Imprensa estatal (bem feita) VERSUS imprensa – empresa (sempre muito ruim)
Entreouvido
na Vila Vudu: A
Rússia fala da China. A China fala da Rússia. Nos dois casos, são jornais
oficiais: um do Governo da China, o outro do Partido Comunista
chinês.
Entre
um e outro, inserimos o comentário de comentarista especialista (não jornalista,
mas diplomata de carreira) bem informado.
Não
é muito mais informativo, do que só ouvir lampreias & celsoslafers,
comentados pelos williamswaacks? Taí. É ler e
comparar
Rússia e China: Parceria
estratégica em ação (1)
5/6/2012, Mikhail L.
Titarenko, China Daily, p.
9
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Mikhail L. Titarenko é presidente da Associação de Amizade Rússia-China e
diretor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente, da Academia Russa de
Ciências.
Mikhail L. Titarenko (E) e CHEN Dewen (D) na reunião preparatória para visita de Putin à China |
A
primeira visita do presidente russo Vladimir Putin à China, depois de empossado,
acontecerá dia 5/6. Há oito meses, em outubro de 2011, ainda candidato, Putin
visitou a China, com resultados proveitosos. As relações Rússia-China foram
definidas como de ampla interação estratégia e parceria de mútua confiança.
Depois da posse, dia 7/5, o presidente Putin assinou decreto pelo qual se
definiram as prioridades da política externa russa.
Esse
decreto introduziu novo foco na política externa russa, já divulgado em detalhes
em sete artigos que Putin publicou antes das eleições.
A
tarefa é alinhar o senso de identidade nacional dos russos e a política externa
russa com o genoma geográfico, civilizacional e cultural russo, o qual, como
Putin escreveu, é combinação orgânica dos “fundamentos da civilização europeia e
séculos de experiência em interações com o ocidente, onde hoje florescem
ativamente novos centros de poder econômico e influência política”. Ao longo da
campanha eleitoral, Putin disse que a Rússia precisa de uma China próspera; ao
mesmo tempo em que a China precisa de uma Rússia
próspera. Putin rejeitou a ideia de que o rápido crescimento da China implicasse
qualquer real ameaça à Rússia; rejeitou a ideia, como absolutamente
inadmissível. Ao contrário, apresentou o crescimento da Rússia como desfio que
estimularia o crescimento também da Rússia; e disse que ali está o vento que
cabe à Rússia aproveitar em suas velas.
Todos
esses são fatores que chamam a atenção para o excepcional valor da cooperação
“para todos os tempos, de calmaria e de borrasca”, entre Rússia e China.
A
proposta de Putin visitar a China, quando optou por não participar do recente
encontro do G8 nos EUA, gerou grande comoção na mídia internacional.
Com
certeza, a Rússia, assim como a China, considera estrategicamente importante
desenvolver laços com os EUA, a maior potência mundial. Mas os laços
estratégicos entre Rússia e China são resultado de dar-se atenção às lições da
história. Não são laços que visem a criar oposição a qualquer terceira nação,
nem têm qualquer tipo de objetivo confrontacional de “fazer amizades contra”
seja lá quem for.
Para
ambos os países, os conteúdos e o valor dessas relações não são predeterminados
por fatores de oportunidade, que podem ser favoráveis ou desfavoráveis. São
orientados pelo correto entendimento da similaridade ou coincidência entre os
interesses vitais dos dois países, e pelas ricas tradições de amizade e trocas
frutuosas. Essas relações são importante fator de estabilidade internacional, de
segurança nacional, de respeito à soberania e ao desenvolvimento comum.
Por
tudo isso, seria supersimplificar sugerir que ações pouco amistosas empreendidas
pelos EUA contra Rússia e/ou China tenham servido como impulso para criar uma
aliança sino-russa orientada contra os EUA e seus aliados. De fato, as ações dos
EUA estimularam diálogo mais ativo entre Rússia e China sobre questões de
política externa.
A
significação da próxima visita de Putin à China é determinada pela aguda
situação internacional, agravada pela ameaça de uma segunda onda na crise
econômica global. Assim sendo, as duas nações devem unir esforços, para elevar a
ampla parceria estratégica Rússia-China, além de empreender passos práticos para
o co-desenvolvimento do Extremo Oriente da Rússia e da Sibéria, e das províncias
do nordeste chinês.
