma guerra no Golfo Pérsico
seria devastadora para a economia mundial. “Contenção”, sem regime de sanções
que funcione, não é contenção, de modo algum; nem é alternativa séria.
Obama quer
que os EUA façam um movimento de “pivô” na direção da Ásia. Obter essa redução
no envolvimento dos EUA no Oriente Médio é uma necessidade. Mas nem Israel nem
a Arábia Saudita querem saber disso. Querem manter a atenção dos EUA
concentrada nos inimigos que veem como inimigos deles. Mas os EUA não
podem engajar-se na Ásia e continuar envolvidos completamente no Oriente Médio.
É uma coisa, ou a outra.
Os
sionistas estão pressionando o Congresso para que detone
as negociações com o Irã, criando
leis novas de sanções unilaterais dos EUA contra terceiros países que negociem
com o Irã. A culpa é toda de Obama, que deixou crescer essa estratégia de
“sanções sufocantes”. Essa estratégia está fracassando, e não será fácil para
Obama livrar-se dela. Mas o Congresso não se atreverá a votar diretamente a
favor de guerra contra o Irã.
Se Obama
negociar de boa fé com o Irã, os EUA terão parceiro sério e confiável no Golfo,
e o seu “pivô” para a Ásia será viável.
Mas pôr-se
a tentar golpes e jogadas, como tentou mais uma vez semana passada – até que a
Rússia interveio – deixará Obama com uma estratégia de “contenção” do Irã que
os EUA não terão como implantar e que drenará seus recursos; e o “pivô para a
Ásia” permanecerá como sonho inalcançável por falta de meios.
[*] “Moon of Alabama” é título popular
de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon
over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927)
de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois
autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny.
Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no
primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre
aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os
quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão
SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”,
que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à
guisa de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:
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