18/5/2014, Entrevista de Vladimir Putin – RT-TV en español
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Às vésperas
de sua visita à China, o presidente russo, Vladimir Putin, concedeu entrevista
aos principais veículos da imprensa russa. Aqui, a transcrição da conversa, de RT.
I. O que o
senhor espera de sua próxima visita à China? Que resultados espera da
Conferência sobre Interação e Medidas de Confiança na Ásia (na sigla em ing. CICA, Conference on Interaction and
Confidence-Building Measures in Asia), que se celebrará em Xangai?
Vladimir
Putin: Ampliar
nossos laços com a China, nação amiga de confiança, é definitivamente
prioridade da política exterior russa. Atualmente a cooperação bilateral está
entrando numa nova etapa de ampla associação e cooperação estratégica.
Não me
engano, se digo que vivemos o melhor momento de vários séculos da história da
cooperação entre nossos países. Estou esperando um novo encontro com o
presidente da China, Xi Jinping, com quem mantemos boa relação, tanto laboral
como pessoal. Vamos discutir a implementação dos acordos alcançados e traçar
novas tarefas para o futuro.
Estou certo
de que as negociações proporcionam forte impulso para a cooperação bilateral em
todos os âmbitos e facilitarão nossa coordenação na arena mundial. Os
resultados da reunião e os planos para o futuro refletir-se-ão numa declaração
conjunta dos líderes e num pacote de documentos a serem assinados durante a
conferência.
Rússia e
China estão promovendo ativamente a ideia de formar uma nova arquitetura de
segurança e desenvolvimento, que seja estável, no Pacífico Asiático. É aliança
que se baseará nos princípios da igualdade, repeito ao direito internacional, a
indivisibilidade da segurança e na recusa ao uso da força como tal e como
recurso de chantagem e ameaça. Hoje, essa tarefa tem máxima urgência. A próxima
reunião de cúpula está centrada na realização dessa tarefa.
A
Conferência sobre Interação e Medidas de Confiança na Ásia (na sigla em ing. CICA) é mecanismo de cooperação
que já comprovou plenamente sua funcionalidade. Em torno desse mecanismo
realizam-se trabalhos em âmbitos significativos para a região, como segurança,
novos desafios e ameaças, economia, ecologia e assuntos de assistência
humanitária. A Rússia participa ativamente nas atividades da CICA-Ásia.
Em meados de
abril passado, os países membros da Conferencia aprovaram o Artigo sobre o
Conselho de Negócios da CICA-Ásia, que foi elaborado a partir de uma iniciativa
nossa. Tenho certeza de que, tão logo seja adotado, se estreitarão os laços
operacionais práticos entre os círculos empresariais dos países asiáticos.
Durante a reunião de cúpula, há planos também para que seja assinado o
memorando de mútuo entendimento entre os secretariados de la CICA-Ásia e da
Organização de Cooperação de Xangai. Será mais um passo na direção de
constituir na região um sistema de associação entre diversas organizações e
fóruns.
II. A China
está movendo-se na direção de implementa um ‘sonho chinês’, um grande
renascimento nacional. A Rússia também se autoimpôs a missão de ressuscitar o
próprio poder. Em sua opinião, como nossos países poderão cooperar para
ajudar-se mutuamente na realização dessas tarefas? Que âmbitos se devem
considerar prioritários, nesse contexto?
Vladimir
Putin: O
desenvolvimento das relações de amizade, boa vizinhança e associação correponde
plenamente aos interesses mútuos de Rússia e China. Já não há qualquer problema
político que possa afetar negativamente o desenvolvimento de cooperação ampla.
Conjuntamente,
construímos uma interação verdadeiramente exemplar, que se deve converter em
modelo para as grandes potências. É cooperação que se baseia no respeito aos
interesses fundamentais de todos e no trabalho eficaz com vistas ao bem de
todos os povos do mundo.
Rússia e
China cooperam com êxito na arena mundial e coordenam os passos que dão para
resolver problemas e crises internacionais. Nossas posições sobre os principais
assuntos globais e regionais são ou extremamente próximas, ou perfeitamente
coincidentes.
É
gratificante que as duas partes estejam prontas a estreitar a cooperação. Tanto
Moscou como Pequim entendem que os potenciais de nossos países estão longe de
esgotados. Ainda há metas a alcançar. Como prioridades de nossa cooperação na
fase atual, pode-se destacar o estreitamento de laços econômicos e a
colaboração no âmbito das ciências e das altas tecnologias. Essa cooperação
para o desenvolvimento de potenciais que beneficiam os nossos países muito
ajudará também para a implementação das tarefas de desenvolvimento interno.
