Rio de Janeiro - Praia da Urca e Pão de Açúcar (esquerda) |
Publicado em
26/04/2012 por *Mair Pena
Neto
A necessidade de ampliar a rede
hoteleira do Rio de Janeiro com vistas à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas
de 2016 pode trazer sérios prejuízos à cidade e à forma de viver de seus
moradores. A febre de construções leva a prefeitura a afrouxar os critérios e a
permitir obras que agridem a paisagem, o bem mais precioso da cidade
maravilhosa.
Agora mesmo, o Ministério Público
Estadual conseguiu suspender, por medida liminar, a construção de dois hotéis,
um de nove andares e outro de 15 andares, na Avenida do Pepê, na Barra da
Tijuca. Para quem não conhece bem o Rio e pode ficar surpreso com a polêmica em
um bairro caracterizado por prédios muito mais altos do que esses, a Avenida do
Pepê fica no início da praia da Barra, numa região conhecida como Jardim
Oceânico, caracterizada por edifícios baixos.
Pelo plano original da Barra,
feito por Lúcio Costa, as construções neste trecho da orla deveriam ter no
máximo cinco andares. Esta determinação transformou o local no espaço mais
humano do bairro, embora o projeto urbanístico de Lúcio Costa tenha sido
desrespeitado com a permissão para a construção de hotéis acima do gabarito
estabelecido.
A ânsia de plantar hotéis à
beira-mar já causou danos irreparáveis à cidade, como é o caso do Meridien, na
gloriosa Avenida Atlântica, cuja altura exagerada projeta sua sombra na areia da
praia do Leme. O sombreamento, aliás, é uma das preocupações que cercam a
construção dos dois novos empreendimentos na Barra.
Assim como o Meridien, os novos
hotéis também irão afetar definitivamente a paisagem carioca.
Rio de Janeiro - Praia do Pepê - início da Barra da Tijuca com o quebra-mar |
Quem estiver na Praia do Pepê, irá
perder a visão da Pedra da Gávea, um dos mais belos monumentos naturais da
cidade, que se ergue a 842 metros acima do nível do mar. E quem chegar à Barra
pelo Túnel do Joá deixará de avistar o quebra-mar. Estas duas brutais
interferências deveriam ser suficientes para inviabilizar os empreendimentos que
a prefeitura e até o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) autorizaram.
O Rio de Janeiro deveria ter uma
cláusula pétrea referente às edificações urbanas: nenhuma construção poderia,
independente do fim a que se propõe e aos diferentes gabaritos da cidade,
impedir a vista do carioca às montanhas e monumentos naturais. O Ministério
Público mostrou sensibilidade, bem indispensável a quem lida com uma cidade com
as características singulares do Rio de Janeiro, e fundamentou sua decisão de
suspender as obras dos dois hotéis em um parágrafo do novo Plano Diretor, que
estabelece que “a paisagem do Rio de Janeiro representa o mais valioso bem da
cidade, responsável pela sua consagração como um ícone mundial e por sua
inserção na economia turística do país, gerando emprego e renda”.
Não se pode, em nome de uma
necessidade imediata, danificar irremediavelmente este patrimônio. A cidade é,
em primeiro lugar, de quem nela vive. Não se trata de estagná-la, mas de
condicionar o seu crescimento ao bem estar de sua população.
*Mair Pena Neto
- jornalista carioca, trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e
Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de
economia.
Enviado por Direto da
Redação
(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirNão se chamam nem se ouvem arquitetos, engenheiros, geógrafos urbanos e urbanistas de real valor.
Quanto aos hoteis, como operá-los, se não dispomos de pessoal especializado para exercer e manter padrões internacionais de atendimento?
Abraços do
ArnaC