10/12/2014, [*] Yuriy Rubtsov, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Nota da redecastorphoto: Muita gente compara a situação da
Europa atual com os anos anteriores à IIª Guerra Mundial. Correção importante: agora
estamos assistindo ao fomento, pelo Ocidente (EUA e União Europeia), de mais um
regime nazista representado pela Junta−de−Kiev na Ucrânia. Isso nos faz lembrar
a segunda metade dos anos 1930’s quando aconteceu a mesma coisa com a Alemanha,
transformada num estado nazista e com os EUA, hoje com a eliminação dos
Direitos Civis de seu próprio povo, transformados num estado fascista.
Desfile do Pravy Sektor (partido NAZISTA apoiado pelos EUA e coordenado pelo Depto de Estado via Victoria "Fu** EU" Nuland) em Lviv, Ucrânia |
“Naturalmente” – perguntou – “sabe do que se trata, Rieux?” [...] “Pois
eu sei”. (...) “vi alguns casos em Paris há uns vinte anos. Simplesmente, naquela
época, não houve a coragem para lhe dar um nome. A opinião pública é sagrada:
nada de pânico. Sobretudo, nada de pânico. E depois, como dizia um colega: É
impossível, toda a gente sabe que ela desapareceu do Ocidente”.
A peste NAZISTA volta a atuar na Europa, propagada e apoiada pelos EUA na Ucrânia. O braço tatuado não mente. |
Como a Alemanha foi dividida em 1946 (clique na imagem para aumentar) |
Países ocidentais explicaram o apoio
que davam ao regime pós-golpe em Kiev, com alegações de que tentavam impedir
que a Rússia destruísse a Ucrânia como estado único, uno, unificado. Contudo, é
mais evidente a cada dia que, de fato, Washington, Bruxelas, Bonn e agora
também Varsóvia, estão preparando o palco para desmembrar a Ucrânia.
Não há muito tempo, o presidente do
parlamento polonês, Radek Sikorski, pôs em circulação uma história muito
duvidosa sobre conversa que teria havido em 2008 entre o ex-primeiro-ministro
da Polônia, Donald Tusk e Vladimir Putin, na qual Putin teria proposto a Tusk
que analisasse a possibilidade de dividir
a Ucrânia. Em seguida, Tusk começou a tomar distância cautelosamente
dessa perturbadora “informação”, e Sikorski desmentiu tudo, dizendo que Tusk
compreendera mal o que ouvira. A manobra serviu para que os poloneses aferissem
o tipo de futuro que políticos europeus insiders anteviam para a
Ucrânia.
Será muito útil para os patriotas
ucranianos terem em mente que o Ocidente tem acumulada vastíssima experiência
de esquartejar um estado depois da IIª Guerra Mundial – e estado que era muito
mais poderoso e bem estabelecido, embora estivesse em situação de derrota
militar. Falo, é claro, da Alemanha.
Dado que a Alemanha tem sido vista aos
trinados, como líder de torcida a favor da posição dos EUA na questão
ucraniana, há de ser instrutivo para todos examinar as experiências de Berlim
naquele período. É possível que o que a Alemanha está fazendo, no planejamento
da partição da Ucrânia, seja hoje uma espécie de vingança, embora em menor
escala, pela derrota de que os russos aplicaram aos alemães em 1945?
Quando a questão do futuro da Alemanha
nazista foi pela primeira vez trazida à mesa de negociações na Conferência de
Teerã, em novembro-dezembro de 1943, Joseph Stálin, que liderava a delegação
soviética, defendeu que, depois da derrota
dos nazistas, a integridade do estado alemão teria de ser preservada.
Quando os líderes da URSS, dos EUA e
da Grã-Bretanha discutiam sobre o mapa da Alemanha pós-guerra na Conferência de
Yalta em fevereiro de 1945, todos [os Aliados] reconheceram a necessidade de
“desarmamento, desmilitarização e desmembramento completos da Alemanha, como
requisito fundamental para a paz e a segurança futuras”. Mas ainda meses
depois, em julho-agosto de 1945, na Conferência de Potsdam, o esquartejamento
do território alemão ainda não era conclusão decidida. Os aliados concordaram
sobre um sistema de ocupação quadripartite para a Alemanha, com o objetivo de
desmilitarização e democratização; também ficou decidido que “durante o período
de ocupação, a Alemanha seria tratada como uma só unidade econômica”. Ficou
planejado que durante a ocupação, as forças armadas da URSS, dos EUA, da
Grã-Bretanha e da França exerceriam autoridade suprema, cada uma, sobre sua
respectiva zona de ocupação. E em questões que afetassem toda a Alemanha,
teriam de trabalhar juntos, como membros do Conselho de Controle.
