25/2/2014, [*] Moon
of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Membro do Pravy Sektor (grupo neonazista) atira coquetel molotov durante o putsch da Ucrânia em 20/2/2014 |
Uma
coletânea de leituras interessantes sobre como aconteceu o putsch na
Ucrânia e o plano de fundo.
Max
Blumenthal está procurando o plano de fundo histórico dos grupos nazistas na
Ucrânia e há relações entre os grupos
de exilados ucranianos nos EUA. As conexões são mais profundas do que
se supõe:
Muitos membros sobreviventes da Organização
de Nacionalistas Ucranianos (OUN-B) fugiram para a Europa
Ocidental e os EUA – em alguns casos com a ajuda da CIA – onde silenciosamente construíram alianças políticas com
elementos de direita. “Você precisa entender; somos organização clandestina.
Consumimos anos nos infiltrando silenciosamente em posições de influência” –
disse um deles ao jornalista Russ Bellant, que documentou o ressurgimento
daquele grupo nos EUA, em seu livro Old
Nazis, New Right, and the Republican Party [Velhos Nazistas, Nova Direita e o
Partido Republicano].
Em Washington, a OUN-B foi reconstituída sob a bandeira do Comitê do Congresso
Ucraniano dos EUA [orig. Ukrainian
Congress Committee of America (UCCA)], organização guarda-chuva que
reúne “todas as frentes da OUN-B”,
segundo Bellant.
Em meados dos anos 1980s, o governo Reagan
parecia uma colmeia de membros do UCCA,
com o presidente do Comitê, Lev Dobriansky, nomeado embaixador nas
Bahamas; e sua filha, Paula
Dobriansky, nomeada membro do Conselho de Segurança Nacional. Reagan
deu boas-vindas pessoalmente a Stetsko, líder Banderista que comandou o
massacre de 7 mil judeus em Lviv, quando chegou à Casa Branca em 1983 [“EUA
apoiando neonazistas na Ucrânia? Complicados laços dos EUA com manifestantes
declaradamente nazistas e fascistas na Ucrânia” (em inglês)].
Paula Dobriansky |
Paula
Dobriansky foi uma dos neoconservadores ativos no governo Bush:
Segundo sua biografia divulgada pelo
Departamento de Estado, Dobriansky “lecionou e publicou artigos, capítulos de
livros e colunas jornalísticas sobre tópicos relacionados à política externa,
que vão de políticas de direitos humanos para cidadãos do Leste Europeu, além de
políticas de defesa, diplomacia pública, estratégias para promoção da
democracia, Rússia e Ucrânia.
Quem
comanda o setor “Leste da Europa” no Departamento de Estado hoje é a conhecida
neoconservadora Victoria “Foda-se a União Europeia” Nuland. O golpe em Kiev foi
projeto dos neoconservadores.
Há também
esse comentário
de markfromireland no Blog de Ian Welsh:
Para eliminar a Rússia como ameaça à
dominação norte-americana é preciso encher a Ucrânia como uma colméia e usá-la
como posto avançado contra o ressurgimento da Rússia.
Por isso os norte-americanos pressionaram tão
massivamente a Comissão Europeia e governos europeus para trazerem a Ucrânia
para a esfera econômica dos EUA e do noroeste da Europa. Com a Ucrânia no campo
“ocidental”, eles podem minar os esforços russos para atrair as Repúblicas do
Báltico de volta para a órbita da Rússia. Sem a Ucrânia, torna-se muito mais
difícil.
No artigo “Ukraine: Neo-Nazi Criminal State
Looming In Centre Of Europe – Analysis” (trad. “Ucrânia: fermenta um estado criminoso neonazista no centro
da Europa – Análise”). Há denúncias de que setores dos neonazistas que atacaram
os policiais em Kiev foram treinados em países da OTAN. Não verifiquei essas
denúncias, mas parecem plausíveis e lê-se:
Há grande número de centros de treinamento
patrocinados pela OTAN para militantes ultranacionalistas ucranianos, reabertos
no território dos estados do Báltico imediatamente depois de se terem unido à
OTAN em 2004. Foto-reportagem detalhada de um grupo de ucranianos em
treinamento para atividades subversivas num centro de treinamento da OTAN na
Estônia em 2006, encontra-se em (...) (textos russos).
Abundantes recursos financeiros e humanos
foram diretamente usados para dar treinamento a unidades paramilitares do
movimento radica UNA-UNSO, do
partido Svoboda e de outras organizações ultranacionalistas na Ucrânia. Desde
1990s esses bandidos participavam nas guerras da Chechênia e dos Bálcãs lutando
ao lado de militantes wahhabistas (!) radicais e cometendo crimes contra
soldados e civis russos e sérvios capturados. Um desses conhecidos militantes
terroristas de origem ucraniana ativo na Chechênia, Olexander Muzychko (codinome
Sasha Biliy, conhecido líder de gangue) comanda hoje uma brigada do “Setor
Direita” (Pravy Sektor), os radicais que produziram o golpe de estado que está
em andamento em Kiev.
