quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Luta pelo Iraque: Saqlawiyah mostra tudo!

30/9/2014, Análise rápida, Mindfriedo, The Vineyard of the Saker –
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Nota da redecastorphoto: Através desta (e de outras não traduzidas) análises de campo fica mais que óbvio que os bombardeios dos EUA destinam-se muito mais a destruir a infra estrutura civil e militar do Iraque e da Síria do que atingir o ISIL (seus verdadeiros aliados e cúmplices). A segunda intenção é “evidenciar” a “necessidade” de “coturnos no solo” (dos EUA) e trazer mais mortes e desgraças como fazem em suas invasões mundo afora, afrontando a Carta da ONU e o Direito Internacional.
A comportamento mostrado pela “coalizão de vontades” (EUA mais ditaduras árabes, “poodles” europeus e Turquia) evidenciam que os verdadeiros alvos dos EUAUnião EuropeiaOTAN são: degradação completa e “mudança de regime” na Síria; destruição e balcanização completa do Iraque; futura “mudança de regime” no Irã. Não podemos esquecer que o Líbano (e o Hezbollah) também está sendo atacado pelo ISIL com a valiosa colaboração do estado genocida de Israel.

The Saker
Aqui se lê uma lista em ordem cronológica de eventos ocorridos entre meados e o fim de setembro, na base de Saqlawiyah do Exército do Iraque (Saqlawiyah localiza-se ao norte de Fallujah).

●– ISIL e combatentes sunitas seus aliados tomaram algumas poucas vilas ao norte de Fallujah;

●– Uma das cidades tomadas foi Sijir, próxima da Base Militar de Saqlawiyah;

●– O Exército do Iraque mandou 400 homens da 3ª Brigada, uma unidade de elite da SWAT, e membros da Ashaib Ahl Al Haq (Liga dos Honrados) para desocupar Sijir.

●– Forte resistência pelo ISIL obrigou os soldados a retornar à base de Saqlawiyah; há ali agora de 800 a mil homens naquela base, já quase sem suprimentos, comida e munição.

●– O ISIL captura áreas em torno da base e bloqueia a única estrada que a conecta a Saqlawiyah e começa a cercar a base. Dizem que o ataque contra a cidade foi uma armadilha preparada para o exército iraquiano e “imundície safavida” [termo ofensivo para designar os xiitas].

●– O ISIL começa a usar alto-falantes, dizendo às tropas que se rendam.

●– Uma unidade de tanques vem de Ramadi, avança para o norte e tenta romper o cerco. Os tanques avançam por um pedaço de estrada minada com explosivos improvisados, mas consegue chegar a 400 metros da base.

ISIL cercou a base de Saqlawiyah (23/9/2014)
●– Os soldados sitiados tentam aproximar-se dos tanques, mas são forçados a retroceder, pelo ISIL, que se serve de suicidas-bomba e assaltos pesados. Os soldados são forçados a voltar à base, e a coluna de tanques retrocede sobre os cadáveres dos soldados.

●– Os soldados sitiados na base fazem pedidos desesperados aos comandantes militares, que prometem ajuda e reforço aéreo, mas nada acontece. Comandantes referem-se aos pedidos repetidos feitos pelos soldados, como desnecessárias “lamúrias”, ante os ataques.

●– Militantes do ISIL vestidos com uniformes do Exército do Iraque avançam em veículos blindados, num ataque de suicidas-bomba. Os soldados que guardavam a base, ao que se sabe, abriram os portões, supondo que os blindados trouxessem suprimentos. Acontecem ataques-suicidas enormes, seguidos de pesadas emboscadas. O ISIL está controlando a base e, pelo que se sabe, restam bem poucos soldados.

●– Relatórios contraditórios sugerem que as baixas estão entre 50 (informe do governo, nada confiável) e 600; e que 200 soldados conseguiram fugir. Os soldados fugitivos passam fome já há quatro dias e estão bebendo água salgada para sobreviver; não conseguem correr.

●– O ISIL faz desfilar 30 homens vestidos em uniformes do Exército Iraquiano em Fallujah e distribui a seguinte declaração:

Com nossa fé posta em Alá, e considerados os meios e capacidades disponíveis, e por ordem do Ministério da Guerra, a Província de al-Fallujah mobilizou todos os seus destacamentos militares, defesa aérea, apoio e destacamentos de ataques aéreos, e depois de planejados e definidos os alvos, os destacamentos lançaram-se sobre os seus objetivos, que é de libertar a área de al-Sijir da imundície dos safavidas [termo ofensivo para designar os xiitas], como um primeiro passo para cercar o quartel-general da Brigada 30, localizado entre a área de al-Sijir e o subdistrito de al-Saqlawiyah.

