sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entender pelo exemplo: “Imprensa pública VERSUS Imprensa-empresa”


Imprensa estatal (bem feita) VERSUS imprensa – empresa (sempre muito ruim)

Entreouvido na Vila Vudu: A Rússia fala da China. A China fala da Rússia. Nos dois casos, são jornais oficiais: um do Governo da China, o outro do Partido Comunista chinês.
Entre um e outro, inserimos o comentário de comentarista especialista (não jornalista, mas diplomata de carreira) bem informado. 
Não é muito mais informativo, do que só ouvir lampreias & celsoslafers, comentados pelos williamswaacks? Taí. É ler e comparar

Rússia e China: Parceria estratégica em ação (1)

5/6/2012, Mikhail L. Titarenko, China Daily, p. 9
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Mikhail L. Titarenko é presidente da Associação de Amizade Rússia-China e diretor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente, da Academia Russa de Ciências.

Mikhail L. Titarenko (E) e CHEN Dewen (D) na reunião
preparatória para visita de Putin à China
A primeira visita do presidente russo Vladimir Putin à China, depois de empossado, acontecerá dia 5/6. Há oito meses, em outubro de 2011, ainda candidato, Putin visitou a China, com resultados proveitosos. As relações Rússia-China foram definidas como de ampla interação estratégia e parceria de mútua confiança. Depois da posse, dia 7/5, o presidente Putin assinou decreto pelo qual se definiram as prioridades da política externa russa.

Esse decreto introduziu novo foco na política externa russa, já divulgado em detalhes em sete artigos que Putin publicou antes das eleições.

A tarefa é alinhar o senso de identidade nacional dos russos e a política externa russa com o genoma geográfico, civilizacional e cultural russo, o qual, como Putin escreveu, é combinação orgânica dos “fundamentos da civilização europeia e séculos de experiência em interações com o ocidente, onde hoje florescem ativamente novos centros de poder econômico e influência política”. Ao longo da campanha eleitoral, Putin disse que a Rússia precisa de uma China próspera; ao mesmo tempo em que a China precisa de uma Rússia próspera. Putin rejeitou a ideia de que o rápido crescimento da China implicasse qualquer real ameaça à Rússia; rejeitou a ideia, como absolutamente inadmissível. Ao contrário, apresentou o crescimento da Rússia como desfio que estimularia o crescimento também da Rússia; e disse que ali está o vento que cabe à Rússia aproveitar em suas velas.

Todos esses são fatores que chamam a atenção para o excepcional valor da cooperação “para todos os tempos, de calmaria e de borrasca”, entre Rússia e China.

A proposta de Putin visitar a China, quando optou por não participar do recente encontro do G8 nos EUA, gerou grande comoção na mídia internacional.

Com certeza, a Rússia, assim como a China, considera estrategicamente importante desenvolver laços com os EUA, a maior potência mundial. Mas os laços estratégicos entre Rússia e China são resultado de dar-se atenção às lições da história. Não são laços que visem a criar oposição a qualquer terceira nação, nem têm qualquer tipo de objetivo confrontacional de “fazer amizades contra” seja lá quem for.

Para ambos os países, os conteúdos e o valor dessas relações não são predeterminados por fatores de oportunidade, que podem ser favoráveis ou desfavoráveis. São orientados pelo correto entendimento da similaridade ou coincidência entre os interesses vitais dos dois países, e pelas ricas tradições de amizade e trocas frutuosas. Essas relações são importante fator de estabilidade internacional, de segurança nacional, de respeito à soberania e ao desenvolvimento comum.

Por tudo isso, seria supersimplificar sugerir que ações pouco amistosas empreendidas pelos EUA contra Rússia e/ou China tenham servido como impulso para criar uma aliança sino-russa orientada contra os EUA e seus aliados. De fato, as ações dos EUA estimularam diálogo mais ativo entre Rússia e China sobre questões de política externa.

A significação da próxima visita de Putin à China é determinada pela aguda situação internacional, agravada pela ameaça de uma segunda onda na crise econômica global. Assim sendo, as duas nações devem unir esforços, para elevar a ampla parceria estratégica Rússia-China, além de empreender passos práticos para o co-desenvolvimento do Extremo Oriente da Rússia e da Sibéria, e das províncias do nordeste chinês.