A seguir vídeo - legendas em inglês - distribuído pelo grupo neonazista Pravy Sektor (Setor Direita):
Há relatos,
também mencionados no artigo acima, de fontes russas, de que forças especiais
israelenses também estão envolvidas com os neonazistas antissemitas na Ucrânia.
Poderia soar implausível, se não se soubesse que arrastar o maior número de
judeus para Israel é política
de estado do “estado judeu”. Meio
eficaz para isso é promover forças antissemitas, para aterrorizar judeus que
ainda vivam em seus países natais – o que faz pleno sentido com outras políticas de
Israel que também são essencialmente antissemitas, como se vê no
contexto da coluna cujo excerto lê-se aqui, abaixo:
Juro pela minha vida que não entendo judeus
que vivam na França. Não entendo judeus que vivam na Polônia. Não entendo o
judeu que viva no Afeganistão (nem o que viva na Eritreia), e não acredito que
ainda haja 100 judeus no Egito, na Argélia, no Iraque ou em Botswana. Não
entendo judeus que ainda vivam na Ucrânia e, para ser bem honesta, tampouco
entendo que algum judeu ainda viva nos EUA.
...
Mas, falando sério – se você é judeu e ainda
vive na Ucrânia, por que não está fazendo as malas? Se você é judeu e vive na
França, você realmente espera que as coisas melhorem? E se você é judeu e ainda
vive nos EUA, você tem alguma esperança de que seus netos ainda sejam judeus?
Chinahand, codinome
Peter Lee, explica como os EUA, ao ameaçar impor sanções contra um oligarca,
conseguiram mudar a maioria no Parlamento ucraniano e fazê-la votar contra
Yanukovich em: “Looks
Like US Played Hardball in the Ukraine...and Against the EU” (trad. Parece
que os EUA jogaram duro & sujo na Ucrânia... e contra a União Europeia):
Peter Lee (Chinahand) |
Assim, com olhos menos generosos, pode-se
suspeitar de que os EUA estimularam as manifestações e incentivaram os grupos a
romper a trégua, apostando em que (a) haveria
violência e (b) os gatos gordos que ainda apoiavam
Yanukovich, como Akhmetov, logo abandonariam o barco, porque os EUA já os
haviam informado de que o dinheiro deles depositado no Ocidente seria congelado
(sob sanções que os EUA imporiam imediatamente).
Se isso tiver acontecido bem assim, a União
Europeia tem razões extras para sentir-se traída pelos EUA. Ao romper a trégua
e o acordo de transição, Nuland demoliu Yanukovich e pôs na roda o preferido
dos EUA, “Yats” – Arseniy Yatsenyuk. Mas ao custo de alienar definitivamente o
segmento pró-Rússia da Ucrânia, segmento, deve-se lembrar, que realmente
conseguira eleger Yanukovich em eleições livres e justa, há pouco tempo.
Não espero
que a Rússia mova sequer uma palha na Ucrânia. Putin agora se porá numa
poltrona confortável para assistir o “ocidente” engalfinhar-se, cada lado
tentando empurrar para o outro o serviço de jogar dinheiro no poço sem fundo em
que se tornará a Ucrânia. Nenhum político em Kiev que sonhe com ser algum dia
reeleito se atreverá a assinar acordos com o FMI, que jogarão uma geração
inteira do povo ucraniano na mais horrenda miséria.
A menos que
comecem pogroms nazistas nas partes da Ucrânia ligadas à Rússia, Putin agora só
terá de esperar que a maçã caia da árvore.
[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também
conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas.
Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt
Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em
1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa
utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no
primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre
aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os
quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão
SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”,
que incorporamos às nossas traduções desse blogMoon of Alabama, à guisa
de homenagem. Pode
ser ouvida a seguir:
NOTA MUITO ÚTIL, de Tlaxcala, Rede Internacional de Tradutores:
ResponderExcluirA Organização dos Nacionalistas Ucranianos [orig.Organization of Ukrainian Nationalists (OUN)], organização fascista criada em 1929 na Ucrânia do Oeste (então sob governo polonês), dividiu-se em duas em 1940: a OUN-M mais moderada, com Andriy Melnik; e a OUN-B mais radical, com Stepan Bandera. A OUN-B declarou uma Ucrânia independente, em junho de 1941, como estado-satélite da Alemanha Nazista. Todos os grupos direitistas na Ucrânia de hoje apresentam-se como herdeiros das tradições políticas da OUN, inclusive o Partido Svoboda, a Assembleia Nacional Ucraniana, o Congresso dos Nacionalistas Ucranianos e o Setor Direita (Pravyi Sector).