terça-feira, 30 de abril de 2013

Discurso do Aiatolá Ali Khamenei, Líder Supremo da Revolução Islâmica Iraniana


Conferência da Comunidade Mundial Muçulmana e Despertar Islâmico em 29/4/2013

29/4/2013, Íntegra do Discurso de Abertura, Teerã, The Shia Post
Traduzido do inglês pelo pessoal da Vila Vudu


Aiatolá Ali Khamenei
Em nome de Alá, o Generoso, o Misericordioso.

Todas as honras a Alá, Senhor dos Mundos. Que cubra de paz e recompensas nosso Mestre, Maomé al-Mustafa, e sua família imaculada, seus companheiros escolhidos e os que os seguem, até o Dia do Julgamento.

Recebam nossas boas-vindas, honrados hóspedes. Peço a Deus, Superior e Generoso, que abençoe esse esforço coletivo e faça dele um passo efetivo para a felicidade dos muçulmanos. “Ele sempre ouve e responde.”

Hoje, o assunto do Despertar Islâmico, que vocês discutirão nessa conferência, ocupa o primeiro lugar dentre as questões do mundo islâmico e da Ummah [comunidade] islâmica, bem-vindo fenômeno, que resultará na re-emergência da civilização islâmica – para a Ummah e, portanto, para todo o mundo – em futuro não muito distante, desde que, se Alá o permitir, permaneça saudável e promissora.

Hoje, o que todos vemos à frente dos olhos e não pode ser negado por nenhum indivíduo informado e inteligente é que o mundo do Islã emergiu da periferia das equações sociais e políticas do mundo; que tem hoje posição proeminente, destacada, no centro de eventos globais decisivos; e que oferece modo novo de ver a vida, a política, o governo e os desenvolvimentos sociais. É fenômeno considerado importante e significativo no mundo contemporâneo, que sofre num profundo vácuo intelectual e teórico, depois do fracasso do comunismo e do liberalismo.

Esse é o primeiro sinal de eventos políticos e revolucionários no Norte da África e da região árabe em escala global, sinal, ele próprio, de grandes verdades que virão à luz no futuro.

O Despertar Islâmico, que as vozes no campo reacionário e arrogante sequer ousam pôr em palavras, é verdade cujos sinais se veem em quase todos os pontos do mundo islâmico.

O sinal mais óbvio é o entusiasmo na opinião pública, sobretudo entre os jovens, para reviver a glória e a grandeza do Islã, para tomar consciência da natureza da ordem internacional, que é ordem de dominação, e para remover a máscara que esconde os rostos desavergonhados, opressores e arrogantes de governos e centros que nada fazem além de torturar em suas garras o Oriente islâmico e não islâmico, há mais de 200 anos; e que expõem países à ânsia deles, brutal e agressiva, cada vez por mais poder, ânsia que mostram disfarçada sob uma máscara de civilização e cultura.

As dimensões desse auspicioso despertar são amplas e misteriosas, mas o que se viu de seus feitos recentes em alguns poucos países do Norte da África basta para nos fazer confiar que haverá resultados notáveis, no futuro.

O miraculoso cumprimento de promessas divinas é sempre sinal inspirador de esperanças de que grandes promessas também se cumprirão.

O relato corânico das duas promessas que Alá o Misericordioso fez à mãe do Profeta Moisés é exemplo dessa tática divina. Naquele momento difícil, quando lhe foi ordenado que ela jogasse ao rio o próprio filho, numa cesta, Alá o Misericordioso disse: “Nós com certeza O traremos de volta a você e faremos Dele um dos mensageiros” [Santo Corão, Sura al-Qasas, Ayah 7].

O cumprimento da primeira promessa, que foi a menor, e causa de felicidade para a mãe, tornou-se o signo do cumprimento da missão profética, que era muito maior e, claro, exigia muito sofrimento, muita luta e muita paciência: “Assim Nós o devolveremos à mãe, cujos olhos serão refrescados, e ela não sofrerá e saberá que é verdadeira a promessa de Alá” [Santo Corão, Sura al-Qasas, Ayah 13].

Essa verdadeira promessa foi a grande missão que foi cumprida muitos anos depois e mudou o curso da história.

Outro exemplo é a recordação do superior poder de Deus para expulsar os invasores da Casa Santa: para estimular Seu público mediante o Santo Profeta, a submeter-se à Sua ordem, Alá o Misericordioso usa esse exemplo, “então eles serviram o Senhor na casa Dele” [Santo Corão, Sura Quraysh, Ayah 3] e diz, “Não fará Ele que a guerra deles termine em confusão?” [Santo Corão, Sura al-Fil, Ayah 2].

Assim também, para elevar o espírito de Seu amado Profeta e convencê-lo da verdade da promessa, “o seu Senhor não o abandonou, nem está desagradado” [Santo Corão, Sura ad-Dhuha, Ayah 3], Alá o Misericordioso faz-nos lembrar da bênção miraculosa: “Ele não encontrou você, órfão, e deu-lhe abrigo? Ele encontrou você perdido e guiou-o.” [Santo Corão, Sura ad-Dhuha, Ayah 6-7]. E o Santo Corão é farto de exemplos como esses.

No dia em que o Islã venceu no Irã e conseguiu tomar a fortaleza ocupada por EUA e pelo sionismo, num dos mais importantes países do mundo, nessa região tão extremamente sensível, os lúcidos e inteligentes rapidamente entenderam que, se tivessem visão e paciência, outras vitórias viriam, uma depois da outra.

