Publicado em 20/04/2011 por Mair Pena Neto
Escrevo este texto enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom) está reunido para decidir e, quase certamente, aumentar mais uma vez a taxa básica de juros em nome do combate à inflação. A campanha do mercado foi ostensiva, com os seus arautos defendendo diuturnamente a elevação como a única solução cabível.
A nova palavra de ordem dos financistas, reverberada em colunas e editoriais, é seguir os manuais de economia. No momento em que em todo o mundo, inclusive as empresas capitalistas, estimulam-se a criatividade, a inovação, o não convencional, que o meio empresarial gosta de chamar de thinking out of the box, o mercado sugere medidas macroeconômicas ortodoxas, que não vão além do que recomendam os manuais.
No Brasil, houve uma tentativa de ridicularização do que o Banco Central chamou de medidas macroprudenciais. Ou seja, ao invés do tiro de canhão da alta dos juros, outras iniciativas para conter o crédito e a demanda sem perder o crescimento econômico. O impacto destas medidas ainda não se fez sentir completamente, mas o crédito já começou a desacelerar, assim como a intenção de consumo das famílias, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio.
As pressões inflacionárias não são privilégio brasileiro. Elas estão em todo o mundo por conta de fatores internacionais, como a alta no preço das commodities e do petróleo, entre outros. Muitos países já estouraram suas metas de inflação e o curioso é que ninguém segue o manual e sobe os juros como no Brasil, que já tem a taxa mais alta do mundo.
Os Estados Unidos, que tem o privilégio de poder inundar o mundo com a sua moeda, que é reserva padrão internacional, mantém sua taxa lá embaixo e talvez tenha que pensar em elevá-la agora com o rebaixamento dos seus títulos por conta de um déficit de US$ 1,5 trilhão. A China, por sua vez, tem preferido o aumento do compulsório bancário, que já subiu quatro vezes este ano.
O aumento dos juros é um cobertor curto, pois atrai cada vez mais os capitais especulativos, que sobrevalorizam o real e prejudicam a competitividade das exportações. Câmbio e juros andam juntos, como ensinam os manuais que o mercado tanto defende.
A inflação está no Brasil, como no mundo, e pode chegar este ano perto do teto da meta. Mas ano que vem, e o próprio mercado reconhece, ela deve retroceder. O país precisa preservar o crescimento, que melhorou as condições de vida de parcelas generosas da população, e combater a inflação com medidas que não o prejudiquem. Controle de capitais é uma delas. A alta dos juros freia o crescimento, eleva o endividamento do setor público, remunera o capital especulativo e afeta a vida de cada brasileiro.
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