sábado, 29 de setembro de 2012

Estratégia dos EUA no Pacífico Asiático desestabiliza a região


29/9/2012, Zheng Yongnian, China.org 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Zheng Yongnian

Zheng Yongnian é diretor do Instituto Ásia Oriental, da Universidade Nacional de Cingapura.


Os EUA dizem que sua estratégia fartamente noticiada de “movimento de pivô na direção da Ásia” visa a “conter” a ameaça de uma China emergente, para manter a ordem existente. Mas os efeitos dessa estratégia parecem estar resultando exatamente no contrário disso.

A Ásia estaria hoje mais estável do que antes de os EUA adotarem a nova estratégia para a região do Pacífico Asiático? Muito evidentemente, não está. A China e os EUA viviam antes em relativos bons termos. Mas várias mudanças dramáticas ocorreram na Ásia, que só se explicam como efeito da nova política dos EUA.

Antes dessa nova política, a China e outras nações asiáticas constantemente ajustavam-se umas às outras, para atender as necessidades umas das outras. Muitos países asiáticos, em especial as nações reunidas desde 1967 na Associação das Nações do Sudeste da Ásia (Association of South-East Asian Nations - ASEAN), adotaram política externa pragmática. Viram o crescimento econômico da China como oportunidade e, resultado disso, ajustaram adequadamente suas relações com a China. A China, por sua vez, deu prioridade às suas relações comerciais e econômicas com outros países asiáticos; e, coerente com isso, manteve posição comedida e discreta nas questões políticas e estratégicas e reconheceu a liderança da ASEAN.

Países da ASEAN, Associação das Nações do Sudeste da Ásia
Graças a esse esforço mútuo e coordenado, o relacionamento entre as nações reunidas na ASEAN e a China conheceu rápido progresso; e as relações entre a China e outros países asiáticos foram-se gradualmente institucionalizando através de vários canais regionais, internacionais, bilaterais e multilaterais.

Muitos especialistas ocidentais já reconheceram essa evidência, ao longo dos últimos 30 anos. A Ásia preservou a paz, apesar do rápido crescimento da China – como a demonstrar o erro da teoria que fala da “tragédia política das grandes potências”, segundo a qual toda potência emergente fatalmente desafiaria a potência existente. A paz na Ásia, em larga medida, foi resultado de decisões racionais e do mútuo ajustamento dos países asiáticos, incluindo a China. A China deu absoluta prioridade estratégica à economia e ao comércio, não à força militar.

Por tudo isso, a dita “ameaça” que os EUA enfrentariam na Ásia – os temores de que a China venha eventualmente a “exportar-se” como potência para fora da Ásia – tem muito mais de imaginação e fantasia, que de realidade.

Assim sendo, de onde vem os medos dos norte-americanos? Inúmeros fatores contribuem para esses medos, dentre os quais o chamado “dilema de segurança” causado pela anarquia estrutural nas relações internacionais, diferenças de ideologia política e falta de confiança na China.

Como o “movimento de pivô na direção da Ásia”, dos EUA, afeta a política regional? É preciso aqui considerar as relações entre China e EUA; entre China e outros países asiáticos; e entre EUA e outros países asiáticos.

Para começar, a estratégia dos EUA mudou – pode-se dizer que interrompeu – o processo de mútua adaptação da China e outros países asiáticos. Embora o governo Obama só tenha falado da nova estratégia, e tudo esteja ainda no campo da retórica política, a mudança foi suficiente para que muitos países asiáticos passassem a esperar cada dia mais ajuda dos EUA. Supondo que os EUA investirão quantidades descomunais de recursos para impor-se ante a China, como os EUA fizeram contra a União Soviética durante a Guerra Fria, esses países, especialmente os que têm disputas de fronteiras marítimas com a China, optaram por alinhar-se aos EUA. Apesar de a resposta da China à estratégia dos EUA ter sido em larga medida defensiva, mesmo assim houve mudança suficiente para impedir que as relações com aqueles países continuassem a evoluir.

Em segundo lugar, o “movimento de pivô” dos EUA modificou a prioridade na Ásia, que passou, de política econômica, para política estratégica.

Isso foi feito, pelo menos em parte, porque os EUA reavaliaram suas próprias forças. Depois do início da crise financeira, o domínio econômico dos EUA enfraqueceu; mas os EUA ainda são a maior potência bélica do mundo. Durante a Guerra Fria, presença militar e presença econômica tiveram pesos equivalentes na política externa dos EUA. Mas agora, com o “movimento de pivô”, os EUA estão reintroduzindo a competição estratégico-bélica na Ásia. Essa alteração forçou a China a também mover seu foco: da economia para a estratégia militar.

Ao longo de muitos anos de esforços conjuntos, China e EUA realmente chegaram a construir relações bilaterais muito próximas, sobretudo na cooperação econômica, comércio e finanças. Resultado desses esforços, especialistas norte-americanos cunharam a palavra “ChinAmérica” para descrever as interações e interdependência entre China e EUA. Mas esse relacionamento foi alterado, quando os EUA reintroduziram na equação, a competição estratégica.

