21/6/2014, [*] Larry Chin, Global Research, Canadá
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
ISIS/ISIL fuzila população xiita próximo de Mosul, Iraque (16/6/2014) |
O Iraque
estaria sendo repentinamente invadido por ondas de “terroristas”? Ou o Iraque
está sendo sabotado, sacrificado e destruído?
A
imprensa-empresa comercial dominante pinta a coisa como “insurgência
terrorista” de “extremistas” sunitas que, aparentemente de repente, do dia para
a noite, tomaram o país. O governo Obama é criticado por ter sido apanhado “com
a guarda baixa”. Se o Iraque for perdido, segundo essa narrativa, todos os
“ganhos” dos EUA serão “desperdiçados”.
De fato, o
que se vê na região é massiva operação da CIA, um longo plano geoestratégico em
construção: fazer naufragar
a região numa guerra sectária, um gigantesco banho de sangue, com
múltiplas desestabilizações e deliberado show de violência sectária cruzando várias
fronteiras, até que todo o mapa do Oriente Médio e da Ásia Central – e para lá
disso – seja redesenhado.
Mapa do Projeto Oriente Médio: mapa não oficial da OTAN e da Academia Militar dos EUA (clique no mapa p/ aumentar) |
O mapa acima
foi preparado pelo tenente-coronel Ralph Peters. Foi publicado no Armed Forces Journal em junho de 2006. Peters é coronel
aposentado da Academia Militar dos EUA (Copyright do mapa, Lieutenant-Colonel Ralph Peters,
2006).
Os EUA estão
jogando dos dois lados desse conflito explosivo, com vistas aos objetivos mais
amplos de EUA/OTAN.
A força invasora, ISIS/ISIL, é criação da CIA-EUA e
dos seus aliados ricos em petrodólares Arábia Saudita, Kuwait e Qatar. É uma
frente da Al-Qaeda. A Al-Qaeda é braço da inteligência militar da CIA-EUA desde
a Guerra Fria. ISIS/ISIL é o exército da inteligência militar do império
em sua guerra contra a Síria.
Há provas
que apontam fortemente para uma deliberada retirada das forças de EUA e Iraque,
que permitiram que o ISIS tomasse Mosul, Tikrit, Fallujah e,
sobretudo, tomasse armas e equipamento norte-americano “miraculosamente”
esquecido em grandes quantidades, para serem “encontrados”.
O ISIS/ISIL controla agora a refinaria
de petróleo de Beiji ao norte de Bagdá, o que dá ao grupo fonte de combustível
e lucrativa fonte de renda. Os sunitas, incluindo seguidores de Saddam Hussein,
“voltaram”.
Num processo
horrendamente surreal, o espetáculo militar que está em preparação pode pôr
forças militares dos EUA a usar drones e aviões bombardeiros a favor do regime
xiita de Maliki e contra as próprias forças sunitas do ISIS/ISIL da CIA que usa armas e equipamento dos EUA.
Mentiras e fogo cerrado matarão milhões de iraquianos e devastarão o país.
Tudo isso,
para quê?
O Iraque
está sendo reinvadido e redestruído, para ser transformado em algo bem próximo
do plano original de Bush/Cheney, que queriam o país dividido por linhas
sectárias, que deixariam a produção crucial e petróleo e gás no sul, em mãos de
empresas aliadas do “ocidente”. Jamais algum desses cogitou de um Iraque
estável. O plano sempre foi obter um Iraque maleável. Simples etapa em direção
a coisa maior.
Presença operacional do ISIS/ISIL na Síria e no Iraque (clique na imagem para aumentar) |
Tendo
fracassado na tentativa de golpe para derrubar Damasco com uma insurgência de
“combatentes da liberdade”, a CIA redireciona e realoca seus “procuradores” que
agem à distância. O ISIS/ISIL está
agora mais forte e mais bem armado. Tem a vantagem estratégica de ter bases
tanto na Síria como as recém capturadas em território iraquiano. Está em
posição para cercar e pressionar tanto a Síria quanto o Irã.
