31/5/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online - THE ROVING
EYE
Traduzido pelo pessoal da Vila
Vudu
Pepe Escobar |
O
chefe do Pentágono Leon Panetta disse à rede ABC News que os EUA estão
“prontos” para atacar o Irã. Depende só de o presidente Barack Obama dar a
ordem. Dará? Não dará?
Obama, laureado com o Prêmio Nobel
e Pai dos Drones, anda ocupado “justificando a teoria da justa guerra dos filósofos cristãos”, na
expressão precisa de Ray McGovern – e como o comprova o New York Times, a
promover em ritmo orgásmico o artigo “Lista secreta de ‘alvos de assassinatos’ é
teste para os princípios e a força de vontade de Obama”. [1]
Aparentemente,
ainda não existe lista de iranianos selecionados como “alvos de assassinatos” –
exceto os cientistas que estão sendo dizimados pela ruinosa combinação de
agentes do Mossad israelense com os fanáticos terroristas iranianos do
MEK (Mujahedin-e Khalq, MEK, “Mujahedin do Povo”). Nada –
até agora – confirma que Obama considere que atacar o Irã seria “guerra justa”.
Ao contrário: Obama pode bem amarrar um acordo nuclear com o Irã, como grande
vitória de política exterior, na trilha da re-eleição. Mas – pelo sim, pelo não,
por que não? – o Pentágono trata de manter alta pressão sobre Obama.
Enriqueça,
e você será varrido do mapa...
Panetta
regurgitou a mesma velha falácia, perpetrada ao infinito desde, pelo menos, 2006
pelos neoconservadores, o lobby israelense e a mídia-empresa
norte-americana, segundo os quais o Irã estaria a ponto de ter uma bomba
atômica... amanhã. “Faremos todo o possível para impedir que o Irã desenvolva a
bomba” – disse Panetta. Mais uma vez, não importa que a Agência Internacional de
Energia Atômica, supervisora da ONU para questões nucleares, mais 17 agências de
inteligência dos EUA, tenham dito que não, nada disso, não é o caso.
Leon Panetta |
O movimento de Panetta deve ser
visto como bombardeio preventivo, pelo Pentágono, contra as conversas do Grupo
P5+1 sobre o programa nuclear iraniano – que têm marcada uma terceira rodada, em
Moscou, dia 18/6. Como Gareth Porter demonstrou, não haverá acordo algum,
enquanto Washington insistir em pôr abaixo todo o Tratado de Não Proliferação
Nuclear, do qual o Irá é signatário (Ver “US hard line in Iran talks driven by
Israel” [A linha dura dos EUA nas conversações do Irã é comandada por
Israel], Asia Times Online, 29/5/2012[2]). A posição dos
EUA resume-se a “proibir” o Irã de, inclusive, enriquecer urânio para
finalidades civis.
Panetta
insiste também em que a “comunidade internacional tem posição unificada” sobre o
caso. É perfeito nonsense. Não só o
grupo dos BRICS de potências emergentes, mas também todo o Movimento dos Não
Alinhados [Non-Aligned Movement (NAM)], já declararam e insistem que o
Irã tem pleno direito, como todos os demais signatários do TNP, de manter seu
programa nuclear civil.
Fereydoon Abbasi |
Agora,
quanto à posição dos iranianos. Fereydoon Abbasi, chefe do programa nuclear
iraniano, disse que: “Não temos qualquer razão para não produzir urânio a 20%,
porque precisamos desse urânio para atender nossas necessidades”, segundo a
televisão estatal iraniana.
E
não só isso. O Irã começará a construir duas novas usinas nucleares em 2013, e
seu único reator nuclear ativo já se aproxima dos níveis máximos de produção.
Nos
termos do Tratado de Não Proliferação, qualquer estado-membro com programa
nuclear civil consistente pode também alcançar capacidade para construir armas
nucleares – à qual o Tratado refere-se como uma “opção nuclear”. O Japão, o
Brasil e a Argentina, por exemplo, todos países signatários do Tratado de Não
Proliferação, mantiveram abertas a respectiva “opção nuclear” durante décadas.
Todos poderiam desviar-se do compromisso básico do tratado e construir uma bomba
nuclear, se assim desejassem, em alguns meses. Não quiseram.
