14/3/2014, [*] Andrew Levine,
Counterpunch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“O que fez Putin,
que seja pior, de um ponto de vista liberal, que pôr todo o planeta sob regime
de vigilância 24 horas/dia, sete dias por semana?
Putin ordenou assassinatos
sem qualquer sequer remota semelhança com algum devido processo legal, como fez
Obama?
Putin deportou cerca de dois milhões de pessoas?
Putin garantiu proteção
a sequestradores e torturadores?”
Vladimir Putin, por Maurício Porto |
Democratas
e Republicanos passam praticamente todo o tempo uns com as unhas na garganta do
outros. Razões há muitas. Mas entre elas não se incluem diferenças filosóficas
ou ideológicas fundamentais. Não.
Mas essa
não é a concepção dominante. A sabedoria convencional reza que haveria
filosofias diferentes a separá-los – os Democratas são liberais e os
Republicanos, conservadores. Talvez antigamente, num tempo remoto, as coisas
tenham sido mais ou menos assim. Hoje, a briga é outra.
A concepção
dominante, por um lado, dá a Democratas e Republicanos excessivo crédito. Por
outro lado, insulta o liberalismo e o conservadorismo.
Ultimamente,
a ideia de que Vladimir Putin é da turma dos “bandidos” passou a integrar a
sabedoria convencional; nisso, Democratas e Republicanos concordam. É notável –
não só porque ultimamente o hábito deles todos é discordar, mas também porque
há pouco tempo tratava-se exatamente do contrário.
George W.
Bush olhou olho-no-olho de Vladimir Putin, perscrutou-lhe a alma, achou boa. Só
imorredouros Guerreiros da Guerra Fria à antiga espinafravam Putin. Hoje,
Hillary Clinton, fazendo eco ao consenso em toda a imprensa-empresa, diz de
Putin que é um Hitler. Como todas as criancinhas de jardim de infância sabem, é
o mesmo que dizer que Putin é o mal encarnado.
Quanto a
isso, ela fala por todo o establishment político.
Vladimir Putin e George W. Bush, olho-no-olho |
Mas
liberais e conservadores verdadeiros não têm motivo algum para demonizar o presidente
russo. Os liberais deveriam dar-lhes boas-vindas sob o mesmo amplíssimo
guarda-chuva. Os conservadores deveriam beijá-lo.
Pois mesmo
assim, Democratas e Republicanos só fazem demonizar Putin.
Dado que
nenhuma diferença filosófica explica a coisa, tem de haver outra razão.
Talvez... porque Putin é presidente da Rússia?
Nem
norte-americanos nem europeus são geneticamente anti-russos, nem tendem a
denegrir a cultura russa. Mas as respectivas elites políticas e econômicas são
sensíveis a todas e quaisquer sugestões de que o sistema econômico do qual
extraem tantos benefícios já não seria, como antes foi, uma bênção para todas
as nações.
Isso faz da
Rússia um problema para aquelas elites, na medida que, como hoje, a sabedoria
convencional reza que a relação entre Rússia e o capitalismo é problemática.
Ironicamente,
a relação entre o capitalismo e o conservadorismo também é (problemática).
Entre capitalismo e liberalismo, não.
De fato, o
liberalismo uniu-se ao capitalismo desde o Dia Um.
Houve
intimidades entre ambos na Holanda e na Inglaterra já no século 16, e os dois
desenvolveram-se no mesmo compasso – unidos, há muito tempo, pelos centros
capitalistas na Europa do Norte e na América do Norte.
O
capitalismo inicial foi, de fato, a teoria de justificação do capitalismo.
Os
filósofos políticos sempre propuseram ideias sobre o que é o liberalismo, e a
política liberal assumiu ampla variedade de formas.
Mesmo
assim, apesar das muitas variantes, há um núcleo comum entre capitalismo e
liberalismo. Como o nome sugere, tem a ver com liberdade ou libertarismo [orig.
liberty or freedom]. Mais precisamente, tem a ver com visões liberais
marcadamente diferentes desse valor núcleo.
A concepção
de liberdade à qual mais se agarram os liberais, historicamente e conceitualmente,
é individualista e negativa; os indivíduos são livres na medida em que são livres
de interferências coercitivas.
