Sobre
Israel, Ucrânia e Verdade
11/7/2014, [*] John Pilger – Blog de John Pilger
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
É. Você tem a
comprovação empírica do fracasso neoliberal. Mas são eles que persistem e dão
as cartas no xadrez global. Vivemos um colapso do neoliberalismo, mas sob o
tacão dos neoliberais: a pasmaceira política [e futebolística, é claro!] no
Brasil, é reflexo desse paradoxo. [11/6/2014, redecastorphoto, Maria
da Conceição Tavares: “Resistir para avançar. O resto é arrocho”]
A imprensa-empresa em ação! |
Aclamada pela crítica, a nova produção
serve para avaliar nossos tempos culturais e políticos. Quando as luzes foram
acesas, as pessoas já estavam de pé, andando para a saída. Não davam qualquer
sinal de emoção, já pensando na noitada que continuaria. “Desentendi total”,
disse uma moça, ligando o celular.
Com as sociedades avançadas sendo
despolitizadas, as mudanças são ao mesmo tempo sutis e espetaculares. No
discurso diário, a linguagem política está de pés para cima, como Orwell
profetizou em 1984. “Democracia” já não passa de recurso retórico. “Paz”
é “guerra perpétua”. “Global” é “imperial”. O conceito de “reforma”, do qual antes
tanto se esperava, significa hoje regressão, até mesmo destruição.
“Austeridade” significa impor aos pobres o capitalismo mais extremo, e doar o
socialismo só aos ricos: sistema super engenhoso, segundo o qual a maioria paga
as dívidas da elite.
Nas artes, hostilidade contra quem diga
a verdade é artigo de fé para a burguesia. “A fase vermelha de Picasso” – diz
uma manchete de Observer – e “por que política não dá boa arte”.
Imaginem! E, isso, num jornal que promoveu o banho de sangue no Iraque como se
fosse cruzada liberal. A oposição de uma vida inteira, de Picasso, contra o
fascismo, virou nota de rodapé; como o radicalismo de Orwell, completamente
apagado do sucesso que se associou ao seu nome.
Terry Eagleton |
Há uns poucos anos, Terry Eagleton,
então professor de Literatura Inglesa na Manchester
University, observou que “pela primeira vez em duzentos anos, não há nenhum
poeta, dramaturgo ou romancista britânico capacitado para fazer chacoalhar os
pilares do modo de vida ocidental”. Nenhum Shelley que fale pelos pobres,
nenhum Blake que dê voz aos sonhos utópicos, nenhum Byron a detonar a corrupção
da classe governante, nenhum Thomas Carlyle e John Ruskin para expor o desastre
moral do capitalismo. William Morris, Oscar Wilde, HG Wells, George Bernard
Shaw não têm equivalentes contemporâneos. Harold Pinter foi o último a levantar
a voz. No coro insistente de consumo−feminismo, nenhuma voz responde à voz de
Virginia Woolf, que denunciou “as artes de dominar outras pessoas, de mandar,
de matar, de acumular terra e capital”.
No National
Theatre, uma nova peça, Great Britain, satiriza o escândalo da
escuta clandestina de telefones que levou a julgamento e condenou jornalistas,
inclusive um ex-editor do News of the World de Rupert Murdoch. Divulgada
como “sátira com caninos afiados, [que] põe toda essa incestuosa cultura
[midiática] no banco dos réus e a expõe sem piedade ao ridículo”, a peça toma
como alvos os “oficialmente engraçados” [orig. “blessedly funny” (??)]
personagens da imprensa britânica de tabloides. Tudo muito bom, tudo muito bem,
e mais do mesmo, e só. Mas... e que fim levou a mídia não tabloide que se
autoproclama respeitabilíssima e confiabilíssima, embora seja só braço auxiliar
ou de governos ou de anunciantes, e que se dedica incansavelmente a promover
guerra ilegal?
O inquérito Leveson sobre escutas
telefônicas ilegais tocou apenas a superfície desses indizíveis. Mas Tony Blair
depunha, reclamando ao juiz que presidia a investigação, que tabloides haviam
perseguido a mulher dele, quando foi interrompido por uma voz vinda das
galerias. David Lawley-Wakelin, cineasta, exigiu que Blair fosse preso ali
mesmo e processado por crimes de guerra. Fez-se um longo silêncio na sala: o
choque da simples verdade. Até que Lord Leveson ergueu-se de um salto,
ordenou que a voz da verdade fosse expulsa do tribunal e pediu desculpas ao
criminoso de guerra. Lawley-Wakelin foi processado. Blair continua em
liberdade.
