Adriano
Benayon* - 24.09.2012
1.
Desta vez, abordemos trágicos aniversários no âmbito mundial, começando por
agosto de 1979, quando Paul Volcker foi nomeado presidente do Federal
Reserve dos EUA – FED, a instituição privada dos bancos da oligarquia, que
exerce o poder, como banco central.
2.
Logo em outubro, a taxa de juros (prime rate) nos EUA foi dobrada para
acima de 20% aa. Assim, acelerou-se a crise da dívida latino-americana, eclodida
em 1982, levando o Brasil, até hoje, a pagar juros e amortizações,
em
montantes insuportáveis. Ademais , a dívida serviu de pretexto
para privatizar de graça inestimáveis patrimônios das estatais e do
Estado.
4.
Vendo-se desimpedida com a dissolução da União Soviética, a oligarquia
anglo-americana - cujas agressões militares não cessam - empreendeu, desde
agosto de 1990, com aliados e satélites da OTAN, a devastação do Iraque”
a bombas de urânio empobrecido.
5.
Para a queda da União Soviética muito contribuiu a Al Qaeda, organização
terrorista islâmica patrocinada pelos EUA através do serviço secreto paquistanês
(ISI).
6.
Em 11 de setembro de 2001, atribuíram à Al Qaeda ter destruído as Torres
Gêmeas do World Trade Center - WCT,
em Nova York, na realidade implodidas por serviços do governo estadunidense, a
fim de, entre outros objetivos, justificar nova sequência de intervenções
armadas no Oriente Médio, visando controlar mais petróleo e assegurar a
sobrevida do dólar como divisa internacional.
7.
De fato, o inflacionado dólar depende de serem liquidadas nessa moeda as
importações de petróleo, a principal mercadoria do comércio mundial. Mas qual é
a relação da escalada militar com a depressão que assola EUA, Europa, Japão e
outros?
8.O
eminente Paul Craig. Roberts, no artigo “The
Revolution from above” (trad. “Revolução
vinda de cima”), de 12.09.2012, mostra que os povos foram reduzidos à servidão e
resume: “a maioria dos americanos não pode pagar por guerras de muitos
trilhões de dólares durante 11 anos, cobrir trilhões de dólares de
apostas de cassino, praticadas em Wall Street, ter seus empregos de classe
média exportados pelas transnacionais (corporations), e ainda esperar renda
mais alta.”
10.
Daí outro aniversário (setembro de 2008), o da falência do banco de
investimento Lehman Brothers, marco do colapso financeiro em
curso.
11.O notável
economista Michael Hudson (em entrevista – “Set Up To Fail”
- a
Karl Fitzgerald, em 17.09.2012) aponta: “O que se tem na Europa e em outros
países neoliberais é loucura, encolhimento econômico, emigração, vida mais
curta, taxas decrescentes de formação de famílias, taxas crescentes de doenças e
de suicídios. Esse é o plano neoliberal de Chicago chamado ‘mercados
livres’ ”.
13.
Como lembra Hudson, criar crédito implica criar dívidas, e as dívidas são o
problema: “Criando ainda mais dívidas não se resolve o problema da deflação
decorrente das dívidas, nem a bolha da economia.” Mais: “Os bancos não
dão empréstimos para construir fábricas e empregar gente, mas sim a piratas
corporativos para comprar empresas, demitir trabalhadores, contratar
não-sindicalizados e no exterior, e fazer encolher a
economia.”
14.
Os banqueiros e seus grandes clientes aplicam os trilhões de capital, recebido
do FED a juros quase zero, em títulos do Tesouro dos
EUA, ganhando juros, e no exterior, por exemplo, Brasil, a juros de dois
dígitos, e na Europa endividada, a taxas
crescentes.
15.
Eis, nas palavras de Hudson, a atitude dos banqueiros: “Quando os países
ficam quebrados pelo encolhimento de suas economias, nós lhe dizemos:
‘privatizem suas propriedades, seu subsolo, os recursos naturais, privatizem
seus sistemas telefônicos etc.; vendam-nos tudo, para que criemos monopólios e
peguemos o dinheiro para nós mesmos.’ ...Por isso não queremos que vocês façam o
que fazem os países civilizados: criar seu próprio dinheiro e administrar
déficits governamentais.”
16.
Vê-se, pois, que o desastre promovido, de há muito, no Brasil ganha corpo nos
EUA, especialmente em Estados, cidades e condados, bem como na maioria dos
países europeus.
18.
Procedem assim, porque não são controlados por banqueiros privados nem pela
oligarquia ocidental. Por isso, trabalham na estrutura econômica. Não são
crentes das políticas macroeconômicas
keynesianas.
19.
Essas panaceias do Ocidente são impotentes para debelar a depressão, porque o
sistema de poder quer reforçar a tendência estrutural de maior concentração, o
mesmo fator que determinou a intratável questão das
dívidas.
20.
Nos EUA, premidos pela profundidade da depressão, o FED, mais uma vez (setembro
de 2012), recorre à expansão monetária. Vai resgatar de títulos do Tesouro e
títulos hipotecários, estes no montante de US$ 40 bilhões por mês (Que
mensalão!).
21.
Assim, sobem as cotações das ações na Bolsa de Nova York e alimenta-se a procura
especulativa por commodities, mas tudo isso está fadado a ruir abruptamente,
logo que a depressão não possa ser mais camuflada.
Efeitos
para o Brasil
22.
O modelo dependente, através do qual as transnacionais se apoderaram da
economia, causou deterioração estrutural. De sobra, deixa o país endividado (a
dívida interna, em boa parte, está nas mãos de estrangeiros) e no limiar da
crise nas contas externas.
23.
Essa se aproxima com o esmorecer da procura mundial e da valorização dos
minérios, processados ou não, o que eleva o insustentável déficit nas transações
correntes com o exterior.
26.
Não há, portanto, saída viável para o Brasil sem confrontação com as entidades
predadoras conhecidas como “comunidade financeira internacional”, não só
envolvendo auditoria da dívida e a supressão da indevida, mas também intervenção
estatal na estrutura produtiva para acabar com a concentração em mãos de carteis
transnacionais.
27.
Esse indispensável curso de ação, embora doloroso nos estágios iniciais,
resultaria em ganhos inestimáveis, inclusive porque não haveria maneira de
levá-lo adiante sem gerar tecnologia nacional para produzir os bens de capitais
e os insumos necessários ao reerguimento da
economia.
28.
De fato, mesmo excluindo retaliações dos países imperiais, o Brasil estará, de
qualquer modo, impossibilitado de importar esses bens, em face do que apontei
nos parágrafos 22
a 24.
Adriano
Benayon* é
doutor em economia e autor de “Globalização versus Desenvolvimento”.
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