19/2/2012, *M K Bhadrakumar, Asia Times Online
"US, Iran inching toward talks"
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
"US, Iran inching toward talks"
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Estão quase
decididas as preliminares para o desfecho da situação iraniana. O indício mais
seguro disso é que a campanha de propaganda que Israel tentou iniciar essa
semana – de que agentes de Teerã estariam distribuindo bombas em Nova Delhi,
Tbilisi e Bangkok – não recebeu nenhum apoio importante nas capitais ocidentais.
Dito em poucas palavras, o ocidente dá sinais claros de impaciência. Já passou o
tempo de encenações teatrais.
Há várias
indicações de que a situação encaminha-se na direção de um plano consistente.
Uma das séries de eventos que sugerem essa via foi a resposta, redigida por
Saeed Jalili, principal negociador iraniano, à carta de Catherine Ashton, chefe
da política externa da União Europeia. Simultaneamente, Teerã anunciou que
desenvolveu uma nova geração de centrífugas, que agora passaram de 6.000 para
9.000 rotações, e que abasteceu seu reator de pesquisa com os primeiros bastões de
combustível nuclear produzidos no Irã.
Apesar de o
anúncio das recentes "conquistas" de Teerã poder parecer movimento beligerante,
Washington logo decidiu que o anúncio foi dirigido ao público interno no Irã. O
conteúdo da carta de Jalili e, mais importante, as respostas inicias, de
otimismo cauteloso, que a carta gerou imediatamente nas capitais ocidentais,
sugerem que há no ar sinais positivos.
A reação em
Washington é o sinal mais importante. Para um funcionário da Casa Branca [citado
pela agência Reuters], "A carta de Jalili poderá levar a novas negociações
diplomáticas, se [os iranianos] estiverem falando sério. Já deixamos claro que o
diálogo deve centrar-se especificamente sobre o programa nuclear". [1]
Aparentemente, a carta de Jalili
fala de "novas iniciativas" dos iranianos; e sugere que o Irã está aberto para
discutir a questão nuclear. Sugere que "Uma atitude construtiva e positiva em
relação às novas iniciativas da República do Irã nessa rodada de conversações
abriria uma perspectiva positiva para nossas negociações". [2]
E Jalili
concluiu: "Assim sendo (...) proponho retomar nossas conversações para
encaminhar passos fundamentais para cooperação sustentável, tão logo seja
possível, em local e data mutuamente convenientes a serem acertados."
Significativamente, nem Ashton nem Jalili fazem referência a pré-condições para
as conversações. Evidentemente, Bruxelas já está consultando Washington sobre
local e data para reiniciar conversações entre os "Irã-6" e o Irã, depois de
interrupção de três anos. O grupo "Irã-6" – também chamado "P5+1" – inclui os
cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, França, China,
Rússia e Grã-Bretanha) + Alemanha.
Outra série
de sinais positivos é a retórica comedida, dos dois lados. A contribuição mais
significativa para uma suavização das tensões veio de alguns dos funcionários de
mais alto escalão da inteligência dos EUA, durante audiência na Comissão das
Forças Armadas do Senado, na 5ª-feira, apenas um dia depois de recebida a carta
de Jalili. É também interessante que a própria audiência estivesse acontecendo
imediatamente depois de 32 senadores terem encaminhado proposta de "descartar a
estratégia de contenção contra um Irã armado com armas nucleares". [3]
James
Clapper, diretor da Inteligência Nacional dos EUA, avalia que, até agora, Teerã
ainda não decidiu construir arma nuclear, embora os iranianos já acumulem
algumas das competências necessárias. E disse que duvida que o Irã decida dar
realmente esse passo:
Os EUA
acreditamos que a decisão só será tomada pelo Supremo Líder [aiatolá Ali
Khamenei] e que sua decisão será baseada numa análise de custos-benefícios. Não
acho que ele deseje uma arma nuclear a qualquer preço, e daí o valor das
sanções. Os iranianos mantém-se em posição para tomar essa decisão, mas há
coisas que eles ainda não fizeram e não fizeram, de fato, já há algum
tempo.
