14/1/2015 , Jacques-Alain Miller
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Traduzido para português pelo pessoal da Vila Vudu
Todos concordam que a imagem que permanecerá desse momento histórico é François Hollande que abraça o médico socorrista Patrice Pelloux, que está em prantos. Hollande lhe acaricia os cabelos, o rosto, o embala. No fundo, à esquerda da imagem, sobreviventes da chacina em Charlie têm um surto de gargalhadas: um passarinho soltou o esfíncter e maculou o ombro do presidente. O caso do passarinho está contado em Le Monde, Le Figaro, etc.. (Há um vídeo − logo abaixo) (“Paris: o amor pela Polícia”, 12-13/1/2015, Jacques-Alain Miller, de Paris, pela lista lacan.dot.com, [fragmento aqui traduzido].
Na Argentina, merda de pombo traz boa-sorte. É o que ensina minha amiga Graciela, que se bronzeia no litoral: “Por aqui, se alguém é cagado de pombo, significa boa-sorte.” Que seja. Sabemos que o presidente Hollande acredita que tem boa estrela. Em resumo: estamos na merda, é bom sinal.
Graciela, que leu minhas aulas, pergunta-se se não seria uma “resposta do real”, uma manifestação dos deuses. Os romanos, tão supersticiosos, nunca deixariam de acreditar que fosse. E não esqueçamos que Jesus, depois de batizado, viu o céu abrir-se “e o Espírito Santo desceu sobre ele sob forma corpórea, como um pombo” (Lucas, 3:21). Talvez um cocô divino tenha feito serviço de mão-divina? O boulevard Voltaire feito catedral de Reims? O presidente da República no papel de Ungido do Senhor?
As afinidades do Espírito Santo com o objeto anal não são novidade e estão bem descritas. Lacan – e citá-lo não implica comprometê-lo – cita o artigo de Ernest Jones sobre a fecundação da Virgem pela orelha, em que o dito Espírito Santo é análogo também do cocô. Sem blasfêmia. A tese é anatomicamente fundada: boca e canal anal respondem um ao outro, como duas extremidades de um tubo digestivo contínuo. O sopro espiritual é parente do gás intestinal; a palavra é parente do excremento.
Vê-se que a psicanálise nos seus verdes anos não deixava de ter afinidades, e recíprocas, com o espírito do grupo de Charlie. A escatologia é sua mais pura inspiração desde Hara-Kiri do professor Choron. O fio percorre seus diversos avatares, anarquista, “ecolô”, esquerdista, neoconservador. “Jornal burro e chato”? “Jornal irresponsável”? São aproximações.
Aqui se trata, na verdade, do seguinte: Charlie tem uma missão nesse mundo, de revogar toda e qualquer sublimação, para honrar a pulsão.
Por isso essa pequena folha – que não é folha de parreira, sabemos – tem lugar garantido na história dos costumes. Calcemos nossas botas de sete léguas para percorrer valentemente vários séculos. E em passo acelerado, como numa história em quadrinhos.
Toqueville |
As aventuras da pulsão
1. O antigo mundo greco-romano estava muito mais próximo da pulsão do que estamos nós, como o revelaram Schopenhauer, Nietzche, Freud e os outros. Depois veio o discurso cristão. O título de Peter Brown já diz tudo: Le renoncement à la chair: Virginité, célibat et continence dans le christianisme primitif [A renúncia à carne: virgindade, celibato e continência no cristianismo primitivo] (1). Na Renascença, a cristandade retornou às suas fontes greco-romanas. Segue-se daí uma nova aliança entre a religião e a carne. É um dos motivos da revolta protestante, a qual, contudo, num outro plano, dá também seu lugar à carne (os pastores protestantes podem casar). E não se deve esquecer que Martinho Lutero tinha uma queda pela escatologia. Teria declarado “Je suis Charlie”?
2. Naquele ponto aconteceu a separação das águas. O protestantismo ficava com a austeridade, a igreja católica com o prazer dos sentidos, que ela decide, no Concílio de Trento, mobilizar para finalidades de propagação da fé. O século XVII assiste a grandes deslocamentos populacionais: “A Grande Migração” de puritanos ingleses para as colônias norte-americanas (80 mil pessoas); a diáspora dos huguenotes depois da revogação do Édito de Nantes (400 mil deslocados). O século XVIII na França? Talleyrand, nascido em 1754, dirá depois: “Quem não conheceu o Antigo Regime nunca saberá o que foi a doçura de viver”.
