quarta-feira, 21 de maio de 2014

Ucrânia: Relatório de Situação (SITREP), 20/5/2014, 16:28 UTC/Zulu

CAOS DELIBERADO

20/5/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

The Saker
Entendo que podemos todos concordar que a situação na Ucrânia é de total caos.

• Rinat Akhmetov, o oligarca capo-de-gangue, declarou que seus asseclas farão “paralisações [locautes] de alerta”, porque Akhmetov teme que as autoridades da República Popular de Donetsk, RPD [orig. Donetsk People's Republic (DPR)] tenham assumido o controle das ferrovias, o que resultou em perdas para sua(s) empresa(s).

Rinat Akhmetov
• Uma das autoridades da RPD reagiu à ameaça de Akhmetov e declarou que as autoridades da RPD já iniciaram o processo de nacionalização das empresas instaladas em território da RPD, em outras palavras: as empresas da holding controlada por Akhmetov.

• As forças militares da junta neonazista iniciaram bombardeios contra cidades no leste da Ucrânia, destruindo vários prédios.

• O comandante militar das forças da RPD, Igor Strelkov, [1] fez apelo pungente por maior mobilização de homens, sobretudo pessoal com treinamento militar, nas forças de voluntários que defendem a RPD contra os militares da junta neonazista.

• Esquadrões da morte ucranianos sequestraram, outra vez, uma equipe de repórteres russos, dessa vez da rede LifeNews, acusando-os de ser o “componente-informação” de um movimento terrorista.

Igor Strelkov
• O governo russo indicou que as forças militares que estiveram em manobras já retornaram às bases. A OTAN negou.

• Os militares russos completaram a construção da rede de aquedutos que agora fazem o total abastecimento de água potável para a Crimeia.

• O chefe dos nazistas “ukies, Iarosh, anunciou que, se for eleito, desencadeará guerra de guerrilhas na Crimeia.

Assim sendo... O que, afinal, está realmente acontecendo?

Entendo que, embora seja prematuro arriscar grandes conclusões e predições, podemos começar por fixar alguns fatos básicos.

PRIMEIRO, não tenho qualquer dúvida de que a junta em Kiev trabalha clara e exclusivamente para provocar Moscou de todos os modos possíveis. Embora ainda se pudesse inferir algum critério militar, marginal, que fosse, no tipo de ataque de artilharia que os nazistas estão lançando aleatoriamente contra Slavianks, Kramatorsk e outras cidades, a prisão dos repórteres da rede LifeNews, essa, não faz sentido algum. Foram fotografados ajoelhados, foram espancados, tiveram o rosto esfregado no chão – tudo registrado em vídeos que imediatamente foram “vazados” para Youtube, como se os esquadrões da morte existissem para provocar o Kremlin, com “mensagem” do tipo: “e agora? Moscou fará o quê, depois disso?!”

SEGUNDO, entendo que a contratação do filho de Joe Biden [2] para a diretoria de uma das principais empresas de energia dos nazistas “ukies cujas concessões operam em praticamente todas as cidades do leste da Ucrânia é também mais um modo de provocar o Kremlin.

Por quê, então, a junta está fazendo tudo isso?

PRIMEIRO, parece-me razoável assumir como axioma que os doidos em Kiev não “decidem” absolutamente nada, coisa alguma. Eles recebem ordens dos EUA e cumprem ordens dos EUA. Vimos claramente durante a recente viagem de Biden a Kiev, quando fez uma reunião com o “governo” da junta, que quem ocupou a cabeceira e comandou a mesa e a reunião foi Biden – mais uma clara provocação deliberada e cuidadosamente encenada.

SEGUNDO, os EUA sabem que o leste da Ucrânia está perdido para eles – e, nisso, estão perfeitamente certos. Ainda que acreditemos integralmente no que diz Strelkov (voltaremos adiante, sobre esse assunto), não há dúvidas de que a vasta maioria do povo do Donbass odeia os doidos neonazistas de Kiev e não querem ter futuro comum com galicianos fascistas ensandecidos do oeste da Ucrânia.

Portanto, se o plano “A” foi tomar toda a Ucrânia, pôr no poder um regime pró-EUA neonazista e histericamente russofóbico, e ocupar a Crimeia em nome de EUA/OTAN, o plano “B” é muito mais simples: provocar a Rússia e induzi-la a uma intervenção militar no leste da Ucrânia.

