domingo, 31 de maio de 2015

GRÉCIA: Plataforma da Esquerda do Syriza

“Adiante! Ao contra-ataque, com plano alternativo”
28/5/2015, [*] Stathis Kouvelakis, Left Plataform, Blog de Verso Books
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Apoiadores da Esquerda do Syriza
Enquanto prosseguem as negociações gregas, a Editora Verso publica declaração de Stathis Kouvelakis, membro do Comitê Central do Syriza, em que resume a Plataforma da Esquerda do Syriza, votada na reunião do Comitê Central, e rejeitada por mínima margem de votos. A Plataforma da Esquerda propõe rompimento das negociações, não pagamento de mais dívidas e a adoção de um plano alternativo alinhado com as promessas de campanha do Syriza.

Sessão do Comitê Central do Syriza no final de semana: 44% a favor do texto da Plataforma de Esquerda, que exige rompimento das negociações e adoção de plano alternativo.

Na sessão do Comitê Central que acabou há poucas horas, a Plataforma de Esquerda apresentou o texto seguinte, que recebeu 75 votos a favor, 95 contra e um voto em branco. O texto propõe rompimento com as agências de empréstimos, depois de declarado que a Grécia não pagará dívidas.
No texto aprovado pela maioria do Comitê Central, listam-se quatro condições para um “acordo aceitável”:
●– Baixos superávits primários no orçamento;
●– Fim dos cortes em salários e aposentadorias;
●– Reestruturação da dívida;
●– Pacote significativo de investimentos públicos, especialmente em obras de infraestrutura e em novas tecnologias.
A esses, a Plataforma de Esquerda tem acrescentado “a indispensável reinstituição das convenções coletivas e o aumento gradual do salário mínimo para 751 euros [nível de 2009]”; e estipula que “todas as mudanças na política fiscal devem promover a justiça social, aliviando o peso sobre os ombros dos economicamente mais sacrificados e forçando os ricos que sonegam, afinal, a pagar”.
Em seu relatório público, Alexis Tsipras adotou tom firme, mas evitou qualquer referência precisa ao atual estado das negociações nem esclareceu sobre a base da discussão de um possível acordo, referindo-se só às quatro condições mencionadas acima, o que não ajuda a esclarecer os pontos nos quais há desacordo.
A sessão foi marcada também pela intervenção da presidenta do Parlamento Zoe Kostantopoulou, que só apoiou uma suspensão por um ano do pagamento da dívida, apoiada nas primeiras conclusões do Comitê para Auditoria da Dívida, que devem ser divulgadas nos próximos dias. A presidenta do Parlamento também rejeitou a muito controvertida indicação de Lambis Tagmatarchis para o cargo de novo diretor da empresa pública de comunicações ERT.
Tagmatarchis é homem muito conectado ao establishment “midiático” e já foi diretor da ERT no governo de George Papandreou, do PASOK.
Stathis Kouvelakis na reunião do Comitê Central do Syriza em 27/5/2015
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Texto integral da Plataforma da Esquerda