David Lawley-Wakelin sendo preso |
Os cúmplices de Blair que continuam no
poder são ainda mais respeitáveis que os escutadores clandestinos de telefones.
Quando a apresentadora da BBC, Kirsty Wark, entrevistou Blair, no 10º
aniversário de sua invasão contra o Iraque, ela deu a Blair um momento com o
qual nem Blair jamais sonhara; deu-lhe oportunidade para sofrer ao vivo, em
cena, lastimando-se do quanto fora “difícil” a decisão sobre o Iraque. Poderia
tê-lo acusado da prática daquele crime histórico, mas só o ajudou a “explicar-se”.
Faz lembrar a procissão de jornalistas da BBC que, em 2003, declararam
que Blair podia sentir-se “vingado”; e da série subsequente, dita “seminal”, The
Blair Years [Os Anos Blair], da qua lDavid Aaronovitch foi roteirista,
apresentador e entrevistador. Quadro assalariado de Murdoch, que fez campanha a
favor dos ataques contra Iraque, Líbia e Síria, Aaronovitch fez de Blair
praticamente um herói da paz universal.
Desde a invasão do Iraque – caso
exemplar de agressão internacional não provocada, crime que, para Robert
Jackson, promotor de justiça no Tribunal de Nuremberg, define-se como o maior e
mais grave de todos os crimes de guerra − “porque contém em si o mal de todos
os demais crimes de guerra” – Blair e seu porta-voz e principal cúmplice,
Alastair Campbell, ganharam vastos espaços nas páginas do The Guardian para
reabilitar as respectivas reputações. Descrito como “estrela” do Labour Party, Campbell procurou ganhar a
simpatia dos leitores mostrando-se deprimido; falou das próprias preocupações
pessoais, mas não falou de já ter sido contratado, com Blair, para trabalharem
como conselheiros dos militares neoditadores egípcios.
Bush & Blair - criminosos de guerra |
Com o Iraque sendo devastado,
consequência da invasão inventada por Blair/Bush, manchete do The Guardian declara: “Derrubar
Saddam foi ação acertada. Mas saímos de lá cedo demais”. Lá estava, publicado
na página, da edição de 13/6/2014, em que se lia coluna assinada por John
McTernan, ex-funcionário do governo Blair, que também serviu ao ditador Iyad
Allawi que a CIA instalou no Iraque. Clama por repetir a invasão a um país que
seu patrão ajudou a destruir; e nem uma palavra sobre os pelo menos 700 mil
mortos, além dos 4 milhões de refugiados e dos tumultos sectários, numa nação
que, antes de Blair-Bush-McTernan et allii, orgulhava-se da tolerância
que reinava em suas comunidades.
Numa vila no Afeganistão, habitada pelos
mais pobres dos pobres, filmei Orifa, ajoelhada ao lado dos túmulos do marido,
Gul Ahmed, tecelão de tapetes, de sete membros de sua família, inclusive seis
filhos seus, e duas crianças mortas na casa ao lado. Uma bomba de “precisão” de
500 pounds
(libra-peso) caiu diretamente sobre a pequena casa, de paredes de pedra, barro
e palha, abrindo uma cratera de quase dois metros de largura. A empresa
Lockheed Martin, que fabrica o avião, vangloria-se da precisão dos tiros, no
anúncio que o The Guardian publicou.
Orifa e os 2 filhos que lhe restaram |
Mas a jornalista Murray, da BBC,
perguntou, sim, a pergunta−farsa, a pergunta−espetáculo: se a Clinton perdoara
Monica Lewinsky... por ter tido um caso com o marido Clinton dela. “Perdão é
escolha” – respondeu la Clinton. – “Para mim, foi absolutamente a escolha certa”.
Fez lembrar os anos 1990s, e os anos consumidos no “escândalo Lewinsky” [que
a imprensa−empresa JAMAIS chamou de “escândalo Clinton(s)” (NTs)].
Naquele momento, o presidente Bill Clinton estava invadindo o Haiti, bombardeando os Bálcãs, a África e o Iraque. Estava também matando e destruindo vidas de crianças no Iraque. A UNICEF noticiou a morte de meio milhão de crianças iraquianas com menos de cinco anos de idade, como resultado do embargo imposto pelos EUA e Grã-Bretanha.