As províncias (oblasts) do Donbass são Lugansk, Donetsk, Carcóvia, Dnipropetrovsk e Zaporizhia
Mesmo que os militares russos sempre possam facilmente assumir o controle total do Donbass e até de todas as terras do rio Dniepr (“mole”, como se diz, como cortar manteiga com faca quente), ainda assim os benefícios políticos para o Império Anglo-sionista seriam muito grandes:

1) Uma nova Guerra Fria com a Rússia, que justificaria a existência da OTAN.

2) Separar a Rússia do mercado da União Europeia (inclusive de energia).

3) Culpar a Rússia pelo colapso econômico da Ucrânia dos “ukies.

4) Justificar grande “avançada” nos orçamentos militares de EUA/UE, para “proteger a Europa”.

5) “Isolar” a Rússia internacionalmente, especialmente na ONU.

6) Declarar Putin um “novo Hitler” (e o que mais seria?), e alocar BILHÕES para fazer a “mudança-de-regime” na Rússia.

7) Usar a crise para obrigar a Europa a ajoelhar-se ante o “amo” anglo-sionista.

8) Impor à Rússia sanções de tipo “iraniano”, para tentar quebrar economicamente o país.

9) Justificar um movimento de EUA/OTAN para dentro do oeste da Ucrânia e a criação de alguma espécie de linha de demarcação ao estilo da Coreia ao longo do rio Dniepr, com o “ocidente” livre e civilizado de um lado; e, do outro, as hordas odiadoras de liberdades e ditatoriais imperialistas russo-asiáticas. E, para encerrar a lista,

10) Culpar a “ameaça russa” pelo colapso econômico da União Europeia.

Pessoalmente, entendo que o plano “B” dos anglo-sionistas é quase melhor que o plano “A”. Para começar, o plano ‘”B” permite culpar a Rússia por tudo e qualquer coisa e mais um pouco. Já se viu essa tendência no alerta absolutamente ridículo, cômico, segundo o qual, se fracassarem as eleições presidenciais ucranianas do próximo domingo... a culpa será integralmente da Rússia! Na sequência, sugiro aplicar sanções-monstro contra a Rússia, se houver terremoto em San Francisco ou tumultos de rua no Paraguai...

Além do mais, enquanto o plano “A” era projeto de longa, longa distância, o plano “B” já está funcionando. Permitam-me oferecer um exemplo: a imprensa-empresa russa de notícias.

Os que não conseguem acompanhar a mídia russa, especialmente a televisão russa, é difícil imaginar o grau de *fúria*, de *ira*, contra os desenvolvimentos na Ucrânia. Alguns sujeitos, que tendem naturalmente a ver a “mão da CIA”m em tudo, já dizem que a mídia russa “controlada pelos EUA” recebeu de Langley a missão de agitar a tal ponto a opinião pública, que Putin seja OBRIGADO a ceder e intervir na Ucrânia.

A aprovação do governo de Vladimir Putin (Jan/2014 = 60,6% e maio/2014 = 85,9%)
Segundo essa tese, se Putin não ordenar uma intervenção militar russa, enfrentará grave crise e sua popularidade desabará sob ondas de ultraje que a população russa levará às ruas... É teoria bem-arrumada e elegante. E errada (graças a Deus!).

O único fato comprovado é que a popularidade de Putin só faz subir e já alcança píncaros, pelo modo como está gerenciando a crise ucraniana – e como já se viu até em matéria exibida pela televisão.

Janeiro 2014-maio 2014

Aqui estamos lidando com uma imensa diferença cultural entre os russos e os “ocidentais”, especialmente os anglos:

Alexander Gordon
– os russos são/estão *REALMENTE FARTOS* de guerra. Aceitarão a guerra, aceitarão até morrer numa guerra, mas exclusivamente se a questão moral for bem claramente visível, como foi na IIª guerra chechena, em 08.08.08 ou na ação dos militares russos na Crimeia.

Nesses três casos, a consideração principal, essencial, para decidir entre apoiar ou opor-se à ação dos militares russos era UMA QUESTÃO MORAL. Enquanto a opinião pública vai-se encaminhando aos poucos na direção de mais apoio a uma intervenção militar russa na Ucrânia (já há várias pesquisas de opinião que sugerem que os russos apoiariam intervenção dessa natureza), os próprios militares e até o Kremlin já dão sinais de que se vão cansando das loucuras dos anglo-sionistas, com a armadilha de seu plano “B”.