A história já mostrou várias vezes que a competição econômica pode ser benigna. Mas o confronto estratégico só pode levar, como sempre levou, ao confronto militar. Quando EUA e China chegarem a esse confronto, estarão inevitavelmente reproduzindo os papéis das duas antigas cidades-estado gregas, Atenas e Esparta; ou de EUA e União Soviética, na Guerra Fria.

Os EUA baseiam seu “movimento de pivô na direção da Ásia” no que entendem como “interesse nacional”. E também é difícil para a China mudar a compreensão dos próprios interesses nacionais. Mas isso não implica que o confronto militar China-EUA seja inevitável.

Se os EUA querem contrabalançar a China na Ásia, movendo-se como pivô de volta para cá, caberá à China encontrar meios para contrabalançar os EUA, porque encontrar esses meios é a garantia de paz.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Pepe Escobar: “EUA - a mágica terrorcrática”


26/9/2012, Pepe Escobar, Al-Jazeera
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Pepe Escobar
A guerra ao terror inventada pelo governo Bush é como um maná que não para de cair do céu – por vias não exatamente muito misteriosas.

Na mesma semana da Assembleia Geral da ONU – em que competiam discursadores como o presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad e o primeiro-ministro de Israel Bibi Netanyahu – o governo dos EUA tira da lista dos grupos terroristas o grupo anti-Irã, com base no Iraque, conhecido como Mujahideen-e-Khalq (MEK).

Jamal Abdi
Jamal Abdi, diretor de política do Conselho Nacional Americano Iraniano [orig. National Iranian American Council (NIAC)] não precisou de muitas palavras para explicar do que se trata:

A decisão abre o caminho para que o Congresso aprove envio de dinheiro ao MEK para promover novos ataques terroristas no Irã e tornar muito mais provável a guerra contra o Irã. Além disso, a decisão agride diretamente o movimento pacífico pró-democracia no Irã e destrói alguma boa imagem dos EUA que ainda haja entre os iranianos comuns.  [1]

Segundo o jornal iraniano pró-democracia Kaleme – dirigido pelo Movimento Verde – “não há organização, nem partido, nem culto mais infame que o MEK, na opinião pública da nação iraniana”. Indiscutível. Milhões de iranianos desprezam grupos de fanáticos armados, do tipo MEK, especialmente porque foram aliados de Saddam Hussein durante a guerra Irã-Iraque, de 1980 a 1988.

O Mujahideen-e-Khalq foi definitivamente removido da lista de “organizações terroristas” pelos EUA esta semana 
Durante a guerra, a ideia fixa e obsessiva dos MEK era destruir o Supremo Líder Aiatolá Khomeini. Nunca chegaram nem perto de ter alguma chance, porque não passavam de exército de fanáticos maltrapilhos reunido no Iraque, que lançou ofensiva patética em território do Irã, em 1988.

Depois do cessar-fogo Teerã-Bagdá, negociado pela ONU em 1988, o MEK continuou ativo no Iraque de Saddam durante os anos 1990s – já então dedicado a atacar os curdos iraquianos. Foi quando o governo Clinton incluiu o grupo na lista de “terroristas” – responsável pelo assassinato de cidadãos norte-americanos no Irã, antes da Revolução Islâmica.

Unha e carne com o pessoal do Mossad

Uma das principais razões para a recente “promoção” é que o MEK parece ter concordado em deixar sua base no Iraque em Camp Ashraf  [2] e está de mudança para um novo campo construído pelos EUA próximo a Bagdá.

Camp Ashraf (Iraque) - Vista aérea
Apesar da catarata de desmentidos e negativas, todos os botequins em todo o Oriente Médio sabem que os terroristas do MEK são treinados – e pagos – por Washington e Telavive, o que inclui treinamento em território dos EUA.  

Porque o MEK e seu autodefinido “setor político” – Conselho Nacional de Resistência do Irã [orig. National Council of Resistance of Iran (NCRI) – são fontes conhecidas (extremamente pouco fidedignas) de informação de inteligência, para os EUA, sobre o programa nuclear iraniano.

Dana Rohrabacher
Em fevereiro, a rede de televisão NBC News admitiu que “atentados mortais contra cientistas nucleares iranianos” eram executados por membros do MEK, “financiados, treinados e armados pelo serviço secreto de Israel”. Muito previsivelmente, a rede NBC atentamente não investigou qualquer conexão com os EUA.

Também muito previsivelmente, o Congresso dos EUA – cuja popularidade está em níveis muito baixos – irrompeu em manifestações de alegria e felicidade e saudou a decisão do Departamento de Estado, com especial destaque para os suspeitos de sempre como Dana Rohrabacher (Republicano da California), Ileana Ros-Lehtinen (Republicana da Florida e presidente da Comissão de Relações Internacionais da Câmara de Deputados) e Ted Poe (Republicano do Texas). Todos esses saudaram o MEK como “organização democrática”.