Esse
entendimento às vezes fundiu-se em concepções mais positivas, segundo as quais
os indivíduos são livres na medida em que são capazes para fazer o que queiram
fazer, e isso se uniu recentemente a compreensões menos individualistas
derivadas da teoria política republicana (“r” minúsculo) do século 18.
A ideia
serviu também a uma vasta faixa de elaborações filosóficas que se baseiam em
noções de igualdade e justiça e em outros problemas profundos da filosofia
moral.
Mas como
doutrina política, a ênfase subjacente do liberalismo continuou bastante
estável ao longo dos anos: o foco sempre foi e continua a ser minimizar as
interferências coercitivas do estado.
O
liberalismo é, pois, uma teoria do governo limitado. Nos primeiros tempos,
opôs-se a teorias absolutistas segundo as quais o poder do soberano é em
princípio ilimitado. E venceu essa batalha, há muito tempo.
É, pois,
justo dizer que, exceto por um punhado de devotos não reconstruídos de teorias
não liberais defuntas, todo mundo, hoje, é liberal. Os conservadores também são
liberais.
Em termos
comuns, não liberalismo e “ditadura” às vezes confundem-se. É compreensível,
mas também pode desencaminhar o pensamento.
Há regimes
em estados fracos ou falhados que têm características ditatoriais, e há líderes
políticos que às vezes agem “ditatorialmente”.
É como a
nossa empresa-imprensa norte-americana retrata Vladimir Putin. E é como alguns
partidários do Tea Party, os mais
excepcionalmente delirantes, retratam Barack Obama.
Como a imprensa-empresa dos EUA (e ocidental, em geral) retrata Vladimir Putin |
Mas,
independente do mérito desses qualificativos, o fato permanece: onde o poder
soberano seja limitado por leis cogentes, só resta o liberalismo. Vale para os
EUA e vale também para a Rússia.
Os
primeiros liberais estavam principalmente interessados no comércio; o objetivo
deles era substituir a mão invisível do mercado, pelo estado; e substituir as
relações feudais de propriedade, por um regime de propriedade privada.
Agora, já
se foram os velhos inimigos mercantis e feudais do liberalismo, mas seus compromissos
doutrinais permanecem.
Os
“libertaristas” [orig. Libertarians”] continuam a ecoar posições
assumidas pelos primeiros liberais; a fé que tinham nos livres mercados e na
propriedade privada continua inabalada. A sabedoria convencional os põe no
campo conservador, mas, na realidade, são o mais liberal que é possível ser.
Liberais
dominantes são menos doutrinários, ou, como reza a sabedoria convencional, são
mais “pragmáticos”.
Essa
palavra também tem raízes filosóficas que mantêm só vaga relação com o modo
como é usada em nossa cultura política. Aí, “pragmático” significa apenas “de
mente aberta” ou “flexível”.
Nesse
sentido, os liberais dominantes são, em geral, pragmáticos. Nos amplos limites
demarcados pelo compromisso deles com os princípios liberais, dão-se bem com
qualquer coisa que funcione.
Em parte
por essa razão, eles não têm qualquer interesse em promover as doutrinas
econômicas liberais clássicas. Uma razão mais importante é que as
principais preocupações deles não são, de modo algum, econômicas.
São
advogados da tolerância e tudo que ela implica.
Esse foco
nada tem de novo. Vem de antes das Revoluções Francesa e Americana.
Muitos fatores
combinaram-se para converter o liberalismo numa filosofia da tolerância. A
devastação trazida pelas guerras religiosas que se seguiram à Reforma
Protestante foi talvez o mais importante.
A mudança
na ênfase foi tão profunda e suas consequências, de tão longo alcance, que
dificilmente alguém hoje, fora dos círculos libertaristas, ainda pensa que as
liberdades econômicas e políticas constituem rede inconsútil.
De fato,
liberais dominantes em geral apoiam mercados regulados e restrições aos
direitos de propriedade. Mas, para eles, essas são preocupações apenas
secundárias. O principal interesse deles está em defender tais direitos e
liberdades como são elaborados, digamos, na Carta de Direitos (Bill of
Rights) da Constituição Norte-Americana e na Declaração dos Direitos do
Homem (The Declaration of the Rights of Man).