Nessa
esfera, há vastas porções de “terra virgem” para cooperação ampla, duradoura e
mutuamente benéfica entre Rússia e China. Nessa conexão, parece que cada lado
deve “liberar a mente” e superar vieses e apreensões e preconceitos não raras
vezes irracionais e superficiais.
A
situação atual induz os dois países a ativar esforços para proteger os
princípios das leis internacionais e construir um sistema asiático de segurança
amplo, transparente e indivisível, que leve em contra os interesses dos grandes
e dos pequenos países.
Durante
sua visita à China, Putin participará da reunião de cúpula da Organização de
Cooperação de Xangai. A Organização de Cooperação de Xangai é bastante nova, mas
é organização influente, que ainda não completou o processo de formação, nem o
traçado de suas responsabilidades regionais.
A
eficiência e a escala dos esforços a serem empreendidos pela Organização de
Cooperação de Xangai dependem, em larga medida, da interação e da mútua
confiança entre China e Rússia.
A
existência de diferentes visões sobre a expansão do número de membros
permanentes dessa organização é normal e não deve ser interpretada como algum
tipo de competição entre Rússia e China pela liderança da organização.
A
unidade entre todos os países membros da Organização de Cooperação de Xangai e a
consolidação da responsabilidade coletiva de todos pela estabilidade sustentável
na Ásia Central, e contribuições para o crescimento econômico da região, além de
resolução mutuamente aceitável para os atuais problemas de desenvolvimento,
serão o foco de discussões profundas na próxima reunião de cúpula dos estados
membro da Organização de Cooperação de Xangai.
___________________________________
China-Rússia:
o problema é o gás russo
2/7/2012, MK
Bhadrakumar*, Indian Punchline
Blog
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
A retórica melíflua de “ampla
interação estratégia e parceria de mútua confiança” entre China e Rússia é
difícil de penetrar(artigo
1). Portanto,
não se deve deixar escapar nenhuma chance de espiar com olhos chineses, por trás
das cortinas. O jornal Global Times oferece claras pinceladas do
descontentamento dos chineses, no que tenha a ver com a cooperação com os russos
no campo da energia. O xis da questão são as longuíssimas negociações, que já
estão na nona rodada, ao longo dos últimos seis anos, sobre a cooperação no
campo do gás natural.
A
China usou todos os contatos de alto nível com a Rússia, nos últimos anos, para
tentar convencer os russos a aceitarem uma fórmula de conciliação. O ponto de
discórdia é o preço do gás russo. A China deseja que o preço seja fixado num
nível compatível com seus preços domésticos. A Rússia insiste que o parâmetro
deve ser o preço que os europeus pagam pelo gás russo. As duas posições são
lógicas e o impasse continua.
Uma
das razões pelas quais a China deu tanto destaque à visita do presidente russo
Vladimir Putin, mês passado, era a expectativa de que Moscou cedesse e, num
ímpeto de emoção, Putin assinasse o acordo do gás. Nada disso aconteceu. O
Global Times chinês lamenta que a Rússia seja tão pouco emotiva nos
negócios e busque “maximizar” seus lucros, recorrendo até ao expediente de mudar
de lugar as traves do gol.
Claro.
A China lamenta que o processo seja tão “exaustivo”, em negociações tão duras; e
espera que Moscou dê o justo valor ao fato de que “os recursos de petróleo e gás
vindos da Rússia são importantíssimos para a segurança da China.” O Global
Times, então, elabora sobre a dialética entre “confiança mútua” e cooperação
para fornecer gás.
Ao
mesmo tempo em que a confiança mútua é a “base” da cooperação energética entre
os dois países, os “conflitos e tribulações” nas inevitáveis negociações
oferecem “oportunidade perfeita” para que os dois lados aprendam sobre o quê, em
cada um, tanto atrai o outro, em termos de appeal político, econômico e
cultural... o que é ótimo para “aumentar a confiança mútua”. Assim sendo, nem
tudo está perdido, embora o acordo do gás continue distante e difícil.
O
artigo do Global Times chinês aí vai [a seguir, traduzido].
_____________________________________
Longas conversações para reforçar
os laços sino-russos (2)
1/7/2012, Global Times,
Pequim
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Ilustração: Sun Ying |
Comparados
aos calorosos laços políticos, as relações econômicas relativamente frias entre
Rússia e China têm provocado muitos comentários. A cooperação comercial tem
enfrentado dúvidas, divergências e longas rodadas de negociações, nas quais a
energia é campo crítico.