Já é hoje claro que as “instituições” não têm interesse algum no que alguns estão chamando de “acordo honroso”.
Mas de fato nenhum “acordo honroso” pode haver, mediante privatizações e mais carga sobre os ombros das classes populares. É claro que não há “acordo honroso” possível, sem fim real da “austeridade”, sem uma reestruturação da (maior parte da) dívida e sem adequada provisão de liquidez para a revitalização da economia.
O que os círculos que comandam a União Europeia (UE), o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) buscam impiedosa e consistentemente ao longo dos últimos meses é estrangular a economia, arrancar das reservas da Grécia até o último euro e instalar aqui um governo “antiprotecionismos” para submetê-lo a humilhação exemplar.
Essa tática dos parceiros na União Europeia já foi usada na reunião de Riga. Ao governo grego não resta alternativa além de partir para um contra-ataque, com plano alternativo que terá de basear-se nas promessas pré-eleitorais do SYRIZA e nos anúncios programáticos do governo.
As seguintes medidas devem ser implementadas imediatamente:
– Nacionalização imediata dos bancos, acompanhada de todas as medidas complementares necessárias para garantir o  funcionamento da nacionalização, sob critérios transparentes, produtivos, desenvolvimentistas e sociais.
●– Imposição de legalidade e transparência democráticas às grandes empresas de mídia, além de controle substancial sobre suas  obrigações financeiras [orig. substantial control of their lending obligations [é a legislação que obriga as empresas de mídia a prestar contas públicas sobre seus compromissos financeiros. No link, vê-se a legislação vigente na Austrália (NTs)].
●– Fim imediato de qualquer esquema “midiático” de proteção para preservar a oligarquia grega, há muito tempo mergulhada em escândalos jamais noticiados.
●– Suspensão de todos os privilégios, ajustes privilegiados e imunidade que protegem os grandes interesses econômicos.
●– Imposição de impostos substanciais sobre grandes fortunas, grandes propriedades e grandes lucros de grandes empresas e grandes acionistas.
●– Reintrodução plena e imediata (além da proteção que lhes é devida e da imediata implementação prática) da legislação e dos direitos trabalhistas e de organização sindical.
O governo tem de contra-atacar com decisão a propaganda distribuída pelos círculos de poder que aterrorizam o povo com cenários de total desastre nos quais o país mergulharia no caso da suspensão dos pagamentos da dívida e de uma eventual saída da Eurozona.
Em todos os casos, o maior desastre que se pode antever para a Grécia e para os gregos é, seja como for, a imposição de novo memorando e a extensão de memorandos passados. Esse, sim, é desenvolvimento a ser evitado por todos os meios possíveis e mesmo que exija muito sacrifício.
Toda e qualquer solução alternativa que vise a uma política progressista contra os Memorandos inclui inicialmente e principalmente a suspensão dos pagamentos da dívida grega.
Não obstantes todas as dificuldades que daí advenham, essa é via muito preferível a qualquer outra, porque oferece ao país esperança e perspectiva.
Se, nos próximos dias, as “instituições” prosseguirem com sua política de chantagem, é dever do governo da Grécia declarar firmemente que, desse momento em diante, elas não mais conseguirão sangrar o povo grego, saqueando suas economias. Que não haverá pagamento futuro ao FMI, e que é firme intenção do governo apresentar soluções alternativas para os rumos futuros do País – nos planos econômico, social, político e estratégico – que assegurarão plena cobertura à implementação desse programa.
(Atenas, 24/5/2015).
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 [*] Stathis Kouvelakis ensina Teoria Política no King’s College London e é membro do Comitê Central da Syriza. Obteve Mestrado e Doutorado em Filosofia pela Universidade de Paris 10 e Doutorado em Filosofia Política pela Universidade de Paris 8. Foi professor na Universidade de Paris 8 e bolsista de investigação na Universidade de Wolverhampton, antes de começar a lecionar no King’s College em setembro de 2003 onde está até hoje.
Seus principais interesses de pesquisa estão nos estudos sobre Marx, Filosofia alemã e Teoria crítica recente. Sua pesquisa tem-se centrado na formação do pensamento político de Marx, a trajetória dos Jovens Hegelianos e na crítica ao liberalismo político. Também pesquisa a Política Francesa Contemporânea e sobre a história dos protestos sociais na França. Kouvelakis está atualmente trabalhando em dois livros, o primeiro sobre a política atual, discutindo as noções de temporalidade e decisão no pensamento político contemporâneo, o segundo sobre o estado atual da Teoria Marxista. Seu projeto de longo prazo inclui um estudo da formação da Teoria de Marx no contexto (político, intelectual e cultural) das Revoluções Europeias de 1848 e suas consequências.
É membro do conselho editorial das revistas francesas Contretemps e La Pensée, do Groupe d'Etudes Sartriennes e da série de livros sobre Materialismo Histórico em Brill Academic Publishers (Leiden, Holanda). 