Desestabilização
regional
O objetivo é
desencadear tal escala de violência sectária na região que seja difícil de
conter e impossível de ignorar. Encene essas atrocidades horríveis à porta das
nações-alvo, e os governos são empurrados para tais agitações e conflitos que
não terão como evitar. Assim esses governos são enfraquecidos e “caem”. De
fato, são derrubados. Mas o modelo é bem conhecido e foi usado sempre em
virtualmente todas as “conquistas” imperiais nas décadas recentes, dos Bálcãs
ao Oriente Médio e à África. Na Ucrânia.
Michel Chossudovsky |
O padrão é
sempre o mesmo: na sequência, virá a “restauração da ordem” nos novos
territórios, seja militarmente seja sob o disfarce de ajuda humanitária. E
instalam-se regimes fantoches. Chegam as empresas, para “reconstruir” e para
“investir”, assumindo o controle, sempre, para começar, do petróleo e do gás, e
da geografia, pelas bases que se constroem – e das quais se lançam as operações
militares/de inteligência.
Os eventos
no Iraque podem marcar o início de um apocalipse mais amplo. Segundo
Michel Chossudovsky, a agenda de longo prazo dos EUA é “esculpir”
ambos, Iraque e Síria, em três territórios separados: um Califato Islamista
Sunita, uma República Árabe Xiita e uma República do Curdistão. O Iraque
deixará de existir completamente. Toda a região está sob ameaça.
Mentiras e ambigüidades
Dentro das
fronteiras dos EUA, reina a morte cerebral mais desinteressada de tudo. A vasta
maioria dos norte-americanos de nada sabe, de nada quer saber e não se importa.
O cidadão médio reage a questões sociais, como igualdade de direitos para casar
ou o racismo em jogos de futebol (que são questões sem importância alguma aos
olhos das grandes potências), e absolutamente não dá nenhuma atenção às grandes
ameaças que pesam sobre a humanidade – dentre as quais a maior é a guerra que
continua a consumir vidas de norte-americanos, que norte-americanos usam como
bucha de canhão.
As massas
norte-americanas não acordaram, não importa o quanto tantos fatos tenham sido
amplamente expostos. A narrativa de propaganda, falsa, do 11/9, está firmemente
implantada, talvez para sempre: os EUA estão em guerra contra “os terroristas
que nos atacaram dia 11/9” e “temos de defender a liberdade”.
A esquerda
política (em larga medida cooptada por atividades de tipo ‘'programas de
contrainteligência'’) caça o próprio rabo, aceitando as narrativas produzidas em
Washington, vez ou outra embarcando tolamente em visões limitadas como “o
revide”, sempre disposta a crer na “inocência atrapalhada” de Washington... e
engolindo praticamente todas as mentiras que ouça.
Dianne Feinstein (Donkey-Hotey) |
Na
Washington capital da corrupção, a cena está além de qualquer cenário
orwelliano. Reinam a propaganda e todos os tipos de mentiras. O círculo mais
interno do poder sabe do que se passa e transpira, mas a arrogância e a disputa
do poder entre dois “partidos” persiste. A imprensa-empresa recusa-se a
noticiar fatos e vive de repetir a mais desgastada propaganda, como é mandada
repetir. A “guerra ao terror” vai muito bem, obrigada.
A senadora
Dianne Feinstein está alertando contra “consequências devastadoras” das “forças
sunitas em marcha” – e não diz que os EUA estão por trás das tais
“consequências” e das tais “forças”. E conclama “os dois lados” (Democratas e
Republicanos) a se “unirem”.
Não por
coincidência, John McCain, senador que abertamente apoia os terroristas da
Al-Qaeda e as atrocidades clandestinas, está outra vez no centro do palco, na
primeira linha. Vive a cuspir desaforos contra a “fraqueza” e a “estupidez” do
governo, que não reinvade o Iraque:
Todos nessa equipe de segurança nacional, inclusive o
Comandante do Estado-Maior têm de ser substituídos. É um colossal fracasso.
McCain exige
que os EUA ataquem militarmente já (e provavelmente apoia cada um dos passos de
Obama). É o mesmo McCain sempre diretamente envolvido em fornecer armas aos
terroristas da Al-Qaeda na Líbia e na Síria. Não há dúvida possível de que
McCain, sempre pronto a apoiar e armar e enriquecer “combatentes da liberdade”
da Al-Qaeda da CIA, está ao lado, também, dos terroristas do ISIS/ISIL.