3. Napoleão, deve-se dizer, é a ordem moral. A Santa Aliança estende-se por toda a Europa. Vem para dar o tom rainha Vitória. Boutade: quando terminou de ler o livro de mesmo título, de Lytton Strachey, Lacan disse que a rainha Vitória foi condição sine qua non de Freud. A Belle Epoque termina na carnificina de (19)14. Depois vieram os Anos Loucos. Etc. Na libertação [de Paris], o totem é Le Tabou, rua Dauphine, [1] esquina rue Christine. Últimas guerras coloniais. Em 1960, aparece Hara-Kiri. Pipi côcô, caca-caquinha-pipizinho. Ufa! Afinal se respira. Respiram-se miasmas, mas o odor é tão revigorante quanto o dos queijos de Jerome K. Jerome. Beliscõezinhos no nariz do Carlão [de Gaulle] e da Tia Yvonne (como se chamava popularmente Mme. De Gaulle).
Marquês de Sade por Jim Champion |
4. Diga-me agora você, que vai (ou que não vai) à exposição Sade no Museu d’Orsay, e que lê (ou não lê) a [coleção] Pléiade, que à época um livreiro de Saint-Germain-des-Près convidava você para a sala nos fundos da livraria para lhe passar escondidos os pequenos volumes azuis de Justine e de Juliette, impressos por Pauvert em papel barato, se se arriscava grande coisa. Não se arriscava grande coisa mas, enfim, gozava-se um pouco da vertigem do proibido. Ao mesmo tempo, os jornais de esquerda eram censurados [orig. caviardés] quando falavam de tortura na Argélia; saíam às ruas com grandes vazios brancos nas páginas. A censura era tão familiar que era personificada: depois dos anos 1870 era chamada de “Anastasie”. Era uma espécie de bicho-papão feminino, armada de grandes tesouras (castração!). O ápice foi quando, por insistência de Mme De Gaulle, mobilizada, digamos, pelas freiras da União das Superioras Maiores, o ministro da Cultura proibiu um filme de Jacques Rivette, a partir de La Religieuse de Diderot (2).
5. Foi em 1966, ano em que surgiram os Ecrits de Lacan. Naquele tempo, vejam vocês, falar, escrever, fazia diferença, gerava reação, como em tempos ainda mais antigos. Se se tomava por objeto o exército, a igreja, mesmo que fosse via Diderot, que tem estátua em Paris e obra [completa] na [coleção] Pléiade da [editora] Gallimard, o outro lado respondia.
O Outro moral ainda não se aposentara. O coco-pipi ainda conservava certa potência de transgressão. Tanto que o grande Outro dos anos De Gaulle e Pompidou respondeu “presente”. E foi a grande época do professor Choron. Mas, na sequência, esse grande Outro foi desmontado, desmantelado peça a peça. As etapas desse processo estão reconstituídas em recente resumo de Eric Zemmour, cujo traço às vezes antiquado absolutamente não apaga o interesse documental.
De fato, esse grande Outro nunca foi senão um fantoche movido por marionetista genial. O general [de Gaulle] sabia o que fazia e disse-o bem claramente. Uma de suas frases favoritas, segundo seu confidente Alain Peyrefitte: “Sempre fiz do mesmo jeito. Várias vezes até que deu certo” (C’était De Gaulle, p. 171).
6. Charlie Hebdo, que veio depois de Hara-Kiri, estrangulada sobre a lápide do general, morreu, também por sua vez, mas em casa, morte tranquila, em 1981, quando a esquerda chegou ao poder com Mitterrand. Depois de muito tempo, o velho grande Outro neo-gaulliste, progressivamente desativado, como “Hal” no filme de Kubrick, 2001, só respondia com um “Pufff” às provocações, acompanhado desse movimento de levantar os ombros que o mundo anglófono circunscreve sob o nome de “Gallic shrug” [dar de ombros gaélico, ou francês], tanto lhes parece característico de nosso modo-de-ser.
É difícil transgredir, quando não há mais limites ou pelo menos quando já não há muitos limites. Ou seria preciso passar à injúria, à difamação, ao racismo, à convocação ao assassinato.
Quem matou Charlie? Minha resposta, numa palavra: a “permissividade”. “A palavra não está no Littré; só aparece atestada na língua a partir de 1967, para traduzir o inglês permissiveness (Le Robert. Dictionnaire historique de la langue française).