III. A
cooperação russo-chinesa intensifica-se sempre, mas a economia global permanece
assediada por incertezas. As economias emergentes encontram novos desafios –
como a desaceleração da economia. Como Rússia e China podem ajudar-se
mutuamente, para fazer frente a esses desafios? Como se pode garantir o
crescimento estável do comércio e os investimentos mútuos?
Vladimir
Putin: Ante as
turbulências da economia global, é altamente importante reforçar os vínculos
comerciais e econômicos que nos beneficiam mutuamente, além de aumentar os
investimentos entre Rússia e China.
É fator
significativo, não só para o desenvolvimento socioeconômico de nossos países,
mas, também, é importante contribuição para a estabilização de todo o mercado
global.
Atualmente,
a China é líder indiscutível entre os parceiros comerciais da Rússia. Em 2013,
o comércio bilateral aproximou-se dos 90 bilhões de dólares e esse não é o
limite. Vamos aumentar nosso intercâmbio até 100 bilhões em 2015 e para 200 bilhões, em 2020.
Também estamos
colaborando exitosamente em projetos energéticos. Estamos criando uma aliança
energética estratégica. Estamos trabalhando num amplo projeto, de mais de 60
bilhões de dólares, para levar petróleo até a China, pelo oleoduto
Skovorodinó-Mohe.
Os contratos
de exportação de gás natural russo para a China estão adiantados, no processo
de preparação e redação. A aplicação desses contratos implicará para a Rússia a
diversificação de rotas de exportação de gás, e permitirá que nossos parceiros
chineses reduzam seus graves problemas de escassez de energia e de segurança
ecológica, o que se alcançará com o emprego de combustíveis “limpos”.
Ao mesmo
tempo, estamos avançando também num trabalho para reduzir a dependência do
comércio bilateral, dos mercados estrangeiros. Portanto, no marco de uma melhor
cooperação comercial e econômica, estamos dedicando atenção especial aos
setores de vanguarda, dentre eles o aumento da eficiência energética, a
proteção ao meio ambiente, a produção de medicamentos e aparelhagem médica,
desenvolvimento de novas tecnologias de informática, energia nuclear e
indústria espacial.
Temos uma
lista de projetos conjuntos em 40 áreas prioritárias com volume de inversões de
cerca de 20 bilhões de dólares. Nessa lista também figura a indústria
aeronáutica civil. Já se obteve um acordo sobre o desenvolvimento conjunto de
aviões de fuselagem larga para longos percursos [para saber o que são, veem-se
em: “Jets
de negocios de fuselaje ancho y de largo recorrido” (NTs)]. Planejamos
também a criação de um helicóptero pesado. Estou certo de que nossas empresas
são capazes de produzir e fornecer produtos competitivos aos mercados mundiais.
Temos a
intenção de melhorar consideravelmente a cooperação em investimentos, que ainda
não atende todas as necessidades e possibilidades reais de nossos países. Há
vários exemplos de projetos bem-sucedidos. Destaco a participação do capital
chinês na reconstrução de um aeroporto na região de Kaluga e a construção,
naquela mesma região, de fábricas de produção de componentes automotivos e
materiais de construção.
Vemos muitas
outras áreas promissoras para investimentos. Podem destacar-se vários ramos da
engenharia, processamento de produtos agrícolas, mineração, desenvolvimento de
infraestruturas de transporte e o campo da energia. Devemos fortalecer também a
cooperação financeira, proteger-nos contra as flutuações das taxas de câmbio
das principais divisas mundiais.
Por isso,
estuda-se agora, para afinal começar a implementá-lo, afinal, o plano para
aumentar os pagamentos recíprocos em moedas nacionais.
IV.
Recentemente, a Rússia anunciou a criação de uma zona econômica especial em
Vladivostok. Que papel, em sua opinião, a China pode ter na criação dessa zona
e no desenvolvimento em geral das áreas do Extremo Leste da Rússia?
Vladimir
Putin: O
desenvolvimento econômico avançado da Sibéria e do Extremo Leste da Rússia é
nossa prioridade nacional para o século 21. Nesse momento, já estão em
andamento vários programas relacionados à modernização e ampliação das
infraestruturas dessas regiões – tanto no campo dos transportes como do uso das
energias e das infraestruturas sociais.
Apostamos na
criação de territórios especiais de desenvolvimento econômico avançado nos
quais se criará ambiente favorável ao investimento. Há condições de
competitividade para que se organize uma produção manufatureira orientada para
a exportação.