Ainda que
só para facilitar a vida deles, funcionários políticos são constantemente
tentados a atropelar e pisotear essas proteções. Mas onde se mantenha o império
da lei, há limites a até onde podem ir. Isso é verdade na Rússia, é verdade na
União Europeia e é verdade também nos EUA.
Putin seria
qualitativamente pior que líderes comuns de estados liberais? É pior que Obama?
A resposta é “claro que é” ou, pelo menos, é o que nos dizem.
Afinal,
como poderia alguém formado pela Faculdade de Direito de Harvard e professor de
Direito Constitucional da Universidade de Chicago ser menos liberal que um
ex-agente da KGB?
Mas quando
se fazem as contas finais, a resposta óbvia pode já não parecer assim tão
óbvia.
O que fez
Putin, que seja pior, de um ponto de vista liberal, que pôr todo o planeta sob
regime de vigilância 24 horas/dia, sete dias por semana? Putin ordenou
assassinatos sem qualquer sequer remota semelhança com algum devido processo legal,
como fez Obama? Putin deportou cerca de dois milhões de pessoas? Putin garantiu
proteção a sequestradores e a torturadores?
Agradecimentos a Edward Snowden |
E há a
questão de Edward Snowden, na qual as ideias de Obama et alii sobre transparência e liberdade de
expressão ficaram bem claras, e na qual Putin alistou-se ao lado dos anjos.
É quase um
axioma que a liberdade de expressão está mais bem protegida nos EUA de Obama,
que na Rússia, hoje. Mas... é verdade? Compare a imprensa - empresa norte-americana
e a rede de televisão RT (Russia Today), que hoje é
desqualificada como rede de propaganda de Putin.
O padrão
dos comentários e comentaristas e das análises e analistas de RT é, de
longe, muito superior, e há ali muito maior diversidade de pontos de vista. Se
isso é rede de propaganda, então... temos de importá-la.
Diz-se que
Putin teria violado a lei internacional na Crimeia. É ponto contra seu
liberalismo, porque apoiar o império da lei é central para as políticas
liberais.
Mas também
nisso, seria Putin pior que Obama? Putin, pelo menos, não é invasor agressor
serial.
Claro, é
notório que os Democratas não têm espinha dorsal, e que também relutam em
defender valores liberais quando um deles está na Casa Branca. Então, quando
recebem ordem para demonizar, eles demonizam. Aí, não há surpresa alguma.
Mas se
fossem melhores liberais, eles com certeza resistiriam à ordem. Podem não estar
ao lado de Putin na Crimeia, mas teriam de considerá-lo, no mínimo, como um dos
seus; um deles, que se desencaminhou. E considerariam assim, também Obama.
E há então
os conservadores.
Em seu
nível mais fundamental, o conservadorismo é uma forma mental que dá grande
importância a conservar as coisas como sejam. Praticamente, como os liberais
dão o lugar de honra à ausência de interferência do estado, assim os
conservadores valorizam a estabilidade e a ordem acima de tudo.
São,
portanto, avessos a mudanças, com especial atenção à conservação dos arranjos
institucionais fundamentais. Mudanças são disruptivas; quanto mais radical a
mudança, mais tende a ser disruptiva.
Barack Obama e Vladimir Putin |
Não há
dúvidas de que esse temperamento está mais disseminado nas fileiras Republicanas,
que nas Democratas.
Mas como
filosofia política plena, o conservadorismo praticamente não existe na cultura
política dos EUA. Como poderia existir, quando o que há para conservar é inerentemente
desestabilizador!
Desde o
alvorecer da era cristã, os pensadores conservadores no mundo cristão
apoiaram-se em noções teológicas, como a doutrina do Pecado Original, que
implica apoio a instituições que mantêm a ordem mediante coerção política e
moral.
Porque
muitos dos primeiros colonizadores na América do Norte britânica eram
refugiados religiosos, esse destaque para o pensamento conservador esteve
presente na cena nos EUA desde a chegada dos primeiros europeus. Mas a situação
modificou-se, e evanesceram os modos de pensar de antes do Iluminismo.
De fato, a
república estabelecida depois de nossa Guerra da Independência era liberal de
berço, e seus princípios fundadores foram os do Iluminismo.
Essa é a
razão pela qual linhas de pensamento que tivessem implicações antiliberais
demoraram a fixar-se. Outra, é que não temos passado feudal e, portanto,
nenhuma memória de modos não capitalistas de viver que prestigiam a
estabilidade e a ordem.