As verdades luminosas da República Islâmica, reconhecidas por nossos inimigos, foram alcançadas, todas, com confiança nas promessas divinas, com paciência, resistência e a ajuda de Deus. À face de tentações que os fracos traziam durantes esses tempos tensos e gritavam que “seremos derrotados, sem dúvida”, [Santo Corão, Sura ash-Shuara, Ayah 61], nosso povo sempre gritou, em resposta: “nunca nos derrotarão. Meu Senhor está comigo e Ele me guiará” [Santo Corão, Sura ash-Shuara, Ayah 62].

Hoje, essa é preciosa experiência acessível aos povos que se levantam contra a arrogância e a tirania e conseguiram derrubar e abalar governos corruptos, subservientes e dependentes dos EUA.

Resistência, paciência, visão e fé na promessa divina “Alá com certeza ajudará os que ajudam Sua causa” pavimentarão o caminho da glória da Ummah Islâmica, até que alcance o pico da civilização islâmica.

Nessa importante reunião, da qual participam intelectuais e pensadores religiosos da Ummah Islâmica de diferentes países e denominações islamistas, parece-me adequado discutir alguns pontos necessários, relacionados ao Despertar Islâmico.

O primeiro ponto é que nas ondas iniciais do Despertar Islâmico nos países dessa região, que começaram simultaneamente com a entrada dos pioneiros do colonialismo, foram provocadas principalmente pela religião ou por reformadores religiosos.

Os nomes dos principais líderes e personalidades – como Sayyid Jamal ad-Din, Muhammad Abduh, Mirza-e Shirazi, Akhund-e Khorasani, Mahmoud al-Hassan, Muhammad Ali, Sheikh Fazlollah, Hajj Agha Noorullah, AbulA’laMaududi e dezenas de afamados, grandes mujahid e clérigos influentes do Irã, Egito, Índia e Iraque – serão lembrados para sempre nos livros de História. Do mesmo modo, na era contemporânea, o brilhante nome do grande Imã Khomeini brilha como estrela luminosa do futuro da Revolução Islâmica.

Assim também, hoje e no passado, centenas de intelectuais religiosos famosos e milhares de outros menos conhecidos, desempenharam e desempenham papel importante em grandes e pequenos movimentos de reforma em diferentes países. A lista de reformadores religiosos não clérigos, como Hassan al-Banna e IqbalLahori, também é longa e impressionante.

Praticamente por toda parte, clérigos e teólogos atuam como autoridade intelectual e suporte espiritual para o povo, e por onde surgiram brilharam no papel de guias e pioneiros ao tempo dos grandes desenvolvimentos e têm feio andar avante as linhas de vanguarda de movimentos populares, enfrentando todo o tipo de perigo; o laço intelectual entre eles e o povo só faz fortalecer-se e desempenham papel crucial, no trabalho de indicar o caminho ao povo.

Isso é tão benéfico à onda do Despertar Islâmico quando desagrada e perturba os inimigos da Ummah Islâmica, os que têm preconceito contra o Islã e os que se opõem aos valores islâmicos. E esses estão tentando roubar essa autoridade intelectual dos centros religiosos, e criar novos centros para substituí-los. Sabem, porque aprenderam da experiência, que podem facilmente interferir nesses centros, onde tentam quebrar os princípios e valores nacionais – o que de modo algum conseguiriam no caso de intelectuais religiosos e personalidades religiosas devotas.

Esse processo torna ainda mais pesada a responsabilidade dos intelectuais religiosos. Com cautela e espírito vigilante, e desmascarando os métodos e maquinações do inimigo, devem fechar completamente a porta a qualquer infiltração, e devem, assim, fazer gorar os projetos do inimigo.

Um dos grandes riscos é deixar-se atrair pela riqueza mundana. Exposição aos favores dos ricos e dos poderosos, endividar-se em antros de ganância e poder são a causa mais perigosa da separação que acontece, quando eles separam-se do povo, perdem a amizade do povo e a confiança do povo.

O autocentrismo e a sede de poder, que arrasta indivíduos fracos a inclinar-se na direção dos polos de poder, preparam o terreno para que se deixem envolver em corrupção e vícios. É preciso manter em mente sempre esse santo ayah corânico: “[quanto ao futuro] Nós o reservamos aos que não desejem se autoexaltar na terra nem fazer o mal. E o bom resultado final é reservado aos que se guardem [contra o mal]” [Santo Corão, Sura al-Qasas, Ayah 83].

Hoje, em tempos de tantos movimentos inspiradores no Despertar Islâmico, veem-se, às vezes, algumas coisas que, por um lado, mostram os esforços que fazem os agentes dos EUA e do sionismo para inventar autoridades intelectuais em quem ninguém pode confiar; e mostram também, por outro lado, os esforços de infelizes Qaruns, [1] para arrastar gente religiosa e pia na direção de suas atividades envenenadas e contaminadas. Intelectuais religiosos e os homens pios devem ser extremamente cuidadosos e vigilantes.

O segundo ponto é a necessidade de delinear-se uma meta de longo prazo para o Despertar Islâmico em países muçulmanos – alto e nobre objetivo que dará orientação ao despertar nas nações e ajudá-las-á a chegar a um dado ponto proposto. Ao identificar esse ponto específico, será então possível preparar um mapa do caminho, especificando nele os objetivos de médio prazo e de longo prazo.

