29/7/2014, [*] Nadia Abu El-Haj, London Review of Books, “Blog
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Crianças palestinas assassinadas por Israel |
Já são mais de mil mortos palestinos, com mais de 5 mil
feridos. Mais de 70% das baixas são civis, mais de 200, crianças. Famílias
inteiras foram dizimadas. Meninos que jogavam bola numa praia foram mortos por
barcos de guerra de Israel. Mais de 2 mil residências foram danificadas ou
destruídas. Segundo um porta-voz do exército de Israel, 120 bombas de uma
tonelada foram lançadas só contra os arredores de Shaja’yya. Mesmo assim,
porque morreram três civis israelenses e 40 soldados, os israelenses e seus
aliados nos EUA insistem em descrever a carnificina como guerra de autodefesa.
Dizem também que o exército de Israel guerreia moralmente.
Que não mira civis. Que jamais os mata intencionalmente. Que até alerta os
gazenses sobre futuros ataques, para que possam escafeder-se da área.
A matança “não intencional” de civis não é ilegal, nos
termos da lei internacional. Se os civis não são deliberadamente “mirados”, se
são mortos na tentativa de alcançar objetivo militar legítimo e o número de
mortos é “proporcional” àquele objetivo, nesse caso as baixas civis são
definidas como “dano colateral”. Contudo, como ensina Neta Crawford em Accountability
for Killing, [1]
vale a pena pensar mais criticamente sobre a categoria das mortes não
intencionais de civis. Muitas mortes de civis em guerra de guerrilha urbana
podem ser “não intencionais”, mas são também previsíveis.
Israel bombardeou o Centro de Refugiados da ONU (27/7/2014) |
Gaza é território densamente povoado cercado por terra, mar
e ar, do qual não há saída possível. O exército israelense está fazendo chover
bombas naquele território com poder de fogo suficiente para demolirem prédio de
apartamentos de oito andares; para fazerem voar pelos ares enormes portões de
ferro. Há drones que disparam contra áreas onde se acumulam dezenas de
milhares de pessoas, contra, até, abrigos; e contra, também pontos em que se
aglomeram pessoas que tentam fugir.
O exército de Israel está bombardeando áreas densamente
povoadas e campos de refugiados usando tanques Merkava e a respectiva munição,
e mísseis disparados de helicópteros Apache, inclusive em áreas que, antes, o
exército israelense indicara como local para onde os civis poderiam
deslocar-se.
Não há lugar seguro em Gaza. Não há para onde fugir. E nada
há de “não intencional”, muito menos há algo de moral, se o que se vê são civis
mortos em circunstâncias nas quais se pode prever com 100% de probabilidade que
serão mortos; se se ataca à bala de canhão um campo de refugiados superlotado
ou uma área superlotada de qualquer cidade, ou rua superlotada, não há dúvida
alguma de que haverá mortes de civis em massa. Nessas circunstâncias, a
distinção entre assassinato premeditado e morte não intencional já perdeu completamente
qualquer significado.
Israel promove banho de sangue em Gaza com a proteção dos EUA e a conivência do mundo |
E se as mortes de civis ali não forem ‘não intencionais’? O
estado israelense é hábil na arte de mostrar-se sempre alinhado com os
interesses e valores proclamados dos EUA.
Depois do 11/9/2001, Ariel Sharon trabalhou muito para
igualar a guerra dos EUA contra “terroristas muçulmanos” no Afeganistão e no
Iraque, com a luta de Israel contra o povo palestino. Mas a guerra de Israel é
absolutamente diferente da guerra dos EUA. Não porque os militares
norte-americanos sejam mais morais, ou mais sensíveis às leis da guerra, mas
porque os EUA operam com uma fantasia ideológica diferente.
Os militares dos EUA foram libertar iraquianos e afegãos de
regimes dos quais esses povos queriam libertar-se – ou, pelo menos, acreditaram
que queriam, quando lhes foi dito que queriam. Sempre seria preciso conquistar
corações e mentes, mas os civis iraquianos e afegãos facilmente abraçariam a
causa dos EUA e sua missão “libertadora”.
A guerra de Israel contra Gaza não é guerra que visa a
conquistar corações e mentes palestinos. Israel não se apresenta como protetora
ou libertadora dos gazenses, de algum governo opressor. Em vez disso, as
táticas do exército de Israel fazem lembrar a lógica dos bombardeios de
britânicos e norte-americanos contra cidades alemãs e japonesas durante a IIª
Guerra Mundial: atirar para matar contra a população civil. Que sofram além do
imaginável. Então, os próprios civis levantar-se-ão contra o governo deles.
Quando Israel ataca hospitais em Gaza, quando assassina
famílias inteiras, quando reduz a pedaços irreconhecíveis quatro meninos que
jogavam bola numa praia, todos esses são assassinatos premeditados e
cuidadosamente planejados. A guerra é uma extensão do castigo coletivo aplicado
aos palestinos da Cisjordânia depois que três jovens colonos israelenses foram
sequestrados e mortos em junho/2014. É resposta proporcional?
