Publicado
em 20/09/2012 por Urariano Motta *
Recife
(PE) -
O ministro Joaquim Benedito Barbosa Gomes teria todas as características para
fazer da sua vida uma história de superação. “Superação”, como se chama hoje na
imprensa a luta de pessoas que partindo de condições difíceis chegam a um final
feliz, no que a imprensa julga ser um final feliz. De fato, a jornada do
ministro do STF, desde o nascimento, mostra a trajetória de um jovem que não
aceitou o destino dos pobres do Brasil.
Atentem
para o Benedito do seu nome, que longe está de ser algo abençoado, bendito.
Benedito é marca com foros de genética, pois era o nome desde a senzala em
homenagem ao santo dos pobres, o franciscano negro São Benedito, que virou um
qualificativo do passado de violência e exclusão.
No
breve resumo da sua vida, Joaquim Benedito Barbosa é filho mais velho entre oito
crianças de pai pedreiro e mãe doméstica. Aos 16 saiu de Minas sozinho para
Brasília, onde arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense. Então se
formou em
Direito na Universidade de Brasília e concluiu o mestrado
em Direito do
Estado. Mais adiante, informa a montagem do seu perfil no STF,
seguiu uma reta somente para cima: Chefe da Consultoria Jurídica do Ministério
da Saúde, Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores, ministro
do Supremo Tribunal Federal. Ali será presidente. Mas pelo andar da carruagem,
ocupará, depois desse estágio, a direção da revista Veja ou da Rede
Globo.
Entendam.
Na parte Barbosa do seu nome, o ministro Joaquim Benedito tem sido fiel
discípulo das aulas de Direito Constitucional, Penal e Administrativo dos
jornais brasileiros. No chamado Julgamento do Mensalão, a sua reta vem sendo
também ascendente, desde o roteiro montado pela mídia no Brasil, repetido em
todas tevês e jornais com pequenas alterações, já antes do
julgamento:
O
mensalão seria – não, era! - um esquema clandestino de financiamento político
organizado pelo PT para garantir apoio ao governo Lula no Congresso em 2003 e
2004, logo após a chegada dos petistas ao poder.
Três
grupos organizaram e puseram o esquema para funcionar, a saber: o núcleo
político, organizado pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, e integrado
por outros três dirigentes partidários que integravam a cúpula do PT no início
do governo Lula; o núcleo operacional, de Marcos Valério, dono de agências de
publicidade que tinham contratos com o governo federal, para usar empresas com o
fito de desviar recursos dos cofres públicos para os políticos indicados pelos
petistas; e o núcleo financeiro, o banco Rural, que deu suporte ao mensalão,
alimentando o esquema com empréstimos fraudulentos. Etc.
etc..
Além
de seguir esse roteiro monótono, repetido à exaustão, em que os jornais anunciam
o crime e o relator confirma, o ministro Joaquim Benedito Barbosa nesta semana
foi mais longe, em sessão pública, filmada: ele comentou que os partidos
políticos no Brasil são todos iguais, pois não se registram diferenças
ideológicas entre eles. O que vale dizer, no mundo brasileiro não há diferenças
de classe na luta parlamentar, pois os petistas são petralhas, e os socialistas,
comunistas e o governo Lula são um saco de gatos ou negócios. Com tal
descrédito, o ministro paga o pedágio contra o passado Benedito: os tribunais
hão de corrigir o que o povo ignorante elegeu pelo voto.
É
natural que Joaquim Benedito recolha agora os frutos da sua glória Barbosa.
Todas
as noites, até os rincões profundos, em todos os noticiários o ministro aparece.
Ele jamais acordará para o que um dia disse de si um personagem de Tchekhov:
“Eu
não gosto da fama do meu nome. É como se ela estivese me enganando”.
Pelo
contrário. Diferente do Benedito da sua origem, sobre quem a lenda conta que,
preocupado com os mais pobres, furtava alimentos do convento, escondendo-os
dentro de suas roupas, mas foi surpreendido um dia pelo novo Superior do
Convento, que desconfiado perguntou:
“O
que escondes aí, debaixo do teu manto, irmão Benedito?”.
E
o santo humildemente respondeu:
“Rosas,
meu senhor!”
... E, abrindo o manto, de fato apareceram rosas de grande beleza e não os alimentos de
que suspeitava o Superior...
Diferente
das rosas do santo, o
ministro Joaquim exibe todas as noites o furto pautado na imprensa.
No
processo do chamado mensalão, o ministro saiu do STF para um novo STJ, o
Superior Tribunal dos Jornais. Lá ele tem os seus diários 5 minutos de fama.
Tão
pouco, para mudar a glória de uma vida que começou por Benedito e virou
Barbosa.
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Grato pela parte que me toca. Sempre soube que o homem faz o nome e não ao contrário. Só posso levar isso na base da galhofa, mas que há uma jocosidade nociva nesta análise da forma como foi feita se agarrando a clichês, isso há.
ResponderExcluirWalner Barbosa.