As crianças não contam, para essa
imprensa−empresa, assim como tampouco contam as vítimas de Hillary Clinton nas
invasões que ela apoiou e promoveu: Afeganistão, Iraque, Iêmen, Somália, só até
aqui. Todos são subpovo, ou não−povo, para esse jornalismo. Então, a jornalista
Murray não falou delas e deles. Quem queira ver, encontra foto da jornalista e
da entrevistada, luminosamente sorridentes, na webpage da BBC.
Na política, como no jornalismo e nas
artes, parece que o “outro lado”, que antigamente ainda era tolerado pela
imprensa−empresa dominante, passou agora a ser tratado como pequeno grupo de
extremistas pirados sem importância: uma espécie de underground metafórico.
Quando comecei a trabalhar na Rua Fleet britânica, nos anos 1960s, ainda
se aceitavam críticas ao poder ocidental, apresentado como agente de saque e
roubo. Leiam as reportagens justamente celebradas de James Cameron, sobre a
explosão da bomba de hidrogênio no atol de Bikini; sobre a guerra bárbara dos
EUA contra a Coreia; contra o bombardeio dos EUA contra o Vietnã do Norte.
New York Times - 17/11/1962 |
A grande ilusão contemporânea é que
viveríamos numa “era da informação”, quando, na verdade, vivemos numa “era do
jornalismo−empresa”, quando já não há fato nem notícia nem informação, mas, só,
incessante, propaganda & marketing de empresas e negócios: e o “jornalismo”
é só, só, propaganda & marketing insidioso, contagioso, efetivo e liberal.
Em seu ensaio de 1859 “Sobre
a Liberdade”, de que tanto falam os liberais modernos, John Stuart Mill
escreveu:
O despotismo é modo legítimo de governar se se tem de enfrentar bárbaros,
desde que a meta seja fazê-los melhorar, e os meios resultam justificados se
essa meta é alcançada.
Hywel Williams |
É mito simpático e conveniente, que os liberais seriam pacificadores e os
conservadores seriam fazedores de guerras – escreveu em 2001 o historiador Hywel Williams − mas o imperialismo da via liberal pode ser
ainda mais perigoso, porque sua natureza não conhece limites: os imperialistas
liberais vivem convencidos de que o imperialismo liberal seria uma forma
superior de vida.
Williams tinha em mente, então, um
discurso de Blair, no qual o então primeiro-ministro prometeu “reorganizar o
mundo à nossa volta” e segundo os seus [de Blair] “valores morais”.
Richard Falks |
(...) de autoelogio eterno, de mão única, só com imagens positivas de valores
ocidentais e de cenas de inocência ameaçada, para validar uma campanha a favor
de violência política irrestrita. E [cena] que é tão amplamente aceita, que resulta virtualmente incriticável e
inatacável.
Patrocínio, empregos e anúncios recompensam
os jornais, jornalistas e “jornalismos”. Na Rádio 4 da BBC, Razia Iqbal
entrevistou Toni Morrison, a novelista afro-norte-americana e Prêmio Nobel.
Morrison mostrou-se surpresa: por que as pessoas “zangam-se” com Barack Obama,
presidente “tão ótimo”, e que queria construir uma “economia forte e
assistência médica” [orig. “who was “cool” and wished to build
a “strong economy and health care”]. Morrison estava orgulhosíssima por ter falado
ao telefone com seu herói, que lera um dos livros dela e convidou-a para a
posse.
Frantz Fanon |
Em Os
Condenados da Terra, Frantz Fanon escreveu que
a “missão histórica” do colonizado foi servir como “correia de transmissão” a
serviço dos que governavam e oprimiam. Na era moderna, usar a diferença étnica
nos sistemas de poder de propaganda ocidentais passou a ser visto como
essencial. Obama leva isso às alturas, embora o gabinete de George W. Bush –
uma vasta claque pró-guerra – tenha sido o mais multirracial de toda a história
presidencial dos EUA.
Quando a cidade iraquiana de Mosul foi
tomada pelos jihadistas do ISIL, Obama disse:
O povo norte-americano fez investimentos e sacrifícios gigantescos para
dar aos iraquianos a oportunidade de abraçar melhor destino.
Que mentira “tão ótima”, não é mesmo?!