Ileana Ros-Lehtinen
Quer dizer... Como se consegue ser promovido, de terrorista, a democrata? Essa é fácil. Basta contratar a melhor equipe de lobbying que o dinheiro possa comprar e investir pesado em “Relações Públicas” eficazes.

No caso dos ex-terroristas e atuais democratas do MEK, foi serviço de três grandes firmas de lobbying de Washington: DLA Piper; Akin Gump Strauss Hauer & Feld; e DiGenova & Toensing. As três embolsaram cerca de 1,5 milhão de dólares, ano passado, para “democratizar” os MEK a qualquer custo.

Mais uma vez se comprova que esse é o meio certo e provado para enterrar história sangrenta de atentados à bomba e assassinatos que mataram, não só empresários norte-americanos e cientistas iranianos mas, também, milhares de civis iranianos jamais contabilizados.

Ted Poe
Nada como o toque cool de um especialista em Relações Públicas – PR, em inglês, por favor, sempre – para reformatar um bando de doidos assassinos e reapresentá-los como leais aliados dos EUA na luta contra o regime de Teerã “do mal”. Deputados, senadores e os proverbiais exércitos de “ex-ministros” e ex-altos funcionários de ex-governos – onipresentes na mídia – são os puxa-sacos e mercenários que se prestam a esse tipo de serviço.

Como é que a al-Qaeda nunca pensou nisso?!

O modo “terrorcrático” de governar

O dinheiro do MEK – doações da diáspora iraniana canalizado por uma rede do organizações de fachada na Florida, no Texas, no Colorado e na California – comprou um gordo portfólio bipartidário.

Lá estão todos, do ex-prefeito de New York e eterno relembrador do 11/9, Rudy Giuliani, ao jornalista Carl Bernstein; no mínimo, dois ex-diretores da CIA; o ex-governador da Pennsylvania, Ed Rendell; o ex-chefe da OTAN, Wesley Clark; o ex-governador do Novo México, Bill Richardson; e o ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, general Hugh Shelton.

Está provado, por exemplo, que Shelton, o ex-diretor do FBI, Louis Freeh e o ex-procurador-geral dos EUA, Michael Mukasey (que examinava casos de terrorismo), dentre outros, comprovadamente receberam dinheiro. Os jornais já publicaram o que se pode aceitar como satisfatória lista dos que se uniram ao bando. [3]

Maryam Rajavi
Em junho, o ex-candidato Republicano à presidência Newt Gingrich foi a Paris para participar de um evento pro-MEK ao lado da co-líder do “movimento”, Maryam Rajavi.

O Departamento do Tesouro iniciou investigação [4] de “contribuições para financiar palestrantes” – algumas contribuições chegam a $40 mil – recolhidas em nome do MEK. Mas nada garante que essa investigação progrida. Em casos que envolviam o Hamás e o Hezbollah, gente foi para a cadeia por oferecer apoio financeiro indireto a essas organizações. Mas, ora... Essas organizações não foram promovidas ao status de “democráticas” nos EUA.

E há o ângulo Clinton, mais estranho a cada minuto.

O MEK foi incluído na lista das organizações terroristas no governo Clinton, porque Bill Clinton tentava seduzir o ex-presidente do Irã, Muhammad Khatami. Agora, como secretária de estado, Hillary Clinton divulgou informação secreta [5] sobre o MEK ao Congresso a qual, certamente, envolve a identidade de cientistas nucleares iranianos. 

Assim, de fantoche de Saddam, o MEK finalmente conseguiu ser promovido a fantoche da CIA e do Mossad. Esperem, doravante, a torrente de “funcionários do governo dos EUA que pediram para não ser identificados” de sempre, a repetir que a promoção não implica que o governo dos EUA tenha passado a apoiar oficialmente os doidos do MEK. Teremos mais um caso de “liderar pela retaguarda”.

Desnecessário dizer que a coisa também opera como golpe de “PR” de valor inestimável a favor da ditadura do mulariato em Teerã – que não poupará ninguém, na operação para provar que Washington amasiou-se com grupo de terroristas conhecidos, que até a inteligência dos EUA já admitiu que agiu como facilitador no assassinato à moda Mossad de cientistas iranianos.

Grupos terroristas do mundo, uni-vos. Nada tendes a perder além da proibição de subir no elevador de uma das empresas-ás de PR de Washington. É mais que hora de reposicionarem as respectivas marcas: todos têm idêntico direito ao título de “organizações terrorcráticas”.

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Notas de rodapé

[1]  21/9/2012, NIAC - National Iranian American Council, em: “MEK Delisting is a Gift to the Regime, a Disaster for the Iranian People and the U.S.