O
capitalismo, afinal de contas, é sistema econômico revolucionário; derruba e
reconstrói tudo que encontra. Como proclamou, em proclamação famosa, o Manifesto
Comunista, sob o poder do capitalismo “tudo que é sólido desmancha-se no
ar”.
Hoje os
conservadores, os verdadeiros conservadores, vivem em sociedades capitalistas
e, portanto, se acomodam às suas consequências desestabilizantes. Mas a tensão
não pode nunca ser totalmente superada.
Essa é a
razão pela qual os conservadores norte-americanos são, no máximo, fac-símiles
cômicos do artigo genuíno.
Apesar
disso, quase todos os Republicanos e alarmantemente muitos Democratas se dizem
“conservadores”.
Não estão
completamente errados, porque há pelo menos uma característica do
conservadorismo autêntico que eles partilham com os conservadores genuínos.
Robert Nozick |
Os
conservadores contemporâneos são liberais; todos são. Mas liberais da banda
autoidentificada do consenso liberal, os que levam a tolerância mais a sério do
que só para o que o filósofo libertarista Robert Nozick chamou de “atos de
capitalismo entre adultos que consentem”, esses liberais querem, tipicamente,
que o estado seja o mais neutro possível – não só no que tenha a ver com
religiões em competição e com modos de viver, mas, também, no que tenha a ver
com todas as concepções do bem que estejam, seja como for, em disputa.
Para eles,
o papel do estado não é promover concepções específicas do bem, mas, sim,
tratar com equidade todas as concepções que estejam em confronto.
E os
conservadores, por sua vez, os conservadores genuínos, são ainda fiéis, ou tão
fiéis quanto ainda são nas modernas sociedades pluralistas, a concepções
particulares do bem; as concepções, que estejam de acordo com seus compromissos
filosóficos subjacentes.
Os
liberais, é claro, também têm concepções do bem; mas as veem como questões,
exclusivamente, de consciência individual. Os conservadores tendem a usar
o poder do estado para promover as concepções que eles prestigiem.
Nesse
aspecto, os automodelados conservadores norte-americanos são parecidos com os
liberais.
Mas...
Putin não está sendo acusado precisamente desse “crime”, pelos que o chamam de
ditador? E, quanto a isso, as concepções de bem que Putin é acusado de promover
não são basicamente as mesmas defendidas pelos que o demonizam?
Robert NozickSe se ouve
o que dizem Republicanos e Democratas nos EUA, Putin estaria comandando o
espetáculo a serviço dos clérigos russos reacionários – seja por razões
oportunistas ou porque crê na conversa enrolada deles ou pelos dois motivos. Mas
por que isso é problema para políticos norte-americanos, especialmente, dentre
esses, para os automodelados conservadores? Exceto por platitudes teológicas
sem relevância política, que variam, nossos teocratas nativos fazem sempre
exatamente a mesma coisa.
Conservadores
verdadeiros deveriam, pois, abraçar Putin, não demonizá-lo; abraçá-lo, e não só
por suas declaradas simpatias pré-Iluminismo.
Sempre
pessimistas quanto à natureza humana, os verdadeiros conservadores tendem a
favorecer estilos políticos autoritários e diplomacia dura, realista. Gostam de
líderes fortes, e desprezam moralizadores que falam à toa, sem rumo – como os
que hoje fazem a política externa dos EUA.
Num ponto,
acertam: internacionalistas liberais – sobretudo do tipo “interventor
humanitário” – são mais perigosos.
Mas, assim
sendo, por que demonizar Putin, por ser o exato tipo de líder que os verdadeiros
conservadores admiram?
É eloquente
que um dos menos ridículos, vaidosos, ocos e presunçosos participantes da
recentemente concluída Conferência da Ação Política Conservadora [orig. Conservative
Political Action Conference (CPAC)] em Washington, de fato, embora entre
grunhidos de protestos, concordou com isso.
Rudolph Giuliani |
Rudolph
Giuliani aproveitou a cena para desancar Obama, elogiando a liderança de Putin.
Em vez de vagar sem rumo de uma situação para outra, como Obama, Putin, disse
Giuliani, sabe exatamente para onde anda.