Nessa esfera, há vastas porções de “terra virgem” para cooperação ampla, duradoura e mutuamente benéfica entre Rússia e China. Nessa conexão, parece que cada lado deve “liberar a mente” e superar vieses e apreensões e preconceitos não raras vezes irracionais e superficiais.

A situação atual induz os dois países a ativar esforços para proteger os princípios das leis internacionais e construir um sistema asiático de segurança amplo, transparente e indivisível, que leve em contra os interesses dos grandes e dos pequenos países.

Durante sua visita à China, Putin participará da reunião de cúpula da Organização de Cooperação de Xangai. A Organização de Cooperação de Xangai é bastante nova, mas é organização influente, que ainda não completou o processo de formação, nem o traçado de suas responsabilidades regionais.

A eficiência e a escala dos esforços a serem empreendidos pela Organização de Cooperação de Xangai dependem, em larga medida, da interação e da mútua confiança entre China e Rússia.

A existência de diferentes visões sobre a expansão do número de membros permanentes dessa organização é normal e não deve ser interpretada como algum tipo de competição entre Rússia e China pela liderança da organização.

A unidade entre todos os países membros da Organização de Cooperação de Xangai e a consolidação da responsabilidade coletiva de todos pela estabilidade sustentável na Ásia Central, e contribuições para o crescimento econômico da região, além de resolução mutuamente aceitável para os atuais problemas de desenvolvimento, serão o foco de discussões profundas na próxima reunião de cúpula dos estados membro da Organização de Cooperação de Xangai.

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China-Rússia: o problema é o gás russo

2/7/2012, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline Blog
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

A retórica melíflua de “ampla interação estratégia e parceria de mútua confiança” entre China e Rússia é difícil de penetrar(artigo 1). Portanto, não se deve deixar escapar nenhuma chance de espiar com olhos chineses, por trás das cortinas. O jornal Global Times oferece claras pinceladas do descontentamento dos chineses, no que tenha a ver com a cooperação com os russos no campo da energia. O xis da questão são as longuíssimas negociações, que já estão na nona rodada, ao longo dos últimos seis anos, sobre a cooperação no campo do gás natural.

A China usou todos os contatos de alto nível com a Rússia, nos últimos anos, para tentar convencer os russos a aceitarem uma fórmula de conciliação. O ponto de discórdia é o preço do gás russo. A China deseja que o preço seja fixado num nível compatível com seus preços domésticos. A Rússia insiste que o parâmetro deve ser o preço que os europeus pagam pelo gás russo. As duas posições são lógicas e o impasse continua.

Uma das razões pelas quais a China deu tanto destaque à visita do presidente russo Vladimir Putin, mês passado, era a expectativa de que Moscou cedesse e, num ímpeto de emoção, Putin assinasse o acordo do gás. Nada disso aconteceu. O Global Times chinês lamenta que a Rússia seja tão pouco emotiva nos negócios e busque “maximizar” seus lucros, recorrendo até ao expediente de mudar de lugar as traves do gol.

Claro. A China lamenta que o processo seja tão “exaustivo”, em negociações tão duras; e espera que Moscou dê o justo valor ao fato de que “os recursos de petróleo e gás vindos da Rússia são importantíssimos para a segurança da China.” O Global Times, então, elabora sobre a dialética entre “confiança mútua” e cooperação para fornecer gás.

Ao mesmo tempo em que a confiança mútua é a “base” da cooperação energética entre os dois países, os “conflitos e tribulações” nas inevitáveis negociações oferecem “oportunidade perfeita” para que os dois lados aprendam sobre o quê, em cada um, tanto atrai o outro, em termos de appeal político, econômico e cultural... o que é ótimo para “aumentar a confiança mútua”. Assim sendo, nem tudo está perdido, embora o acordo do gás continue distante e difícil.

O artigo do Global Times chinês aí vai [a seguir, traduzido].
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Longas conversações para reforçar os laços sino-russos (2)

1/7/2012, Global Times, Pequim
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Ilustração: Sun Ying 
Comparados aos calorosos laços políticos, as relações econômicas relativamente frias entre Rússia e China têm provocado muitos comentários. A cooperação comercial tem enfrentado dúvidas, divergências e longas rodadas de negociações, nas quais a energia é campo crítico.