[2]  28/9/2012, The Washington Times (via Camp Ashraf), Ashish Kumar Sem em: U.S. Takes Iranian Dissident Group MeK Off Terrorist List


[4]  20/3/2012, The Hill, Kevin Bogardus em: Federal investigation of Iran dissident group bypasses K Street firms

[5]  22/9/2012, Al Jazeera, em: US set to remove 'terrorist' label on MEK

Pepe Escobar: “Por que o Qatar quer invadir a Síria”


27/9/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online – The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Que ninguém se engane (Make no mistake, como diria o presidente Barack Obama): o Emir do Qatar entrou na dança.

Hamad bin Khalifa al-Thani
Que aparição, na Assembleia Geral da ONU em New York! O Xeique Hamad bin Khalifa al-Thani convocou uma coalizão de vontades árabes, nada mais nada menos, para invadir a Síria. [1]

Nas palavras o Emir, “Melhor para os países árabes que eles mesmos interfiram, cumprindo seus deveres nacionais, humanitários, políticos e militares e façam o que tem de ser feito para parar o banho de sangue na Síria”. Destacou que os países árabes têm um “dever militar” de invadir.

“Países árabes” significa, nessa frase, as petromonarquias do Clube Contrarrevolucionário do Golfo (CCG), antes chamado Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) – com ajuda implícita da Turquia, com a qual o CCG tem um amplo acordo estratégico.

Não há botequim no Oriente Médio em que todos não saibam que Doha, Riad e Ankara estão armando/ financiando/ abastecendo com ajuda logística as várias tendências da oposição armada na Síria que obram pela mudança de regime.

O Emir até citou um “precedente similar” dessa invasão, quando “forças árabes intervieram no Líbano” nos anos 1970s. Já que ele tocou no assunto: durante boa parte daqueles anos 1970s, o próprio Emir vivia engajado em intervenções mais mundanas, como deixar crescer os cabelos, ombro a ombro com outros membros da realeza golfista em seletos destinos à moda do Club Med, como mostra a foto abaixo (o Emir é o da esquerda [2]).


O Emir, pois, está pregando uma versão árabe da doutrina da R2P (“responsabilidade de proteger”) proposta anteriormente pela Três Graças da Intervenção Humanitária (Hillary Clinton, Susan Rice e Samantha Power)?

É mensagem que com certeza já chegara a Washington – para nem falar de Ankara e mesmo a Paris, dado que o presidente francês François Hollande acaba de pedir que a ONU dê proteção a “zonas libertadas” na Síria.

Quanto ao precedente libanês que o Emir lembra, não é coisa que se recomende, para dizer o mínimo. A chamada Força Árabe de Contenção, de 20 mil soldados, que entrou no Líbano para tentar conter a guerra civil, lá ficou por nada menos de sete anos, convertida em força militar da ocupação síria no norte do Líbano, de onde só saiu oficialmente em 1982, com a guerra civil ainda rugindo solta.

Imaginem cenário semelhante na Síria – super bombado.

“Sujeito muito influente”

Quanto ao ardor humanitário do Emir – além de democrático –, ajuda saber o que pensa dele o presidente Barack Obama. [3] Obama – para quem o Emir é “sujeito muito influente” – parece sugerir nessa fala que, embora “pessoalmente, não esteja reformando muito” e “não se vê grande movimento na direção da democracia no Qatar”, só porque a renda per capita do emirado é gigantesca... Nenhum movimento pró-democracia seria, assim, digamos, muito urgente. OK. Nada sugere, mesmo, que o Emir esteja muito interessado em fazer da Síria uma Escandinávia. 

Assim, afinal, se abre o caminho que leva a um motivo do qual ninguém nunca consegue escapar – ligado a, e a o que mais seria? – o Oleogasodutostão.

Vijay Prashad
Vijay Prashad, autor do recente Arab Spring, Libya Winter, está preparando uma série sobre o Grupo de Contato Sírio, para Asia Times Online. Vijay recebeu um telefonema de um especialista em energia, que lhe disse que investigasse urgentemente “a ambição do Qatar de levar seus oleodutos até a Europa”. Segundo essa fonte, “a rota proposta passaria pelo Iraque e Turquia. O país de passagem antes cogitado está dando problemas. Mais fácil seguir para o norte (o Qatar prometera gás gratuito à Jordânia)”.

Mesmo antes de Prashad terminar sua pesquisa, já está claro o plano do Qatar: matar o óleogasoduto de US$10 bilhões Irã-Iraque-Síria, negócio firmado apesar de o levante sírio já estar em andamento. [4]

Aqui se vê o Qatar concorrendo diretamente contra, ao mesmo tempo o Irã (como produtor) e a Síria (como destino) e também, em menor extensão, contra o Iraque (como país de passagem). Bom lembrar que Teerã e Bagdá são figadalmente contra mudança de regime em Damasco.

O gás viria da mesma base geográfica/geológica – de Pars Sul, o maior campo de gás do mundo, partilhado por Irã e Qatar. O gasoduto Irã-Iraque-Síria – se algum dia for construído – solidificaria um eixo predominantemente xiita, costurado por um cordão umbelical econômico, de aço.