7. Do Charlie cuja redação acaba de ser extinta, falarei pouco. A publicação renasceu, depois de interrupção de 11 anos, em 1992. A presença dos grandes velhos e a firme fidelidade à pulsão sob a forma canônica de pipi-coco-pintinho comprovam que a retomada do título não foi impostura. Seus grandes feitos: republicar, em 2006, as caricaturas holandesas de Maomé; lançar uma edição, em 2011, zombando da [lei da] Xaria [orig. charriant la charia]. Na mesma noite em que a revista saiu às bancas, houve tumultos de rua. O diretor de redação, Charb, e dois desenhistas, passaram a andar com escolta policial. Multiplicaram-se ameaças dos islamistas.
Em 2013, a revista Inspire, publicada online pela Al-Qaeda na Península Arábica, incluiu o nome de Charb em sua lista de “procurados” por “crimes contra o Islã” (Wikipédia). Semana passada, 7 de janeiro de 2015, foi o massacre.
Três teses, um paradoxo
Nada, nos 21 primeiros anos da revista, permitiria antever que a maior parte dos redatores tombariam sob o fogo de guerreiros islamistas. Mas, afinal, por que tanto se empenhar em zombar dos valores sagrados da religião muçulmana, mesmo quando o risco era visível e o perigo objetivo e indubitável?
Christiane Taubira,
Ministra da Justiça da França
por Charb (Charlie Hebdo)
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Há a tese nobre: eram combatentes da liberdade de expressão. Charb, que era comunista, disse, em frase muito citada que agora passará à posteridade:
Sei que soa um pouco pomposo, mas prefiro morrer em pé, a viver de joelhos.
Há a tese ignóbil, que Tariq Ramadan já lembrava na própria noite da matança, em diálogo em inglês com Art Spiegelman, criador de Maus (3): escreviam o que escreviam, para ganhar dinheiro.
E há, por fim, a tese “clínica”, por assim dizer, exposta por Delfeil de Ton no L’Obs de ontem (13/1/2014).
Antigo colaborador de Charlie e amigo de Charb, Delfeil de Ton (DDT), 80 anos, destaca, em texto perturbador, a obcecação de Charb e sua responsabilidade:
Ele era o chefe. Que necessidade havia de arrastar toda a equipe nessa sua aposta alucinadamente alta?
Relembra o que dissera Wolinski depois dos incêndios pela cidade (2005):
Acho que somos inconscientes e imbecis, e que nos expusemos a um risco inútil. E DDT concluía: Charb preferia morrer, Wolin preferia viver.
Depois de ler, a pergunta é inevitável: haveria um Charb suicidário? Um Charb tomado de melancolia? De fato, ele se apresentava como homem “com nada a perder”: “Não tenho filhos, nem mulher, nem carro, nem crédito”.
A jubilação semanal da genial equipe seria, para perguntá-lo à maneira de Mélanie Klein e Winnicott, uma defesa maníaca contra a depressão? Por trás da fachada fálica, a pulsão de morte? Seria esse o segredo de Charlie Hebdo?
Se for necessário escolher entre essas três hipóteses, excluo de saída a segunda, porque, objetivamente, não há interesse financeiro que dê conta da extensão dos riscos a que todos foram expostos na revista. Seria preciso supor que haveria em Charlie a paixão de um Harpagão, e não se vê sinal disso. Só ignomínia, do professor da Universidade de Oxford.
Harpagão |
A terceira tese merece consideração, mas ela empalidece na comparação com a primeira, porque, ainda que num melancólico, num perverso, num neurótico, nem por isso o heroísmo é menos heroísmo.
Aqui, MUITA ATENÇÃO: para que haja o que se chama “heroísmo”, quer dizer, sacrifício por um ideal, é preciso que haja sublimação. Mas... Ora! Até aqui estou argumentando na direção de que Charlie Hebdo seria antissublimação, a favor da pura pulsão, que se dedicava ao culto da pulsão, à exaltação do gozo. Há pois uma contradição.
É onde uma frase de Erik Emptaz, na primeira página do Canard Enchaîné, nos esclarece. Agora que o também o CE já começou a receber as mesmas ameaças que Charlie, Emptaz promete continuar, com os companheiros, a “rir de tudo, exceto da nossa liberdade de poder rir de tudo”. Aí está, sem dúvida, o xis da questão, que se desdobra.