Esse objetivo final só pode ser a criação de uma brilhante civilização islâmica. Todas as partes da Ummah Islâmica – sob a forma de diferentes nações e países – devem alcançar tal posição civilizacional especificada no Santo Corão. A característica geral e principal dessa civilização é permitir que os seres humanos usem plenamente as capacidades materiais e espirituais que Alá o Misericordioso depositou neles, como ferramentas para criar felicidade e transcendência para toda a humanidade.

A estrutura de superfície dessa civilização pode e deve estar presente no governo popular, nas leis extraídas do Santo Corão, no trabalho de identificar e cuidar de suprir as diferentes necessidades humanas, evitando atitudes rígidas e reacionárias, tanto quanto a inovação ou adulteração intestadas, gerando riqueza pública e bem-estar social, implantando a justiça, libertando-nos de uma economia baseada em privilégios especiais e na usura e que se orgulha de ostentar riqueza, promovendo valores humanos, defendendo os povos oprimidos do mundo, com imaginação e muito trabalho. Adotar uma abordagem ijtihadi [2] e de especialista nas diversas áreas – das humanidades ao sistema de educação formal; da economia e banking à produção técnica e tecnológica; da moderna mídia à arte e ao cinema e às relações internacionais e outros campos – é uma das exigências inevitáveis para construir essa civilização.

A experiência já mostrou que tudo isso é possível e está ao alcance das capacidades das comunidades muçulmanas. Essa visão não deve ser discutida com pressa, nem com espírito pessimista. Ser pessimista quanto às próprias capacidades é ingratidão, ante as bênçãos que recebemos de Deus; é fazer pouco caso da ajuda de Deus e cultivar “pensamentos do mal sobre Alá” [Santo Corão, Sura al-Fath, Ayah 6].

Podemos quebrar a cadeia dos monopólios científicos, econômicos e políticos das potências dominantes e ajudar a Ummah a ser pioneira na restauração dos direitos da maioria das nações do mundo – até hoje dominada por um punhado de potências arrogantes, minoritárias.

Pela fé religiosa, pelo conhecimento, pela ética e pela luta constante, a civilização islâmica pode oferecer um presente avançado e códigos nobres de comportamento à Ummah islâmica e a toda a humanidade. E pode ser o ponto de libertação da visão materialista e opressiva e dos códigos corrompidos de comportamento que são os tristes pilares da atual civilização ocidental.

O terceiro ponto é que nos movimentos do Despertar Islâmico é preciso prestar atenção constante à amarga, horrenda experiência de seguir o ocidente na política, no comportamento e no estilo de vida.

Em mais de um século de seguir a cultura e a política das potências arrogantes, países muçulmanos sofreram calamidades mortais, como a humilhação e a dependência política, pragas econômicas e miséria, declínio das virtudes morais e éticas e vergonhoso atraso científico e, isso, enquanto a Ummah muçulmana vivia história gloriosa em todos esses campos.

Essa declaração não deve ser interpretada como hostilidade contra o ocidente. Não somos hostis a nenhum grupo de seres humanos por causa de diferenças geográficas. Aprendemos as lições de Ali [que todas as bênçãos recaiam sobre ele], que assim descreve os seres humanos: “Os que têm a mesma religião que você, são seus irmãos; e os que têm outras religiões diferentes da sua, são também seres humanos, como você”.

Nossa voz clama contra a opressão e a arrogância e contra os abusos e transgressões na moral, e contra a degeneração prática que foi imposta a nossas nações pelas potências coloniais e arrogantes.

Atualmente, todos testemunham os abusos e a interferência dos EUA e de alguns de seus seguidores na região e nos países nos quais a brisa do despertar converteu-se numa tempestade de levantes e revoluções. As promessas que fazem não devem afetar as decisões nem as ações de destacadas personalidades políticas nem o grande movimento do povo.

Também nesse caso, precisamos nos servir das lições que aprendemos de nossa experiência: os que depositaram suas esperanças nas promessas dos EUA durante anos, e basearam seu comportamento e suas políticas na inclinação a favor do opressor e da opressão, não conseguiram resolver nenhum dos problemas de suas nações ou eliminar a injustiça contra eles mesmos ou contra outros.

Renderam-se aos EUA. Nem por isso conseguiram impedir a demolição de uma única casa, que fosse, de palestinos, num território que pertence aos palestinos. Políticos e autoridades que se deixaram enganar por suborno ou intimidar pelas ameaças das potências arrogantes e perderam a grande oportunidade do Despertar Islâmico têm muito com que se preocupar, ante essa ameaça divina: “Não viram os que trocaram o favor de Alá por ingratidão e empurraram o próprio povo, pela perdição, para o inferno? Eles lá entrarão e aquele é mau lugar para viver” [Santo Corão, Sura Ibrahim, Ayah 28-29].

O quarto ponto é que hoje uma das coisas mais perigosas que ameaçam os movimentos do Despertar Islâmico são os esforços para fomentar a discórdia e fazer, daqueles movimentos, conflitos sectários, étnicos e nacionais sangrentos.

Hoje esse é o complô no qual trabalham empenhadamente os serviços de inteligência ocidentais e o sionismo, com a ajuda de petrodólares e políticos subornados, do Leste da Ásia ao Norte da África, particularmente na região árabe. E o dinheiro que poderia ter sido usado para trazer felicidade à humanidade está sendo usado para ameaçar, excomungar, assassinar, bombardear, derramar sangue muçulmano e fazer crescer o fogo de lutas que se arrastam por muito tempo.