Barack Obama (por Ben Garrison) |
Os EUA usarão força militar unilateralmente se necessário, quando nossos
interesses centrais o exigirem. A opinião internacional conta, mas os EUA
jamais pedirão permissão...
Obama, aí, repudiou a lei internacional
e os direitos das nações independentes. O presidente dos EUA declarou a própria
divindade, baseado na força da “nação indispensável”. Essa é uma mensagem velha
conhecida da impunidade imperial. Evocando o nascimento do fascismo nos anos
1930s, Obama disse que:
Creio no excepcionalismo dos EUA com cada fibra do meu ser.
Marchadores do passo−de−ganso, com substituição pela aparentemente mais
inócua militarização total da cultura. E em lugar do líder bombástico, temos o
reformador fracassado, despreocupadamente em ação, planejando e executando
assassinatos, e sem parar de sorrir.
Em fevereiro, os EUA montaram mais um
dos seus golpes “coloridos” contra governo eleito na Ucrânia, explorando
protestos genuínos contra corrupção em Kiev. A conselheira de Obama para
assuntos de Segurança Nacional, Victoria Nuland, escolheu pessoalmente o líder
de um “governo de transição”. Trata-o com intimidade, pelo apelido “Yats”. O
vice-presidente Joe Biden foi a Kiev, e para lá foi também o diretor da CIA,
John Brennan. A tropa de choque do golpe de que todos esses participaram eram
fascistas ucranianos.
Pela primeira vez desde 1945, um partido
neonazista, declaradamente antissemita, controla áreas chaves do poder do
estado numa capital europeia. NENHUM líder político na Europa Ocidental
condenou esse renascimento do fascismo, exatamente na fronteira pela qual as
tropas nazistas de Hitler invadiram, para roubar milhões de vidas de russos. Os
nazistas foram apoiados por um exército de insurgentes ucranianos [UPA]
responsável pelo massacre de judeus e de russos (que chamam de “vermes”). Esse UPA
é a fonte de inspiração do atual Partido Svoboda e de seu aliado, o Setor
Direita (Pravy Sektor). O líder do Svoboda, Oleh Tyahnybok, exige expurgo de
toda a “máfia judaico−moscovita e o resto do lixo”, que inclui gays,
feministas e a esquerda política.
Bases Militares dos EUA (além mar) (clique na imagem para aumentar) |
O prêmio que Washington dará ao governo
golpista de Kiev é um plano de ação pró inclusão na OTAN. Em agosto, uma
“Operação Tridente Rápido” [orig. Operation Rapid Trident] porá soldados
dos EUA e Grã-Bretanha na fronteira entre Ucrânia e Rússia; e uma “Operação
Brisa Marinha” [orig. Operation Sea Breeze] enviará navios de guerra dos
EUA para pontos dos quais sejam acessíveis portos russos. Imaginem só a
resposta, se tais atos de provocação e de intimidação acontecessem contra
fronteiras dos EUA!
Nikita Krustchev |
Em tradução orwelliana, tudo isso foi
invertido e transformado em “ameaça russa” no ocidente. Hillary Clinton disse
que Putin seria igual a Hitler. Sem ironia: comentaristas de direita alemães
disseram exatamente a mesma coisa. Na imprensa−empresa, os neonazistas
ucranianos foram desinfetados e apresentados como “nacionalistas” ou
“ultranacionalistas”. O que mais temem é que Putin está procurando, muito
habilmente, construir solução diplomática, e pode ser bem sucedido.
Dia 27/6/2014, respondendo à mais
recente acomodação oferecida por Putin – encaminhou ao Parlamento a rescisão da
lei que lhe dava poder para intervir a favor dos russos étnicos – o secretário
de Estado dos EUA John Kerry lançou mais um dos seus “ultimatos”! A Rússia
teria de “agir imediatamente, dentro de poucas horas literalmente”... para por
fim à revolta no leste da Ucrânia.
John Kerry, o Bufão |
Um terço da população da Ucrânia é
falante de russo e bilíngue. Há muito tempo buscam uma federação democrática
que reflita a diversidade étnica da Ucrânia e seja autônoma e independente da
Rússia. A maioria não é nem “separatista” nem “rebeldes”, mas cidadãos que
querem viver em sua própria terra e em segurança. O separatismo é reação aos
ataques da Junta de Kiev contra eles, que já causaram onda de mais de 110 mil
pessoas (estimativa feita pela ONU), que fogem para o outro lado da fronteira
com a Rússia. Tipicamente, são mulheres e crianças traumatizadas.
