Publicado
em 25/09/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
Uma
pergunta que não quer calar: como se explica o fato de a ação na Suécia contra
Julian Assange, o fundador do site WikiLeaks, praticamente ter saído do
noticiário? O que terá acontecido?
Notícias
procedentes da capital sueca, quase não divulgadas, dão conta de que os
advogados de defesa de Assange descobriram que o material de prova sobre o qual
se baseou toda a acusação até agora não contém DNA do
acusado.
O
fundador do WikiLeaks vem sendo acusado de ter abusado sexualmente de uma mulher
e por isso foi aberta uma ação penal contra ele. Como se sabe, por temor de ser
extraditado da Suécia para os Estados Unidos, onde pode até ser condenado à
morte ou pegar prisão perpétua, Assange pediu asilo ao Equador e se encontra na
Embaixada daquele país em Londres à espera do governo britânico permitir a
viagem para Quito.
Os
advogados de Assange, com base em relatório de cem páginas da investigação
policial que contém os depoimentos das vítimas e laudos periciais, demonstraram
que o material recolhido do preservativo apresentado
como prova pela mulher que se diz vítima de estupro não contém DNA do
acusado.
Os
advogados encaminharam pedido para que se investigue a possibilidade de a
acusadora ter encaminhado material falso à polícia, o que, se comprovado,
acarretará a anulação de todo o processo. Aguarda-se agora manifestação do
Procurador Geral da Justiça sueca sobre o relatório da investigação
policial.
Assange
não pode correr o risco de sair de Londres rumo a Suécia, porque se isso
acontecer, a Justiça de lá poderá conceder o que os Estados Unidos tanto querem,
ou seja, a extradição para julgá-lo e condená-lo à pena
rigorosa.
Inicialmente,
o governo britânico, acenou com a possibilidade de prender Assange, até mesmo
invadindo a sede da embaixada equatoriana. Mas diante das pressões limitou-se a
dizer que não permitiria a saída do local rumo ao
aeroporto.
Houve
protestos em várias partes do mundo, porque o governo britânico está subvertendo
a legislação internacional de concessão de asilo político. Se acontecer algo com
Assange estará sendo aberto precedente que na prática fará cair este instituto
consagrado em lei.
Já
no mundo islâmico, que continua conflagrado, o episódio que culminou com a morte
do embaixador estadunidense, Cristopher Stevens, em Benghazi, continua sendo
objeto de muita controvérsia.
O
jornal britânico The Independent, por exemplo, divulgou informação segundo a
qual as mortes do diplomata e três guarda-costas ocorreram por séria falha da
segurança em Benghasi, que por sinal não era propriamente a sede do consulado,
mas apenas um local onde funcionários estadunidenses se
reuniam.
Já
se tornou pública a informação de que o Departamento de Estado norte-americano
48 horas antes da eclosão do protesto, supostamente contra um filme satirizando
Maomé, havia prevenido sobre a possibilidade de ataques no Egito, na Líbia e
demais países de religião islâmica. Mas apesar disso, os diplomatas não foram
alertados para que se colocassem em estado de alerta elevado. O serviço de
segurança da embaixada dos EUA na Líbia chegou até a garantir que Stevens
poderia ir a Benghazi tranquilamente.
Outra
hipótese que está sendo aventada é a de que o que aconteceu em Benghazi poderia
ter sido uma resposta também a ação de drones (voos não tripulados que atingem
alvos em terra), especialmente o que resultou no assassinato no Paquistão de
Mohammed Hassan Qaed, cujo nome de guerra como agente da AL Qaeda era Abu Yahya
al-Libi. O material bélico utilizado, inclusive foguetes, leva a crer que o
protesto não foi tão espontâneo, mas devidamente
organizado.
Na
verdade, extremistas estadunidenses, inclusive apoiadores de Israel, estão a
todo momento instigando ódio contra os islâmicos em cartazes com dizeres
ofensivos e que terminam exortando a população a apoiar incondicionalmente
Israel.
O
clima de tensão aumenta visivelmente. Se não teve início ainda uma guerra
declarada, em termos verbais a temperatura sobe a cada dia. O governo extremista
de Benyamin Netanyahu ameaça diariamente bombardear instalações nucleares
iranianas e em resposta às autoridades de Teerã advertiram que se forem atacados
vão destruir Israel.
O
mundo observa com cautela o aumento da tensão. Se o desejo de Netanyahu não for
contido e ocorrer algum bombardeio as consequências não serão restritas a
Israel, mas atingirão todo o planeta.
Outra
pergunta que não quer calar: até que ponto os cartazes anti-islâmicos afixados
nos coletivos em Washington não teriam o objetivo de criar um clima para
demonstrar a inevitabilidade de uma guerra, como desejam e demonstram claramente
os defensores incondicionais do governo de Benyamin Netanyahu e seus seguidores
nos EUA?
É
possível, mas não se pode garantir, que apesar do desejo de Netanyahu, um
bombardeio às instalações nucleares do Irã não ocorrerá antes de se conhecer o
resultado final da eleição presidencial estadunidense. Netanyahu apoia o
candidato republicano, porque a linha de ação de Mitt Romney está mais próxima
do dirigente israelense e do Ministro do Exterior Avigdor
Lieberman.
Ah,
sim: enquanto tanta coisa acontece em vários países de predomínio da religião
islâmica, na Arábia Saudita, aliadíssima dos Estados Unidos, as constantes
violações dos direitos humanos cometidas no país da família Saud são
absolutamente silenciadas pelas agências de notícias.
Por
lá vale a prédica segundo a qual para os aliados (dos EUA) tudo, mas para os
inimigos, ameaças e financiamentos de mercenários.
Mário Augusto
Jakobskind* é correspondente
no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de
América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE
Enviado
por Direto
da Redação
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