Em dezembro de 2002, a Corporação Nacional de Petróleo da China [ing. China National Petroleum Corporation (CNPC)] foi convidada a participar do leilão de ações da empresa russa de petróleo Slavneft. No início, dizia-se que a CNPC estaria disposta a vencer o leilão. Mas, adiante, a Dumado Estado russo divulgou comunicado em que lembrava a lei de privatização, que pressionaria a CNPC a abandonar o leilão.

Depois de sopesar a pressão política e os potenciais benefícios econômicos, a CNPC finalmente decidiu retirar sua proposta.

Três anos depois, a Comissão de Desenvolvimento e Reforma do Estado da China, o Banco de Desenvolvimento do Estado e a CNPC assinaram um contrato de empréstimo de $6 bilhões com a Rússia. Ao mesmo tempo, os dois lados assinaram outro contrato pelo qual a Rússia forneceria 48,4 milhões de toneladas de óleo cru à China, em cinco anos.

Em fevereiro de 2009, China e Rússia assinaram sete acordos sobre um pacote de negócios de cooperação energética, entre os quais um acordo de empréstimo em troca de petróleo.

Nos termos desse negócio, a China ofereceria a empresas russas empréstimos de longo prazo no valor de $25 bilhões, e a Rússia forneceria 300 milhões de toneladas de óleo cru, pelo oleoduto, até a China, entre 2011 e 2030. Foi avanço significativo na cooperação energética entre Rússia e China.

Apesar de a cooperação avançar no que tenha a ver com petróleo, os negócios de gás entre Rússia e China permanecem em discussão. As negociações foram iniciadas em março de 2006, em viagem diplomática do presidente russo Vladimir Putin à China. Desde então, China e Rússia entretiveram várias rodadas de negócios sobre a cooperação para o gás natural, entre funcionários de alto escalão e empresários.

Mas essas negociações chegaram a um gargalo, a saber, a diferença de preços.

Dia 1/6, o vice-primeiro-ministro chinês Wang Qishan compartilhou a direção da oitava rodada de negociações sobre energia entre China e Rússia, com seu contraparte russo, Arkady Dvorkovich. Nessa reunião, China e Rússia buscaram estreitar os laços de cooperação no que tenham a ver com gás, preparando a visita de Putin. E quando Putin visitou Pequim, em meados de junho, as negociações de gás natural continuavam no topo da agenda. Infelizmente, não foi possível fechar negócio e novas conversações estão sendo organizadas para o futuro.

Tendo participado de negociações entre China e Rússia, sobre a questão da cooperação energética, sei o quanto podem ser exaustivas. Os delegados russos não raras vezes mudam determinados itens da negociação, sempre com vistas a aumentar os lucros russos.

Mas não há dúvidas de que a cooperação no campo da energia é importante fator da parceria de cooperação estratégica. A China já ultrapassou o Japão e  em 2009 tornou-se o segundo maior importador mundial de óleo cru; e, em 2011, as importações de petróleo estrangeiro rompeu a barreira crítica dos 50%. São números que mostram que os recursos de petróleo e gás russos são itens importantes da segurança da China no campo energético. E a confiança mútua entre os dois gigantes é a base da cooperação energética.

Ainda haverá confrontos entre chineses e russos nos negócios de energia, sempre em torno do preço. Nesse sentido, se a China insistir em importar petróleo e gás russos a preço que não exceda o do mercado interno, a Rússia pode interessar-se mais por aumentar suas exportações de petróleo e gás para a Europa.

Uma solução para a diferença nos preços deve ser ainda buscada, para aumentar a cooperação substantiva entre os dois países. Rússia e China estarão mais intimamente associadas, também por laços de mútuo interesse econômico. Embora conflitos e tribulações sejam inevitáveis nas negociações, eles também oferecem oportunidade perfeita para que os dois lados aprendam sobre o quê, em cada um, tanto atrai o outro, em termos de appeal político, econômico e cultural. Todos esses fatores fazem aumentar a confiança mútua.



Notas dos tradutores

[1] 5/6/2012, “Strategic partnership at work”, Mikhail L. Titarenko, China Daily, Pequim. 

[2] Esse artigo é compilação, redigida pelo repórter Fu Giang (fuqiang@globaltimes.com.cn) para o Global Times, de recente palestra de Wang Haiyan, pesquisador do Departamento Internacional da CNPC, na Universidade de Pequim (Nota da Redação de Global Times).

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