Em
dezembro de 2002,
a Corporação Nacional de Petróleo da China [ing. China
National Petroleum Corporation (CNPC)] foi convidada a participar do leilão de
ações da empresa russa de petróleo Slavneft. No início, dizia-se que a CNPC
estaria disposta a vencer o leilão. Mas, adiante, a Dumado Estado russo
divulgou comunicado em que lembrava a lei de privatização, que pressionaria a
CNPC a abandonar o leilão.
Depois
de sopesar a pressão política e os potenciais benefícios econômicos, a CNPC
finalmente decidiu retirar sua proposta.
Três
anos depois, a Comissão de Desenvolvimento e Reforma do Estado da China, o Banco
de Desenvolvimento do Estado e a CNPC assinaram um contrato de empréstimo de $6
bilhões com a Rússia. Ao mesmo tempo, os dois lados assinaram outro contrato
pelo qual a Rússia forneceria 48,4 milhões de toneladas de óleo cru à China, em
cinco anos.
Em
fevereiro de 2009, China e Rússia assinaram sete acordos sobre um pacote de
negócios de cooperação energética, entre os quais um acordo de empréstimo em
troca de petróleo.
Nos
termos desse negócio, a China ofereceria a empresas russas empréstimos de longo
prazo no valor de $25 bilhões, e a Rússia forneceria 300 milhões de toneladas de
óleo cru, pelo oleoduto, até a China, entre 2011 e 2030. Foi avanço
significativo na cooperação energética entre Rússia e China.
Apesar
de a cooperação avançar no que tenha a ver com petróleo, os negócios de gás
entre Rússia e China permanecem em discussão. As negociações foram iniciadas em
março de 2006, em viagem diplomática do presidente russo Vladimir Putin à China.
Desde então, China e Rússia entretiveram várias rodadas de negócios sobre a
cooperação para o gás natural, entre funcionários de alto escalão e empresários.
Mas
essas negociações chegaram a um gargalo, a saber, a diferença de preços.
Dia
1/6, o vice-primeiro-ministro chinês Wang Qishan compartilhou a direção da
oitava rodada de negociações sobre energia entre China e Rússia, com seu
contraparte russo, Arkady Dvorkovich. Nessa reunião, China e Rússia buscaram
estreitar os laços de cooperação no que tenham a ver com gás, preparando a
visita de Putin. E quando Putin visitou Pequim, em meados de junho, as
negociações de gás natural continuavam no topo da agenda. Infelizmente, não foi
possível fechar negócio e novas conversações estão sendo organizadas para o
futuro.
Tendo
participado de negociações entre China e Rússia, sobre a questão da cooperação
energética, sei o quanto podem ser exaustivas. Os delegados russos não raras
vezes mudam determinados itens da negociação, sempre com vistas a aumentar os
lucros russos.
Mas
não há dúvidas de que a cooperação no campo da energia é importante fator da
parceria de cooperação estratégica. A China já ultrapassou o Japão e em 2009
tornou-se o segundo maior importador mundial de óleo cru; e, em 2011, as
importações de petróleo estrangeiro rompeu a barreira crítica dos 50%. São
números que mostram que os recursos de petróleo e gás russos são itens
importantes da segurança da China no campo energético. E a confiança mútua entre
os dois gigantes é a base da cooperação energética.
Ainda
haverá confrontos entre chineses e russos nos negócios de energia, sempre em
torno do preço. Nesse sentido, se a China insistir em importar petróleo e gás
russos a preço que não exceda o do mercado interno, a Rússia pode interessar-se
mais por aumentar suas exportações de petróleo e gás para a Europa.
Uma
solução para a diferença nos preços deve ser ainda buscada, para aumentar a
cooperação substantiva entre os dois países. Rússia e China estarão mais
intimamente associadas, também por laços de mútuo interesse econômico. Embora
conflitos e tribulações sejam inevitáveis nas negociações, eles também oferecem
oportunidade perfeita para que os dois lados aprendam sobre o quê, em cada um,
tanto atrai o outro, em termos de appeal político, econômico e cultural.
Todos esses fatores fazem aumentar a confiança mútua.
Notas dos
tradutores
[1] 5/6/2012, “Strategic
partnership at work”, Mikhail L. Titarenko, China Daily, Pequim.
[2] Esse artigo é compilação, redigida pelo repórter Fu
Giang (fuqiang@globaltimes.com.cn) para o Global Times, de recente
palestra de Wang Haiyan, pesquisador do Departamento Internacional da CNPC, na
Universidade de Pequim (Nota da Redação de Global
Times).
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