Emoções são fortes, mas emoções não devem decidir questões de guerra e paz. Na IIª guerra chechena, em 08.08.08 e na Crimeia as emoções estavam a mil, mas a decisão de usar força militar foi tomada por razões pragmáticas, racionais e cuidadosamente ponderadas, não num surto de ofensa ou revolta. Como eu já disse muitas vezes, os russos, quando ameaçados, não se enfurecem: eles se concentram. É o que está acontecendo agora.

Vladimir Soloviev
De volta à imprensa-empresa, está acontecendo outro fenômeno interessante: judeus russos de alta visibilidade estão bem claramente no comando do movimento para agir (embora não seja necessariamente movimento militar) contra a Junta nazista. Judeus muito conhecidos, personalidades como Vladimir Soloviev, Alexander Gordon, Roman Ratner (atual comandante do batalhão Alia, batalhão de forças especiais israelenses composto de judeus russos), Avigdor Eskin e muitos outros.

É verdade que pervertidos odiadores de judeus dirão que, como sempre, são judeus jogando dos dois lados, etc.. Mas acredito, pessoalmente, que aí se tem verdadeira expressão do horror que os neonazistas ucranianos inspiram aos judeus russos. Acrescentaria também que é bem claro, tanto quanto posso avaliar, que a maioria dos nacionalistas russos creem na sinceridade desses judeus e os acolhem como parceiros bem-vindos numa luta contra o inimigo comum. Significará isso que, doravante, haverá longo e ininterrupto “festival de amor” entre russos e patriotas judeus? Absolutamente não. A lista das questões que permanecem sem solução e nas quais há desacordo profundo e até oposição declarara é imensa. Mas se pode falar de um interessante “cessar-fogo temporário”, se quiserem, um modo bem tipicamente russo (e judeu!) de manter de pé as prioridades e construir uma aliança tática temporária contra inimigo comum. Além do mais há muitos judeus russos que sempre sentiram sincero, forte, profundo amor pela Rússia e pelo povo russo (se por mais não for, porque muitos deles são filhos de casamentos mistos) e que acolhem como bem-vinda a oportunidade de não ter de escolher entre esses dois lados e ser simultaneamente judeu patriota e russo patriota.

Avigdor Eskin
Ah, sim, sei que isso ainda soa extremamente simplório e ingênuo. Mas conheci pessoalmente muitos desses judeus russos, em Israel, na Europa e na Rússia, que realmente têm dupla lealdade, mas do tipo que realmente, abertamente, somam suas duas lealdades. Claro que alguns se sentem mais judeus que russos; outros sentem-se mais russos que judeus. Esses assuntos são sutis e complexos, não são ou branco ou preto como alguns estúpidos odiadores de judeus gostariam que fossem.

Como se diz em russo, “o oriente é reino sutil” e ambos, russos e judeus são, antes de tudo e sobretudo, povos do oriente, não do ocidente.

De volta ao que chamo de plano “B” dos anglo-sionistas, podemos agora entender a posição russa: não se deixar arrastar para dentro, ou, se for impossível, só se deixar arrastar o mais tarde possível. Por quê? Por algumas razões, poucas e básicas:

1) Para trabalhar com uma questão moral que possa se compreendida em termos claros e limpos.

2) Para dar tempo à opinião pública para entender que a imprensa-empresa comercial ocidental nada faz além de mentir (atenção: já está acontecendo, embora em ritmo lento).

3) Para maximizar o apoio a essa intervenção russa no leste da Ucrânia.

4) Porque o tempo corre a favor dos russos, para dar oportunidade a Junta para cometer mais e mais sandices e loucuras.

5) Porque ainda é razoável esperar que se configure vitória militar das forças da República Popular de Donetsk, RPD.

Nesse ponto, é importante oferecer informações sobre o equilíbrio militar em campo, no Donbass. Em resumo, temos que:

Uma grande força ucraniana está atualmente em solo no leste da Ucrânia. Está sendo combatida por uma pequena força de voluntários. Há dois motivos pelos quais esse conflito não foi “decidido” nas primeiras 24 horas:

Primeiro, que a vasta maioria dos militares ucranianos não quer combater.

Segundo, a ameaça de uma intervenção militar russa é real e, eu acrescentaria, nada tem a ver com forças supostamente deslocadas para a fronteira russo-ucraniana.