Os que consideram o poder unificado do Islã como obstáculo na via para alcançarem seus objetivos do mal chegaram à conclusão de que soprar as chamas de conflitos e disputas dentro da Ummah Islâmica é o caminho mais fácil para alcançar seus objetivos satânicos. E usaram diferenças de opinião na jurisprudência islâmica, kalaam, [3] história e hadith [4] – diferenças que são naturais e inevitáveis – como pretexto para excomungar, matar, ferir e causar fitna [5] e corrupção.

Um olhar atento sobre a cena de conflitos domésticos perceberá claramente as mãos do inimigo por trás dessas tragédias. São mãos de falsidade e burla, que, sem dúvida, tiram vantagem da ignorância, do preconceito e da superficialidade que há em nossas sociedades; e jogam gasolina nas fogueiras. Quanto a isso, é enorme e pesadíssima a responsabilidade de reformadores religiosos e políticos e de personalidades de destaque.

Hoje, a Líbia, o Egito e Tunísia, a Síria, o Paquistão, e Iraque e Líbano estão, de um ou de outro modo, envolvidos ou expostos a essas chamas perigosas.

É preciso ser extremamente cauteloso e buscar remédio. Seria ingenuidade pensar que todas essas coisas devem-se a fatores ou motivos ideológicos e étnicos.

Campanhas de propaganda do ocidente e da imprensa-empresa mercenária e dependente na região insiste em repetir que a guerra que está destruindo a Síria seria conflito xiitas versus sunitas; criaram uma cerca de proteção atrás da qual se acocoram os sionistas e os inimigos da resistência na Síria e no Líbano. Isso, quando se sabe que os lados em guerra na Síria não são xiitas e sunitas: são os apoiadores e os que se opõem à resistência antissionistas. Nem o governo sírio é governo xiita, nem a oposição anti-Islã, secular, que luta contra o governo é grupo sunita.

A única coisa que esses criadores de ardis e complôs e do atual cenário calamitoso fizeram foi usar os sentimentos religiosos do povo mais simples para atear fogo assassino à região. Basta examinar a cena e os envolvidos nela em diferentes níveis, para entender claramente a questão e poder explicá-la a qualquer pessoa.

Também no caso do Bahrain, essa onda de propaganda se espalha, distribuindo mentiras e falsidades, mas de outro modo. No Bahrain, a maioria oprimida – privada do direito de votar, além de outros direitos fundamentais de qualquer nação – ergueram-se e exigem direitos que são deles. Por que inventar que seria conflito xiita-sunita, que não é? A verdade é que no Bahrain a maioria oprimida é xiita; e o governo opressor secular finge ser sunita. Claro que os colonialistas europeus e norte-americanos e seus amigos na região querem fazer-crer que a realidade seria o que não é. Mas por que não dizem a verdade?

Esses são os temas que reclamam a atenção de intelectuais religiosos e reformadores justos, sobre os quais devem pensar cuidadosamente, sentir a real responsabilidade que lhes cabe e identificar com clareza os objetivos do inimigo que tanto se empenha em acirrar diferenças sectárias, étnicas e partidárias. Esse é dever de todos.

O quinto ponto é que um dos padrões pelos quais avaliar se os movimentos do Despertar Islâmico estão no caminho correto são as posições que adotarem na questão da Palestina.

Faz 60 anos, sem parar, até hoje, a ocupação da Palestina é a maior e mais terrível tragédia que se abateu sobre a Ummah Islâmica.

Desde o primeiro dia, até hoje, a tragédia da Palestina é uma combinação de matança, assassinatos, destruição, usurpação e transgressão contra tudo que é sagrado no Islã.

A necessidade de construir uma resistência contra esse inimigo belicista e usurpador e combatê-lo sem trégua é dado sobre o qual há perfeito acordo, entre todas as denominações islâmicas e todas as correntes políticas nacionais saudáveis.

Grupo ou corrente, em país islâmico, que descuide dessa responsabilidade religiosa, política e nacional, por qualquer tipo de consideração ao que digam ou exijam os EUA, ou sob o pretexto de “justificativas” irracionais, que não espere ser visto como leal ao Islã ou sincero, em suas reivindicações nacionalistas.

É um teste. Quem diga que não aceita a bandeira da libertação de Jerusalém, da salvação da nação palestina e dos territórios palestinos, ou que desminta ou traia essa bandeira, e dê as costas ao campo da Resistência, será condenado. A Ummah Islâmica tem de manter em mente, com perfeita e fundamental clareza, esse padrão, onde for e quando for.

Queridos hóspedes, irmãos e irmãs, nunca percam de vista o ardil do inimigo. Cada vez que nossa vigilância diminui, surgem oportunidades para nossos inimigos.

A lição que Ali (que todas as bênçãos desçam sobre ele) nos ensina é que “quem desleixa a própria causa, não conte com que o inimigo durma sobre essa vantagem”. Quanto a isso, nossa experiência na Revolução Islâmica também é fonte de lições.

Depois da vitória da Revolução Islâmica no Irã, os arrogantes governos do ocidente e dos EUA – que há muito tempo mantinham pleno controle sobre taghuts iranianos e dedicavam-se a tentar determinar o destino político, econômico e cultural de nosso país, mas subestimaram o enorme poder da fé islâmica em nossa sociedade, e que não conhecem o poder do Islã e do Santo Corão para mobilizar forças e guiá-las – perceberam, de repente, que não sabiam muito mais do que sabiam. Então, suas organizações estatais, governamentais, serviços de inteligência e salas de controle recomeçaram o serviço, tentando recuperar-se da arrasadora derrota que haviam sofrido.