O Qatar, por sua vez, construiria seu gasoduto por uma via “sem Crescente Xiita”, com a Jordânia como destino; as exportações partiriam do Golfo de Aqaba para o Golfo de Suez e dali para o Mediterrâneo. Seria o Plano B ideal, com as negociações com Bagdá tornando-se cada vez mais complicadas (além do que, a rota que atravessa Iraque e Turquia é muito mais longa). 

Washington – e os consumidores europeus – muito apreciariam um gambito crucial no Oleogasodutostão que passasse a perna no Gasoduto Islâmico.

Oleogasodutostão na Eurasia
Claro que, com mudança de regime na Síria – ajudada pela invasão que o Emir do Qatar propôs – as coisas ficariam muito mais fáceis em termos de Oleogasodutostão. Um regime pós-Assad, em mãos muito muito provavelmente da Fraternidade Muçulmana, seria muito, muito bem-vindo ao oleogasoduto qatari. E uma extensão para a Turquia seria ainda mais fácil.

Ankara e Washington venceriam. Ankara, porque o objetivo estratégico da Turquia é converter-se em principal entroncamento da passagem de energia do Oriente Médio/Europa Central, para a Europa (e o Oleogasoduto Islâmico deixa de fora a Turquia). Washington, porque toda sua estratégia energética no sudoeste da Ásia desde o governo Clinton sempre foi passar a perna, contornar, isolar e ferir de morte o Irã, servindo-se para isso de qualquer meio necessário. [5]

O periclitante trono hashemita

Tudo isso aponta para a Jordânia como peão essencial no audacioso jogo geopolítico/energético do Qatar. A Jordânia foi convidada a integrar o CCG – embora não fique exatamente no Golfo Persa (mas não importa. O que importa é que é monarquia).

No momento, a monarquia hashemita jordaniana periclita, o que é subavaliação de proporções transcendentais.

Há fluxo ininterrupto de refugiados sírios. Que se somam aos refugiados palestinos chegados em ondas durante as fases cruciais da guerra árabes-Israel, em 1948, 1967 e 1973. Acrescente-se a isso um sólido contingente de jihadistas-salafistas que lutam contra Damasco. Há poucos dias, foi preso Abu Usseid. Sobrinho de ninguém menos que Abu Musab al-Zarqawi, ex-líder da al-Qaeda no Iraque, morto em 2006. Usseid estava a um passo de cruzar o deserto, da Jordânia para a Síria.

Rei "Play Station"
Amã enfrenta protestos desde janeiro de 2011 – iniciados antes de a Primavera Árabe alastrar-se. O rei Abdullah, também conhecido como Reizinho Playstation, e a fotogênica queridinha de Washington/Hollywood rainha Rania, não têm sido poupados.

A Fraternidade Muçulmana na Jordânia não é o único ator na onda de protestos: sindicatos e movimentos sociais também são ativos. Muitos manifestantes são jordanianos – e, historicamente, sempre controlaram os altos postos da burocracia do estado. Mas o neoliberalismo bateu duro ali; a Jordânia viveu processo selvagem de privatizações nos anos 1990s. O reino empobrecido depende hoje do Fundo Monetário Internacional e de doações extras que recebe dos EUA, do CCG e até da União Europeia.

O parlamento é piada – dominado pelas afiliações tribais e devoto da monarquia. Reformas, nem cosméticas. Um primeiro-ministro foi trocado em abril e praticamente ninguém nem viu. Monarquia árabe clássica, o regime combate as reivindicações, com mais repressão.

Nesse pandemônio, entra em cena o Qatar. Doha quer que o Rei Playstation acolha o Hamás. Foi o Qatar que promoveu o encontro, em janeiro, entre o rei e o líder do Hamás, Khaled Meshaal – expulso da Jordânia em 1999. A reunião fez os jordanianos nativos temerem que o reino fosse inundado por nova onda de refugiados palestinos.

A mídia árabe – quase toda ela controlada pela Casa de Saud – está sendo inundada, isso sim, por matérias e editoriais que pregam que, depois de a Fraternidade Muçulmana subir ao poder na Síria, chegará a vez da Jordânia. Mas o Qatar está dando tempo ao tempo. A Fraternidade Muçulmana quer a Jordânia convertida em monarquia constitucional; assim, os Irmãos chegarão ao poder na sequência de uma reforma eleitoral contra a qual o rei Abdullah luta há anos. 

Hoje, a Fraternidade Muçulmana já conta até com o apoio das tribos beduínas, cuja tradicional submissão ao trono hashemita nunca foi mais periclitante. O regime ignorou os protestos por tempo demais; agora, paga o preço. A Fraternidade Muçulmana já convocou manifestação de massa contra o rei, para o próximo dia 10/10. O trono hashemita cairá, mais cedo ou mais tarde.