A Mobilização Permanente

31/5/2015, [*] Luís Britto García – Blog de Luís Britto García
Texto e foto enviados pelo autor e Wikipedia

1
Movilización, sumatoria de decisiones que culmina en acción.
El acto de una persona o de un colectivo tiene por objeto progresar de una situación indeseable a otra deseable.
Por ejemplo, de la miseria al bienestar.
Ambas se califican en gran medida a través de valores, que son construcciones culturales.
Digamos que el detonante de la rebelión popular venezolana del 27 de febrero de 1989 fue la abrupta desaparición de los valores con los cuales pretendía legitimarse el sistema.
El detonante de toda movilización es un juicio cultural.


2
No aniquilamos una situación indeseable sin una imagen de lo que queremos conquistar.
Movilización sin proyecto es dispersión de esfuerzos.
La ausencia de un plan disipó temporalmente el formidable poder del Caracazo.
La articulación de un proyecto es una operación cultural.


3
La movilización individual es acción, la acción colectiva es movilización.
Un colectivo es un conjunto de personas que comparten creencias, valores, actitudes, conductas y proyectos.
Su constitución requiere una compleja trama de comunicaciones que entretejen relaciones.
El Caracazo a la postre devino bandera simbólica que aglutinó a la mayoría de los venezolanos, hasta entonces dispersos en la persecución de objetivos disímiles.
La agregación de individuos sueltos a fin de que se sientan integrantes conscientes de comunidades, comunas, sociedades, naciones, géneros, clases, partidos, es una labor cultural.
La rebelión puede ser una pedagogía.

4
Resumamos.
Movilización popular requiere conciencia de un estado de carencia que se quiere sobrepasar; representación de un bien o estado positivo al cual se desea acceder;  sistemas de comunicación para difundir el proyecto; conocimiento de que estas percepciones son compartidas por uno o varios colectivos, sean grupos, movimientos, clases sociales, comunidades de género, etarias,  laborales  o de otra índole; un plan articulado sobre las acciones a cumplir para el logro del objetivo; el consenso para la participación en dichas acciones y un acuerdo sobre la complementariedad y la sucesión o sincronía de ellas.
¿Redundamos al recalcar que estas iniciativas son elaboraciones  culturales?
El Bolivarianismo en parte realiza el proyecto de la intelectualidad de izquierda de los años sesenta, que fue reducido a sangre y fuego tras un cuarto de siglo de lucha.
Hacer cultura es hacer Revolución.

5
¿Hay que esperar la milagrosa conjunción espontánea de los mencionados elementos para que se produzca un cambio?
La civilización humana se establece y avanza gracias a la consciente y premeditada preparación, planificación y agregación de ellos.
El animal o el homínido desean que el azar los guarezca de la lluvia.
El ser humano construye albergues o sistemas civilizatorios que erigen ciudades.
Cada modo de producción se instaura gracias a una planificada concatenación de movilizaciones dirigidas a hacerlo funcionar y perdurar, y es sustituido por otro nuevo gracias a otra novedosa coordinación de actos planificados.
Pongamos por caso, el capitalismo y el socialismo.
La génesis de civilizaciones es un procedimiento cultural.

6
Toma la palabra el simplismo para proponer que los modos de producción crean superestructuras que son algo así como su pasiva decoración.
Una visión más amplia discierne que cada modo de producción germina a partir de una embrionaria superestructura cultural que inspira y coordina las acciones tendientes a destruir y suplantar el modelo caduco, e imponer uno nuevo que perdura gracias a ella.
Los intelectuales son los trabajadores de las superestructuras; los aparatos ideológicos sus empresas; la comunicación, las ideologías  y las prácticas simbólicas su producción.
Así como los intelectuales orgánicos trabajan para asegurar la inmovilidad de los sistemas, los hay libertadores que prefiguran y proponen los saltos de un modo de producción a otro...
7
Entonces, la movilización popular puede excepcionalmente ser un fenómeno espontáneo, pero también puede y debe ser planeada, provocada y dirigida para una finalidad concreta, vale decir, para la Revolución.
Pero Revolución no es saciedad, sino eterna renovación y resurrección del Objeto del Deseo.
En tal sentido, la movilización no puede ni debe ser un fenómeno espasmódico, una erupción que revienta para dar paso a períodos de estancamiento hasta que la insoportabilidad de éstos haga inevitable el próximo estallido.
Todo organismo viviente subsiste gracias al incesante desecho de sus componentes corruptos y la regeneración de sus estructuras vitales.
Lo único que puede mantener viva a una Revolución es la Movilización Social Permanente, que a través de una dinámica cultural infatigable progrese de lo indeseable a lo deseable, de la corrupción a la pulcritud, de la dispersión a la coherencia, de la crítica al acto, de la Política Real a la Utopía.