●– O ISIL diz que matou 300 soldados iraquianos, capturou dois tanques M1A1 Abrams e um tanque russo, além de outros equipamentos saqueados da base.

●– Abadi ordena um inquérito e anuncia-se que os comandantes do Exército e da Força Aérea iraquianos são suspensos, mas os deputados no Parlamento exigem que sejam indiciados e submetidos a julgamento; e dizem que Saqlawiyah é a segunda Spyker [1] no Iraque.

●– O governo está dizendo que o ISIL usou gás venenoso e usa esse argumento para explicar por que a base caiu.

Turcos dizem que o ISIL se droga para combater
Eis algumas perguntas suscitadas pelos eventos acima listados:

1) Por que o Apoio Aéreo não apareceu nem chegaram os ressuprimentos por paraquedas ou helicópteros?
Ao longo de todo o conflito, o que se sabe é que os comandantes iraquianos têm ignorado pedidos para ressuprimento e apoio aéreo e – o que é mais chocante – sempre dão falsas esperanças aos soldados, sugerindo que a base teria recebido ressuprimento, quando nada receberam. As relações azedadas entre os comandantes de Maliki e o desejo de Abadi de substituí-los têm sido citadas também como outra desculpa para o fiasco.

2) Onde, afinal, estão caindo as bombas dos ataques aéreos dos EUA?!

Se o ISIL estava mandando número tão alto de militantes combatentes para o norte, por que os EUA não miraram os seus ataques aéreos contra eles? Ou por que não atacaram os homens do ISIL que estavam sitiando a base de Saqlawiyah?

Combatentes iazidis também reclamaram que os EUA não atacaram o armamento pesado do ISIL em Sinjar quando os iazidis estavam em luta contra eles, sequer depois que os iazidis indicaram (pintados) alvos para os norte-americanos. Os iazidis foram forçados à retirada quando ficaram sem munição, em luta que, se os planos fossem cumpridos, seria fácil vencer.

Também é muito eloquente o comportamento de soldados turcos, que impedem os curdos sírios de cruzar a fronteira para ajudar outros curdos a dar combate ao ISIL em Kobane. Assim também, os ataques norte-americanos longe de Kobane não conseguiram impedir o avanço do ISIL. Tudo isso fede a [criar a necessidade de] “coturnos em solo”.

Tropas turcas impedem curdos de combater  ISIL
3) Onde estão, em tudo isso, as tribos sunitas?

Até agora, aquelas tribos sunitas que não apoiam o ISIL ainda não se decidiram a apoiar o governo. As razões que apresentaram são que continuam os ataques indiscriminados de artilharia contra áreas sunitas populosas (Fallujah, Ramadi) e a detenção de alto número de homens sunitas. Outra razão pode ser que aquelas tribos ainda tenham dúvidas de que o governo consiga vencer a guerra ou impor-se nos territórios tomados.

4) Efetividade das milícias?

As milícias impediram a queda de Bagdá e detiveram o avanço do ISIL. Mas ainda têm longo caminho a percorrer, e podem vir a revelar-se inúteis nas áreas onde dominam os sunitas.

Os figurões da Liga dos Honrados [orig. Ashab Ahl al Haq] ficarão furiosos por seus homens terem sido sacrificados na base Saqlawiyah, e exigirão respostas, se não sangue, da liderança político-militar do Iraque.

Os líderes militares do Iraque, politicamente selecionados, mostraram pouco ou quase nenhum zelo ou cuidado pelos próprios homens e soldados. Talvez sejam mais perigosos que o ISIL.

Post Sciptum: (5ª pergunta, oferecida nos “Comentários” a esse postado:)

Michael Collins escreveu...

Grande postado! As perguntas vão direto ao alvo. Aí vai mais uma:

●– Se o Exército Sírio Árabe derrota os “rebeldes” em praticamente todos os confrontos (inclusive o ataque vindo da Jordânia que foi completamente esmagado), por que os EUA e sócios só têm impacto zero no avanço do ISIL?!




Nota dos tradutores
[1] O ISIS distribuiu vídeos em que mostra um massacre, no qual são executados soldados iraquianos capturados na base militar de Spyker, em Tikrit. Os vídeos circularam pelas mídias sociais, com notícias de que 1.700 pessoas teriam sido mortas, inclusive estudantes e funcionários da segurança (24/9/2014, Aydinlik em: ISIS Chemical Attack in Iraq Kills Hundreds. [aqui traduzido].

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