Ainda não se sabe como Obama reagirá – além de continuar a rezar para que nada de substancial aconteça até 6/11. Quanto ao Emir do Qatar, tem todo o tempo do mundo. Quanto mais regimes caiam (no colo da Fraternidade Muçulmana), tantos mais oleogasodutos se constroem.



Notas de rodapé

[1] 26/9/2012, France Presse, The National, em: “Qatar’s emir calls for Arab-led intervention in Syria”.

[2]  Foto incluída no artigo.

[3]  Assista (em inglês) em:

[4]  6/8/2012, Al Jazeera, Pepe Escobar, redecastorphoto, em: A guerra do oleogasodutostão na Síria.

[5] 17/9/2012, Oilprice.com, Felix Imonti em: Qatar: Rich and Dangerous

De Caracas às ruas de Paris: “Muito internacionalismo nos leva de volta às ruas de Paris”


28/9/2012, Alexis Corbière, Blog de Jean-Luc Mélenchon, Parti de Gauche [Partido de Esquerda]
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Alexis Corbière
Escrevo de Caracas, Venezuela, de olho no relógio, porque tenho outros encontros marcados. Tenho de escrever depressa. (...) Já falei do deslocamento militante e insisto nisso. Estamos aqui para, modestamente (mas muito ambiciosamente), ajudar nossos camaradas que, há meses, estão plenamente engajados na campanha para as eleições presidenciais do dia 7/10, em apoio ao candidato Hugo Chávez.

Ter vindo para cá é útil para poder conhecer (ou, pelo menos, começar a conhecer) o processo político profundo que se desenrola aqui, já há vários anos, e que, em breve, ultrapassará mais uma etapa, daqui a só uma semana. Como três franceses como nós podemos ajudar os companheiros que trabalham aqui?

O que temos feito é falar, com a máxima clareza possível, do que a Europa vive hoje, a Europa e a França. Falamos da crise econômica e social que atinge em cheio o que, na Venezuela, é chamado “o velho continente”, e apresentamos as respostas e análises que a Frente de Esquerda vem construindo sobre essa crise, que é ameaça real a todo o mundo. 


Para fazer isso, aceitamos todos os convites para falar pelo rádio e pela televisão.

Ao programa “midiático”, somou-se ontem nossa participação, durante toda a tarde, num seminário organizado sob o título “O neoliberalismo do velho mundo versus o socialismo do novo mundo”

François e Corinne honraram o Partido de Esquerda francês, com a qualidade de suas contribuições. François falou do golpe-de-estado financeiro que atinge hoje a Europa. Corinne falou das consequências ecológicas dessa crise. Depois falei eu, para lembrar o perigo que é o crescimento da extrema direita na Europa, crescimento que se alimenta da crise provocada pelo neoliberalismo. A imprensa local comentou o seminário.

Logo depois de chegarmos aqui, fui convidado para um debate transmitido pela Rede TeleSur. Podem ver e ouvir o programa, de grande audiência, a seguir:


A curiosidade intelectual dos que nos recebem, militantes, jornalistas ou simples cidadãos é, para mim, impressionante. Constato que, aqui, o debate político é permanente.

Ninguém pode negar que nessa parte do mundo há um povo mobilizado, envolvido, implicado, que toma partido, escolhe campos. Vê-se e ouve-se pelas ruas. Reina aqui uma paixão política que aquece a minha alma militante.

Propaganda em Mural
Nas paredes, nos muros, nas varandas e janelas das casas, nas camisetas que vestem, todos exibem suas cores políticas. Sem dúvida os partidários de Chávez são maioria. É visível. Mas descubro, com certa surpresa, presença significativa de apoiadores de Henrique Capriles, candidato da direita, nas ruas de Caracas.

De fato, é o desmentido completo às bobagens que se publicam na França, dos de sempre, que só fazem repetir que as liberdades públicas estariam ameaçadas na Venezuela. Que grande mentira! E que vergonha para os que repetem sem saber esse tipo de mentira. Mas não subestimemos o problema. “Mentira repetida mil vezes vira verdade” – como ensinava o infame Goebbels, o nazista que conhecia muito bem os artifícios da manipulação da opinião pública.

Às vezes me pergunto se já não fomos apanhados, nós também. Conheço gente de boa fé, que tem sincera e real convicção de esquerda, muitos são meus amigos pessoais, e que me disseram várias vezes que eu tivesse cuidado, na Venezuela, que a situação aqui seria de semiditadura, ou que, no mínimo, o país vivia sob regime autoritário. Aqui, vendo as coisas como de fato são, me pergunto como é possível que essas asneiras tenham atravessado o oceano.