Consideremos esse último ponto: havia
um Conselho de Controle – corpo unificado, de supervisão, formado pelas
potências Aliadas – e se seus membros trabalhavam juntos, poderiam facilmente
ter mantido a integridade política, econômica e territorial da Alemanha
pós-guerra. A autoridade do Conselho de Controle era essencialmente ilimitada –
dentro do país ocupado, o Conselho promulgava leis, ordens, comandos e outros
instrumentos legais que comandavam o trabalho das autoridades administrativas
nas zonas ocupadas pelos Aliados e regulavam a vida pública.
Churchill (E), Roosevelt (C) e Stalin (Yalta, fev. 1945) |
Mas tudo isso só seria possível se
cada um e todos os Aliados demonstrassem verdadeira boa-vontade e partilhassem
a mesma visão sobre o futuro daquele país que sofrera derrota militar, mas
ainda conservava esperanças de um futuro promissor. O mecanismo de tomada de
decisões negociado em Potsdam, que exigia apoio unânime dos quatro
representantes de potências ocupantes, visava a ajudar a construir, precisamente,
esse acordo de todos.
Várias das decisões chaves do Conselho
de Controle que determinariam a trajetória do desenvolvimento da Alemanha do
pós-guerra já estavam tomadas e ao final de 1945. Por exemplo, já se haviam
aprovado leis para assegurar a des-nazificação e a democratização do processo
legal e da administração da justiça; e as antigas leis nazistas já haviam sido
abolidas. Já havia legislação vigente também para, dentre outras coisas,
desmilitarizar a Alemanha e punir os indivíduos que tivessem cometidos crimes
de guerra ou crimes contra a paz e a humanidade. Embora tenha havido lutas,
essas decisões haviam sido negociadas com sucesso, o que autorizava que se
tivesse alguma fé no futuro desse sistema de administração compartilhada para a
Alemanha; até que o trabalho do Conselho de Controle e outras agências
administrativas, legais e econômicas começaram a parecer que fugiam de qualquer
controle.
Exemplos de acordos regidos pelo
senso-comum – e já nem se fala de consenso total de opiniões – começaram a
tornar-se cada vez mais raros, quando se chegou às grandes questões de como
prover condições decentes de vida para o povo alemão.
Um membro do Conselho de Controle da
URSS, chefe da administração militar dos soviéticos, Marechal Georgy Zhukov
recordou:
Georgy Zhukov |
O pessoal administrativo de EUA e Grã-Bretanha, como se estivessem
combinados, passaram de repente a não concordar com coisa alguma; discordavam
de tudo (...). Foi-se tornando cada vez mais difícil
encontrar fórmulas para acertar disputas, especialmente quando se discutiam
questões realmente cruciais. Por exemplo: providências para erradicar o
potencial militar e econômico encastelado como “militarismo” alemão; desarmar
as unidades militares alemãs; e erradicar firme e fundamente todas as
modalidades de fascismo das organizações nazistas nas zonas sob ocupação dos
EUA e da Inglaterra.
Georgy Zhukov pôs o dedo precisamente
na questão principal: a União Soviética e os Aliados Ocidentais tinham posições
diametralmente opostas. Mais que qualquer outro país, a União Soviética – nação
que conhecera cara a cara, de primeira mão, o poder de destruição do IIIº Reich
– buscava permanentemente, como parte do trabalho de administrar a zona sob sua
responsabilidade, alterar os ambientes locais, com vistas a prevenir que o
militarismo ou o nazismo renascessem, ao mesmo tempo em que ia construindo o
ambiente democrático adequado, mediante transformações democráticas e
pró-democracia, para que o povo alemão encontrasse meios para construir estado
pacífico e economicamente estável. Os países ocidentais tinham outros objetivos,
completamente diferentes.
Para começar, os Aliados contavam com
que o fracasso militar tivesse posto fim, para sempre, ao futuro da Alemanha
como concorrente econômico. Segundo, desde o início os EUA viam a Alemanha como
mercado gigante, maduro para ser explorado pelo grande capital alemão.
Em suas memórias, o marechal Zhukov
observa um detalhe: cinco milhões de toneladas de aço fundido seriam
suficientes para sanar todas as necessidades da Alemanha pós-guerra, mas os
Aliados insistiam em que seriam necessárias dez toneladas, o dobro. Com
dificuldades e depois de dias de negociações, concordaram em diminuir suas
exigências para 8-9 milhões.
Mas a questão, para eles nada tinha a ver com necessidades do povo alemão:
queriam era preservar todo o potencial militar e econômico das regiões
ocidentais da Alemanha – escreve Zhukov.
