Ucrânia: Virada para pior
15/4/2014, The Saker − The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
The Saker |
A situação
na Ucrânia mudou rapidamente, para pior.
- Dois candidatos à presidência, do leste do país, foram atacados ontem pelos fascistas de Kiev (‘camisas marrons’). Mikhail Dobkin escapou só com tinta e farinha jogados contra ele, mas há notícias de que um guarda-costas foi ferido. E Oleg Tsarev, severamente espancado, salvou-se por um triz de ser linchado por gente do Setor Direita. Mas nada disso impedirá o “ocidente democrático” de concluir que as eleições sempre serão “livres e democráticas”.
- Um grupo de ativistas do Setor Direita cercou o prédio do Parlamento em Kiev, acusaram o regime atualmente no poder de indecisão e incompetência por ainda não terem atacado o leste da Ucrânia. O Setor Direita quer armas para “fechar a fronteira com a Rússia e dar cabo da insurreição no leste”.
- Depois de algumas negociações, deram ao suposto “presidente” o prazo de 24 horas para aceitar todas as suas exigências. Yulia Timoshenko parecia apavorada; parece que declarou que o Setor Direita deve assumir imediatamente o poder.
- Agora já não há dúvidas de que começou a operação “antiterroristas”. Várias cidades e pelo menos um aeroporto no leste foram atacadas por forças pró-regime de Kiev. Há notícias de combates em vários pontos da região.
- Enquanto isso, EUA e União Europeia preparam nova rodada de sanções contra... Já adivinharam: contra a Rússia.
- Lavrov, Ministro de Relações Exteriores da Rússia, disse que, se o regime de Kiev usar de violência, as conversações marcadas para 5ª-feira (17/4/2014), em Genebra, serão inúteis.
- Putin telefonou a Obama e eles tiveram o que os diplomatas descrevem como “franca e animada troca de ideias”.
- Está confirmado: o vídeo do suposto “Tenente-coronel russo” é falso. Foi feito por membro do Partido UDAR de Klitschko.
Mapa da Ucrânia - a região rebelada está pintada em tons médios e mais escuros de laranja |
Parece que
depois de alguns dias de confusão e caos, o regime de Kiev e seus
patrocinadores ocidentais resolveram tentar resolver o problema pela força
bruta.
A
estratégia maximalista de “sem conversas; só violência” faz pleno sentido com a
prática usual dos EUA e o currículo dos neonazistas de Kiev. Por alguns dias,
houve indícios de que talvez pudesse acontecer alguma negociação real. Mas
agora parece que já descartaram a ideia, a favor de ataque violento.
Ah, sim,
claro! A recente visita do diretor da CIA a Kiev (já admitida pelo governo dos
EUA) absolutamente nada teve a ver com isso. Claro. Com certeza.
Agora,
muito dependerá da força com que os fascistas contem, para esse ataque.
Pessoalmente,
duvido muito que o objetivo de pacificar o leste da Ucrânia seja
alcançável. Os doidos podem derrubar uma cidade, ou duas, mas a
possibilidade de derrotar todas é meta praticamente inexequível – sobretudo se
tiverem de avançar de cidade a cidade, com o tempo correndo.
Além do
mais, e ainda que o Kremlin não deseje ser posto nessa situação, tenho certeza
de que os militares russos intervirão, caso o banho de sangue se torne massivo.
Estou
começando a ter a sensação de que os militantes do 1% ocidentais concluíram que
uma guerra civil na Ucrânia e/ou uma intervenção russa pode ser melhor opção
que uma Ucrânia democrática e federalizada.
Dentro da
lógica e do sistema de valores distorcidos deles, podem estar certos: há cada
dia mais sinais de que um referendo ou qualquer chance democrática possa ser
usado para que o leste da Ucrânia separe-se do país. E assim, pela via
anglo-sionista tradicional, concluíram: “se não pode ser minha, queimamos
tudo.”
A ideia de
que a Ucrânia se possa converter em outro Afeganistão, contudo, é extremamente
simplória. O Afeganistão era país unido exclusivamente em torno de uma força: o
ódio ao ocupante estrangeiro.
Além do
mais, as tropas soviéticas que lutaram lá estavam oficialmente cumprindo seu
“dever internacionalista”, não estavam defendendo o próprio povo ou a própria
terra. Mesmo assim, a União Soviética ocupou, sim, todo o Afeganistão, o que
significa ocupar vasta área hostil. Estou absolutamente convencido de que os
russos não organizarão operação militar para parar no rio Dniepr (e quem, na
Rússia ou no leste da Ucrânia, precisa condenar-se a viver “sob o mesmo teto”,
com nazistas galegos banderistas?!).
Por fim, e
ao contrário do mito dominante, os militares soviéticos foram bastante bem
sucedidos no Afeganistão, e só saíram de lá porque Gorbachev e o povo russo
entenderam que seria sem sentido, além de absolutamente imoral, invadir outro
país. Em outras palavras, os soviéticos saíram do Afeganistão por uma questão
política, não pelo valor da resistência afegã, que não conseguiu manter-se nem
três anos em Cabul depois da saída dos soviéticos.
Na Ucrânia,
diferente do Afeganistão, tudo que os militares russos terão de fazer é varrer
as forças envolvidas na repressão contra o leste; e deixar que os locais
assumam o comando. Não é muito diferente do que os russos fizeram na
Geórgia: eliminaram as forças armadas georgianas, ajudaram o pessoal de Ossétia
Sul e Abecásia a organizar-se, retiraram-se e reconheceram a soberania das duas
repúblicas.
Outra via
possível para os militares russos é engajar-se em ataque curto, mas potente,
contra instalações chaves e unidades envolvidas no golpe contra o leste da
Ucrânia e, na sequência, deixar que os locais organizem sua “República de
Donetsk”, ou “Novorossia” ou seja lá o nome que queiram dar, e
reconhecer o novo estado independente. Nenhuma dessas alternativas era sequer
remotamente possível no Afeganistão. Portanto, a conversa de “um novo
Afeganistão para a Rússia” não passa de delírio desejante que as elites
ocidentais inventaram para elas mesmas.
A próxima
semana será crucial, e o resultado do conflito será decidido, provavelmente,
nos próximos dias. Permaneçam sintonizados.
Saudações
The Saker
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