Jornais circulam livremente
A verdade é que a oposição a Chávez conta com consideráveis meios de propaganda, o que se constata por todos os lados, na rua. E, em casa, basta ligar a televisão. Mas aqui, diferente da França, vê-se que há divisão na opinião pública. Há canais de televisão diferentes! Conforme o canal a que você assista, a informação muda. Conforme o quarteirão da cidade por onde você ande, muda a proporção de cartazes para um e outro candidato. Se você anda pelos bairros populares, só se veem cartazes de Hugo Chávez, praticamente em todos os muros. Mas, se você anda pelos bairros ricos, praticamente só há cartazes de Henrique Capriles. Há um impressionante (para mim) recorte geográfico. Pode-se saber em que parte da cidade se anda, só de ler os muros das ruas.

Mas isso muda se se consideram as bancas de jornais. Ali, praticamente todos os jornais impressos só falam a favor do candidato da direita, desqualificando sempre a candidatura de Chávez. Não há dúvida de que, se se examinam os jornais expostos à venda nas bancas, há grande desequilíbrio a favor do candidato da direita.

A campanha do candidato da direita tem claro apoio dos jornais e televisões comerciais – o grupo Cadena Capriles, da família do candidato, é proprietário de vários jornais, entre os quais o influente Ultimas noticias. Pelo que dizem alguns estudos, 82% por cento das matérias publicadas na imprensa comercial sobre Capriles são favoráveis; e a proporção de artigos favoráveis cai para 26%, quando os jornalistas falam de Hugo Chávez. Na Europa, quem acreditaria? Visto aqui, salta aos olhos. Se a liberdade de imprensa está sob ameaça na Venezuela, o responsável por isso não é Chávez, como dizem tantos na França.

Portanto, quando Chávez diz, nos seus comícios, sempre muito maiores que os do adversário, que Capriles “é o candidato da burguesia”, além da correta caracterização política, está falando de uma realidade palpável: Henrique Capriles é, antes de qualquer outra coisa, o candidato da burguesia venezuelana, ultracatólica, proprietária dos principais jornais e redes de televisão, a mesma burguesia que habita bairros ricos e que tenta manter seus privilégios.

Se a clivagem é visível nos quarteirões mais afastados do centro, nas ruas do centro de Caracas os grupos de militantes dos principais candidatos também se distribuem em esquinas diferentes. Nas grandes avenidas, veem-se militantes de um, num dos lados da rua; e militantes do outro, na calçada oposta. Convivem, separados por alguns metros, com gritos, sim, uns contra os outros, mas, afinal, respeitando-se democraticamente. Gritam muito. Os alto falantes de um lado, tentam encobrir os do outro lado, com músicas e slogans. Mas não vi violência física nem policiais nas ruas.

O que se vê – e chamou-nos a atenção – é gente que ri. Os partidários de Chávez parecem-me sempre mais animados. Às vezes, num sinal de trânsito vermelho, levas de jovens militantes chavistas aparecem, não se sabe de onde, como uma onda festiva e colorida e compõem, com seus cartazes escritos à mão, feitos em casa, um painel de slogans favoráveis à revolução bolivariana. Quando o semáforo fica verde, eles novamente somem.

Não há dúvidas de que os partidários de Henrique Capriles são menos numerosos, menos animados e muito menos envolvidos na militância de rua. Também são menos convictos do que dizem, quando se fala com eles, mesmo que informalmente, nas ruas, que os que apoiam Hugo Chávez.

O que alguns jornais franceses publicam, sobre Capriles, mais confunde que informa. Nós conhecemos mais sobre Chávez, que sobre Capriles. Falo então, um pouco, sobre o candidato da direita.

É muito jovem, cerca de 40 anos. É herdeiro de uma das famílias mais ricas da Venezuela e esteve na linha de frente do golpe de 11/4/2002 contra Chávez, com um grupo de putschistas. Participou do ataque à embaixada de Cuba em Caracas. Também participou pessoalmente, pela força, na “neutralização” do então Ministro do Interior. Mas apresenta-se hoje como “humanista”, quase como se fosse de centro-esquerda. É devoto há muito tempo da organização internacional ultraconservadora “Tradição, Família e Propriedade” (TFP) próxima da “Opus Dei”, organização cujo ramo venezuelano foi fundado por Capriles.

Apesar da roupagem “quase-social” com que está sendo apresentado, seu programa real é liberal: quer privatizar setores estratégicos da economia que foram estatizados; quer a autonomia do Banco Central da Venezuela; quer por fim ao que chama de “capitalismo de Estado”, etc. Apesar do programa muito claramente privatista neoliberal e do pesado pedigree político, ainda há jornais franceses que o pintam como “homem de centro-esquerda”. É verdade que, na coalizão que o apoia, MUD, conta com o apoio da Ação Democrática (AD), ligada à Internacional Socialista. Mas é apoiado, sobretudo, isso sim, pela extrema direita. É isso. Na Venezuela, os amigos de François Hollande apoiam o candidato único da extrema direita.

É uma vergonha que a 2ª Internacional, que acaba de realizar um Congresso, apoie esse candidato reacionário. E não apareceu uma voz socialista francesa para denunciar esse escândalo.