É preciso explicar isso, porque, nesse quesito, a imprensa-empresa comercial está completamente cega e desnorteada. Dou-lhes um exemplo do que pode acontecer.

Assumamos que algumas poucas baterias de lançamento múltiplo de foguetes em torno, digamos, de Slaviansk, decidam trabalhar para valer e abram fogo de barragem sustentada de artilharia semelhante à que os georgianos usaram contra Tskhinval nas primeiras horas da guerra de 08.08.08. Em resposta, se acontecesse, a Rússia não precisaria enviar blindados e soldados para o outro lado da fronteira. Putin pode ordenar ataques aéreos e de mísseis que poderiam literalmente liquidar todas as unidades ucranianas de ataque EM QUESTÃO DE MINUTOS (um único míssil Iskander armado com ogiva de fragmentação ou de combustível explosivo faria, sozinho, o serviço).

Diferente do que dizem os “repórteres” ocidentais (e, dado que nada reportam e tudo papagueiam, deveriam ser chamados de pagagaiadores das mentiras dos EUA), os comandantes militares ucranianos, todos eles, sabem perfeitamente que estão completamente em área de alcance de fogo russo suficiente para mandá-los para mundo melhor que esse, em minutos.

Iskander - sistema russo, móvel, de mísseis balísticos de alta precisão
Você obedeceria a ordens para bombardear a população de Slaviansk, se soubesse que há um olho-do-alvo pintado exatamente onde você está, nas muitas telas de número MUITO GRANDE de operadores de mísseis Iskander, e que, se os russos dispararem seus mísseis, você nem saberá o que lhe aconteceu, não ouvirá coisa alguma (não ouvirá nem verá coisa alguma, sequer, no radar)?!

Todos os “jornalistas” em campo dizem que, embora os vários esquadrões-da-morte nazistas (a “Guarda Nacional”, os batalhões de Dniepr e Dniester, os vários esquadrões-da-morte organizados pelos oligarcas, etc.) sejam extremamente hostis e atirem contra civis sem qualquer motivo e praticamente sem nem olhar para onde atiram, os militares ucranianos são muito mais contidos, às vezes até amistosos, com as populações locais.

Eis o que realmente está acontecendo:

Os esquadrões da morte ucranianos estão tendo muito mais problemas em confrontos CONTRA os militares ucranianos, do que contra as forças do Donbass.

Por um lado, é mais fácil e mais seguro para eles (esquadrões da morte são, sabidamente, grupos constituídos de doidos, lunáticos, pervertidos e covardes): por que alguém dessa estirpe arriscaria a própria vida em luta contra inimigo muito motivado, quando pode pôr-se a irritar comandantes militares regulares e empurrá-los para a luta, em lugar dos próprios provocadores doidos, lunáticos, pervertidos e covardes?! Quanto aos ucranianos doidos, lunáticos, pervertidos e covardes, eles não podem não obedecer ordens; mas podem providenciar para que as ordens só sejam obedecidas em proporção mínima.

Além do mais, segundo todos os relatos, os esquadrões da morte recebem total patrocínio e apadrinhamento, enquanto as forças militares regulares estão sem receber salários, sem receber comida, sem receber equipamento, sem receber cuidados médicos – ou com mínimo apoio médico – e toda a logística aí é absolutamente horrível.

De fato, é o que Igor Strelkov admite em sua declaração. A preocupação dele é que, com a gradual escalada, as já pequenas forças de voluntários estão enfrentando dificuldades para mobilizar um esforço imenso, enquanto centenas de homens, inclusive militares treinados estão dormindo em casa, ou tomando cerveja. [3] Será verdade?

Acredito que sim, que é bem verdade. Há muitos motivos para esse estado de coisas.

Para começar, uma geração inteira de ucranianos foi criada na mais abjeta passividade. “Trabalhe, mantenha a boca fechada, não se meta no que não é de sua conta, enquanto vamos saqueando vocês” – era a palavra de ordem durante os vários regimes dos vários oligarcas da chamada “Ucrânia independente”.

Segundo, não há um nem dois, mas pelo menos TRÊS poderes locais no Donbass exatamente agora: os chefes de gangues armadas; a junta de Kiev; e a resistência local. Assim se cria uma imensa confusão, e muita gente tem medo, mesmo sem saber exatamente de quem, e não quer ser queimada viva.