Só que Washington, em missão delegada por Deus Todo Poderoso, insiste que o Irã
quererá e fa-la-á (a bomba).
O
fato é que Teerã não está fazendo coisa alguma que seja remotamente ilegal, em
sua busca para adquirir tecnologia nuclear. O Irã concordou com discutir, em
Bagdá, a suspensão do enriquecimento a 20%.
Mas
então, em Bagdá, os negociadores iranianos descobriram que, para os EUA, a linha
vermelha – nenhum urânio enriquecido – é absoluta e inarredável. No máximo, o
Irã poderia esperar receber, em troca de seu urânio, suprimento de isótopos para
finalidades médicas.
Assim
sendo, Teerã não arredará pé da posição inicial: só aceitará suspender o
programa de enriquecimento de urânio a 20%, se os EUA reconsiderarem o duríssimo
embargo ocidental ao petróleo plus a guerra financeira que declararam ao
Irã com as sanções.
Mahmoud Bahmani |
Por
falar nisso, o presidente do Banco Central Iraniano, Mahmoud Bahmani disse que
Teerã já ativou uma via alternativa para pagamentos através da Society for
Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT) – derrubando mais
uma das linhas do incansável ataque econômico que Washington empreende contra o
Irã. Significa que Irã, Rússia, China e Índia (dos BRICS), mais os
parceiros comerciais do Irã no mundo em desenvolvimento, já deram mais um passo
na direção de afastarem-se definitivamente do dólar norte-americano como moeda
global de reserva.
Sancione-me
mais, baby, mais, mais...
Mesmo
na – remota – possibilidade de que a liderança em Teerã decida de repente por
fim a todo o enriquecimento de urânio e matar no ovo todo o programa nuclear do
país, ainda assim o Irã continuará sob ataque das sanções dos EUA. De fato, as
sanções nada têm a ver com o programa nuclear iraniano. Trata-se, isso sim, de
“mudança de regime”.
Por
401/11, o Congresso dos EUA aprovou, na última 6ª-feira, uma resolução que vai
ainda além das sanções “incapacitantes”.
Barack Obama |
As
sanções impostas pelos EUA ao Irã lá ficarão para sempre, até que o presidente
Obama declare e comprove, ante um Congresso cada dia mais (muito) impopular (14%
de aprovação popular), que “o Irã libertou todos os presos e detentos políticos;
que pôs fim a todas as práticas de violência e abuso contra cidadãos iranianos
engajados em oposição política pacífica; determine investigação transparente dos
assassinatos e abusos contra ativistas políticos pacíficos no Irã e processem os
responsáveis; e avance firmemente na direção de estabelecer judiciário
independente”.
E há mais. Obama também terá de
provar ao Congresso que: “O governo do Irã deixou de apoiar atos de terrorismo
internacional e não corresponde à definição de estado patrocinador de
terroristas; e [que] o Irã abandonou completamente a procura, aquisição e
desenvolvimento de armas nucleares, biológicas, químicas e
balísticas”.
[3]
Nesse
emaranhado de ideias delirantes, ainda entra em cena o Comandante do
Estado-Maior das Forças dos EUA, Martin Dempsey. Disse à CNN na 2ª-feira
que “a opção militar deve ser considerada”. EPA! Mas... Aí já é aquela
outra guerra que está sendo preparada – na Síria. O general Dempsey disse
que prefere que a “comunidade internacional” promova a mudança de regime na
Síria, mas... caso seja necessário, numa emergência... O Pentágono está pronto a
entrar em ação (“Evidentemente, sempre temos de garantir que haja opções
militares”). A turma do CCGOTAN mal consegue refrear os zurros de alegria.
Quer dizer:
Coméquié, Barack? Tantas guerras a escolher... E tão pouco tempo até a
re-eleição!
Notas de
rodapé
[1] 29/5/2012, New York Times, em: “Secret
‘Kill List’ Proves a Test of Obama’s Principles and Will”, 3º artigo da
série A Measure of Change [Uma
avaliação da mudança].
[2]30/5/2012, Asia Times, Gareth Porter em: “US hard line in
Iran talks driven by Israel”.
[3] O texto integral do projeto, agora convertido em lei,
pode ser lido em: Bill
Summary & Status - 111th Congress (2009 - 2010) - H.R.2194 - CRS Summary
“sec. 105” .
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