26/5/2014, [*] Moon
of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Piotr Poroshenko vence eleição presidencial na Ucrânia |
Noirette comenta,
no final dos comentários do último postado sobre a Ucrânia:
Sou menos otimista que b.
Realizar as eleições foi provocação doentia,
pervertida.
Foi como se os golpistas dissessem – nós
controlamos o “Estado” [seja lá o que for] e fazemos o que bem entendemos.
Vocês aí nada têm a ver com a coisa e nós venceremos. Acho que antes da eleição
talvez houvesse ainda uma pequena chance de “pacificação” e é possível que o
tempo ajudasse. Mas depois da eleição, não, chance nenhuma.
Claro, oficialmente ou ostensivamente, a
eleição foi realizada para legitimar os golpistas-de-Kiev com uma farsa de “democracia”,
e para criar um novo interlocutor para Putin e para o “ocidente”, que é o que a
maioria parece estar vendo no “eleito”.
Última pesquisa para eleição presidencial na Ucrânia (clique na imagem para aumentar) |
O problema de Poroshenko não é ele ser judeu,
mas ele ser o pior tipo de oligarca bandido. “Magnata do Chocolate” [risos,
risos], segundo a imprensa-empresa ocidental. Em resumo, exatamente tudo que o
povo da Ucrânia não quer e contra o que lutou e continua a lutar.
Em minha modesta opinião, todas as esperanças
de uma Ucrânia “unida” ou “unitária” são hoje praticamente nada, sumiram.
Lembrem, Yanukovitch tentou manter o status
quo e o status quo veio
abaixo. A proposta de “federalização” (Putin e outros), com estado central
fraco, plus alta independência
para as “Regiões” (em minha opinião, as oblasts
são pequenas demais), nada significa, de importante.
Nesse momento, não há governo legítimo, mas um
vácuo, que suga para dentro do buraco todos os tipos de atores. Isso continuará
e degenerará, apesar do presidente “eleito”, e criará mais linhas obscuras. A
dificuldade, como vejo as coisas, nem é tanto a língua, a cultura ou a política
(partidos políticos na Ucrânia não passam de arranjos entre os próprios
oligarcas), mas a ideia da “finlandização”, ou o que os franceses chamam de “estado
tampão” [no sentido de uma camada para absorver choques].
Como pode ser restaurado aquele status quo ante, depois de tanta
interferência? Quantos dos diferentes partidos realmente desejam que seja
restaurado? Os golpistas-de-Kiev acham-se em posição de criar esse estado de
coisas e recusar qualquer proposta que não seja de “uma Ucrânia unida”.
Francamente, isso tem de ter sido deliberado. E Poroshenko foi parte da trama e
teve apoio ocidental. (Sobretudo – mas não porque alguém dê alguma bola para o
que os ucranianos desejem – meu palpite é que eles não estão gostando dessa
ideia de Poroshenko.)
Última pesquisa para eleição parlamentar por partido político (clique na imagem para aumentar) |
(1) Lembro um detalhe histórico ilustrativo. Yats,
Yulia e Yushenko pediram para ser integrados à OTAN, em janeiro de 2008. O
pedido foi apoiado por Bush, Obama e McCain. Subsequentemente, por causa de
oposição interna, o Parlamento ucraniano foi bloqueado e não funcionou, de 25
de janeiro até 4 de março de 2008. Na reunião de cúpula da OTAN em abril, o pedido foi
negado: britânicos
e franceses votaram contra.
Minha
opinião: tudo muito bom, tudo muito bem, mas é preciso considerar a realidade,
a realidade econômica, que o Instituto
Brookings tentou explicar.
A Ucrânia já
foi espremida feito limão e os recentes empréstimos do FMI e do Banco Mundial
não durarão para sempre. Nem EUA nem União Europeia querem pagar a conta dos 40
milhões de ucranianos. Não haverá portanto, no final, outra saída para Kiev – e
não importa quem esteja mandando lá – que não implique acertar as coisas com a
Rússia e aceitar as condições dos russos.
A Ucrânia
precisa do gás e do petróleo russos e precisa da cooperação
de defesa com a Rússia. Ainda não encontrei argumento
que desminta isso e dê bases a conclusão diferente.
Os
neoconservadores, é claro, tentarão obter outro resultado e apoiarão qualquer
lunático ou lunática que apareça. Mas essa gente, como nós todos sabemos e já
vimos tantas vezes, não tem qualquer senso de realidade em campo (mesmo que,
tantas vezes, acabem eleitos).
[*] “Moon of Alabama”
é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como “Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”)
dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht,
com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na
ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização,
aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato.
Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada
em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David
Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na
voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos
às nossas traduções desse blog Moon
of Alabama, à guisa de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:
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