Vimos uma variedade enorme de complôs e maquinações deles, ao longo dos últimos mais de 30 anos. De fato, sempre houve dois fatores que sempre derrotaram os complôs, ardis e maquinações deles: insistimos na defesa dos princípios islâmicos; e o povo iraniano sempre esteve em cena. Esses dois fatores são chaves para os problemas, por toda parte.

O primeiro fator é garantido por sincera fé religiosa nas promessas divinas.

O segundo fator é garantido por esforços sinceros e honesto trabalho de esclarecimento e explicação.

Nação que acredite na honestidade e sinceridade de seus líderes levará suas lutas adiante, com entusiasmo; e onde e quando uma nação mantém-se em cena com sólida determinação, nenhuma potência de fora terá capacidade para derrotá-la.

Essa é uma experiência de sucesso, útil a todas as nações que viveram e vivem o Despertar Islâmico.

Que Alá o Misericordioso espalhe sua orientação, seu socorro e sua generosidade sobre vocês e sobre todas as nações muçulmanas.

Que as bênçãos de Alá estejam com vocês.



Notas dos tradutores

[1] “Na verdade, Qaru (Korah) foi do povo de Moisés, mas agiu com arrogância contra o próprio povo”.  

[2]  Ijtihad (Arabic اجتهاد) é termo técnico do Direito islâmico; descreve o processo para tomar uma decisão legal mediante interpretação independente das fontes legais, do Corão e da Sunnah. O antônimo de ijtihad é taqlid, palavra em árabe para “imitação”. Quem aplica o ijtihad é chamado mujtahid e, tradicionalmente, tinha de ser especialista em Direito islâmico. É palavra derivada de uma raiz verbal do árabe, jahada- (“luta”), a mesma raiz que aparece em jihad (mais sobre o conceito, em Ijtihad , à falta de melhor fonte. Em árabe na versão em ing.).

[3] As palavras Kalam e Qur’an [Corão] têm hoje significados próximos, mas na aplicação legal original tinham significados diferentes. Usava-se Qur’an para o Livro Sagrado, revelado por Alá a Maomé. E dizia-se Kalam para designar o atributo fundante do Criador, traduzível por “Seu ‘discurso’”. Em árabe na versão em ing.

[4] Pode-se ler sobre hadith. Em árabe na versão em ing.

[5]  A palavra fitna deriva de um verbo em árabe que significa “seduzir, tentar ou enganar”. Há várias nuances de significado, todos referentes a “desordem”, “agitação”. Em árabe na versão em ing.

Nasrallah do Hezbollah em Teerã de Khamenei


29/4/2013, The Shia Post
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido no quiosque do Zé Cafuné na Vila Vudu: A foto abaixo, só ela, já impressiona. Mas, de fato, não passa de simples foto documental, jornalística, tão documental quando os zilhões de imagens de qualquer Obama conversando com qualquer Netanyahu -- que ocupam praticamente TODO o “noticiário” [só rindo] internacional dos jornais [só rindo] brasileiros.

Claro que é imagem jornalística infinitamente mais importante, do ponto de vista político e histórico, que qualquer imagem da dupla sionista-norte-americana. Mas a foto não impressiona só por isso.

Essa foto impressiona muito... porque dá notícia de um FATO acontecido num MUNDO REAL que o “jornalismo” brasileiro apagou da autoproclamada “informação” que os jornais e jornalistas da imprensa-empresa vivem de inventar e impingir aos tolos consumidores desse “jornalismo” de araque que se faz no Brasil.

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Sayyed HassanNasrallah (E) Aiatolá Ali Khamenei (D)
O secretário-geral do Hezbollah chegou a Teerã, para participar do Fórum Mundial da Ulama [Comunidade Islâmica mundial] e do Despertar Islâmico.

O secretário-geral do Hezbollah está em Teerã como convidado especial do Fórum Mundial da Ulama e do Despertar Islâmico, que começou na 2ª-feira (29/4/2013) em Teerã.

A presença de Nasrallah em evento público internacional, que está atraindo as atenções da mídia planetária [menos da mídia brasileira, que faz aqui o PIOR JORNALISMO do mundo], está sendo avaliada como resposta “dura de engolir”, dada ao regime sionista-norte-americano.

Yona
Yahav
Poucas horas antes da chegada de Nasrallah em Teerã, Yona Yahav, Prefeito de Haifa nos territórios ocupados, como retaliação contra a presença de novos drones no espaço aéreo da entidade sionista, conclamou os israelenses a assassinar o secretário-geral do Hezbollah; disse que essa seria a única ação capaz de conter a ameaça contra Israel.

Na 3ª-feira, Sayed Hassan Nasrallah fará importante discurso ante o Fórum Mundial da Ulama sobre recentes desenvolvimentos no Líbano, na Síria e em toda a Região, que será televisionado ao vivo por várias redes internacionais.

BNDES vai financiar a democratização da mídia


26/4/2013, Cesar Fonseca, Independência Sul-americana 
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu e Bárbara Szaniecki


Comentário/pergunta de Bárbara Szaniecki: E os PONTOS DE MÍDIA LIVRE? Será que Dilma e Jandira já ouviram falar deles? Caso positivo, será que vão se lembrar deles? Vamú rezá pra que sim!


Entreouvido na Vila Vudu: NOTÍCIA IMPORTANTÍSSIMA! (algum jornalão publicou? Deu na Globo? NÃÃÃÃÃÃÃO!)


