22/7/2013, [*] Paul Craig Roberts − Institute for Political Economy
Traduzido pelo
pessoal da Vila Vudu
Barack Obama: "Você mente" |
Por que os
EUA não se uniram ao presidente Putin da Rússia, que exigiu investigação
internacional objetiva, não politizada, feita por especialistas, do caso do
avião da Malaysia Airlines?
O governo
russo continua a distribuir fatos, inclusive fotos de satélite que mostram que
havia Buks antiaéreos ucranianos em pontos dos quais o avião de
passageiros pode ter sido abatido por aquele tipo de veículo armado, e
documentos de que um jato de combate ucraniano SU-25 aproximou-se rapidamente
do avião malaio antes de o avião ser abatido.
O chefe do
Diretorado de Operações dos militares russos disse em conferência de imprensa
em Moscou ontem [21/7/2014], que a presença do jato militar ucraniano foi
confirmada pelo centro de monitoramento de Rostov.
O Ministério
de Defesa da Rússia observou que, no momento em que o MH-17 foi abatido, um
satélite dos EUA sobrevoava a área. O governo russo exige que os EUA
disponibilizem as fotos e dados capturados por aquele satélite.
O presidente
Putin já repetiu várias vezes que a investigação do voo MH-17 requer “um grupo
representativo de especialistas trabalhando juntos sob orientação da ICAO
(International Civil Aviation Organization)”. Putin, ao exigir
investigação independente pelos especialistas da ICAO não age como quem tenha
algo a esconder.
Vladimir Putin |
Falando
diretamente a Washington, Putin disse:
Até que se conheçam os resultados dessa
investigação, ninguém [nem a “nação excepcional”] tem o direito de usar essa tragédia para fazer avançar seus objetivos
políticos egoístas estreitos.
Putin
relembrou aos EUA:
Nós várias vezes pedimos que os dois lados
suspendessem imediatamente o banho de sangue e sentassem à mesa de negociações.
O que se pode dizer com certeza é que, se as operações militares não tivessem
sido reiniciadas [por Kiev] no dia
28/6/2014 no leste da Ucrânia, essa tragédia não teria acontecido.
E o que
respondem os EUA?
Só mentiras e
insinuações.
Anteontem
[20/7/2014], o Secretário de Estado dos EUA, confirmou que federalistas
pró-Rússia estavam envolvidos na derrubada do avião malaio, e disse que seria
“bem claro” que a Rússia esta[ria] envolvida. Eis as palavras de Kerry:
É bem claro que há um sistema que foi
transferido da Rússia para as mãos de separatistas. Sabemos com certeza, com
certeza, que os ucranianos não têm tal sistema em ponto algum nos arredores
daquele local naquela hora, portanto é óbvio que há um dedo muito claro dos
separatistas.
A declaração
de Kerry é mais uma da infindáveis mentiras que secretários de Estado dos EUA
mentiram ao longo do século XXI.
John Kerry: "O maior MENTIROSO de todos" |
Quem poderia
esquecer o pacote de mentiras que Colin Powell mentiu descaradamente na ONU
sobre as “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein? Ou a mentira que
Kerry repetiu incontáveis vezes, de que Assad “usou armas químicas contra seu
próprio povo”? Ou as infindáveis mentiras sobre “bombas atômicas do Irã”?
Recordem que
Kerry, várias vezes, disse que os EUA teriam provas de que Assad “cruzara” a
“linha vermelha” e usara armas químicas. Mas Kerry jamais conseguiu comprovar o
que dizia, nunca apresentou uma única prova, que fosse. Os EUA não tinham prova
alguma a entregar ao primeiro-ministro britânico, nem mesmo para ajudá-lo a conseguir
que o Parlamento aprovasse a participação britânica ao lado dos EUA, num ataque
militar contra a Síria! O Parlamento então disse ao primeiro-ministro inglês:
“sem provas, nada de guerra”.
Agora, aí
está Kerry outra vez a declarar que tem “certeza”, em “declarações” que já
foram desmentidas por fotos do satélite russo e incontáveis provas de
testemunhas no solo.
Por que
Washington não distribui as fotos do satélite norte-americano?
A resposta é:
pela mesma razão pela qual Washington não distribuirá os vídeos que confiscou e
que, dizem os EUA, “comprovam” que um avião de passageiros sequestrado atingiu
o Pentágono dia 11/9/2001. Nenhum vídeo comprova o que os EUA mentem sobre o
11/9/2001; assim como nenhuma foto de satélite comprova as mentiras de Kerry sobre
o avião malaio.
Inspetores de
armas da ONU em campo, no Iraque, relataram que o Iraque não tinha armas de
destruição em massa. Mas esse fato comprovado, porque desmascararia a
propaganda dos EUA, foi simplesmente ignorado. Os EUA iniciaram guerra terrivelmente
destrutiva, baseados numa mentira intencional mantida em Washington.
Inspetores da
Comissão Internacional de Energia Atômica em campo, no Irã, e todas as 16
agências de inteligência dos EUA relataram que o Irã não tinha (como não tem)
programa de armas nucleares. Mas esse fato comprovado era inconsistente com a
agenda de guerra de Washington e foi ignorado: pelo governo dos EUA e pela
imprensa-empresa press-tituta.
Agora estamos
testemunhando a mesma coisa, ante a ausência de qualquer evidência que
comprovasse que a Rússia teria algo a ver com a derrubada do avião malaio.
Nem todos, no
governo dos EUA, são tão irresponsáveis e imorais quanto Kerry e John McCain.
Esses mentem. A maioria dos agentes do governo dos EUA vivem de insinuações.
