Quando as Trombetas de Jericó soarão sete vezes
por GEAB*
A
evolução dos acontecimentos mundiais desenrola-se conforme as antecipações
elaboradas pelo LEAP/E2020 durante trimestres recentes. A Eurolândia está
finalmente saindo do seu torpor político e do curto-prazismo desde a eleição de
François Hollande [1] à presidência da França e o povo grego acaba de
confirmar a sua vontade de resolver os seus problemas no seio da Eurolândia
[2], desmentindo assim todos os “prognósticos” das mídias anglossaxônicas
e dos eurocéticos. A partir de agora, a Eurolândia (de fato a União Europeia
menos o Reino Unido) vai, portanto, poder avançar e dotar-se de um verdadeiro
projeto de integração política, de eficácia econômica e de democratização para o
período 2012-2016, como o LEAP/E2020 antecipou em Fevereiro último (GEAB nº 62).
É uma notícia positiva, mas nos próximos semestres, este "segundo Renascimento" do projeto europeu [3] constituirá mesmo a única boa notícia a nível
mundial.
Todas
as outras componentes da situação global estão efetivamente orientadas num
sentido negativo, mesmo catastrófico. Aqui, mais uma vez, os media dominantes
começam a refletir uma situação antecipada desde há muito pela nossa equipe para
o Verão de 2012. Com efeito, de uma forma ou de outra, mais frequentemente em
páginas internas do que em grandes manchetes (monopolizadas há meses pela Grécia
e o Euro [4] ), doravante encontra-se os 13 temas seguintes:
-
Recessão global (mais nenhum motor de crescimento em parte alguma/fim do mito da “retomada estadunidense”) [5]
-
Insolvência crescente, e doravante parcialmente reconhecida como tal, do conjunto do sistema bancário e financeiro ocidental.
-
Fragilidade crescente dos ativos financeiros-chaves, como as dívidas soberanas, o imobiliário e os CDS na base dos balanços dos grandes bancos mundiais.
-
Queda do comércio internacional [6]
-
Tensões geopolíticas (nomeadamente no Médio Oriente) que se aproximam do ponto de explosão regional
-
Bloqueio geopolítico global duradouro na ONU
-
Colapso rápido de todo o sistema ocidental de aposentadoria por capitalização [7]
-
Fraturas políticas crescentes no seio de potências "monolíticas" mundiais (EUA, China, Rússia)
-
Ausência de soluções “milagrosas”, como em 2008/2009, devido à impotência crescente de vários grandes bancos centrais ocidentais (Fed, BoE, Boj) e ao endividamento dos Estados-nação.
-
Credibilidade em queda livre para todos os Estados-nação que tenham de assumir o duplo encargo de um endividamento público e de um endividamento privado excessivos.
-
Incapacidade para dominar/atenuar a progressão do desemprego em massa e de longa duração
-
Fracassos das políticas de estímulos monetaristas e financeiras assim como das políticas de austeridade “pura”
-
Ineficácia doravante quase sistemática dos grupos fechados internacionais alternativos ou recentes, G20, G8, Rio+20, OMC, etc. sobre todos os temas-chave do que já não é, de fato, uma agenda mundial [8] dada a ausência de qualquer consenso: na economia, finanças, ambiente, resolução de conflitos, combate contra a pobreza...
Segundo o
LEAP/E2020, e conforme suas antecipações já antigas, assim como aquelas de Franck Biancheri desde
2010 no seu livro “Crise mondiale: En
route pour le monde d'après”, este segundo semestre de 2012 vai realmente
assinalar um ponto de inflexão importante da Crise Sistêmica Global e das
respostas que lhe são dadas.
Ele será
caracterizado por um fenômeno, de fato, muito simples de compreender: se a
Eurolândia está hoje em condições de abordar este período de modo prometedor
[9] é porque atravessou nestes últimos anos uma crise de intensidade e
profundidade sem igual desde o arranque do projeto de construção europeia após a
Segunda Guerra Mundial [10] . A partir do fim deste Verão de 2012 serão
todas as outras potências mundiais, Estados Unidos à cabeça [11] , que
deverão enfrentar um processo idêntico.
É a este preço, e só
a este preço, que elas estarão a seguir, em alguns anos, em condições de encetar
uma lenta reascensão para a luz.
Mas hoje, depois de
terem tentado retardar o fracasso por todos os meios, chega a hora da fatura. E
como em tudo, a capacidade retardar o inevitável paga-se com um custo extra, a
saber o agravamento do choque de ajustamento à nova realidade. Trata-se, de
fato, do fim de jogo para o mundo de antes da crise. Os sete clarins das
trombetas de Jericó que assinalarão o período Setembro/Outubro 2012 provocarão a
derrocada dos últimos pedaços do “Muro Dólar” e das muralhas que protegeram o
mundo tal como o conhecemos desde 1945.