Terceiro, muita gente claramente espera que a Rússia resolverá o problema para eles e pensam “votaremos pela soberania; e os russos virão nos libertar, mais cedo ou mais tarde”. E não esqueçam de que há esquadrões-da-morte operando por toda a Ucrânia exatamente nesse momento. O objetivo dos massacres, como o de Odessa ou de Mariupol é aterrorizar os locais, mostrando o quando aqueles homens são assassinos cruéis; e funciona (esquadrões-da-morte são, praticamente sempre, tradições das mais homenageadas nos Impérios!).

Assim sendo, tudo bem, para mim, sentado na segurança da minha casa nessa ensolarada Florida, pôr-me a desejar que o povo do Donbass pegue em armas; de diferente, só, que minha mulher e minha família absolutamente não estão sendo ameaçados. Minha casa não será (esperemos) assaltada à noite por homens vestido de preto e é pouco provável que eu suma de casa, que seja torturado e assassinado. O mesmo se aplica a muitos dos leitores desse blog.

É claro que Strelkov vê com clareza em que direção tudo isso caminha (a escalada), e está preocupado, porque a atualmente pequena resistência não bastará para resistir a uma escalada constantemente crescente, das forças da Junta nazista: a coisa começou com tacos de beisebol; na sequência, começaram os coquetéis Molotov; depois apareceram as pistolas, os rifles de assalto e as metralhadoras. Agora, já estão usando fogo de morteiro e de artilharia. Confirmamos relatos de mísseis não guiados disparados de helicópteros; e hoje pela manhã recebi relatório do ataque de um Sukhoi. Somem a isso os esquadrões-da-morte pagos pelos oligarcas, e vocês compreenderão facilmente o que tanto preocupa Strelkov – e temos de encarar os fatos – tanto o incomoda na passividade dos locais.

Mas não esqueçam que, mesmo que o apelo de Strelkov seja ignorado, e mesmo que as cidades-chaves venham a ser retomadas, mesmo assim o Donbass já está perdido. De fato, o mais recente relatório saído de Kiev diz que o Parlamento [tomado pelos fascistas ukies] aprovou memorando segundo o qual “tropas ucranianas deslocadas para ação do leste do país devem retornar imediatamente às bases”.

Neofascistas "Ukies" tomaram o Parlamento em Kiev
De minha parte, não espero surpresas (Tio Sam jamais aceitará esse “memorando”), mas sabe-se lá o que pode vir a acontecer (os alemães, talvez, estarão começando a envolver-se?). Acho que ninguém sabe, de verdade, coisa alguma.

Há, simplesmente, excesso de variáveis, para que se possa afirmar que acontecerá isso, ou aquilo. Ora! Pois se não se sabe com certeza, sequer, o que já aconteceu! Estamos ante situação extremamente caótica na qual podem acontecer as coisas mais imprevisíveis (por exemplo, um oligarca pode ser comprado por Moscou; ou alguém da resistência pode ser comprado(a) pelos EUA – de fato, pode acontecer absolutamente qualquer coisa).

O fato é que, com a exceção notável dos verdadeiros crentes (dos dois lados), a vasta maioria dos ucranianos ainda está em modo “e que vantagem levo eu, nessa coisa toda?” (mesmo sem entender precisamente a “coisa”). Outra vez, não é absolutamente diferente da posição da maioria dos russos em 1917, 1991 ou 1993.

Atenção: não há Putin ucraniano a ser ouvido e seguido

Embora esse tipo de aparente passividade “nacional” nada tenha a ver com alguma “falta de cultura democrática no passado dessas sociedades que eram feudais até recentemente”, e com todo o suprematismo ocidental de jardim, ela é resultado direto de uma alienação profunda das elites, combinada à desconfiança profunda que aquelas mesmas elites inspiram ao povo. Essa cambada, tão Yanukovich-iana, que entrega o poder a neonazistas e foge do país! Esses “líderes” já foram queimados muitas e muitas e muitas vezes. E – aspecto absolutamente crucial, decisivo: não há Putin ucraniano a ser ouvido e seguido.

Quando Putin chegou ao poder na Rússia, demorou menos de um mês para que as forças armadas sentissem que “esse é o homem que vai cuidar de nós”. O restante da população demorou um pouco mais, mas, hoje, a maioria dos russos realmente confia em Putin. E em quem confiariam na Ucrânia ou, mesmo, no Donbass? Alguém surgido há poucas semanas, que ninguém de fato conhece, ou figuras que todos conhecem há décadas e sabem que não passam de ladrões, escroques ou mentirosos doentios?