Jandira Feghali
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), presidenta da Comissão de Cultura da Câmara, comanda o início de uma grande revolução no Brasil, abrindo o debate sobre a democratização midiática nacional, a partir do dia 7 de maio, terça feira, 14 horas, no Congresso Nacional. O tema central é o financiamento pelo BNDES para as mídias comunitárias.

O grande banco estatal brasileiro, que até hoje assistiu apenas os grandes grupos midiáticos, que atuam, oligopolizadamente, alienando o povo, agora, sob orientação da presidenta Dilma Rousseff, abre as portas para os pequenos.

Com certeza, o oligopólio midiático brasileiro, formado por meia dúzia de plutocratas, vai chiar brabo.

A democratização midiática começará a ser alavancada pelo poder dilmista por meio de financiamento do BNDES às “micro e pequenas empresas de comunicação nas diversas plataformas”. Abre-se um mundo de novas oportunidades que balançará e renovará a cultura nacional. Isso significa que os empresários de pequeno porte, bem como associações comunitárias, terão oportunidade de explorar o setor de comunicação no Brasil, levando informações variadas, sintonizadas com os interesses da comunidade, a mais prejudicada pelo massacre midiático oligopolizado, que vende à população o pensamento único neoliberal, tanto no plano da política, como da economia e, também, da cultura.

O país está, praticamente, estagnado em termos culturais, sem movimento de renovação. A oligopolização midiática, sintonizada com o pensamento único neoliberal, não interessa por essa questão fundamental para formação da nacionalidade soberana. Ela está, unicamente, interessada em servir aos seus verdadeiros patrões, os grandes bancos, cuja missão tem sido, apenas, a de especular financeiramente com a moeda nacional, empobrecendo o povo, no processo de desorganização e fragilização da economia, sustentando, consequentemente, a colonização cultural.

Os grandes financistas, cujo discurso básico é o de atacar a orientação nacionalista imprimida pela presidenta Dilma à economia, odiarão, certamente, mais essa ação do BNDES. Participantes dos conselhos de administração dos principais veículos de comunicação do país, porque os financiam e, dessa forma, orientam sua linha editorial, voltada ao anti-nacionalismo, os representantes da bancocracia rearmarão suas baterias para os novos ataques.

No momento em que o mundo vive crise econômica global, detonada , justamente, pelo pensamento único neoliberal, não interessa ao oligopólio midiático discutir com a sociedade a orientação econômica que os grandes grupos financeiros imprimem como verdade absoluta, incontestável. Afinal, esse oligopólio é parte dessa “verdade”. Não há no Brasil, hoje, uma discussão livre sobre o que o imperialismo monetário, colocado em prática pelos Estados Unidos, sob orientação dos grandes bancos privados, que mandam no Banco Central americano, produz de prejuízos intensos para as economias dos países emergentes, em forma de exportação da inflação especulativa.

O jogo, que jamais é discutido, a fundo, pelo poder midiático tupiniquim, se assenta na ação americana de jogar moeda desvalorizada, sem limites, na praça mundial, encharcando o meio circulante, ao mesmo tempo em que são mantidas taxas de juros na casa dos zero ou negativo, para dar calote na dívida que vai se ampliando.

Enquanto isso, esse dinheirão que tende a apodrecer, por não dispor de lastro real, é exportado para o Brasil, Argentina, Venezuela, Paraguai, Colômbia, Chile, Equador, ou seja, para toda a América do Sul e outros continentes, em nome da salvação do capitalismo, expresso na figura dos EUA.

Os americanos se especializam em exportar sucata monetária como produto acabado do monetarismo ortodoxo que praticaram até levar o mundo à maior crise da história, superior, em muitos graus, ao crash de 29. Quando esse dinheirão podre entra nas fronteiras nacionais valoriza artificialmente a moeda brasileira e a de outros países, desorganizando suas economias, elevando importações, aumentando dívidas, juros, afetando salários, promovendo desemprego, quedas de arrecadação e investimentos públicos e comprometendo perigosamente as contas nacionais por meio do avanço da inflação.

Enquanto isso, o poder das empresas-imprensa, a serviço desse capital volátil, desestabilizador das instituições democráticas, anunciador de violentas crises políticas, fica pondo no tomate e no chuchu a culpa pelas pressões inflacionárias, desviando atenção da sociedade. Aposta na alienação e na mentira.

Chegou a hora de esclarecimentos verdadeiros, que somente poderão acontecer, se houver uma ampla democratização das comunicações, para que as verdades falsas sejam desmascaradas e a consciência política, social e econômica avance celeremente, para o fortalecimento da democracia, a partir das organizações comunitárias.

Serão estas, mediante liberdade ampla para discutir os problemas nacionais por meio de mídia alternativa, comprometida com os interesses comunicatários, as únicas capazes de mudar o sistema político-eleitoral, dominado pelas elites que comungam com o poder midiático colonizador.

A América do Sul, em meio à crise global, está sob pressão de uma outra forma de recolonização.

O grande império financeiro americano e europeu em crise de realização do capital super acumulado, tendente à deflação destrutiva do capitalismo, pretende estender o seu domínio por meio da moeda desvalorizada impressa pelos seus bancos centrais. Inflacionando as moedas dos outros e, com isso, fragilizando e desestabilizando suas economias, suas fontes de riqueza e de pensamento naturais, ampliam e renovam o velho domínio que exercem, salvo se essa farsa fantástica for desmascarada pelo debate livre. A conquista de uma mídia independente torna-se, portanto, fator de segurança nacional.