McCain com líderes terroristas da Al Qaeda e do Exército Sírio Livre |
O bom amigo
de McCain e inventador de guerras como ele, senador Lindsey Graham (R-SC),
também “exige” ataques aéreos imediatos e só faz promover a ideia de que “o
próximo 11/9 está sendo preparado”.
Obama está
“falhando”?
E Obama?
Agora que é presidente “pato-manco”, sem ter de preocupar-se com política e
imagem falsificadas para a re-eleição, Obama e o seu aparelho de segurança
nacional parecem mover-se em duas frentes: uma real; a outra, propaganda.
O governo
Obama está promovendo a agressão contra Ucrânia/Síria/Iraque a novos níveis, em
busca desenfreada por alcançar rapidamente objetivos pelos quais anseia há
muito tempo (a realpolitik), ao mesmo tempo em que se vai
autossacrificando politicamente (na narrativa que a propaganda lhe cobra).
Politicamente,
Obama estará “tombando sobre a espada”? Aparentemente, como todos os
presidentes antes dele, Obama está sendo dispensado do cargo como completo
fracasso de política externa nos anos finais do mandato – o que abre o caminho
para o sucessor, que fará novamente e sempre a mesma coisa. É sempre assim.
Se, de agora
em diante, Obama não conseguir “restaurar a ordem”, sairá como o presidente que
“perdeu o Iraque”, “abandonou o Iraque antes da hora”, não conseguiu deter os terroristas,
não conseguiu livrar-se de Assad, não pôs fim ao Irã, etc., etc..
Agora, Obama
está sendo culpado pela “paralisia política” do governo Maliki. O governo, e a
provável candidata Democrata à presidência, a ex-secretária de Estado, Hillary
Clinton, já se viram envolvidos em escândalo gigantesco, como “a equipe que perdeu
Benghazi” e encobriu tudo.
Somada ao
fato de que Obama ampliou muito a geoestratégia assassina dos
anglo-norte-americanos iniciada por Bush/Cheney (Obama ampliou exponencialmente
as agressões, ao mesmo tempo em que manteve máscara de político democrático),
os EUA devem esperar uma forte guinada à direita – outra vez, de volta à linha
Bush/Cheney: o mesmo tipo de fascismo de direita “movido a ódio” que está
tomando conta da Europa e que se vê claramente exemplificado na Ucrânia
neonazista.
George Bush (E) e Dick Cheney na Casa Branca (set/2001) |
Para o
próximo estágio da guerra mundial, e para controlar também os seus próprios
dissidentes em território nacional, os EUA precisarão de presidente aberta e
declaradamente brutal, na Casa Branca. Talvez alguém como Jeb Bush, com
gabinete formado dos criminosos de guerra da equipe Republicana de Bush/Cheney,
todos arrancados das respectivas tumbas para infernizar outra vez os vivos.
Ameaça ao
futuro da humanidade
O império
norte-americano continua a trabalhar a favor da guerra total, usando todos os
meios necessários para alcançar o controle do subcontinente eurasiano,
diretamente contra Rússia e China.
Esse
holocausto tem escala e objetivos além da compreensão dos homens e mulheres de
bem. Eventos no Iraque, Síria e Irã andam lado a lado com eventos na Ucrânia,
todos inscritos numa única e desesperada agenda global. Só se busca o controle
do que resta de petróleo e gás no planeta, dos oleodutos, dos gasodutos, das
rotas de transmissão de energia, enquanto essas fontes de energia vão sendo
exauridas e estarão esgotadas em poucas décadas.
Os eventos
que se desenrolam no Iraque não são resultados de “fracassos da inteligência”,
mas, como o 11/9 e outras atrocidades, são operação planejada pela inteligência;
mais uma operação, numa sempre a mesma repetida horrorosa sequência.
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[*] Larry Chin
é um jornalista freelance e editor
colaborador do Journal Online e do Global
Research, além de outras publicações impressas e online.
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