Parece
claro que Clapper deixa transparecer que Washington constata e valoriza a
moderação que Teerã tem manifestado, por não ter, até agora, desenvolvido o
programa de construção de armas atômicas. Noutro depoimento, o diretor da
Agência de Inteligência da Defesa dos EUA, tenente-general Ronald Burgess,
acrescentou que "o Irã tem hoje a capacidade técnica, científica e industrial
para eventualmente produzir bombas atômicas" e, apesar da pressão internacional
contra o Irã, mediante as sanções, "avaliamos que Teerã não dá sinais de desejar
abandonar o seu atual programa nuclear".
Se se
aproximam esses dois depoimentos, vê-se que o governo Obama está sinalizando
claramente que é mais que hora de reiniciar conversações com Teerã. Ambos,
Clapper e Burgess, avaliaram como reduzido o risco de uma eventual ameaça
iraniana contra a segurança dos EUA ou o Estreito de Ormuz.
Aspecto
fascinante dessas audiências foi também que os dois representantes do governo
dos EUA virtualmente admitiram que, em termos gerais, Teerã tem sido mais
reativa que provocativa ou beligerante e que não está trabalhando para aumentar
as tensões. Burgess chegou a dizer que se deve esperar que o Irã reaja, se for
atacado; mas que, hoje, os EUA avaliam que o Irã não iniciará, por iniciativa
sua, qualquer conflito militar.
Clapper
avançou ainda um passo adiante: associou diretamente qualquer mudança no
programa nuclear pacífico de Teerã a uma eventualidade, no caso de que "o regime
iraniano sinta-se ameaçado em termos da própria estabilidade ". Clapper também
concordou com o secretário da Defesa, Leon Panetta, que, em qualquer caso,
produzir uma bomba "exigiria dos iranianos ainda um ano de trabalho, e
provavelmente mais um ou dois anos, até instalá-la num veículo de transporte e
disparo de qualquer tipo".
Clapper
acrescentou que "[produzir uma bomba] é tecnicamente viável, mas não é
praticamente viável. Há muitas combinações e permutas que afetariam o processo e
o tempo exigido, no caso de os iranianos decidirem afinal construir uma bomba
nuclear".
Em resumo,
Clapper jogou água fria no cenário que Israel tenta criar, de "apocalypse now".
(Também repetiu que Israel não tem planos para atacar o Irã).
No geral,
esses depoimentos devem ser tomados como ampla garantia, encaminhada na direção
de Teerã, de que, afinal, ainda há muita gente em Washington que não enlouqueceu
completamente ao longo desses meses de propaganda e guerra de sombras que
tentaram dar proporções apocalípticas ao impasse EUA-Irã.
E há ainda
uma terceira série de eventos: Teerã também está recorrendo à sua dose de
diplomacia pública para divulgar o interesse que tem em engajar construtivamente
os EUA. Dentre os movimentos mais importantes nessa direção, publicaram-se três
artigos, assinados por Seyed Hossein Mousavian [4], que até há seis anos
era membro importante da equipe de negociadores iranianos para a questão nuclear
(e que foi embaixador do Irã na Alemanha durante sete anos).
O mais
importante foi publicado na influente Foreign Affairs [5]. Mousavian
analisou o impasse entre EUA e Irã sobre a questão nuclear ao longo dos últimos
oito anos, como uma crônica de tempo perdido, oportunidades desperdiçadas,
malentendidos e má informação sobre os dois lados, que levaram a erros de
cálculo que de modo algum contribuíram para qualquer avanço e só fizeram
aprofundar cada vez mais o impasse.
Não vacila
ao atribuir a culpa a vários sucessivos governos norte-americanos, que jamais se
deram o trabalho de explorar as muitas e repetidas aberturas que o Irã ofereceu
para a normalização das relações.
Repete,
como refrão, que a questão nuclear jamais deveria ter sido definida como
"questão única" que pudesse ser discutida à parte, num conjunto cerrado de
questões mais amplas, incluídas todas no relacionamento confrontacional que os
dois países mantêm desde a revolução iraniana de 1979.