Como outros
grandes líderes conservadores do passado – o primeiro nome que vem à mente é
Charles de Gaulle – Putin aborda a política e a diplomacia como um jogo de
xadrez, considerando toda a situação mais ampla e antecipando o movimento
correto, já com várias jogadas de vantagem.
E assim,
quando interessa ao seu objetivo, Putin salva Obama, como fez quando Obama se
autoencurralou de tal modo que, sem a intervenção de Putin, teria metido os EUA
na guerra da Síria – com prejuízo para todos os demais envolvidos.
Ou, quando
é o que melhor atende seus próprios interesses, Putin pode impor-se como
superior até ao presidente dos EUA, inobstante o fato de que os EUA tenham a
carta mais alta.
Sob a tenda
conservadora, há ainda lugar, evidentemente, para um tipo de grandeza que falta
completamente na ala liberal do grupo liberal maior.
Grandeza,
mas não bondade. Quanto a isso, como em praticamente tudo mais, George W. Bush
errou. Hillary Clinton erra também.
Putin é
hoje o mais perto que há dos grandes líderes conservadores do passado. Os
conservadores deveriam louvá-lo por isso. Mas a ravina que separa os
verdadeiros conservadores e os automodelados conservadores que há hoje por aí é
vastíssima; é como se fossem espécies diferentes.
Mas, apesar
disso, a pergunta permanece: por que Putin está sendo demonizado?
Atrevo-me a
sugerir que o fato de Putin ser presidente da Rússia tem muito, não apenas
pouco, a ver com isso.
Gore Vidal |
Mesmo no
país que Gore Vidal chamou de Estados Unidos da Amnésia, ainda há registros de
que, há um século, os russos fizeram a história andar avante; e aquela avançada
levou-os a se libertarem do sistema capitalista.
Os
comunistas que lideraram a Revolução Russa passaram então a organizar e
supervisionar a construção de uma ordem ostensivamente socialista, sem
precedentes na história. Foi esforço de valentes – num país economicamente
atrasado e contra a mais incansável oposição de inimigos imensamente mais
fortes.
Tragicamente,
o que aqueles comunistas fizeram converteu-se no que não era. Sete décadas
depois, ruiu.
Mas o
comunismo – na Rússia e, depois, na Europa Oriental e na China – foi presença
viva durante grande parte do século 20; seus efeitos na política e seus reflexos
na política foram profundos.
Mesmo num
país e num tempo em que estados e regiões com tendência aos Republicanos são
chamados de “vermelhos”, a memória do comunismo persiste, em algum nível.
Putin não é
menos pró-capitalista que qualquer outro liberal, e é o melhor e mais fino
líder conservador que há no mundo de hoje. (...) Mas a memória do comunismo
persiste em nossa consciência coletiva.
Assim,
quando um presidente da Rússia torna-se obstáculo na trilha norte-americana, o
império contra-ataca. O primeiro passo é demonizar o presidente russo. E se há
coisa que o establishment da política externa e a servil
imprensa-empresa nos EUA fazem bem feito é demonizar gente.
Demonizar
Putin pode ser útil, no curto prazo, para os tacanhos servidores do
‘bipartidarismo’ imperial.
Mas estão
enfrentando alguém muito mais competente e aplicado que eles, e já estão
chegando a região em que a água lhes cobre a cabeça. É uma trama cínica e
perigosa, da qual pode advir dano incalculável.
______________________
[*] Andrew Levine é professor sênior do Institute for Policy Studies, e
autor de THE AMERICAN IDEOLOGY (Routledge) e POLITICAL KEY WORDS (Blackwell),
bem como de muitos outros livros e artigos em filosofia política. Seu livro mais recente é In Bad Faith: What’s Wrong With the Opium of the People. Foi professor de Filosofia) na University
of Wisconsin-Madison e
professor pesquisador (filosofia) na University
of Maryland-College Park. Foi também co-autor de Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press).
resumindo: putin joga xadrez, obama e a europa, indecisas desde o início do "conflito", não sabem se vão de boliche (eua) ou gamão (europa). assim, neste exato momento, 19:08h, a criméia volta a ser russa. só faltam o leste e o sul da ucrânia/fronteira para voltarem ao seio da mãe rússia . a multipolaridade do planeta é um fato. a terra agradece, então.
ResponderExcluirabçs, castor filho!