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  1. Rajatabla  
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  5. La Ciencia: Fundamentos y Método  
  6. El Imperio Contracultural: del Rock a la Postmodernidad
  7. El pensamiento del Libertador: Economía y Sociedad
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[*] Luis Britto García. Caracas, 1940. Narrador, ensayista, dramaturgo, dibujante, explorador submarino, autor de más de 60 títulos. En narrativa destacan Rajatabla (Premio Casa de las Américas 1970) Abrapalabra, (Premio Casa de las Américas 1969) Los fugitivos, Vela de armas, La orgía imaginaria, Pirata, Andanada y Arca. En teatro, La misa del Esclavo (Premio Latinoamericano de Dramaturgia Andrés Bello 1980) El Tirano Aguirre (Premio Municipal de Teatro1975) Venezuela Tuya (Premio de Teatro Juana Sujo en 1971) y La Opera Salsa, con música de Cheo Reyes. Con Me río del mundo obtuvo el Premio de Literatura Humorística Pedro León Zapata. Como ensayista publica La máscara del poder en 1989 y El Imperio contracultural: del Rock a la postmodernidad, en 1990, Elogio del panfleto y de los géneros malditos en el 2000; Investigación de unos medios por encima de toda sospecha (Premio Ezequiel Martínez Estrada 2005), Demonios del Mar: Corsarios y piratas en Venezuela 1528-1727, ganadora del Premio Municipal mención Ensayo 1999. En 2002 recibe el Premio Nacional de Literatura, y en 2010 el Premio Alba Cultural en la mención Letras .

“Jornalismo indispensável”, lá como cá, tudo a lesma lerda

“Mídia” tenta afogar campanha de
Sanders num maremoto de silêncio
28/5/2015, [*] Gaius Publius, Down with Tyranny
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Bernie Sanders
por DonkeyHotey
Todos sabíamos que “os falastrões” – palavra que Steve Hendricks usa para designar jornalistas-empregados e “especialistas” midiáticos também empregados – fariam de tudo para afundar a campanha presidencial de (Bernie) Sanders. Como Hendricks diz no artigo adiante citado, os patrões daqueles jornalistas e “especialistas” empregados querem exatamente isso, e empregado não chia, empregado obedece.
Na Columbia Journalism Review, Hendricks escreve que:
Na véspera da eleição presidencial de 1948 Newsweek perguntou aos 50 repórteres que acompanhavam o trem de campanha do presidente Truman quem venceria. Numa só voz responderam o que o jornal Chicago Tribune repetiria, para sua grande vergonha, em manchete, na noite da eleição: “Dewey derrota Truman. Historiadores relembrarão para sempre que Truman não apenas derrotou Dewey, como lhe aplicou verdadeira surra de votos.
Tentando descobrir por que a imprensa errara tão espetacularmente, James Reston, do The New York Times concluiu que ele e seus colegas de profissão e de trem presidencial haviam acabado por ficar parecidos com o governador Dewey, o mais consumado “pavão” de todos os tempos. Dewey dava-se bem com plutocratas e diretores de redação. “Assim como ele estava isolado demais, só convivendo com outros políticos”, Reston escreveu, “assim nós também só convivíamos com outros jornalistas; e nos deixamos impressionar demais pelo que diziam as pesquisas eleitorais”.
Até aí, tudo verdade, mas foi A. J. Liebling, da revista The New Yorker, quem detectou o vício crucial que, nem Reston, nem os jornalistas de cabeça semelhante à de Reston conseguiram ver. Uma grande onda de contrição inundou o mundo dos jornalistas de Washington nos dias imediatamente posteriores àquela catástrofe engraçadíssima.
(...) e o pessoal das redações jurou que nunca mais, até o dia do Juízo Final, deixariam de sair à procura de fatos confirmados, vale dizer, de fatos investigados que realmente refletissem as verdades do dia, como jamais antes haviam procurado.
Mas poucos editores e chefes de redação os estimularam nessas tão boas intenções, e praticamente todos os repórteres voltaram às ruas, mas para só procurar “fatos” que confirmassem a opinião, a fé ou as novas ilusões daquele mês, dos seus patrões.
Como Hendricks escreveu, a mais importante constatação de Liebling é também sua frase mais memorável:

