Entreouvido
na Vila Vudu
“Toda
a imprensa-empresa é a mesma imprensa-empresa, sem tirar nem por (mas sempre
tirando o que presta e pondo o que não presta!
kkkkkkkkkkkk)”.
“O
antimarxismo fundamentalista burro do Wall Street Journal só perde,
mesmo, prô antimarxismo fundamentalista burro e golpista do Grupo GAFE
(Globo-Abril-FSP-Estadão), no Brasil-2012! \o/ \o/ \o/ \o/”.
“Quem
precisa do jornalismo-que-há?! [E o corvo responde: “só a imprensa-empresa... só
a imprensa-empresa...”]”
Deu no Wall Street Journal:
Irmãos
em Marx
Abaixo
os capitalistas, as nações, os patrões, a família, a propriedade, etc.
7/10/2009, Brian C.
Anderson, The Wall Street Journal
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Surpreendentemente,
dada a ruína associada a seu nome, Karl Marx está novamente em moda. O revés
econômico global fez aumentar as vendas de Das Kapital a picos jamais
antes vistos. Michael Moore, com seu mais recente filme, rivaliza com o
Comunista Original na denúncia dos males do capitalismo; e, ano passado, a mídia
parece ter-se deliciado com os obituários dos proprietários dos meios de
produção.
Michael
Hardt e Antonio Negri, assim, estão bem posicionados para tirar vantagem do
revival de Marx, com a publicação de Commonwealth, no qual
reimaginam o marxismo para o século 21.
O
Sr. Hardt dá aulas de literatura na Duke
University e é pós-modernista radical furioso – quer dizer: é professor
universitário nos EUA. O Sr. Negri, teórico da política, tem ficha corrida menos
comum. Há 30 anos, o governo italiano convenceu-se de que ele era o líder
intelectual do grupo terrorista esquerdista “Brigadas Vermelhas” e arquiteto do
sequestro e assassinato, em 1978, do líder do Partido da Democracia Cristã
italiana, Aldo Moro. Sem meios para provar o envolvimento do Sr. Negri no
assassinato – ele sempre rejeitou as acusações – as autoridades italianas o
condenaram por “insurreição armada contra o estado”. Ante os 30 anos de gaiola
que o esperavam, o Sr. Negri escafedeu-se para a França, onde permaneceu,
filósofo no exílio, até 1997, quando voltou à Itália para cumprir o restante da
pena, já então reduzida. É desses gurus da esquerda, cujo campo de trabalho
aconteceu bem longe das salas de aula de faculdades.
Commonwealth [1]
completa
uma trilogia iniciada em 2000 com Império
[2] e continuada com Multidão [3] em 2004.
O livro é uma poção de bruxas, mistura de diferentes ingredientes do radicalismo
contemporâneo. O capitalismo merece morrer, creem os srs. Hardt e Negri, porque
violentou e corrompeu “o comum”. O comum não é só “os frutos da terra e o que a
natureza dá”, dizem eles; é o universo de coisas necessárias à vida social –
“conhecimentos, idiomas, códigos, informação, afetos”. Sob o capitalismo, a
natureza é saqueada; a sociedade, brutalizada.
Mesmo
assim, as condições para a emancipação do povo florescem dentro do capitalismo,
creem os autores (exatamente como Marx acreditava, em meados do século 19).
Diferente do operário de fábrica de ontem, o operário do conhecimento, hoje, tem
cada vez menos necessidade de patrão. As empresas extraem mais do operário, nos
dizem, quando o operário é deixado só para criar, conectar-se e cooperar como
bem entenda. Vale também para o “trabalho afetivo” que oferece serviços ao
público, “mesmo sob condições de máxima limitação e exploração, como os call
centers”.
Os
srs. Hardt e Negri propõem que todos se livrem dos patrões, é claro, mas também
atacam outro bicho-papão da esquerda radical: a propriedade privada. A posse da
propriedade serve de base a estruturas de poder injustas – por que a “riqueza
comum” [orig. the “common wealth”] dos mundos humano e natural não
poderia ser responsabilidade de todos, recurso de todos? Bem-vindos ao Manifesto
Comunista 2.0.
