24/7/2014, [*] Paul Craig Roberts − Institute for Political Economy
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Lucro Mortes EUA: Guerra, um caso de amor! |
Apesar da
conclusão da inteligência dos EUA de que não há provas do envolvimento da
Rússia na destruição do avião da Malaysia
Airlines e de todos que estavam a bordo, Washington está escalando a crise
e empurrando-a diretamente na direção da guerra.
22 senadores
dos EUA apresentaram ao 113º Congresso, 2ª Sessão, um projeto de lei, “S.2277”,
“[para] Impedir novas agressões russas contra a Ucrânia e outros estados
soberanos na Europa e Eurásia e outros objetivos”. O projeto de lei está hoje em análise na Comissão de
Relações Exteriores.
Observem que
antes de haver qualquer prova de qualquer tipo de agressão pelos russos, já há
22 senadores enfileirados, a postos para impedir agressão futura.
Acompanhando
esse movimento preparatório, de propaganda, para criar “contexto” para a
guerra, quente ou fria, contra a Rússia, o comandante da OTAN, general Philip
Breedlove, anunciou seu plano para deslocamento massivo de recursos militares
no Leste da Europa, que permitam respostas fulminantes contra a Rússia (para
proteger a Europa contra agressão russa).
Aí está,
outra vez: “a agressão russa”. Repita muitas e muitas vezes, e o nada vira
fato.
Explosão Nuclear |
A existência
da “agressão russa” é suposta, não demonstrada. Nem Breedlove nem os senadores
fazem referência a planos de guerra russos para atacar a Europa ou algum outro
país. Não há referência a papéis e documentos russos que exponham algum tipo de
ideologia expansionista ou crença que Moscou tivesse manifestado de que os
russos sejam “povo excepcional, indispensável” com direitos de hegemonia sobre
o mundo. Não há qualquer prova de que a Rússia invadiu os sistemas de
comunicação do planeta inteiro, para finalidades de espionagem. Não há prova
alguma de que Putin plantou escutas nos telefones celulares de Obama e também
das filhas de Obama para ouvir conversas; ou de que a Rússia baixe segredos
empresariais de computadores de empresas norte-americanas para beneficiar
empresários russos.
Pois mesmo
assim, o comandante da OTAN e 22 senadores norte-americanos veem urgente
necessidade de criar capacidade militar para a OTAN fazer guerra-relâmpago
junto às fronteiras russas.
O projeto n.
2277 do Senado consiste de três títulos: “Revigorar a Aliança OTAN”; “Impedir
nova Agressão Russa na Europa”; e “Fortalecer a Ucrânia e outros Estados
Europeus e Asiáticos Contra a Agressão Russa”. Quem vocês acham que escreveu
esse projeto de lei? Uma dica: não foram os senadores nem o pessoal dos
gabinetes dos senadores.
Philip Breedlove, comandante da OTAN |
O Título 1 fala de
revigorar a posição de força dos EUA na Europa e na Eurásia e de revigorar a
aliança atlântica, acelerando a construção das bases de mísseis antibalísticos ABM
(anti-ballistic missile) junto às fronteiras da Rússia, para degradar a
capacidade estratégica de contenção nuclear dos russos, e de garantir mais
dinheiro para a Polônia e os estados bálticos e fortalecer a cooperação
EUA-Alemanha em questões de segurança global, quer dizer, garantir que os
militares alemães sejam incorporados como parte da força do império militar dos
EUA.
O Título 2 fala de
fazer frente à “agressão russa na Europa” com sanções e “apoio [financeiro e
diplomático] à democracia russa e a organizações da sociedade civil” – o que
significa injetar bilhões de dólares em organizações não governamentais (ONGs) que
podem ser usados para desestabilizar a Rússia do mesmo modo como os EUA usaram
as ONGs criadas na Ucrânia para derrubar o governo eleito. Durante 20 anos a
negligência do governo russo permitiu que Washington organizasse quintas
colunas dentro da Rússia, sob fachada de organizações de direitos humanos, etc..
O Título 3 fala de
assistência militar e de inteligência à Ucrânia, pondo Ucrânia, Geórgia e
Moldávia numa rota da OTAN para carregar gás natural exportado dos EUA, com o
objetivo de acabar com a dependência de Europa e Eurásia, que dependem da
energia russa; para impedir a reincorporação da Crimeia à Federação Russa; para
expandir propaganda para dentro de áreas russas; e, mais uma vez, para “apoiar
a democracia e organizações da sociedade civil em países da ex-União
Soviética”, o que significa usar dinheiro para fazer subversão dentro da
Federação Russa.