(a) Se eu realmente desejo rir de tudo, é impossível para mim fazer piada da minha liberdade para rir de tudo. É o limite do riso. A piada tem de parar aí. Ninguém que leve a sério a liberdade para rir de tudo, ri dela.
Dito de outro modo: quem quer rir de tudo, não pode rir de tudo.
(b) Rir-se de tudo, inclusive da minha liberdade para fazê-lo, leva ao mesmo mau resultado: sacrifico minha liberdade de rir de tudo, sacrifico minha capacidade para gerir o chicote e o lombo. Em resumo, para rir de tudo, tenho de me abster de rir de tudo.
A posição (b) é cínica. A posição (a) chamei de heroica.
Talvez alguns dos Charlie se acreditassem cínicos. Talvez até, uns mais outros menos, o fossem. Mas fato é que eram heroicos, Charb sabendo que era, e nós só descobrindo agora, depois de tudo.
O erro de Delfeil de Ton, me parece, é nos pintar um Charb tomado por um “Viva a morte!” Ao contrário, o propósito de Charb sugere uma fórmula completamente diferente, que faz dele um “soldado do ano 2” verdadeiro, não de papiê-machê: “A liberdade ou a morte!”
Soldados do Ano 2 |
A cláusula decisiva aí é “ou a morte!”. Quem não põe a própria vida na balança do destino, quem não engaja o próprio ser (e só engaja seu talento, algumas competências) foge da luta, não luta a sério. O primado da vida é tão firmemente ancorado nas sociedades ocidentais que, no caso da barragem de Sivens que custou a vida de Rémi Fraisse, ouviu-se um encarregado local, do Partido Socialista, enunciar a seguinte enormidade: (4).
Morrer pelas próprias ideias é uma coisa, mas mesmo assim é meio estúpido, meio idiota.
Não detonemos o infeliz. O que se lê não é, com certeza, o que quis dizer (que Rémi lá estava para defender uma ideia, que não pensava em pôr em risco a própria vida, que foi morto por um triste conjunto de circunstâncias, etc.). Mas, até porque é uma espécie de lapso, a frase é ainda mais verídica. Já lá vão 20 anos que Lipovetski publicou Le Crépuscule du devoir (L’éthique indolore des nouveaux temps démocratique) [1992] [Crepúsculo do dever (A ética indolor dos novos tempos democráticos [2]).
Nada de surpreendente que não hesitemos em negar aos mártires de Charlie a qualidade de heróis, e façamos deles imprudentes, para não dizer doidos. Correlativamente, sapateamos sobre os assassinos deles.
Não nos basta ter matado aqueles três homens, os terroristas. É preciso ainda declará-los loucos furiosos, doentes e, sobretudo, bárbaros. Chamamos “bárbaro”" aqueles aos quais nós negamos que pertençam a uma civilização digna do nome (5).
Saibamos reconhecer, para começar, que nossos guerreiros brotam de um outro discurso diferente do nosso, não menos estruturado nem menos “civilizado”, mas civilizado de outro modo. E nesse outro discurso, eles também são heroicos.
Para os gregos da Antiguidade, “bárbaro” era quem falasse língua ininteligível para os gregos, daí a palavra, formada por repetição, bar-bar, como nosso blá-blá-blá. Bárbaro é o que nem fala, só faz ruídos de boca. E de fato, quando um dos irmãos Kouachi, ao sair do massacre e antes de entrar no carro, lança na rua, em voz alta e inteligível, três vezes, o brado “Vingamos o profeta Maomé!” (6), nós nada compreendemos; só que o Islã nada tinha a ver com aquilo e os dois não passam de brutos sanguinários e mentalmente desarranjados.
Por que não os declarar “animais de duas patas”, como os romanos diziam dos hunos?
[Continua (7)]
Notas do autor
(1) O livro de Peter Brown foi publicado em 1988 ; apareceu em francês, editado por Gallimard em 1995.
(2) Sobre o affaire de La Religieuse, consultar os Cahiers d’études du religieux.
(3) O vídeo intitulado “Comics Legend Art Spiegelman & Scholar Tariq Ramadan on Charlie Hebdo & the Power Dynamic of Satire” pode ser visto no site Democracy Now.
(4) O socialista responsável pelo Tarn pode ser visto no vídeo: Sivens : «Mourir pour des idées, c'est stupide», juge le président PS du Tarn.
(5) Sobre os bárbaros: de Bruno Dumézil, Les Barbares expliqués à mon fils, Seuil, 2010.