Como as crianças iraquianas vítimas de
sanções e do embargo, e as mulheres e meninas afegãs “libertadas” ao mesmo
tempo em que aterrorizadas pelos senhores−da−guerra da CIA, esses grupos
étnicos ucranianos são “não−povo” para a imprensa−empresa ocidental; os seus
padecimentos, as atrocidades que se cometem contra eles são minimizadas ou
suprimidas do noticiário; é como se não acontecessem. A imprensa−empresa
ocidental absolutamente não informa sobre a escala do ataque, pelo regime em
Kiev, contra a população. Não que jamais antes tenha acontecido.
Phillip Knightley |
Dia 21 de maio/2014, em Odessa, 41
russos étnicos foram queimados vivos na sede do sindicato; a polícia apenas
assistiu ao crime. Há vídeos horrendos, que são prova. O líder do Setor Direita
(Pravy Sektor), Dmytro Yarosh, saudou o massacre como “mais um dia luminoso em
nossa história nacional”. A imprensa−empresa norte-americana e britânica
noticiou o crime como “trágico incidente” resultante de “confrontos” entre
“nacionalistas” (são os neonazistas) e “separatistas” (gente que recolhia assinaturas
para um abaixo assinado a favor de um referendo que decida sobre a
federalização da Ucrânia).
O New York Times apagou do mundo
todo o evento, depois de noticiar informes de propaganda a favor de políticas
fascistas e antissemitas dos novos clientes−aliados de Washington. O Wall
Street Journal condenou as vítimas, como únicos culpados – “Fogo mortal na
Ucrânia provocado pelos rebeldes, informa Kiev”. Obama congratulou-se com a
Junta neonazista pela “moderação”.
Dia 28 de junho/2014, o The Guardian
devotou quase uma página inteira a declarações feitas pelo “presidente” do
regime de Kiev, o oligarca Petro Poroshenko. Mais uma vez, prevaleceu a regra
orwelliana da inversão da verdade. Não houve golpe; não houve [nem continua a
haver] guerra contra minorias na Ucrânia; a culpa de tudo seria, toda, dos
russos. “Queremos modernizar meu país” – disse Poroshenko. – “Queremos
introduzir liberdade, democracia e valores europeus. Há quem não queira isso.
Há quem não nos ame por isso”.
Petro Poroshenko - Londres, 27/6/2014 |
É como ouvir, do fundo da história, a
voz dos fantasmas do Vietnã, do Chile, do Timor Leste, do sul da África, do
Iraque: são as mesmas tags.
Leni Riefenstahl |
Nos anos 1970s, entrevistei Leni
Riefenstahl e perguntei-lhe sobre os filmes que fez de glorificação dos
nazistas. Com técnicas revolucionárias de câmera e iluminação, ela produziu uma
forma de cinema, documental, que hipnotizou os alemães. Há quem diga que seu Triumph
of the Will [Triunfo da Vontade] foi o que teria inventado o “fascínio” que
Hitler exerceu sobre as massas. Perguntei-lhe sobre propaganda em sociedades
que se imaginem superiores. Ela respondeu que as “mensagens” em seus filmes nunca
dependeram de “ordem superior”; que havia um “vácuo submissivo” na população
alemã. “E esse vácuo submissivo incluía a burguesia liberal letrada?” –
perguntei. “Incluía todos” – disse ela, – “também a inteligência, é claro”.
[*] John Pilger − nasceu em Bondi na área
metropolitana de Sydney, Austrália, 9 de outubro 1939. A carreira de Pilger
como repórter começou em 1958; ao longo dos anos tornou-se famoso pelos
artigos, livros e documentários que escreveu e/ou produziu. Apesar das
tentativas de setores conservadores de desvalorizar Pilger, o seu jornalismo
investigativo já mereceu vários galardões, tais como a atribuição, por duas
vezes, do prêmio de Britain’s Journalist of the Year Award na área dos
dos Direitos Humanos. No Reino Unido é mais conhecido pelos seus documentários,
particularmente os que foram rodados no Camboja e no Timor−Leste. Trabalhou
ainda como correspondente de guerra em vários conflitos, como na Guerra do
Vietnam, no Camboja, no Egito, na Índia, em Bangladesh e em Biafra. Atualmente
reside em Londres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.