Olhe-se como
se queira para tudo isso, aí está uma declaração de guerra. Além do mais, esses
movimentos provocativos e caros são apresentados como necessários para conter
uma agressão russa da qual não há qualquer prova nem qualquer sinal.
Como se
descreve um projeto de lei que não só é irrefletido, desnecessário e perigoso,
mas também é mais orwelliano que
Orwell? Aceito sugestões.
A Ucrânia
como existe atualmente é estado a-histórico com fronteiras artificiais. A
Ucrânia consiste hoje de parte do que foi antes uma entidade maior, somada a
províncias russas acrescentadas à República Ucraniana Soviética por líderes
soviéticos. Quando houve o colapso da União Soviética e a Rússia permitiu a
independência da Ucrânia, sob pressão dos EUA a Rússia, erradamente, permitiu
que a Ucrânia levasse com ela as ex-províncias russas.
Ano passado,
quando Washington executou seu golpe em Kiev, os russófobos que tomaram ao
poder puseram-se a ameaçar, com palavras e atos, as populações russas no leste
e no sul da Ucrânia. Os crimeanos votaram a favor de se autoreintegrarem à Rússia
e foram aceitos. Essa reintegração [reunificação] foi grave e grosseiramente
distorcida pela propaganda ocidental. Quando outras ex-províncias russas
votaram na mesma direção, o governo russo, rendido à propaganda ocidental, não
aceitou a reunificação também delas. Em vez da reunificação, o presidente Putin
da Rússia conclamou Kiev e as ex-províncias russas a construírem um acordo que
mantivesse as províncias dentro da Ucrânia.
Kiev e
Washington, patrão de Kiev, não lhe deram ouvidos. Em vez de acatar a sugestão
de Putin, Kiev pôs-se a atacar militarmente as províncias. E Kiev ainda as
bombardeava sem trégua, no momento em que o avião da Malaysia Airlines foi
derrubado.
Washington e
seus vassalos europeus representaram de modo gravemente distorcido a situação
na Ucrânia e negaram sua responsabilidade pela violência. E atribuíram à Rússia
a culpa por tudo.
Ucrânia usa bombas de fósforo no Donbass |
Mas não é a
Rússia que está fazendo raids de bombardeio, atacando as províncias com
soldados, tanques e artilharia. Assim como o atual surto de ataque militar de
Israel contra civis palestinos não provoca qualquer tipo de crítica por
Washington, por governos europeus e pelos veículos da imprensa-empresa
ocidental, assim também o assalto de Kiev contra as ex-províncias russas passa
subnoticiado e jamais é criticado nos jornais e televisões.
De fato,
parece que bem poucos norte-americanos sabem que Kiev está atacando áreas civis
das províncias que desejam ser reincorporadas à Rússia da qual foram
desmembradas.
É preciso
impor sanções contra Kiev, de onde se origina a violência militar. Mas, em vez
de sanções, Kiev está recebendo apoio financeiro e militar; e aplicam-se
sanções à Rússia, que não está militarmente envolvida na situação.
Quando
começou o surto de violência contra as ex-províncias russas, o Parlamento Russo
(Duma) deu a Putin poder para agir militarmente. Em vez de usar esse
poder, Putin solicitou que a Duma escindisse a autorização que lhe
dera – o que o Parlamento fez. Putin preferiu lidar diplomaticamente com o
problema, de modo razoável e não provocativo.
Nem por isso
Putin foi tratado com respeito ou elogiado por insistir em solução não violenta
para a infeliz situação criada na Ucrânia pelo golpe que Washington urdiu
contra governo democraticamente eleito, apenas poucos meses antes de o país ter
chance de eleger outro governo.
As sanções
que Washington aplicou e que Washington está pressionando seus fantoches
europeus para que também apliquem enviam a Kiev informação errada. Elas dizem a
Kiev que o ocidente aprova e encoraja a determinação de Kiev para resolver pela
violência suas diferenças com as ex-províncias russas, não pela negociação.
Significa que
a guerra continuará. E isso, precisamente, é o que Washington deseja. Notícias
recentes informam que “conselheiros” militares norte-americanos logo estarão
chegando à Ucrânia para ajudar a conquistas as ex-províncias russas hoje em
revolta.
A natureza
viciosa e pervertida da imprensa-empresa ocidental press-tituta garante
que as massas nos EUA e na Europa permaneçam na ignorância, sob total controle
da propaganda anti-Rússia produzida nos EUA.
