22/6/2012, Richard Sudan,
The Independent, UK -
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Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Richard Sudan |
Essas palavras espantosas foram
ditas pelo ministro do Interior de Israel, Eli Yishai, em recente entrevista
[1] na qual expôs o pensamento do
governo israelense sobre os migrantes africanos no país.
Na
mesma entrevista, publicada no jornal Maariv, Yishai acrescentou que:
“Esses
infiltrados, assim como os palestinos, em pouco tempo nos levarão ao fim do
sonho sionista”.
Em referência especial às algumas
centenas de refugiados do Sudão do Sul que vivem em Israel, os comentário de
Yishai apareceram no momento em que o governo de Israel começa a aplicar suas
novas políticas para expulsar do país os sul-sudaneses [2].
Crianças sul-sudanesas num centro de triagem em Israel |
Até
aqui, os poucos refugiados sul-sudaneses que viviam em Israel, cerca de 700,
tinham autorização para permanecer no país. Mas o governo de Israel, que acaba
de vencer rápida disputa judicial, conseguiu impor seu argumento, segundo o qual
a permanência dos sudaneses em Israel já não se justifica, depois de o Sudão do
Sul ter sido criado, quando o país foi dividido, ano passado.
Os
que se opõem à expulsão dos imigrados sudaneses argumentam que muitos deles
correm risco de sofrerem violências, se forem obrigados a voltar. Mas nem
Yishai, nem Netanyahu, que também se expressou em termos semelhantes, dão
qualquer sinal de preocupação com a sobrevivência dos africanos.
O governo de Israel iniciou os
movimentos para expulsar os africanos e o discurso oficial apareceu
imediatamente depois de cenas de violência em Telavive [3] e em outras cidades, bem claramente
provocados pelo discurso racista incendiário de autoridades do gabinete
israelense. Os atos de violência atingiram residências e propriedades de
africanos, alvos de atos de vandalismo.
Na
2ª-feira, vários refugiados foram embarcados e levados para Juba, no Sudão do
Sul. E outros “voos da vergonha”, como estão sendo chamados, estão previstos
para a próxima semana.
Refugiados sudaneses vindos de Levinski, sul de Telavive |
Há
hoje, no total, cerca de 60 mil migrantes africanos que vivem em Israel. O
movimento dos israelenses, de expulsar os sul-sudaneses, que são grupo
relativamente pequeno, sugere fortemente que o governo israelense esteja usando
os sul-sudaneses para “dar um recado” aos demais migrantes. Israel não pode
deportar outros grupos de migrados, do Sudão e da Eritreia, porque está preso a
compromissos internacionais. E as recentes deportações estão tendo o efeito de
aterrorizar outras comunidades de africanos que vivem em Israel.
Se
se consideram as terríveis condições em que vivem os palestinos, e, agora,
depois que se divulgaram as recentes deportações forçadas de sul-sudaneses, já
não se vê por que não se poderia denunciar Israel como “estado de apartheid”.
Tem havido forte oposição contra
as práticas racistas do governo de Israel. A escritora Alice Walker, muito
conhecida em todo o mundo, acaba de negar autorização a uma editora israelense
para traduzir e publicar seu aclamado romance A Cor Púrpura. Walker
explicou [4] as razões pelas quais negava
aquela autorização e disse que, ao negar permissão para que seu trabalho fosse
comercializado em Israel, incorporava-se à campanha mundial de boicote e
desinvestimento contra Israel, como forma de protestar contra um governo
opressor e de apartheid.
A
continuada perseguição dos palestinos, politicamente e ideologicamente; o
sistema judicial-militar; e, agora, a campanha racista contra populações não
brancas bastam para evidenciar o tipo de consenso que há no governo israelense.
A teoria da raça superior e do povo escolhido não é novidade no mundo, com
outras teorias que se construíram em torno de conceitos de eugenia. Todas essas
teorias, como as ideias reunidas sob a marca registrada do sionismo, são
perigosas e já deveriam ter sido enterradas em todo o mundo, há muito tempo.
Yishai
e sua gangue dedicam-se hoje a tentar ocultar, sob rótulos e práticas
pressupostas democráticas, as novas leis racistas da política israelense de
imigração.
Refugiado sudanês refletido
em um espelho quebrado em alojamento
temporário em Cades-Barnéia, sul de
Israel, depois de atravessar do Egito
|
Estranhamente,
ao mesmo tempo em que muito falam de os sul-sudaneses terem o “direito” de
retornar ao país de origem, Israel nada se diz sobre o direito dos refugiados
palestinos retornarem, eles também, à terra que lhes foi roubada. Será que
Israel receberá de braços abertos os palestinos que desejem voltar?
Essa
questão – o direito de retorno – atravessa o coração da luta que os palestinos
travam contra o estado ocupante de Israel, questão que Israel conveniente e
continuadamente evita.
Mantém-se,
cada vez mais acentuada, a percepção de que está em curso em Israel um processo
de “limpeza” étnica. O governo de Netanyahu, de fato, já declarou, sem meias
palavras, que “está com o homem branco”.
Notas
dos tradutores
[1]12/6/2012, Electronic Intifada, Jillian
Kestler-D'Amours em: Sudanese
face expulsion; minister declares Israel “belongs to white man” .
[2] 3/6/2012, Haaretz, Dana
Weiler-Polak em: “Israel
enacts law allowing authorities to detain illegal migrants for up to 3
years”.
[3] 3/6/2012, The Guardian, Rachel
Shabi em: “Far-right
Europeans and Israelis: this toxic alliance spells
trouble”.
[4] 9/6/2012, PACBI - Palestinian Campaign for the
Academic&Cultural Boycott of Israel, Alice Walker em: “Letter from Alice Walker to
Publishers at Yediot Books”.
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