A lei só reconhece a liberdade
de imprensa do dono do jornal

As “ilusões dos jornalistas-empresários e patrões” sobre a campanha de Sanders determinam que Sanders não tem chances de ser eleito e portanto não precisa de chances para ser eleito. Assim sendo, estão fazendo de tudo, os falastrões e seus patrões, para não lhe dar nenhuma chance. Hendricks, sobre o maremoto de silêncio da imprensa-empresa comercial:
Muito mais próximo da verdade é que [Sanders] realmente até “poderia” vencer. Mas tendo já decidido a favor da própria profecia, a imprensa-empresa pôs-se a fazer a cobertura de Sanders & sua candidatura de modo a empurrar a profecia da “própria imprensa-empresa” para que se cumpra completamente.
O NYTimes, por exemplo, enterrou a matéria sobre o lançamento da candidatura de Sanders para o fundo da página A21, apesar de todos os demais que se anunciaram candidatos antes terem sido postos na metade superior da primeira página. A notícia sobre o lançamento da candidatura de Sanders mal chegou a 700 palavras, comparadas às entre 1.100 e 1.500 que mereceram Marco Rubio, Rand Paul, Ted Cruz e Hillary Clinton. Em matéria de conteúdo, os “repórteres” do NYTimes noticiaram os fatos sobejamente investigados e já comprovados de que Sanders é cachorro morto e nunca receberá a indicação dos Democratas porque “Hillary já-ganhou”. Nenhum dos aspirantes à indicação dos Republicanos recebeu tratamento equivalente de morte preventiva por tiro de longa distância, apesar de Paul, Rubio e Cruz aparecerem em 5º, 7º e 8º lugares entre os Republicanos antes de se apresentarem como pré-candidatos.
Há mais no artigo, inclusive as semelhanças entre isso e a cobertura dada também aos que Hendricks chama, não eufemisticamente, de “admiradores” de Sanders.