O BNDES, impulsionado pela presidenta Dilma, vai nessa linha de promover a libertação das consciências. É por isso que esse grande banco estatal está sob violento ataque do poder midiático oligopolizado, antinacional.

Junto com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, evitaram colapso econômico financeiro das empresas brasileiras, no momento em que estourou a crise mundial, em 2007-2008. Eles socorreram a produção e o consumo, garantindo os empregos, cujas taxas atuais são as mais elevadas no mundo, enquanto os governos das nações ricas, que enfrentam o oposto, ou seja, taxas elevadas de desemprego, lamentam não possuírem instrumento de dinamização da economia nesse porte.

O BNDES sofre os ataques violentos da oligarquia midiática porque promove não apenas o desenvolvimentismo nacional, mas, igualmente, o sul-americano, afastando os perigos da crise internacional.

O banco estatal brasileiro está, nesse momento, a serviço da expansão de grandes empresas brasileiras em todo o território sul-americano, alavancando obras de infraestrutura, ao lado de governos nacionalistas, na Argentina, na Bolívia, na Venezuela, no Equador, em Cuba, Colômbia etc..

É o grande banco de desenvolvimento sul-americano, enquanto o Banco do Sul não é criado por força de pressões internacionais. Desloca, com sua ação desenvolvimentista continental, os grandes bancos estrangeiros e mesmo o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, comandados por Washington, dominada pela bancocracia, irritada com esse estado de coisas.

Agora, o BNDES se volta para o avanço da consciência social latino-americana, para apoiar financeiramente a democratização midiática, colocando-se a serviço da superação das mentes colonizadas. Isso é um crime, para a bancocracia e seus serviçais da grande mídia.

O debate que a deputada Jandira Feghali abre no Congresso é histórico e começará a balançar as estruturas do poder midiático conservador antinacional a serviço do capital internacional.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Quando os russos chegaram


27/4/2013, Uri Avnery, Media with Conscience, MWC   
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Uri Avnery
Quando a grande onda de imigrados russos chegou, vindos da União Soviética, em 1990, todos em Israel nos alegramos.

Em primeiro lugar, porque cremos que a imigração faz bem ao país. Em geral, faz.

Segundo, porque estávamos convencidos de que esses específicos imigrantes empurrariam Israel na direção certa.

Essas pessoas, dizíamos a nós mesmos, foram educados, durante 70 anos, num espírito internacionalista. Acabam de pôr fim a um sistema ditatorial cruel, e devem vir ávidos de democracia. Muitos não eram judeus, mas parentes (às vezes remotos) de judeus. Ganhávamos centenas de milhares de novos cidadãos secularistas, internacionalistas, não nacionalistas, exatamente o de que muito precisamos. Acrescentariam um elemento positivo ao coquetel demográfico que é Israel.

Sobretudo, dado que a comunidade de judeus do pré-estado no país (a chamada yishuv) foi largamente modelada por imigrantes da Rússia czarista e dos primeiros anos da Revolução, os novos imigrantes com certeza se misturariam facilmente com a população em geral. Pelo menos, era o que esperávamos que acontecesse.

Hoje, a situação é praticamente o total oposto disso.

Os imigrantes da ex-União Soviética – “os russos”, como se diz na fala diária – absolutamente não se misturaram a coisa alguma. São até hoje comunidade à parte, que vive num ghetto criado por eles mesmos.

Avigdor Lieberman
Até hoje, falam russo. Leem seus próprios jornais russos, todos furiosamente nacionalistas e racistas. Só votam no partido deles, liderado pelo moldaviano Evet (hoje trocou o prenome: decidiu chamar-se Avigdor) Lieberman. Vivem praticamente sem qualquer contato com outros israelenses.

Nos dois primeiros anos em Israel, votaram predominantemente em Yitzhak Rabin do Partido Labor, mas não porque prometia paz: porque era general e apresentava-se sempre como militar destacado. Daí em diante, os russos sempre votaram, sem variação, na extrema direita.

A grande maioria deles odeia árabes, rejeita a paz, apoia os colonos e vota para eleger governos de direita.

Dado que hoje constituem quase 20% da população israelense, aí está um dos principais motores da marcha de Israel rumo à direita.

Por que, santo Deus?!

Há várias teorias, todas, provavelmente, certas.

Uma delas, ouvi-a de um funcionário russo de alto escalão:

Durante a era soviética, os judeus eram cidadãos soviéticos como todos os outros. Com o fim da URSS, cada cidadão recolheu-se para a nação de origem. Os judeus ficaram num vazio. Então partiram para Israel. E tornaram-se os mais israelenses dos israelenses. Até os não judeus que havia entre eles tornaram-se israelenses super patriotas.

Outra teoria diz que

Quando o comunismo entrou em colapso na Rússia, só restou o nacionalismo (ou a religião) para substituí-lo. A população aprendera atitudes totalitárias, desdém pela democracia e pelo liberalismo, uma nostalgia por líderes fortes. E havia também o racismo disseminado da população “branca” do norte da URSS, contra os povos “escuros” do sul. Quando os judeus (e não judeus) russos vieram para Israel, trouxeram com eles essas atitudes. Apenas substituíram, por árabes, os armênios, chechenos e os demais povos que desprezavam. Essas atitudes são eternamente alimentadas pelos jornais russos diários e pelas redes de televisão em Israel.