Em algum
ponto, o governo russo terá de encarar a evidência de que não tem “parceiros
ocidentais”. A Rússia só tem inimigos ocidentais que estão sendo organizados
para isolar a Rússia; para lesar a Rússia economicamente e diplomaticamente;
para cercar a Rússia militarmente; e para encher as ruas russas de fantoches
organizados por ONGs pagas pelos EUA; e, se não for possível instalar em Moscou
um fantoche dos EUA, sempre poderão detonar a Rússia com armas atômicas.
Vladimir Putin |
Respeito a
firmeza com que Putin se aferra à diplomacia e à boa vontade, em vez de aceitar
o recurso à violência. Mas o problema com a abordagem que Putin escolheu é que
não há boa vontade em Washington; a reciprocidade, portanto, é impossível.
Washington
tem uma agenda. “Europa” significa nações cativas, e aquelas nações estão sem
líderes capazes de livrar-se da agenda de Washington.
Espero estar
errado, mas acho que Putin errou seu cálculo. Se Putin tivesse aceitado reintegrar
as ex-províncias russas à Rússia, o conflito na Ucrânia já estaria acabado.
Tenho certeza de que a Europa não acompanharia Washington em nenhum tipo de
invasão com o objetivo de arrancar da Rússia, ela própria, as ex-províncias e
dá-las à Ucrânia.
Quando
Washington diz que Putin é responsável pela derrubada do avião malaio,
Washington acerta de um modo que Washington não suspeita. Se Putin tivesse
completado o serviço que começou com a Crimeia e tivesse reincorporado à Rússia
as províncias russas, não haveria guerra durante a qual pudesse ser abatido um
avião civil, por acidente ou por complô para demonizar a Rússia. A Ucrânia não
tem capacidade para confrontar militarmente a Rússia e não teria alternativa
além de aceitar a reunificação dos territórios russos.
A Europa
teria testemunhado movimento russo de decisão, e cuidaria de pôr grande
distância entre ela própria e a agenda de provocação de Washington. Essa
resposta da Europa teria esvaziado a habilidade de Washington para inflar e
escalar sempre a crise, porque faria aumentar a temperatura diretamente contra
Washington, sem obrigar o sapo europeu a saltar para dentro da panela.
Em seus
negócios com os EUA, a Europa acostumou-se à eficácia de subornos, ameaças e
coerção. Nações cativas são levadas à impotência diplomática. Europeus veem a
diplomacia como a carta fraca, jogada pelo lado fraco. E, claro, todos os
europeus querem dinheiro – o que Washington imprime sem limite e sem pesar
consequências.
China e Rússia |
Rússia e
China estão em desvantagem no conflito contra Washington. Rússia e China
emergiram de tiranias. As pessoas nos dois países foram influenciadas pela
propaganda norte-americana da guerra fria. Os dois países educaram populações
que acreditam que os EUA seriam terra da liberdade, democracia, justiça,
liberdade civil, bem-estar econômico e amigo acolhedor de outros países que
desejem o mesmo.
Essa é ilusão
perigosíssima. Washington tem agenda. Washington implantou no poder um estado
policial que reprime a própria população; e Washington acredita que a legou aos EUA o direito de exercer hegemonia sobre o planeta. Ano passado, o
presidente Obama declarou ao mundo que acreditava sinceramente que os EUA
seriam a nação excepcional de cuja liderança o mundo depende.
Em outras
palavras, todos os demais países e povos são ordinários, sem qualquer
excepcionalidade. As vozes deles não têm importância alguma. As aspirações
deles dependem, para ser alcançadas, da liderança dos EUA. Quem discorde –
Rússia, China, Irã e a nova entidade ISIL – é visto por Washington como
obstáculo ao objetivo final da história. Qualquer coisa, seja uma ideia seja um
país, que se ponha no caminho de Washington está no caminho do Objetivo Final
da História e é preciso esmagá-lo com tanques, atropelá-lo.
No final do
século XVIII e início do século XIX, a Europa enfrentou a determinação da
Revolução Francesa para impor Liberdade, Igualdade, Fraternidade a toda a
Europa. Hoje, a ambição de Washington é ainda maior: Washington quer impor a
hegemonia de Washington sobre o mundo inteiro.
A menos que
Rússia e China submetam-se, significa guerra.
[*] Paul Craig Roberts (nascido em
3/4/1939) é um economista norte-americano e colunista do Creators Syndicate.
Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi
destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista
do Wall Street Journal, Business WeekeScripps Howard News
Service. Testemunhou perante
comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica.
Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch
e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os
efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra
contra o terror, que destruíram a proteção das liberdades civis dos americanos
da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo
legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à
guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e
ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de
Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação
na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford
University.
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