Candidatos à presidencia dos EUA-2016
Onde está Sanders?
“Mas é eleição tãããããão difícil...”
Hendricks acredita firmemente que Sanders “pode” vencer, afinal de contas (partilho, eu também, dessa crença). Além da sempre possível ocorrência de eventos como os da quase eleição de Eugene McCarthy em 1968, da qual Hendricks não fala, há vários argumentos de peso dos quais Hendricks fala:
Primeiro, há aqueles eventos absolutamente evitáveis, mas que alguém não evitou. Não quero me aprofundar, mas é fato que qualquer cavalo já disparado para a marca de chegada pode ter um evento de Chappaquiddick, uma gritaria filmada e gravada intencionalmente amplificada ou uma queda de avião. Em vez de falar disso, consideremos o simples fato de que nos últimos 40 anos, das sete eleições nas quais o indicado dos Democratas estava “já eleito” – casos em que um presidente Democrata não era candidato à reeleição – os “azarões” venceram a indicação do Partido em três ou quatro casos (dependendo de como você defina “azarão”) e acabaram por chegar à presidência mais vezes que os candidatos favoritos.
Alguns desses aspirantes eram possibilidade muito remota, mesmo. Jimmy Carter era governador apenas mediano de um estado insignificante além de cujas fronteiras poucos o conheciam e menos o queriam eleito presidente. Poucas semanas antes das eleições, Harris Poll [instituto de pesquisas] perguntou aos eleitores o que pensavam de 35 candidatos potenciais. Carter nem foi incluído na lista. Depois de um ano de campanha, apenas poucos meses antes da primeira primária, Carter aparecia invariavelmente com 1 por cento das preferências dos eleitores Democratas; e era o 8º dentre oito Democratas candidatos à indicação do Partido. Pois mesmo assim venceu, porque todos os demais candidatos eram “gente de Washington”, e depois de Watergate e do Vietnã, os eleitores Democratas (e, muito possivelmente, a maioria de todo o eleitorado norte-americano) não queriam eleger mais “daquela gente”, por mais que os jornalistas lhes dissessem que, se não queriam, tinham de querer.
Se você não está vendo a semelhança com o momento atual – tempo de descontentamentos amplos, de Occupy, Black Lives Matter, Moral Monday, Fight for $15, o People’s Climate March, Move to Amend, e mais agitação anti-establishmentista – das duas, uma: ou você está dormindo, ou você é proprietário de jornal/rede de televisão e de chefes-de-redação.  
Michael Dukakis também aparecia com 1 por cento nas pesquisas bem poucos meses antes de lançar-se candidato (por falar nisso, em idêntico momento, Sanders tinha 5-8 por cento das preferências dos eleitores), que desapareciam ante os avassaladores 40- 50% que tinha Gary Hart. Quando a campanha de Hart desceu pelo ralo, como bote carregado de bonecas infláveis e outras de carne e osso, Dukakis foi beneficiado, embora nem aí tenha chegado a ser o favorito. Pouco antes da primeira primária, ainda mal chegava aos 10%, e estava correndo cabeça a cabeça com o inesquecível Paul Simon, 15 pontos atrás de Jesse Jackson e de um Hart renascido das cinzas, porque Dukakis e os demais pareciam tão impotentes, que Hart voltava a sentir-se com boas chances.
Para alguns observadores, Bill Clinton não seria “azarão”, sobretudo porque teve curtíssimo período como tal, depois que saltou para a pista e pôs-se a correr. Mas sua projeção nacional era tão invisível, que nove meses antes das primárias nenhum instituto de pesquisa sequer o consultava como possível concorrente. Até o próprio Bill achava que não tinha chances (Mario Cuomo era candidato previsto, invencível, se concorresse), e não se anunciou aspirante à indicação dos Democratas até cinco meses da data limite. Só a partir dali suas chances aumentaram.
O quixotesco Barack Obama entrou na liça contra um(a) mamute cujos apoios eram tão gigantescos que muitos supuseram que o jovem senador “desafiante” lá estava apenas para se fazer conhecer, pensando em futuras campanhas. Depois de ter feito campanha durante todo o ano de 2007, Barack não apenas não avançara um palmo sobre o campo de Hillary, como se sentia ainda um pouco mais para trás, do que no início (caiu de 24 a 22 por cento, enquanto Clinton avançava de 39 a 45 por cento. Houve rumores até de que ele desistiria de concorrer e sairia da disputa para não enfraquecer aquela candidata “invencível”.
É lista muito decente de casos precedentes. Desses quatro casos, três mudaram-se para a Casa Branca e lá viveram muitos anos.
Já a grana da Hillary Clinton...