(6) Os dois irmãos ao sair do massacre na redação da revista, em vídeo obtido pela agência Reuters. Disponível na internet desde ontem (13/1/2015) pela manhã.
(7) Espero conseguir escrever ainda sobre a coluna publicada ontem em Le Monde, p. 9, pelo prof. Alain Renaut, que dá corpo, em termos, concordo, ainda muito gerais, ao que chamei de “via da concessão & compromisso”, sob a forma dita de um “multiculturalismo temperado pela preocupação com o interculturalismo”.
Notas dos tradutores
[1] No número 33, onde está hoje o Café Laurent, ficava Le Tabou, célebre cave de dança e jazz, que funcionou de 1947 a 1948 [informações da Wikipedia].
[2] Além da tradução portuguesa, há tradução brasileira: LIPOVETSKY, Gilles. A sociedade pós-moralista. O crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos. Traduzido por Armando Braio Ara. Barueri: Manole, 2005.
Versão enviada pelo autor (original):
Le secret de Charlie –par Jacques-Alain Miller (Paris, mercredi 14 janvier 2015; texte expédié à 8h)
En Argentine, la fiente de colombe porte chance. C’est ce que m’apprend mon amie Graciela, qui se dore à la plage : « Acá, si a uno lo caga una paloma, significa buena suerte. » Acceptons-en l’augure. On sait que le président croit à sa bonne étoile. En somme, nous sommes dans la merde, c’est bon signe.
Graciela, qui a lu mes cours, se demande si ce ne serait pas là une « réponse du réel », une manifestation des Dieux. Les Romains, si superstitieux, n’auraient pas manqué de le croire. Et n’oublions pas que Jésus une fois baptisé vit le ciel s’ouvrir, « et l'Esprit Saint descendit sur lui sous une forme corporelle, comme une colombe » (Luc, III, 21). Un caca divin aurait-il dimanche dernier fait office de Sainte Ampoule ? Le boulevard Voltaire de cathédrale de Reims ? Le président de la République serait-il maintenant l’Oint du Seigneur ?
Les affinités du Saint Esprit avec l’objet anal ne sont plus à découvrir. Lacan, non committal, cite l’article d’Ernest Jones sur le fécondation de la Vierge par l’oreille, qui donne ledit Saint Esprit pour l’analogon du pet. Nul blasphème : la thèse est anatomiquement fondée, dès lors que la bouche et le canal anal se répondent comme les deux extrémités du tube digestif. Le souffle spirituel est parent du gaz intestinal, la parole s’apparie à l’excrément.
On voit que la psychanalyse dans ses vertes années n’était pas sans affinité, et réciproquement, avec l’esprit de la bande à Charlie. La scatologie est le plus pur de son inspiration depuis le Hara-Kiri du professeur Choron. Le fil traverse ses divers avatars, anarchiste, écolo, gauchiste, néoconservateur. « Journal bête et méchant » ? « Journal irresponsable » ? Ce sont des approximations. Ce dont il s’agit en vérité, c’est ceci : Charlie a une mission en ce monde, c’est de révoquer toute sublimation pour honorer la pulsion.
A ce titre, cette petite feuille - qui n’est pas feuille de vigne, on l’aura compris - a sa place dans l’histoire des mœurs. Chaussons nos bottes de sept lieues afin de parcourir vaillamment la suite des siècles. En accéléré, comme dans une bande dessinée.
Les aventures de la pulsion
1. Le monde antique gréco-romain était beaucoup plus près de la pulsion que nous le sommes, comme l’ont relevé Schopenhauer, Nietzche, Freud, et les autres. Puis vint le discours chrétien. Le titre de Peter Brown dit tout : Le renoncement à la chair: Virginité, célibat et continence dans le christianisme primitif. La chrétienté fait retour à ses sources gréco-romaines à la Renaissance. S’ensuit une nouvelle alliance entre la religion et la chair. C’est l’un des motifs de la révolte protestante, laquelle, cependant, sur un autre plan, donne elle aussi sa place à la chair, ne serait-ce que par le mariage des pasteurs. A ne pas négliger : le goût de Martin Luther pour la scatologie. Aurait-il dit : « Je suis Charlie » ?