O choque do Verão de
2008 parecerá um pequeno furacão estival em comparação com aquele que vai afetar
o planeta dentro de alguns meses.
O LEAP/E2020 jamais
constatou a convergência temporal de uma tamanha série de fatores explosivos, e
de fatores tão fundamentais (economia, finanças, geopolítica, ...), desde 2006,
data do início dos seus trabalhos sobre a Crise Sistêmica Global.
Logicamente, na
nossa modesta tentativa de publicar regularmente uma “meteorologia da crise”
devemos, portanto, emitir para os nossos leitores um “alerta vermelho” pois é
realmente a esta categoria que pertence o fenômeno que se prepara para impactar
o sistema mundial em Setembro/Outubro
próximo.
Neste GEAB nº 66
desenvolvemos nossas antecipações em relação a sete fatores-chaves deste choque
de Setembro-Outubro 2012, “Os Sete Clarins das Trombetas de Jericó [12]
que marcam o fim do mundo de antes da crise. Tratam-se de quatro fatores
geopolíticos no Oriente Médio e de três componentes econômicos e financeiros no
cerne do choque que vem aí:
-
Irã/Israel/EUA: A guerra supérflua verificar-se-á
-
A bomba assíria: o fósforo israelense-americano-iraniano no paiol Síria-Iraque
-
O caos afegão-paquistanês: o exército dos EUA e da NATO, reféns de uma saída de conflito cada vez mais difícil
-
O Outono árabe: os países do Golfo lançados na tormenta
-
Estados Unidos: o “Armagedon fiscal” começa a partir do Verão de 2012 – A economia estadunidense em queda livre no Outono.
-
A grande insolvência bancária chega em Setembro-Outubro/2012: Bankia versão City-Wall Street
-
A insustentável leveza das Quantitative Easing do Verão de 2012 – os bancos centrais americano, britânico e japonês fora de jogo.
Desenvolvemos
igualmente recomendações precisas sobre a maneira de minimizar o impacto do
choque em preparação sobre a sua própria situação, quer seja um simples
particular ou um decisor em empresas ou instituições públicas. Apresentamos
igualmente o GlobalEurope Dollar
Index do mês.
Finalmente, o
LEAP/E2020 anuncia a retomada das suas formações em antecipação política, no
próximo Outono, que doravante serão efetuadas on line a fim de responder aos pedidos
chegados dos quatro cantos do planeta. Se o GEAB é um “peixe”, um produto
acabado da antecipação, com estas formações esperamos ensinar um número
crescente de pessoas a “pescar” o sentido nas águas turvas do futuro. Pois, se
desejarmos que o fim de jogo do mundo de antes da crise desemboque na construção
de um mundo melhor após a crise, parece-nos essencial desenvolver as capacidades
de antecipação do maior número de pessoas.
Foi de fato esta
ausência de antecipação que em grande parte provocou os erros na origem da crise
atual.
Estas formações
serão organizadas em parceria com a fundação espanhola não lucrativa FEFAP (Fundacion para la Educacion y la Formación
en Anticipación Política) criada recentemente graças a uma doação de Franck
Biancheri [13] .
Notas de rodapé
(1) Doravante
os debates, saudáveis sobretudo se forem francos e amplos, preocupam-se com o
médio-longo prazo, a integração políticas e as novas instituições necessárias.
Daqui até o fim do Verão, a evidência de que a dimensão da Eurolândia é central
impor-se-á e permitirá contornar a dificuldade das instituições a 27 membros que
estão hoje num estado ruína e da omnipresença britânica a qual não permite nesta
fase confiar-lhe uma tarefa importante para estabelecer a governança da
Eurolândia. A problemática Hollande-Merkel tem a ver muito mais com esta
realidade do que com uma divergência “instituições comum” ou “abordagem
intergovernamental”. As instituições de Bruxelas também pertencem ao mundo
anterior à crise e são inaptas a fundar a Europa do pós crise. Fontes: Deutsche Welle, 11/06/2012; Spiegel,
06/05/2012; El Pais, 10/06/2012; La Tribune, 10/06/2012.
(2) Que em
contrapartida vai tornar mais tolerável o difícil ajustamento do país após 30
anos perdidos no seio da UE, perdidos, pois desperdiçados sem qualquer
modernização do Estado grego. Fonte: YahooNews, 18/06/2012.
(3) MarketWatch de 14/06/2012 chega mesmo a
prever para a Suíça uma inevitável integração na Eurolândia... como já havia
feito do LEAP há algum tempo.
(4) Estratégia
de diversão obriga!
