29/9/2012, Zheng
Yongnian, China.org
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Zheng Yongnian |
Zheng
Yongnian
é diretor do Instituto Ásia Oriental, da Universidade Nacional de
Cingapura.
Os
EUA dizem que sua estratégia fartamente noticiada de “movimento de pivô na
direção da Ásia” visa a “conter” a ameaça de uma China emergente, para manter a
ordem existente. Mas os efeitos dessa estratégia parecem estar resultando
exatamente no contrário disso.
A
Ásia estaria hoje mais estável do que antes de os EUA adotarem a nova estratégia
para a região do Pacífico Asiático? Muito evidentemente, não está. A China e os
EUA viviam antes em relativos bons termos. Mas várias mudanças dramáticas
ocorreram na Ásia, que só se explicam como efeito da nova política dos EUA.
Antes
dessa nova política, a China e outras nações asiáticas constantemente
ajustavam-se umas às outras, para atender as necessidades umas das outras.
Muitos países asiáticos, em especial as nações reunidas desde 1967 na Associação
das Nações do Sudeste da Ásia (Association of South-East Asian Nations - ASEAN), adotaram política externa
pragmática. Viram o crescimento econômico da China como oportunidade e,
resultado disso, ajustaram adequadamente suas relações com a China. A China, por
sua vez, deu prioridade às suas relações comerciais e econômicas com outros
países asiáticos; e, coerente com isso, manteve posição comedida e discreta nas
questões políticas e estratégicas e reconheceu a liderança da ASEAN.
Países da ASEAN, Associação das Nações do Sudeste da Ásia |
Graças
a esse esforço mútuo e coordenado, o relacionamento entre as nações reunidas na
ASEAN e a China conheceu rápido progresso; e as relações entre a China e
outros países asiáticos foram-se gradualmente institucionalizando através de
vários canais regionais, internacionais, bilaterais e multilaterais.
Muitos
especialistas ocidentais já reconheceram essa evidência, ao longo dos últimos 30
anos. A Ásia preservou a paz, apesar do rápido crescimento da China – como a
demonstrar o erro da teoria que fala da “tragédia política das grandes
potências”, segundo a qual toda potência emergente fatalmente desafiaria a
potência existente. A paz na Ásia, em larga medida, foi resultado de decisões
racionais e do mútuo ajustamento dos países asiáticos, incluindo a China. A
China deu absoluta prioridade estratégica à economia e ao comércio, não à força
militar.
Por
tudo isso, a dita “ameaça” que os EUA enfrentariam na Ásia – os temores de que a
China venha eventualmente a “exportar-se” como potência para fora da Ásia – tem
muito mais de imaginação e fantasia, que de realidade.
Assim
sendo, de onde vem os medos dos norte-americanos? Inúmeros fatores contribuem
para esses medos, dentre os quais o chamado “dilema de segurança” causado pela
anarquia estrutural nas relações internacionais, diferenças de ideologia
política e falta de confiança na China.
Como
o “movimento de pivô na direção da Ásia”, dos EUA, afeta a política regional? É
preciso aqui considerar as relações entre China e EUA; entre China e outros
países asiáticos; e entre EUA e outros países asiáticos.
Para
começar, a estratégia dos EUA mudou – pode-se dizer que interrompeu – o processo
de mútua adaptação da China e outros países asiáticos. Embora o governo Obama só
tenha falado da nova estratégia, e tudo esteja ainda no campo da retórica
política, a mudança foi suficiente para que muitos países asiáticos passassem a
esperar cada dia mais ajuda dos EUA. Supondo que os EUA investirão quantidades
descomunais de recursos para impor-se ante a China, como os EUA fizeram contra a
União Soviética durante a Guerra Fria, esses países, especialmente os que têm
disputas de fronteiras marítimas com a China, optaram por alinhar-se aos EUA.
Apesar de a resposta da China à estratégia dos EUA ter sido em larga medida
defensiva, mesmo assim houve mudança suficiente para impedir que as relações com
aqueles países continuassem a evoluir.
Em
segundo lugar, o “movimento de pivô” dos EUA modificou a prioridade na Ásia, que
passou, de política econômica, para política estratégica.
Isso
foi feito, pelo menos em parte, porque os EUA reavaliaram suas próprias forças.
Depois do início da crise financeira, o domínio econômico dos EUA enfraqueceu;
mas os EUA ainda são a maior potência bélica do mundo. Durante a Guerra Fria,
presença militar e presença econômica tiveram pesos equivalentes na política
externa dos EUA. Mas agora, com o “movimento de pivô”, os EUA estão
reintroduzindo a competição estratégico-bélica na Ásia. Essa alteração forçou a
China a também mover seu foco: da economia para a estratégia militar.
Ao
longo de muitos anos de esforços conjuntos, China e EUA realmente chegaram a
construir relações bilaterais muito próximas, sobretudo na cooperação econômica,
comércio e finanças. Resultado desses esforços, especialistas norte-americanos
cunharam a palavra “ChinAmérica” para descrever as interações e interdependência
entre China e EUA. Mas esse relacionamento foi alterado, quando os EUA
reintroduziram na equação, a competição estratégica.
A
história já mostrou várias vezes que a competição econômica pode ser benigna.
Mas o confronto estratégico só pode levar, como sempre levou, ao confronto
militar. Quando EUA e China chegarem a esse confronto, estarão inevitavelmente
reproduzindo os papéis das duas antigas cidades-estado gregas, Atenas e Esparta;
ou de EUA e União Soviética, na Guerra Fria.
Os
EUA baseiam seu “movimento de pivô na direção da Ásia” no que entendem como
“interesse nacional”. E também é difícil para a China mudar a compreensão dos
próprios interesses nacionais. Mas isso não implica que o confronto militar
China-EUA seja inevitável.
Se
os EUA querem contrabalançar a China na Ásia, movendo-se como pivô de volta para
cá, caberá à China encontrar meios para contrabalançar os EUA, porque encontrar
esses meios é a garantia de paz.
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