Nova Escola da ONU em Gaza pouco antes de ser destruída por Israel (27/7/2014) |
Comparem-se essa resposta e a reação israelense contra os
três israelenses que queimaram vivo um adolescente palestino, como vingança
pela morte dos três colonos. Imaginem o exército israelense pondo-se a
bombardear as colônias nas quais vivessem os colonos assassinos,
responsabilizando colônias israelenses inteiras, pelo crime dos três
assassinos; imaginem o exército israelense a demolir colônias de israelenses, a
tiros de canhão.
Ou imaginem se o Hamás tivesse acesso a foguetes melhores,
que pudessem ser mais eficazmente dirigidos contra os seus alvos. Imaginem se o
Hamás começasse a atacar exatamente os pontos onde estivessem os altos
comandantes e governantes israelenses, as casas deles, que matassem mulher e
filhos deles, sobrinhos, sobrinhas, junto com a família, também dos vizinhos
deles, da casa ao lado, numa explosão só. Imaginem que essas mortes fossem
apresentadas ao mundo como “danos colaterais” pelas quais o Hamás não seria
responsável nem legal nem moralmente!
Os ataques a bomba, pelo exército de Israel, contra casas,
escolas e hospitais palestinos, tudo indiscriminadamente posto no chão,
reduzido a escombros, matando sem parar o povo de Gaza, tem de ser chamado pelo
que é: CRIME DE GUERRA.
Nota dos tradutores
[1] CRAWFORD, Neta C., Accountability
for Killing. Moral Responsibility for Collateral
Damage in America's Post-9/11 Wars [Da
prestação e da cobrança de contas e responsabilidades por matar.
Responsabilidade moral por dano colateral, nas guerras pós-11/9 dos EUA],
Oxford University Press, 2013, 513 pp.
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[*] Nadia Abu El Haj (nasceu em 1962) é uma acadêmica americana com PhD em Antropologia pela
Duke University. É professora
associada de antropologia da Faculdade Barnard. Autora de Facts on the Ground: Archaeological
Practice and Territorial Self-Fashioning in Israeli Society (2001) e The Genealogical Science: The Search
for Jewish Origins and the Politics of Epistemology (2012). Abu El Haj nasceu em Nova Iorque, segunda filha de mãe
protestante e pai palestino e muçulmano. Seu avô materno era francês e avó
materna norueguêsa-americana. Sua educação religiosa limitou-se a frequentar
igreja duas vezes por ano. Passou alguns anos em escolas particulares em Teerã e
Beirute quanto seu pai, como funcionário da ONU, foi transferido para aquelas
cidades. Retornou aos Estados Unidos para seus estudos de nível universitário,
frequentando o Bryn Mawr College obtendo
título de Bacharel em Ciência Política e recebeu seu diploma de doutorado na Duke University. Entre 1993 e 1995 fez trabalhos
de pós-doutorado com bolsa da Harvard
University Academy na área de Estudos Internacionais, com foco no Oriente Médio.
Também recebeu bolsas da University of Pennsylvania, Mellon
Program, e do Institute for Advanced
Study em Princeton. Abu El Haj
fala inglês, árabe, francês, persa e hebraico.
Será verdade a versão, que eu próprio defendo, de que os três israelitas foram mortos por um ou mais conterrâneos, por questões relacionadas com dinheiros, e o abandono dos corpos, pelos assassinos, em terra palestiniana, e posterior conhecimento dos factos das autoridades sionistas, que omitiram e causando o assassínio do jovem palestiniano e assim completarem a estratégia para desencadearem o genocídio do povo da faixa de Gaza, sob a desculpa da defesa dos israelitas, usando da força militar para matar, destruir, sabendo faze-lo sobre os civis indiscriminadamente. Os bombardeamentos sobre hospitais, escolas, centrais eléctricas e de águas é mais um motivo que denuncia o propósito de extermínio das populações indefesas, crianças, mulheres, vítimas da sanha criminosa do sionismo/nazi e com a condescendência do Mundo, dito civilizado e defensor dos direitos humanos, essencialmente, pelo apoio, dos EEUU, UE, ONU e a Liga Árabe. Eu pergunto, até quando?
ResponderExcluirÉssa versão dos 3 jovens assassinados também esta na internet. Os policiais de Israel já descobriram os assassinos e eles são israelenses. Não tem nada a ver com o Hamás. É coisa dos SIONISTAS. Essa guerra é GENOCÍDIO por encomenda. Há petróleo em Gaza e Israel quer roubá-lo. Aliás com vem roubando as terras palestinas há quase 70 anos. Agora querem roubar o solo SUBMARINO.
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