terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sobre “Commonwealth”, Negri & Hart: livro maléfico...



Entreouvido na Vila Vudu
“Toda a imprensa-empresa é a mesma imprensa-empresa, sem tirar nem por (mas sempre tirando o que presta e pondo o que não presta! kkkkkkkkkkkk)”.
“O antimarxismo fundamentalista burro do Wall Street Journal só perde, mesmo, prô antimarxismo fundamentalista burro e golpista do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão), no Brasil-2012! \o/ \o/ \o/ \o/”.
“Quem precisa do jornalismo-que-há?! [E o corvo responde: “só a imprensa-empresa... só a imprensa-empresa...”]”

Deu no Wall Street Journal:

Irmãos em Marx

Abaixo os capitalistas, as nações, os patrões, a família, a propriedade, etc.

7/10/2009, Brian C. Anderson, The Wall Street Journal
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Surpreendentemente, dada a ruína associada a seu nome, Karl Marx está novamente em moda. O revés econômico global fez aumentar as vendas de Das Kapital a picos jamais antes vistos. Michael Moore, com seu mais recente filme, rivaliza com o Comunista Original na denúncia dos males do capitalismo; e, ano passado, a mídia parece ter-se deliciado com os obituários dos proprietários dos meios de produção.

Michael Hardt e Antonio Negri, assim, estão bem posicionados para tirar vantagem do revival de Marx, com a publicação de Commonwealth, no qual reimaginam o marxismo para o século 21.

O Sr. Hardt dá aulas de literatura na Duke University e é pós-modernista radical furioso – quer dizer: é professor universitário nos EUA. O Sr. Negri, teórico da política, tem ficha corrida menos comum. Há 30 anos, o governo italiano convenceu-se de que ele era o líder intelectual do grupo terrorista esquerdista “Brigadas Vermelhas” e arquiteto do sequestro e assassinato, em 1978, do líder do Partido da Democracia Cristã italiana, Aldo Moro. Sem meios para provar o envolvimento do Sr. Negri no assassinato – ele sempre rejeitou as acusações – as autoridades italianas o condenaram por “insurreição armada contra o estado”. Ante os 30 anos de gaiola que o esperavam, o Sr. Negri escafedeu-se para a França, onde permaneceu, filósofo no exílio, até 1997, quando voltou à Itália para cumprir o restante da pena, já então reduzida. É desses gurus da esquerda, cujo campo de trabalho aconteceu bem longe das salas de aula de faculdades.

Commonwealth [1] completa uma trilogia iniciada em 2000 com Império [2] e continuada com Multidão [3] em 2004. O livro é uma poção de bruxas, mistura de diferentes ingredientes do radicalismo contemporâneo. O capitalismo merece morrer, creem os srs. Hardt e Negri, porque violentou e corrompeu “o comum”. O comum não é só “os frutos da terra e o que a natureza dá”, dizem eles; é o universo de coisas necessárias à vida social – “conhecimentos, idiomas, códigos, informação, afetos”. Sob o capitalismo, a natureza é saqueada; a sociedade, brutalizada.

Mesmo assim, as condições para a emancipação do povo florescem dentro do capitalismo, creem os autores (exatamente como Marx acreditava, em meados do século 19). Diferente do operário de fábrica de ontem, o operário do conhecimento, hoje, tem cada vez menos necessidade de patrão. As empresas extraem mais do operário, nos dizem, quando o operário é deixado só para criar, conectar-se e cooperar como bem entenda. Vale também para o “trabalho afetivo” que oferece serviços ao público, “mesmo sob condições de máxima limitação e exploração, como os call centers”.

Os srs. Hardt e Negri propõem que todos se livrem dos patrões, é claro, mas também atacam outro bicho-papão da esquerda radical: a propriedade privada. A posse da propriedade serve de base a estruturas de poder injustas – por que a “riqueza comum” [orig. the “common wealth”] dos mundos humano e natural não poderia ser responsabilidade de todos, recurso de todos? Bem-vindos ao Manifesto Comunista 2.0.

Commonwealth atualiza a defesa que Marx fez do proletariado como agente da revolução. Os autores preferem falar de “a multidão”, que inclui trabalhadores de todos os tipos, naturalmente, mas também reúne as principais forças da política identitária: ativistas negros e hispânicos, feministas radicais, transgressores “homo” [orig. “queer"] e outros supostos agredidos pelo capitalismo global. Nem todos esses se entendem muito bem, os srs. Hardt e Negri admitem; por isso, a esquerda tem de persuadir esse exército-de-reserva, para que valorize a importância do “paralelismo revolucionário”. Movimentos do “Poder Negro” que maltratem homossexuais e mulheres, por exemplo, não têm qualquer futuro promissor. Depois da revolução, contam os autores, as políticas identitárias, bem como a luta de classes, dissolver-se-ão.

Para que a revolução seja bem-sucedida, três formas pressupostas corrompidas do comum têm de ser destruídas. Algumas das frases mais duras de Commonwealth atingem a família: mamãe, papai e as crianças talvez não saibam, mas são parte de uma instituição “patética”, uma “máquina” que “devora e esmaga o comum” com “o egoísmo mais cego”. Os srs. Hardt e Negri clamam: “Abaixo a família!” Os dois outros matadores do espírito do mundo são: a empresa e a nação. Quando a multidão assumir “o controle dos meios de produção e reprodução”, eles prometem, o trio maldito será varrido para a lata marxista de lixo da história.

Os autores alertam os senhores do mundo capitalista de que, se quiserem sobreviver um pouco mais, têm de promover reformas, incluindo a cidadania global; renda para todos; e democracia participativa. Mas os srs. Hardt e Negri não esperam que seus avisos sejam ouvidos. A revolução irromperá – e em breve. Pode ser violenta, o que não parece preocupá-los: “Qual a melhor arma contra os poderes reinantes – luta armada, manifestações pacíficas, êxodo, campanhas pela imprensa, greves de trabalhadores, transgredir as regras de gênero, o silêncio, a ironia ou muitas outras – depende da situação”. Piratas, muçulmanos que tumultuam a periferia de Paris e os Panteras Negras, todos são elogiados em Commonwealth como heróis da ruptura.

Os srs. Hardt e Negri pouco se esforçam para construir argumentos que apoiem suas asserções e predições violentas. Escrevem como quem nada sabe do século 20 e de muitas outras coisas, inclusive de economia e ciência social (ainda citam Lênin e Mao, como se fossem fonte de análise política e econômica aproveitável). Como a abolição da propriedade não levará a estados totalitários violentos, como sempre aconteceu no passado? Os autores garantem que, dessa vez, será diferente, sem explicar por quê. E, se se abole a família, como as crianças crescerão até se converter em adultos produtivos? Temos de crer que o mundo da pós-família será ótimo, porque sim (a palavra “criança” é praticamente omitida no livro). Como os autores livram-se das provas de que a globalização capitalista já arrancou da pobreza milhões de seres humanos? Resposta: não se livram.

Commonwealth é livro sombrio, maléfico. Muito preocupa que tenha sido lançado sob o prestigioso imprimatur da Harvard University Press. Incontáveis milhões de seres humanos foram massacrados por seguidores de Karl Marx no século 20. Deus nos ajude, se o carrasco voltar no século 21.



Notas dos tradutores
[1] Commonwealth, Michael Hardt and Antonio Negri, Harvard University Press, 434 pages, $35 [sem tradução para o português]
[2] Pode ser baixado de Negri, Antonio - Antonio Negri de: FilesTube
[3] Império pode ser baixado de “Cantinho da Educação” (Instituto Veritas) em português. .

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.