E o dinheiro da Clinton?
E há também o caso do dinheiro, especificamente dinheiro da Clinton, que tem a ver com o caso de Sanders. Deixarei que você mesmo leia os contra-argumentos de Hendrick (comece no parágrafo que abre com: “Pesquisas” muito precoces podem ser noticiário espúrio). Mas destaco aqui alguns daqueles contra-argumentos:
A última indicação partidária disputada, em 2008, foi, ela própria, assunto de muito, muito dinheiro, e Obama venceu, apesar de ter começado em posição ainda pior, em termos de finanças, que a de Sanders hoje (Clinton tinha arrecadado US$ 10 milhões no início de 2007, Obama virtualmente zero) e durante todo o ano de 2007 ele perdeu para a Clinton, em arrecadação de fundos para campanha.
Apenas um dado, colhido dentre muitos.
Sanders é candidato demasiadamente distante do “Centro”?
O que leva Hendricks ao argumento final contra a “viabilidade” de Sanders – a distância que o separa do “centro político”. Hendricks, observando várias eleições passadas, observa o quanto essa distância pode ser valiosa. Concordo. O primeiro exemplo que ele oferece é Michael Dukakis – realmente muito distante do centro – e poderia ter acrescentado Jimmy Carter (lá da Geórgia), ou Bill Clinton de Arkansas.
Mas, pensem bem: o que significa o “centro político” nos EUA de hoje? Significa um espaço no qual os desejos dos “Um-porcentistas” – desejos de David Koch e de Jamie Dimon, por exemplo – coincidem perfeitamente. O centro político do povo norte-americano está muitíssimo à esquerda disso.
A seguir assista o vídeo: “Nos EUA, a corrupção é legal”
Por exemplo, 87% dos Republicanos querem que a “tramitação de urgência” e a Parceria Trans-Pacífico de Obama não sejam aprovadas. Republicanos, leiam bem. E aí está, sim, o verdadeiro perigo que tantos veem na campanha de Sanders: porque ela realmente, sim, realmente representa o povo, a imensa maioria do povo norte-americano e, portanto, sim pode ser bem-sucedida, se receber qualquer ventinho de popa. Diz Hendricks:
Estará chegando o dia do socialista IKEA? [1] Os falastrões não conhecem a resposta. O que eles sabem é como fazer absolutamente o d-i-a-b-o para garantir que tal dia jamais chegue.
Eles podem tentar, os falastrões e seus patrões, afogar a campanha de Sanders num maremoto de silêncio. Mas há gente que está falando impressionantemente a favor dele, como Elizabeth Warren. A plataforma do senador Sanders tem megafone potentíssimo. Assista discurso da Sen. Elizabeth Warren a seguir:
Estou tentado a apostar que o megafone de Warren, seja qual for o candidato que ela venha a apoiar no final, não será em vão. Os falastrões terão de falar da senadora, falar mal, que seja! Tudo isso ajuda a campanha de Sanders.
 
Quem quiser ajudar na campanha, clique aqui. Faça como achar melhor. O arquivo do meu trabalho de apoio à campanha de Bernie Sanders está aqui. (Assina: Gaius Publius)

Nota dos tradutores
[1] Parece que IKEA é um tipo de supermercado inventado na Suécia, organizado de um tal modo que o comprador tem trilhas demarcadas pelas quais pode andar, mas das quais não pode sair. O tal supermercado está chegando aos EUA, ou já existe há mais tempo, e essas trilhas demarcadas e regras rígidas têm gerado inúmeros protestos e críticas furiosas, porque seriam “socialistas”. Foi o que conseguimos descobrir.
  • Encontra-se alguma informação sobre essa conversa de alguém ter chamado o candidato Sanders de “socialista IKEA”, mas não aprofundamos a pesquisa.
  • Nosso pesquisador informa que, desafiado por esse conceito de socialismo à moda Tea Party, sentiu-se como Obelix, de “Asterix, o Gaulês”, quando tropeçava em ideias, práticas e conceitos absurdos (todos) dos romanos: São doidos, esses romanos!, a seguir:

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[*] Gaius Publius é escritor profissional e reside na costa oeste dos EUA. É articulista frequente de blogs e sites tais como: DownWithTyranny, digby, Truthout, Americablog, e Naked Capitalism.
Ativo na redes sociais via: Twitter @Gaius_Publius, Tumblr e Facebook