Essa política dos Aliados assume
sobretons de raro cinismo, se se considera que, diferente do que se via na
parte ocidental do país – sob administração dos Aliados – onde praticamente
todas as construções em aço haviam sido poupadas, no leste – área sob
administração dos soviéticos – tudo estava em ruínas.
Attlee (E), Truman(C) e Stalin (Potsdam, jul. 1945)
|
Os mesmos objetivos – a saber,
contribuir para expandir o potencial econômico e militar/econômico da parte
ocidental da Alemanha – observaram-se nos esforços dos ex-parceiros da URSS
para manterem longe de qualquer livro ou registro oficial as instalações
industriais não necessárias, conforme os acordos de Potsdam, para manter as
necessidades dos alemães no nível negociado pelos aliados; sem registro,
aquelas instalações puderam ser destruídas ou confiscadas como reparação. Em
1947, mais de 450 instalações militares estavam sendo mantidas fora de qualquer
registro oficial nas zonas sob administração dos britânicos e dos
norte-americanos.
Já de olho numa futura confrontação
com a URSS, as potências ocidentais viam o inimigo recém derrotado como força
política e militar de contingência, a ser preservada. Os aliados ocidentais com
certeza já contavam com a possibilidade de usar pessoal e equipamento de
grandes unidades Wehrmacht, para promover seus objetivos.
Fato absolutamente comprovado e
historicamente demonstrado é que foi o ocidente – não a União Soviética – que
concebeu, promoveu e consumou o racha do território alemão.
Em setembro de 1946 havia gabinetes
administrativos anglo-norte-americanos já instalados, que agiam
independentemente na gestão da economia, do suprimento de comida e agricultura,
transportes, finanças e comunicações. Ao final daquele ano, os Aliados
ocidentais moveram-se, primeiro, para fundir as duas zonas ocupadas por EUA e
Grã-Bretanha na Bizona; na sequência, anexaram a zona francesa, formando a
Trizona. Foi criado um Conselho Econômico para essa economia unificada, como o
Banco Deutscher Lander [lit. “das terras alemãs”], o qual em junho de
1948 começou a emitir o marco alemão que então circulou nas zonas ocidentais.
Em abril de 1949, quando foram abolidas as leis do Conselho de Controle Aliado
que haviam banido os setores industriais e declarado o fim do desmonte da
produção militar.
Emissões do Deutscher Lander Bank em 1948-49 |
A crise de 1948 em Berlim, que
rapidamente aprofundou o confronto entre os ex-aliados, desenvolveu-se sob a
forma de uma Guerra Fria, que foi o golpe mortal contra qualquer esperança de
preservar-se um estado alemão unificado. Em maio de 1949 foi anunciado o
estabelecimento da República Federal da Alemanha.
Assim se vê que, sem dúvida, as
potências ocidentais têm, sim, rica experiência em dividir uma entidade estatal
e criar outra com os cacos resultantes. E, pergunta interessante: estará Kiev
realmente cega à possibilidade de o ocidente ter planos de usar os recursos
ucranianos para construir outros estados? Ou, quem sabe, está só fingindo que
não vê esses planos?
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[*] Yuriy Rubtsov nasceu em 21/2/1957 em Kaliningrado, região de Moscou. Em 1980,
graduou-se na Escola de Engenharia Naval Superior da FE Dzerzhinsky. De 1980 a 1996 serviu em
unidades da Marinha. Desde 1987, ele serviu como oficial da Frota do Norte nos destróiers
“Almirante Nakhimov” e “Almirante Isachenkov”. Nos anos de serviço no Norte
começou a estudar Heráldica e História do Ártico. De 1991 a 1996 foi presidente
da Sociedade Heráldica de Severomorsk e membro da Comissão de Heráldica da
Frota do Norte, cargo que ocupou até o fim do serviço militar. Em 1993
graduou-se no curso de Formação em Serviço Público já sob o Governo da
Federação da Rússia, hoje Academia Norte-Oeste da Administração Pública. Desde
1996, ele atuou na TV e na Rádio do Ministério Central de Defesa da Federação
Russa (Moscou). Em 2004 foi transferido para a reserva no posto de Capitão (equivalente
a tenente-coronel no Brasil). Foi premiado com 14 medalhas da URSS e da Rússia,
entre eles: Comenda de Cooperação Militar, a “Distinguished Service” em 2º e 3º
graus, e a medalha “Almirante Kuznetsov”. Atualmente é Vice-Presidente da
Empresa “TSENKI” − Roscosmos e engenheiro-chefe do estúdio de televisão dessa
empresa. Neste último local de trabalho foi premiado com a medalha Agência
Espacial Federal por promoção e divulgação de atividades espaciais russas .Continua
a se envolver com Heráldica apenas como amador.
Excelente e esclarecedor! Texto informativo muito bem redigido!
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