Publicado em 11/09/2012 por Rui Martins*
Direto de Berna (Suiça) - A
mistura de povos, o chamado multiculturalismo, é coisa boa ou coisa ruim
?
Atualmente, o maior inimigo da
multicultura na Europa, é o norueguês Anders Breivik, responsável pelo
assassinato de 77 pessoas, a maioria abatida à queima-roupa, e, por isso,
condenado à pena máxima, 21 anos, na Noruega.
Durante todo o processo, diante da
justiça exemplar norueguesa que garantiu ao criminoso ampla defesa, Breivik
sempre exibiu seu gesto de militante neonazista e procurou justificar o ato de
abater à bala jovens participantes de uma reunião do partido trabalhista, sem
qualquer outra razão se não a de estarem manchando a pele ou o pensamento branco
tradicional norueguês com suas culturas vindas do estrangeiro.e
Ora, no mesmo dia do
pronunciamento da sentença por um tribunal norueguês, saía nas livrarias
francesas um pequeno livro, no qual um intelectual fazia o elogio literário do
assassino Breivik.
Richard Millet |
Seu nome, Richard Millet, escritor
mas igualmente membro da comissão de leitura da editora francesa Gallimard, que
seleciona os livros a serem editados.
Diante do horror criado com suas
18 páginas, Millet se apressou a declarar não aprovar os atos do racista
defensor dos brancos cristãos do Ocidente, mas que houve uma perfeição formal do
ponto de vista literário, no massacre cometido por Breivik na ilha de
Utoya.
Num trecho do seu texto, Millet
fala que costuma ser o único branco no metrô, querendo denunciar a miscigenação
e a imigração como destruidoras das bases tradicionais e culturais da Noruega e
igualmente da Europa. Branco, católico, de origem francesa, como o próprio
Millet se define, esse defensor do Mal provocou arrepio e mal estar na
França.
Na contra-corrente dos que
defendem a pluralidade cultural como um passo ao entendimento mundial, Millet
lamenta a invasão européia pelos imigrantes de hábitos, cultura e mesmo idiomas
diferentes. E que a Noruega teve o Breivik que merecia.
Será que o intelectual neonazista
está sozinho na sua cruzada cristã contra os estrangeiros por estarem mestiçando
a Europa?
Talvez não, porque
multiculturalismo também não é coisa bem aceita no Brasil. A cultura branca
elitista ainda não digeriu a atual mutação social brasileira com o progressivo
reconhecimento da igualdade da população negra, que não tem de restringir só ao
samba, ao futebol e ao banditismo, mas começa a ter acesso às universidades e
aos bons empregos privados e públicos.
O racismo sofisticado do
intelectual francês nos lembra o desafogo de um dos nossos ditadores, que
preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo. A elite ou a suposta elite
brasileira ainda hoje range os dentes com o fato de um homem do povo, sem acesso
às universidades, ter chegado à presidência, do Sul ter se misturado com o
Nordeste e dos filhos de muitos pés-de-chinelo terem hoje acesso ao curso
universitário.
Nas colunas da grande imprensa
brasileira, tem muito Richard Millet defendendo discretamente e com outras
palavras o racismo e a exclusão dos pobres, negros e mestiços, contando com o
apoio silencioso e dedicado dos tradicionalistas e quatrocentões.
________________
Rui Martins* é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder
emigrante, membro eleito do Conselho Provisório e do atual Conselho de
emigrantes (CRBE) junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos
Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreveu o livro
Dinheiro Sujo da Corrupção sobre as contas suíças secretas de Maluf. Colabora
com o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência
BrPress
Enviado por Direto
da Redação
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