Vale lembrar que Hugo Chávez conta com o apoio anunciado publicamente do ex-presidente Lula do Brasil, pelo qual os socialistas franceses fingem grande simpatia.


Nos comícios, para mascarar sua verdadeira filiação, Capriles sempre tenta conquistar votos da esquerda. Henrique Capriles apresenta-se como candidatura “leve” e tenta pegar todos os incautos. De fato, sua rede não pega ninguém. Ontem, por exemplo, numa reunião pública, lá estava Capriles, atacando o governo Chávez: “Nunca mais a escuridão entrará na vida dos venezuelanos” – disse ele. A frase diz muito sobre o desprezo que lhe inspira a obra social do atual governo, que já fez diminuir o analfabetismo e aumentou muito significativamente o acesso da população à saúde pública e o nível de vida das populações mais pobres. Que ninguém tome Henrique Capriles por candidato moderado.

Capriles é homem da direita dura, que, no momento, mascara seu projeto. Toda sua vida passada, contudo, mostra que é homem capaz de participar de golpe armado contra presidente eleito.

Quem não acreditar no que estou dizendo sobre quem é o verdadeiro Capriles, ou quem pense que Chávez teria o monopólio da palavra “agressiva”, pode ler (ou reler) no Libération da 2ª-feira passada. Ali, numa entrevista de página inteira (?!) em que só Capriles fala e Chávez nem foi ouvido, Capriles diz: “Aqui, vivemos um governo da esquerda mais retrógrada, que, por alguns de seus atos, assemelha-se ao fascismo”. UAU! Pois é. Nada mais, nada menos.

Aqui, nesse país apaixonado pelo beisebol, faz-se política como se se manobrasse um porrete. “Esquerda retrógrada”, “obscurantismo”, “fascismo”, a lista é longa, das calúnias, das loucuras que a direita publica livremente contra Chávez, em todo o mundo, ou, pelo menos, durante essa campanha.

Pois pasmem: para o jornalista do Libération e seu correspondente, isso seria apenas “a face amena d’O Anti-Chávez” que, segundo o simpático jornal da esquerda francesa, “faz Chávez tremer”. Quanta bobagem! Aqui na Venezuela, nenhuma das pessoas que encontro, em reuniões ou pelas ruas, está tremendo de medo, nem de Capriles nem da campanha do candidato da direita. Os números mostram: até as pesquisas mais favoráveis a Capriles mostram diferença mínima, a favor de Chávez, de 14%. E várias pesquisas mostram diferença de 20%, sempre a favor de Chávez.

Hugo Chávez vencerá. Mas está buscando vitória por grande diferença, para tentar neutralizar a infindável contestação que sempre vem, da direita. A direita absolutamente não aceita as repetidas derrotas que tem sofrido desde 1998 e insiste em apresentar-se como “injustiçada”.

Além do mais, o campo chavista não faz campanha apenas para ultrapassar os 50% dos votos. Trabalha também para convencer o maior número possível de eleitores, para conquistar base popular suficientemente ampla para poder avançar mais rapidamente nas reformas.

Por isso, os comícios de Chávez sempre são grandes momentos de pedagogia política, para convencer, convencer, convencer sempre mais. E funciona, porque a campanha de Capriles patina – diferente de tudo que a imprensa francesa insiste em noticiar.

Nossa presença aqui, para participar dessa campanha tão importante, é mais um episódio de uma luta que se trava no plano mundial.

Lutar na França contra as mentiras que se publicam contra a Revolução Bolivariana e o presidente Chávez está em perfeita coerência com explicar aqui, em Caracas, os motivos pelos quais, há apenas dois dias, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas, em Madrid, em luta contra a “austeridade”. Ontem, também havia centenas de milhares de pessoas nas ruas de Atenas. E o mesmo em Lisboa. E dia 30/9 será o dia de Paris manifestar-se.

Os franceses que queiram engajar-se na luta a favor dos companheiros da Venezuela, façam da manifestação do domingo, em Paris, um grande sucesso!

Escrevendo isso, lembrei-me de uma frase de Jean Jaurès:

“Um pouco de internacionalismo nos distancia de casa; muito internacionalismo nos reaproxima de casa”

De Caracas, desse apaixonante banho de internacionalismo, que já está para acabar, tudo me mantém cada vez mais próximo da necessidade de continuar a construir nossa Frente de Esquerda, empenhada cada dia mais em derrotar, também na França, as políticas de “rigor” e de “austeridade”.

Apesar de todas as diferenças que há entre França e Venezuela, nosso combate é fundamentalmente o mesmo.

Não se trata de copiar nem de cultuar “heróis”. Trata-se de nos inspirar a nunca desistir de uma experiência complexa e muito viva.

Na política, como no amor, é preciso às vezes afastar-se um pouco da rotina da vida cotidiana. Ganham-se perspectivas novas. Muito internacionalismo nos devolve, renovados, às ruas de Paris.