Para as
novas empresas que se instalem nas zonas de desenvolvimento avançado,
planejam-se várias subvenções: de descontos em impostos e taxas reduzidas, além
de regime aduaneiro simplificado, incluindo portos livres. Um regime especial
de uso dos terrenos e da conexão com elementos das infraestruturas. Atualmente,
trabalhamos numa lei federal para essa normatização. Estamos criando institutos
de desenvolvimento e determinando as áreas de priorização.
Uma dessas
áreas, sim, está planejada para ser instalada em Vladivostok, na ilha Russki,
onde foi realizada a reunião de Cúpula do Foro de Cooperação Econômica Ásia-
Pacífico. Sem dúvida, estamos interessados em que o setor de negócios da China
aproveite as oportunidades que estão sendo criadas e posicione-se como líder
naquelas regiões.
Porque fato
é que o desenvolvimento avançado do Extremo Oriente da Rússia é evento que
beneficia tanto a Rússia, como a China. O
comércio não é nosso único interesse. É necessário formar alianças tecnológicas
e industriais sólidas. Promover conjuntamente investigações científicas e
relações humanitárias. Fixar as bases para o desenvolvimento estável e durável
de nossas relações econômico-comerciais para o futuro. E, sim, o Extremo
Oriente da Rússia pode e deve ser o ambiente natural para esses esforços.
V. Como o
senhor avalia o nível atual de cooperação entre nossos países, na esfera
humanitária e as perspectivas nessa área? Que projetos no marco dos anos “duplos”
(dos dois países, dos dois idiomas, de turismo nas duas direções e de
intercâmbio entre jovens) causaram-lhe impressão mais marcante?
Vladimir
Putin: Os laços
humanitários entre Rússia e China seguem a linha do desenvolvimento progressivo
de todo o complexo de associação estratégica entre nossos países. Hoje em dia,
têm alcançado melhores níveis que jamais antes. Nesse processo, têm destaque os
grandes projetos em grande escala, dos chamados ‘anos nacionais’, ‘anos dos
idiomas’ e ‘anos do turismo’ – que são projetos que mobilizam milhões de nossos
concidadãos.
Atualmente
estão em andamento uma série de eventos regulares: festivais culturais, semanas
de cinema, esportes juvenis, festivais de estudantes, campos de férias para
crianças e estudantes, fóruns de reitores de universidades e exposições de
serviços educativos, dentre outras atividades. [...] Claro que não vamos
dormir sobre os louros. O interesse dos jovens na história, na cultura e nas
tradições dos povos de Rússia e China está crescendo. Este é um processo
objetivo e tenemos a intenção de apoiá-lo plenamente, cada vez mais, no futuro.
VI. Em 2015,
Rússia e China celebrarão o 70º aniversário da vitória sobre o fascismo. Que importância têm esses esforços
conjuntos de Rússia e China, na resistência contra as tentativas que se veem
para distorcer o resultado da IIª Guerra Mundial?
Vladimir
Putin: É verdade
que, hoje, enfrentamos todos os dias novas tentativas para distorcer, alterar,
deformar os fatos da história ocidental recente.
Há quatro
anos, Rússia e China emitiram declaração conjunta na ocasião do 65º aniversário
do fim da IIª Guerra Mundial. Nossa opinião comum partilhada já era de que não
se aceitará, de modo algum, que o resultado da luta que se travou na IIª Guerra
Mundial seja “reinterpretado”; é absolutamente inaceitável. As consequências de
qualquer revisão nesse campo seriam extremamente perigosas.
Prova disso
são os atuais e muito trágicos eventos na Ucrânia – onde já se veem as ações de
forças nazi-fascistas que semeiam o terror entre a população civil.
A Rússia
está profundamente agradecida a nossos amigos chineses, por homenagearem e
reverenciarem a memória dos milhões de compatriotas nossos que deram a vida
pela libertação do noroeste da China, quando invadido.
No próximo
ano, haverá uma série de celebrações conjuntas, de russos e chineses, por
ocasião do 70º aniversário da vitória
contra o nazifascismo europeu, tanto no formato bilaterial, como, também, no
marco da Organização de Cooperação de Xangai.
Daremos especial atenção ao trabalho com os jovens. Não há dúvida de
que, sim, continuaremos a resistir contra todos os esforços para falsear a
história e para converter em heróis, no século XXI, os nazifascistas e seus
colaboradores, tentativa que já se vê em andamento, hoje, Ucrânia.
[fim da
entrevista]
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