(5) Fontes: Bloomberg, 15/06/2012; Albawaba, 12/06/2012; ChinaDaily,
05/06/2012; CNNMoney, 11/05/2012;
Telegraph, 04/06/2012; MarketWatch, 05/04/2012 .
(6) Fontes:
IrishTimes, 12/04/2012 ; CNBC,
08/06/2012 .
(7) Fontes:
WashingtonPost, 11/06/2012; Telegraph, 11/06/2012; The
Australian, 15/06/2012; Spiegel, 06/05/2012; ChinaDaily,
15/06/2012 .
(8) Em dois
anos houve realmente um deslocamento da agenda diplomática mundial.
(9) A este
respeito, o LEAP/E2020 antecipa a entrada das questões de defesa no cerne do
debate sobre a integração política. Assim como o Euro foi criado no âmbito de um
acordo complexo implicando um forte apoio francês à unificação alemã contra a
mutualização do Deutsche Mark, a integração política que se perfila vai implicar
a mutualização da “assinatura alemã” em contrapartida de uma forma de
mutualização (pelo menos para o núcleo da Eurolândia) da dissuasão nuclear
francesa. Os dirigentes franceses vão assim descobrir três coisas: que a questão
da segurança/defesa preocupa muito seus parceiros da Eurolândia contrariamente
às aparências (devido nomeadamente à perda de credibilidade rápida da proteção
estadunidense); que não há razão para que um debate complexo e difícil seja
provocado por esta nova fase de integração unicamente na Alemanha (a França
também vai ter de se envolver) e finalmente que as opiniões públicas não são
contra este tipo de abordagem muito concreta ao contrário dos tratados jurídicos
incompreensíveis (como em 2005). Em matéria de defesa, assiste-se já a uma
evolução importante: a França afasta-se silenciosamente de toda parceria
significativa com o Reino Unido para se recentrar na cooperação com a Alemanha e
os países do continente. O fato de o Reino Unido sempre prometer e nunca cumprir
seus compromissos em matéria de defesa europeia (último até à data: o
desenvolvimento comum de porta-aviões é posto em causa pela decisão britânica de
não adaptar seu porta-aviões para receber os aparelhos franceses) foi finalmente
analisado pelo que é, ou seja, uma tentativa ininterrupta de impedir a
emergência de uma defesa europeia. E a redução drástica da capacidade de defesa
britânica, por razões orçamentais tornaram-no, de fato, um parceiro cada vez
menos atrativo. Fontes: Monde Diplomatique, 15/05/2012; Telegraph,
06/06/2012; Le Point, 14/06/2012.
(10) Choque
ampliado na psicologia coletiva europeia e mundial pela incapacidade dos
europeus durante este período de impedir serem instrumentalizados pela City e a Wall Street em matéria mediática, a fim
de, por um lado, desviar a atenção das suas próprias dificuldades e, por outro,
tentar “partir” esta Eurolândia em emergência que balouça a ordem estabelecida
após 1945.
(11) País que
viu a riqueza dos seus habitantes ser reduzida em 40% entre 2007 e 2010 segundo
um estudo recente realizada pela Reserva Federal dos EUA. Permitimo-nos lembrar
que quando em 2006 indicávamos, desde os primeiros números do GEAB, que esta
cria iria provocar uma baixa de 50% da riqueza das famílias americanas, a maior
parte dos “peritos” consideravam esta antecipação como totalmente aberrante. E o
estudo vai só até 2010. Como indicamos, ainda há pelo menos 20% de baixa que
aguarda as famílias dos EUA. Este recordatório visa sublinhar que uma das
maiores dificuldades do trabalho de antecipação é a imensa inércia das opiniões
e a falta de imaginação dos peritos. Cada uma reforça a outra para fazer crer
que nenhuma mudança negativa importante está ali na esquina. Fonte:
WashingtonPost, 11/06/2012; US
Federal Reserve, 06/2012.
(12) Para saber
mais sobre o mito das Trombetas de Jericó: Wikipedia.
(13) Ele deve
ser um dos muito poucos operadores a terem feito entrar dinheiro no sistema
bancário espanhol nestas últimas semanas. Prova de convergência entre análise e
ação.
Junho/2012
Este Comunicado Público foi
originalmente publicado em francês, em: “GEAB
N°66 est disponible! Alerte Rouge / Crise systémique globale - Septembre-Octobre
2012 : Quand les trompettes de Jericho sonneront 7 fois pour le monde d'avant la
crise”.
Esta
tradução foi extraída de Resistir e adaptada ao
português do Brasil pela redecastorphoto.
Observação da
redecastorphoto: Os “links” das Fontes mencionadas nas Notas de rodapé
estão no Comunicado Público original em francês.
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