2. Là se fait le partage des eaux. Le protestantisme aura l’austérité, l’Eglise catholique le plaisir des sens, qu’elle décide au Concile de Trente de mobiliser aux fins de la propagation de la foi. Le XVIIe siècle voit de grands déplacements de population : « Great Migration » des puritains anglais vers les colonies américaines (80 000 personnes) ; diaspora des huguenots après la révocation de l’Edit de Nantes (400 000). Le XVIIIe siècle en France ? Talleyrand, né en 1754, dira plus tard : « Ceux qui n'ont pas connu l'Ancien Régime ne pourront jamais savoir ce qu'était la douceur de vivre. »
3. Napoléon, disons-le, c’est l’ordre moral. La Sainte-Alliance l’étend à toute l’Europe. Il y a ensuite pour donner le ton Queen Victoria. Boutade : ayant lu le livre de Lytton Strachey qui porte ce titre, Lacan dit qu’elle fut la condition sine qua non de Freud. La Belle Epoque s’achève sur la boucherie de 14. Suivent les Années folles. Etc. A la Libération, le totem, c’est Le Tabou, rue Dauphine, coin rue Christine. Dernières guerres coloniales. En 1960, Hara-Kiri paraît. Pipi caca quéquette et zézette. Ouf ! on respire. On respire des miasmes, mais l’odeur en est aussi vivifiante que celle des fromages de Jerome K. Jerome. On fait la nique au Grand Charles et à Tante Yvonne (surnom populaire de Mme De gaulle).
4. Dîtes-vous bien, vous qui allez (ou n’allez pas) à l’exposition Sade au Musée d’Orsay, et qui le lisez (ou ne le lisez pas) en Pléiade, qu’à l’époque, un libraire de Saint-Germain-des-Près vous faisait passer dans son arrière-boutique pour vous glisser les petits volumes bleus de Justine et deJuliette, imprimés par Pauvert sur papier bon marché. On ne risquait pas grand chose, mais enfin, on jouissait à peu de frais du frisson de l’interdit. Dans le même temps, les journaux de gauche étaient caviardés quand ils parlaient de la torture en Algérie ; ils paraissaient avec de grands blancs. La censure était si familière qu’elle était personnifiée : on l’appelait depuis les années 1870 « Anastasie. » C’était une sorte de croquemitaine féminin, armé de grands ciseaux (castration !). Le comble fut atteint le jour où, sur les instances de Mme De Gaulle, mobilisée, dit-on, par les religieuses de l’Union des supérieures majeures, le ministre de la culture interdit le film tiré par Jacques Rivette de La Religieuse de Diderot.
5. C’était en 1966, l’année où parurent les Ecrits de Lacan. En ce temps-là, voyez-vous, parler, écrire, ça comptait, ça faisait réagir, comme dans les temps plus reculés. Si vous vous en preniez à l’armée, à l’Eglise, même via Diderot qui avait pourtant sa statue dans Paris et sa Pléiade chez Gallimard, de l’autre côté ça répondait. L’Autre moral ne s’était pas encore mis aux abonnés absents. Le pipi caca cucu gardait une puissance de transgression. Tant que le grand Autre des années De Gaulle et Pompidou répondit présent, ce fut la grande époque du professeur Choron. Mais, par la suite, cet Autre fut démonté, démantelé pièce par pièce. Les étapes de ce processus sont retracées dans la récente somme d’Eric Zemmour, dont le caractère parfois outrancier n’efface nullement l’intérêt documentaire. Au vrai, ce grand Autre n’avait jamais été qu’un pantin actionné par un marionnettiste génial. Le Général le savait, et l’a dit. D’ailleurs, l’une de ses phrases favorites était, aux dires de son confident, Alain Peyrefitte : « J’ai toujours fait comme si. Ça finit souvent par arriver. » (C’était De Gaulle, p. 171).
6. Charlie Hebdo, qui avait pris la suite de Hara-Kiri, étranglé sur le cercueil du Général, mourut à son tour, mais de sa belle mort, en 1981, quand la gauche arrivait au pouvoir avec Mitterrand. Depuis longtemps, le vieux grand Autre néo-gaulliste, progressivement désactivé comme Hal dans le film de Kubrick, 2001, ne répondait plus aux provocations que par un « Bof ! », accompagné de ce haussement d’épaule que le monde de langue anglaise a isolé sous le nom de « Gallic (ou French) shrug », tant ils leur paraît caractéristique de notre façon d’être. Difficile de transgresser quand il n’y a plus de limites, ou plus beaucoup. Ou alors il aurait fallu passer à l’injure, à la diffamation, au racisme, à l’appel au meurtre. Qui tua Charlie ? Pour le dire d’un mot, ce fut la permissivité. Le mot n’est pas dans Littré ; il n’est attesté dans la langue que depuis 1967 ; il traduit l’anglais « permissiveness », 1947 (Le Robert. Dictionnaire historique de la langue française).