Dianne Feinstein por Honkey Donkey |
A senadora
Dianne Feinstein é exemplo perfeito. Entrevistada pelo canal CNN da
imprensa-empresa press-tituta, Feinstein disse:
A questão é: onde está Putin? Eu diria: “Putin,
seja homem. Você tem de falar ao mundo. Tem de dizer. Se foi um erro, como
espero que tenha sido, diga!”.
Putin não faz
outra coisa que não seja falar ao mundo, sem parar, exigindo que se faça
investigação por especialistas, não politizada. E Feinstein a perguntar por que
Putin se esconde em silêncio! Feinstein lá estava para insinuar que “sabemos
que você é culpado. Só não sabemos se foi crime deliberado ou acidental”.
O modo como
todo o ciclo ocidental de noticiário foi orquestrado para instantaneamente
culpar a Rússia, desde muito antes de que surja qualquer informação real
confiável, sugere que a derrubada do avião malaio foi operação dos EUA.
É possível, é
claro, que a bem adestrada imprensa-empresa press-tituta não precise de
orquestração alguma vinda de Washington, para imediatamente culpar a Rússia.
Por outro lado, alguns dos desempenhos “televisivos” parecem tão bem ensaiados,
que simplesmente têm de ter sido preparados com antecedência.
Também foi
preparado com antecedência o vídeo de YouTube montado para “mostrar” um general
russo e federalistas ucranianos discutindo que teriam acabado de, por engano,
derrubar um avião de passageiros.
Como
já comentei, esse vídeo tem
dois vícios insanáveis: já estava gravado desde antes do acidente; e, ao apresentar
o que seria a fala de um militar russo, esqueceu que qualquer militar saberia
ver as diferenças entre um avião de passageiros e um avião militar de combate.
A própria existência daquele vídeo já implica que houve um complô para derrubar
o avião e culpar a Rússia.
Já vi
relatórios que dizem que o sistema russo de mísseis antiaéreos, como um de seus
dispositivos de segurança, faz contato com os transponders das
aeronaves, para verificar o tipo de aeronave que aparece em seu alvo. Se esses
relatórios estão corretos e se os transponders do MH-17 forem
encontrados, é possível que lá esteja gravado o contato.
Já vi
notícias que dizem que o controle aéreo ucraniano mudou a rota do MH-17 e o
mandou sobrevoar diretamente a área de conflito. Os transponders também
indicarão se isso é verdade. Se for, há claramente uma prova, pelo menos
circunstancial, de que foi ato intencional de Kiev – e ato que teria de ter
sido aprovado pelos EUA.
Há notícias
ainda de que haveria uma divergência entre os militares ucranianos e milícias
não oficializadas formadas por extremistas ucranianos de direita, que
aparentemente foram os primeiros a atacar os federalistas. É possível que Washington
tenha usado aqueles extremistas para derrubar o avião malaio, para inculpar os
russos e usar as acusações para pressionar a União Europeia a acompanhar as
sanções unilaterais dos EUA contra a Rússia.
Todos a favor de chutar a Russia do clube... por Kevin Sears |
Sabe-se que
os EUA estão desesperados para conseguir quebrar os crescentes laços econômicos
e políticos entre Rússia e Europa.
Se havia um
complô para derrubar um avião de passageiros, todos os dispositivos de
segurança do sistema de mísseis teriam sido desligados, para que não abortassem
o ataque e para que não houvesse registro de ataque, não acidental, mas
deliberado. Essa pode ser a razão pela qual os ucranianos mandaram um jato para
“inspecionar” de perto o avião malaio. É possível que o alvo fosse o avião
presidencial de Putin, e a incompetência dos criminosos os tenha levado a destruir
um avião de passageiros.
Há inúmeras
explicações possíveis. É importante, agora, manter a mente aberta e resistir
contra a propaganda dos EUA, até que apareçam os fatos e as provas. No mínimo,
os EUA são culpados por usar o incidente para inculpar os russos “antecipadamente”,
antes de qualquer prova.
Até agora,
Washington só distribuiu acusações gratuitas e insinuações. E se Washington
continuar a só distribuir acusações e insinuações sem provas... logo se saberá com
certeza de quem é a culpa.
Enquanto
isso, lembrem do menino que gritou “lobo!”, sem haver lobo algum, muitas vezes.
Tantas vezes mentiu que, quando o lobo afinal realmente apareceu, ninguém
acreditou nos gritos do menino. Será esse o destino final de Washington?
Nas guerras
que declarou ao Iraque, ao Afeganistão, à Líbia, à Somália e à Síria, os EUA
sempre se esconderam atrás de mentiras. Por quê? Se Washington quer guerra
contra o Irã, a Rússia e a China, por que não declara guerra?
Constituição dos EUA, vilipendiada pelos neocons |
A razão é que
a Constituição dos EUA exige que, para que haja guerra, o Congresso emita uma
Declaração de Guerra. Com esse dispositivo, se esperava que o Congresso
conseguisse impedir que o Executivo fizesse as guerras que quisesse, para
promover as agendas ocultas que bem entendesse. Agora, quando já abdicou dessa
responsabilidade constitucional, o Congresso dos EUA já é cúmplice nos crimes
de guerra do Executivo.
E ao aprovar
o assassinato premeditado de palestinos por Israel, o governo dos EUA já é
cúmplice também nos crimes de guerra de Israel.
Agora, se
pergunte você mesmo, e responda: o mundo não seria mais seguro, lugar de menos
morte, menos destruição e menos refugiados sem teto, e não seria lugar de mais
verdade e mais justiça, se os EUA e Israel não existissem?
[*] Paul Craig Roberts (nascido em 3/4/1939) é um economista
norte-americano e colunista do Creators Syndicate. Serviu como
secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como
um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall
Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em
questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem
frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing
House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e
mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que destruíram a
proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como
habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes
de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra
contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os
palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem
Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da
Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.
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