Em suas
palavras, "Não haverá solução para a disputa nuclear enquanto os representantes
dos governos, em Teerã e Washington, continuarem a basear o relacionamento entre
eles em hostilidade sempre crescente, ameaças e desconfianças e, sobretudo,
enquanto o único objetivo dos EUA for a mudança de regime em Teerã". [6]
(Por uma interessante coincidência, Panetta e Clapper usaram praticamente as
mesmas palavras, essa semana).
Na última
parte de seu argumento, em conclusão, Mousavian sugeriu o que, para ele, devem
ser "as linhas de fundo" de futuras negociações: "Para o Irã, a linha de fundo
de futuras negociações é preservar a capacidade para produzir energia civil
confiável, como o Irã tem pleno direito de produzir, nos termos do Tratado de
Não Proliferação Nuclear. Para os EUA e a Europa, a linha de fundo das
negociações é garantir que jamais haverá Irã armado com bombas nucleares ou com
repentina capacidade, não esperada, para que se arme nuclearmente".
Como se
poderão harmonizar as expectativas dos dois lados. O que Mousavian sugere é o
seguinte:
Especificamente, o ocidente deve:
reconhecer o direito legítimo do Irã de produzir tecnologia nuclear, inclusive o
enriquecimento de urânio; remover as sanções; e normalizar os registros
nucleares do Irã no Conselho de Segurança da ONU e na Agência Internacional de
Energia Nuclear. Para satisfazer as condições do grupo P5+1, o Irã deve aceitar
o nível máximo de transparência, implementando o Código 3.1 do Acordo
Subsidiário da AIEA e o Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação, que
admite monitoramento e inspeções intrusivas em instalações nucleares.
Para
eliminar as preocupações ocidentais, sobre a possibilidade de se construírem
armas nucleares que utilizem urânio baixo-enriquecido, algum acordo deve impor o
limite de 5% ao enriquecimento de urânio no Irã (...). Outro acordo deve também
limitar a quantidade de hexafluoreto de urânio baixo-enriquecido armazenado no
Irã; limitar os locais de enriquecimento, durante um período de construção de
confiança; estabelecer um consórcio internacional sobre enriquecimento no Irã; e
o Irã se comprometerá a não reprocessar o urânio baixo-enriquecido durante o
período de construção de confiança. [7]
A "sugestão
Mousavian" é, em certo sentido, modelada a partir do plano "passo-a-passo" dos
russos, que também inclui total supervisão pela AIEA; implementação do Protocolo
Adicional e Acordo Subsidiário entre a AIEA e o Irã; limitar a um os locais de
enriquecimento; e suspensão temporária do enriquecimento.
Moscou
propôs que, em troca, o Irã deve esperar que o grupo "Irã-6" remova as sanções e
normalize os registros nucleares do Irã na AIEA e no Conselho de Segurança da
ONU.
É difícil
determinar em que medida as opiniões de Mousavian refletem o pensamento de
dentro do regime iraniano, e, de fato, Mousavian está bem consciente de que "o
clima político doméstico nos dois países" interpôs-se, no passado, no caminho
que poderia ter levado a negociações proveitosas entre Washington e Teerã.
Mas o mais
surpreendente é que os depoimentos de Clapper e Burgess, na Comissão do Senado,
estão em perfeita harmonia com o que Mousavian sugeriu como caminho a
seguir.
_____________________________
Notas dos
tradutores
*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
Aqui no sertão de Guimarães Rosa, de Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, entre tantos, a gente chama isso de JAGUNÇO. Os EUA oferecem "segurança" (lógico, cobram pelo "serviço") ao modo pistoleiro, cangaceiro, miliciano... ah, é, o "carioca" sabe muito bem o que são e, como agem os milicianos...
ResponderExcluirOs ianques são sinônimo de Antônio "das Mortes".
Se Entrega Corisco!
http://www.youtube.com/watch?v=rHm0Az4PbAg