7. Du Charlie dont la rédaction vient d’être exterminée, je dirai peu. La publication renaît, après une solution de continuité de onze ans, en 1992. La présence des grands anciens et l’allégeance maintenue à la pulsion sous la forme canonique pipi caca cucu attestent que la reprise du titre ne fut pas une imposture. Ses hauts faits : republier en 2006 les caricatures danoises de Mahomet ; sortir en 2011 un numéro charriant la charia. Le soir même de la parution, incendie des locaux ; le directeur de la rédaction, Charb, et deux autres dessinateurs, sont placés sous protection policière. Les menaces islamiques se multiplient. En 2013, le magazine en ligne Inspire, publié parAl-Qaïda dans la péninsule Arabique, fait figurer le nom de Charb sur sa liste de personnalités recherchées pour « crimes contre l'islam » (Wikipédia). La semaine dernière, le 7 janvier, c’est le massacre.
Trois thèses, un paradoxe
Rien dans les 21 premières années du magazine ne laissait présager que la plus grande partie de sa rédaction tomberait sous les balles de guerriers islamiques. Mais aussi, pourquoi s’acharner à moquer les valeurs sacrées de la religion musulmane alors que le risque était patent et le danger indubitable ?
Il y a la thèse noble : c’étaient des combattants de la liberté d’expression. Charb, qui était communiste, l’a dit dans une formule souvent citée, et qui passera à la postérité : « Ça fait sûrement un peu pompeux, mais je préfère mourir debout que vivre à genoux. » Il y a la thèse ignoble, celle que Tariq Ramadan colportait dès le soir de la tuerie, dans un dialogue en anglais avec Art Spiegelman, le créateur de Maus : c’était pour faire de l’argent. Il y a enfin la thèse pour ainsi dire clinique, qu’expose Delfeil de Ton dans L’Obs paru hier.
Ancien de Charlie et ami de Charb, DDT souligne dans un texte troublant l’entêtement de Charb, et sa responsabilité : « Il était le chef. Quel besoin a-t-il eu d’entraîner l’équipe dans la surenchère ? » Il rappelle les propos de Wolinski après l’incendie des locaux : « Je crois que nous sommes des inconscients et des imbéciles qui avons pris un risque inutile. » Il conclut : « Charb qui préférait mourir et Wolin qui préférait vivre. » On se dit après l’avoir lu : Charb suicidaire ? Charb mélancolique ? Il se présentait en effet comme l’homme sans rien, sans rien à perdre : « Je n'ai pas de gosses, pas de femme, pas de voiture, pas de crédit. » La jubilation hebdomadaire de la fine équipe était-elle, pour le dire à la manière de Mélanie Klein et de Winnicott, une défense maniaque contre la dépression ? Derrière la parade phallique, la pulsion de mort, était-ce cela, le secret de Charlie ?
S’il faut choisir entre ces trois thèses, ou hypothèses, j’exclus d’emblée la seconde, car, objectivement, l’intérêt financier n’était pas à la mesure des risques encourus. Il faudrait supposer à Charlie la passion d’Harpagon, et rien n’en témoigne. C’est une ignominie du professeur d’Oxford University. La thèse 3 mérite considération, mais elle pâlit devant la première, pour autant que l’héroïsme d’un mélancolique, comme celui d’un psychotique, d’un pervers ou d’un névrosé, reste un héroïsme.
Ici, attention. Pour qu’il y ait ce qui s’appelle héroïsme, c’est à dire sacrifice à un idéal,, il faut qu’il y ait sublimation. Or, j’ai soutenu que Charlie était l’anti-sublimation, qu’il était voué au culte de la pulsion, à l’exaltation de la jouissance. Contradiction. C’est là qu’une phrase d’Erik Emptaz, en première page du Canard enchaîné, nous éclaire. Alors que l’organe satirique fait désormais l’objet des mêmes menaces que Charlie, il se promet de continuer avec ses camarades à « rire de tout », sauf de « la liberté de pouvoir le faire ». C’est le point, en effet, et il se dédouble.