Commonwealth
atualiza a defesa que Marx fez do proletariado como agente da revolução. Os
autores preferem falar de “a multidão”, que inclui trabalhadores de todos os
tipos, naturalmente, mas também reúne as principais forças da política
identitária: ativistas negros e hispânicos, feministas radicais, transgressores
“homo” [orig. “queer"] e outros supostos agredidos pelo capitalismo
global. Nem todos esses se entendem muito bem, os srs. Hardt e Negri admitem;
por isso, a esquerda tem de persuadir esse exército-de-reserva, para que
valorize a importância do “paralelismo revolucionário”. Movimentos do “Poder
Negro” que maltratem homossexuais e mulheres, por exemplo, não têm qualquer
futuro promissor. Depois da revolução, contam os autores, as políticas
identitárias, bem como a luta de classes, dissolver-se-ão.
Para
que a revolução seja bem-sucedida, três formas pressupostas corrompidas do comum
têm de ser destruídas. Algumas das frases mais duras de Commonwealth
atingem a família: mamãe, papai e as crianças talvez não saibam, mas são parte
de uma instituição “patética”, uma “máquina” que “devora e esmaga o comum” com
“o egoísmo mais cego”. Os srs. Hardt e Negri clamam: “Abaixo a família!” Os dois
outros matadores do espírito do mundo são: a empresa e a nação. Quando a
multidão assumir “o controle dos meios de produção e reprodução”, eles prometem,
o trio maldito será varrido para a lata marxista de lixo da história.
Os
autores alertam os senhores do mundo capitalista de que, se quiserem sobreviver
um pouco mais, têm de promover reformas, incluindo a cidadania global; renda
para todos; e democracia participativa. Mas os srs. Hardt e Negri não esperam
que seus avisos sejam ouvidos. A revolução irromperá – e em breve. Pode ser
violenta, o que não parece preocupá-los: “Qual a melhor arma contra os poderes
reinantes – luta armada, manifestações pacíficas, êxodo, campanhas pela
imprensa, greves de trabalhadores, transgredir as regras de gênero, o silêncio,
a ironia ou muitas outras – depende da situação”. Piratas, muçulmanos que
tumultuam a periferia de Paris e os Panteras Negras, todos são elogiados em
Commonwealth como heróis da ruptura.
Os
srs. Hardt e Negri pouco se esforçam para construir argumentos que apoiem suas
asserções e predições violentas. Escrevem como quem nada sabe do século 20 e de
muitas outras coisas, inclusive de economia e ciência social (ainda citam Lênin
e Mao, como se fossem fonte de análise política e econômica aproveitável). Como
a abolição da propriedade não levará a estados totalitários violentos, como
sempre aconteceu no passado? Os autores garantem que, dessa vez, será diferente,
sem explicar por quê. E, se se abole a família, como as crianças crescerão até
se converter em adultos produtivos? Temos de crer que o mundo da pós-família
será ótimo, porque sim (a palavra “criança” é praticamente omitida no livro).
Como os autores livram-se das provas de que a globalização capitalista já
arrancou da pobreza milhões de seres humanos? Resposta: não se livram.
Commonwealth é
livro sombrio, maléfico. Muito preocupa que tenha sido lançado sob o prestigioso
imprimatur da Harvard University
Press. Incontáveis milhões de seres humanos foram massacrados por seguidores
de Karl Marx no século 20. Deus nos ajude, se o carrasco voltar no século
21.
Notas
dos tradutores
[1]
Commonwealth, Michael Hardt and
Antonio Negri, Harvard University Press, 434 pages, $35
[sem tradução para o português]
[2] Pode ser baixado de Negri,
Antonio - Antonio Negri de: FilesTube
[3]
“Império”
pode ser baixado de “Cantinho da Educação” (Instituto Veritas) em português.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.