Em quem você confiaria, se vivesse em Donetsk ou Lugansk?

Você arriscaria sua vida e a vida de sua família, em tal escolha?

Não? Pois é.

Por tudo isso, embora eu compreenda a frustração de Strelkov (e da maioria de nós!), se vemos um território com milhões de habitantes defendido por apenas umas poucas centenas de homens de coragem; e por mais que nos engajemos em furiosa discussão contra as falsas notícias que saem da Ucrânia, ou que nos deixemos levar em sonhos cujos protagonistas são Os Homens Polidos, Armados, de Uniformes Verdes, que rapidamente neutralizariam os esquadrões-da-morte dos fascistas ukies, eu também compreendo por que esse processo foi e continuará a ser PROCESSO LENTO: é simplesmente fluido demais e muda rapidamente demais, para que se possam tomar decisões prematuras ou mal pensadas.

Os anglo-sionistas estão tentando desesperadamente disparar uma intervenção russa, e há boa chance de que consigam, é claro; mas a boa notícia é que o tempo está passando rápido, muito rápido, e em pouco tempo a crise começará a morder MESMO, e a agitação e os tumultos se espalharão para bem além do Donbass.

Quanto às eleições presidenciais do próximo domingo, serão tal super-mega-farsa, que não servirá a outro objetivo além de dar à OTAN algum pretexto para deslocar soldados para o oeste da Ucrânia, “a pedido do novo presidente”. E o ocidente reconhecerá essa eleição? Ah, podem apostar que sim!

Como Vladimir Soloviev disse no domingo, “ainda que só haja um candidato e só apareça um eleitor para votar, o “ocidente”, declarará que as eleições foram livres e justas”. Mas para o povo da Ucrânia será farsa tão absoluta e completamente autoevidente, que só alienará ainda mais as pessoas – inclusive os neonazistas.

                      Yulia Timoshenko                                                  Piotr Poroshenko
De fato, Yulia Timoshenko (a qual, por falar dela, dá sinais de ter enlouquecido completamente) já declarou até que, se o oligarca & bilionário Poroshenko for eleito (como todas as pesquisas sugerem que acontecerá) ela lançará outra “revolução”, com Praça Maidan e tudo!

Seguindo o exemplo da Ucrânia, é o próprio “Banderastão” que está cometendo suicídio nacional e todo o castelo de cartas, em pouco tempo, estará no chão, em ruínas (a menos que um esforço de último momento, pela Alemanha, ajude a adiar ou a deter o desenlace, mas não tenho esperança alguma).

Agora, todos temos de ter um pouco de paciência.

Desculpem pelo Relatório de Situação longo demais, mas eu tinha de cobrir muitos pontos. Muito obrigado. Saudações.

The Saker



Notas dos tradutores

[1] O texto do apelo, distribuído ontem, 19/5/2014, pode ser lido (ing., em tradução) em: Full text of the appeal of the commander of the militia of Donetsk People`s Republic Igor Strelkov (UPDATED WITH 2nd translation!)


[3] O texto do apelo, distribuído ontem, 19/5/2014, pode ser lido (ing., em tradução) em: Full text of the appeal of the commander of the militia of Donetsk People`s Republic Igor Strelkov (UPDATED WITH 2nd translation!) e começa com:

Cidadãos da República Popular de Donetsk, dirijo-me a vocês com um pedido. É preciso proteger nossa pátria, nossos lares, nossas famílias, nosso povo. Tenho de pedir que façam o que, segundo todos os padrões humanos, não se precisa pedir. Porque sempre foi uma honra, na Rússia, proteger nossa pátria e nossa liberdade. Sempre foi o que fizeram todos os que se veem como homens de bem.

Sou obrigado, porém a dizer a verdade diretamente, olhando nos olhos. Tenho de dizer palavras duras, e que talvez soem como insulto à dignidade de muitos:

– Já há mais de um mês, nós, um pequeno grupo de voluntários da Rússia e da Ucrânia, acorrendo aos pedidos de ajuda, nos mudamos para cá e aqui nos opomos, em armas, contra o exército ucraniano e mercenários alugados e pagos para espalhar a morte e o medo [continua]


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