1) Si je veux rire de tout, impossible de badiner avec la liberté de rire de tout. Donc, le rire s’arrête là. On ne rit pas de la liberté de rire de tout, on la prend au sérieux. Autrement dit, qui veut rire de tout ne rit pas de tout. 2) Se moquer de tout, y compris de ma liberté à le faire, a le même résultat. Je sacrifie ma liberté de rire pour ménager désormais la chèvre et le chou. Bref, pour pouvoir rire de tout, je dois m’abstenir de rire de tout. La position 2 est cynique. La position 1, je l’appelle héroïque.
Peut-être certains d’entre les Charlie se croyaient-ils cyniques. Peut-être même l’étaient-ils plus ou moins. Mais ie fait est qu’ils étaient héroïques, Charb le sachant, et nous le constatant après coup. L’erreur de Delfeil de Ton, je crois, est de nous peindre un Charb habité par un « Vive la mort ! » Pourtant, le propos de celui-ci pointe vers une formule toute autre, qui fait de lui un « soldat de l’an II » vrai et non de carton-pâte : « La liberté ou la mort. »
C’est la clausule « … ou la mort » qui est décisive en cette affaire. Qui ne met pas sa vie dans la balance du destin, qui n’engage pas son être mais seulement son talent, batifole, n’est pas sérieux. Le primat de la vie est désormais si bien ancré dans les sociétés occidentales qu’au moment de l’affaire du barrage de Sivens qui coûta la vie à Rémi Fraisse, on put entendre un responsable local du Parti socialiste proférer cette énormité : « Mourir pour des idées, c'est une chose, mais c'est quand même relativement stupide et bête ».
N’accablons pas le malheureux. Ce que l’on comprend n’est certainement pas ce qu’il voulait dire - que Rémi était venu défendre une idée, qu’il ne pensait pas exposer sa vie, que celle-ci lui avait été ravie par un triste concours de circonstances, etc. Mais ce propos, d’être une sorte de lapsus, est d’autant plus véridique. Voici déjà vingt ans que Lipovetski publiait Le Crépuscule du devoir. Rien d’étonnant à ce que nous n’hésitions pas à dénier aux martyrs de Charlie la qualité de héros, et à en faire, au moins à demi-mot, des imprudents, pour ne pas dire des cinglés. Corrélativement, nous piétinons leurs assassins.
Ces trois hommes, les terroristes, les avoir tués ne nous suffit pas. Il faut encore qu’ils aient été des fous, des malades, et surtout des barbares. On appelle barbares ceux auxquels on dénie d’appartenir à une civilisation digne de ce nom. Sachons d’abord reconnaître que nos guerriers relèvent d’un autre discours que le nôtre, non moins structuré, non moins « civilisé », mais autrement civilisé. Et dans cet autre discours, ce sont eux aussi des héros
Pour les Grecs de l’Antiquité, barbare était celui dont le parler leur était inintelligible, d’où ce mot, formé par réduplication : bar bar, comme notre bla bla. Barbare est celui qui ne parle pas, mais fait des bruits de bouche. Et, de fait, quand l’un des frères Kouachi, au sortir du massacre, et avant de monter en voiture, lance dans la rue, posément, à haute et intelligible voix, par trois fois, le cri « Nous avons vengé le prophète Mohammed ! », nous n’entendons rien, sinon que l’islam n’a rien à voir là-dedans, et qu’il s’agit de brutes sanguinaires et dérangées.
Pourquoi ne pas dire, tant qu’à faire, « des animaux à deux pieds », comme les Romains disaient des Huns ? A suivre
nota bene
- Le livre de Peter Brown a été publié en 1988 ; il est paru en français chez Gallimard en 1995.
- Sur l’affaire de La Religieuse, consulter les Cahiers d’études du religieux,http://cerri.revues.org/1101
- La vidéo intitulée « Comics Legend Art Spiegelman & Scholar Tariq Ramadan on Charlie Hebdo & the Power Dynamic of Satire» est visible sur le site Democracy now. Adresse:
- Le responsable socialiste du Tarn en vidéo :
- Sur les barbares : de Bruno Dumézil, Les Barbares expliqués à mon fils, Seuil, 2010.
- Les deux frères au sortir du massacre de Charlie ont été saisis dans une vidéo obtenue par l’agence Reuters. Elle se trouve sur le net depuis hier matin :
- Enfin, je compte revenir sur la tribune publiée hier dans Le Monde, p. 9, par le Pr. Alain Renaut, qui donne corps, dans des termes certes encore très généraux, à ce que j’appelais la voie du compromis, sous la forme dite d’un « multiculturalisme tempéré par le souci de l’interculturalisme. ».
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