Observei essas atitudes quando visitei a URSS pela primeira vez em 1990, durante a Glasnost de Mikhail Gorbachev. Nunca pudera ir antes, porque meu nome era sempre riscado em todas as listas de gente convidada a conhecer as glórias da pátria soviética. Não sei por quê. (Curiosamente, também fui cortado de listas de convidados às festas do 4 de julho na embaixada dos EUA, e em algumas oportunidades encontrei dificuldades até para conseguir um visto norte-americano. Talvez porque participei de manifestações contra a Guerra do Vietnã. Devo ser das poucas pessoas no mundo que se podem orgulhar de constar simultaneamente nas listas da CIA e da KGB).

Viajei à Rússia para escrever sobre o fim dos regimes comunistas na Europa Oriental (livro que foi publicado em hebraico, sob o título “Lênin não mora mais aqui”). Rachel e eu gostamos muito de Moscou, mas só precisamos de alguns dias para começar a ver o espantoso, crescente racismo que havia por todos os cantos. Os cidadãos de pele morena, ou mais escura, eram tratados com indisfarçado desprezo. No mercado, quando conversávamos e ríamos com os vendedores, gente do sul, com os quais nos relacionamos imediatamente, nosso simpático, mas de rosto sério, jovem e agradável intérprete distanciava-se bem acintosamente.

Café Kassit, anos 1970's - Vista externa
Meus amigos e eu nos encontramos às 6as-feiras, há cerca de 50 anos. Quando os russos começaram a chegar, nossa “mesa” ficava no Café Kassit, em Telavive, local mitológico de reunião de escritores e artistas.

Um dia, vimos um grupo de jovens imigrantes russos, que haviam estabelecido “mesa” própria. Cheios de simpatia – e também muita curiosidade – vez ou outra nos juntávamos a eles.

De início, funcionou. Formaram-se ali algumas amizades. Até que aconteceu uma coisa curiosa. Eles afastaram-se de nós, deixando bem claro que, para eles, não passávamos de bárbaros do Oriente Médio, sem cultura, gente à qual não tinham interesse de associar-se, gente que lia Tolstoi e Dostoyevski. Em pouco tempo, desapareceram de circulação.

Lembrei-me disso na 6ª-feira passada, quando irrompeu em nossa mesa uma discussão surpreendentemente acalorada. Tínhamos uma convidada, uma jovem cientista “russa”, que acusou a esquerda de ser indiferente e de promover um tipo de atitude, em relação à comunidade russa, que a teria empurrado na direção da direita. Uma líder feminista presente reagiu com fúria. Disse que os russos já chegaram ao país com atitude bem perto de fascista.

Concordei com ambas. A atitude de Israel em relação a novos imigrantes sempre foi um tanto estranha.

David Ben Gurion
Líderes como David Ben-Gurion trataram a imigração sionista como se não passasse de um problema de transporte. Fizeram grandes esforços e foram bem longe para trazer judeus, do outro lado do mundo, para Israel; mas, depois de chegados, eram esquecidos, entregues aos próprios meios. Sim, recebiam ajuda material, tinham moradia, mas fazia-se praticamente nada para integrá-los à sociedade.

Foi exatamente assim na imigração em massa de judeus alemães nos anos 1930s, de judeus orientais nos anos 1950s e de russos nos anos 1990s. Quando os judeus russos manifestaram clara preferência pelos EUA, o governo israelense pressionou o governo dos EUA para que batesse a porta na cara deles. Foram praticamente forçados a vir para Israel. Quando chegaram, foram deixados nos seus ghettos, sem qualquer movimento local que os induzisse a espalhar-se e integrar-se conosco.

Não foi diferente, na esquerda israelense. Quando falharam alguns frágeis esforços para atraí-los para o grupo da paz, lá ficaram. A organização da qual participo, Gush Shalom [Bloco da Paz], distribuiu certa vez 100 mil cópias de nosso principal manifesto (“Truth against Truth” [Verdade contra Verdade], a história do conflito) em russo. Mas desistimos, quando recebemos uma única resposta. Obviamente, os russos não tinham interesse algum pela história de Israel, da qual não tinham sequer uma mínima ideia, que fosse.

Para entender a importância desse problema, é preciso visualizar a composição da sociedade israelense tal qual é (escrevi, no passado, sobre isso), formada de cinco setores principais, praticamente de igual tamanho, a saber:

  1. Judeus de origem europeia, chamados Ashkenazim, grupo no qual se inclui quase toda a elite cultural, econômica, política e militar. Nesse grupo está praticamente toda a esquerda israelense.
  1. Judeus de origem oriental, em geral chamados (erradamente) Sephardim, de países árabes e de outros países muçulmanos. São a base do Partido Likud.
  1. Judeus religiosos, grupo que inclui os Haredim ultra-ortodoxos, Ashkenazi e orientais; e os sionistas, nacional-religiosos, grupo que inclui as lideranças dos colonos.
  1. Cidadãos árabe-palestinos, concentrados quase todos em três grandes blocos geográficos.
  1. E os “russos”.
Alguns desses cinco setores se sobrepõem em pequena parte, mas o quadro é claramente esse. Os árabes e muitos dos Ashkenazim trabalham no campo da paz. Todos os demais são declarada e solidamente de direita.

Por isso, é absolutamente imperativo conquistar pelo menos alguns grupos dos judeus orientais, dos judeus religiosos e – claro – de “russos”, para constituir uma maioria em Israel a favor da paz. Na minha opinião, essa é a mais importante tarefa para o campo da paz, nesse momento.

Ao final de um furioso debate em nossa mesa, tentei acalmar os contendores:

Não precisam brigar tanto. Há culpa que chegue, para todos