27-29/7/2012, Gareth Porter, Counterpunch - The Profile of an Al Qaeda Operation: Which “Terror Plots”
are Relevant to Burgas?
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Gareth Porter |
Se se acompanha a
cobertura na mídia noticiosa dos EUA do atentado à bomba em Burgas, Bulgária,
parece fácil decidir pela responsabilidade do Hezbollah, que se confirmaria por
outro plano recentemente descoberto de atentado, que aquele grupo libanês teria
planejado contra israelenses em Chipre e noutros pontos. O New York Times cita fontes anônimas, funcionários do
governo dos EUA, que teriam dito que o ataque em Burgas teria “todas as marcas
registradas” de “atentado executado pelo Hezbollah, inclusive dada a prisão em
Chipre, no início do mês de um suspeito de trabalhar como agente do Hezbollah e
de planejar atentados contra turistas israelenses”.
Querem dizer então
que a prisão de alguém “suspeito” de trabalhar como agente do Hezbollah, do qual
se “suspeita” que planejasse matar turistas israelenses, seria prova da
atividade de alguém em outro atentado que matou turistas israelenses? Bibi
Netanyahu falou sobre o caso ao canal
Fox News no domingo à
noite, como se o libanês preso em Chipre fosse autor de tudo que foi feito em
Burgas, exceto detonar a bomba. E a mesma conversa continua, idêntica, também na
mídia-empresa em Israel.
Contudo, como
noticiei no início da semana, o caso de Chipre é muitíssimo mais complexo do que
Netanyahu e os tais funcionários anônimos do governo dos EUA só fazem repetir
que seria.
Alto funcionário
do governo de Chipre disse à agência Reuters que “Não se tem confirmação de que
houvesse alvo em Chipre, muito menos de quem seria o alvo”. Além do mais,
investigadores cipriotas creem que o libanês que prenderam, suspeito de planejar
ataques a turistas israelenses, trabalhasse sozinho, o que afasta quase
completamente qualquer probabilidade de que se tratasse de operação do
Hezbollah.
O aspecto mais
significativo talvez seja que não foi encontrado, associado ao libanês preso em
Chipre, qualquer vestígio de bomba ou de materiais explosivos ou outros,
indispensáveis para produzir alguma bomba. O governo de Chipre ainda não obteve
qualquer tipo de prova que justificasse acusar formalmente o libanês preso (que
não parece ter violado qualquer lei cipriota).
É indispensável
preservar um saudável ceticismo em relação a tudo que cerca a prisão feita em
Chipre, e muito mais indispensável é manter ativas as mais amplas dúvidas também
em torno da prisão, em Bangkok, em meados de janeiro, de outro libanês, portador
de passaporte sueco e também preso por suspeita de ser agente do Hezbollah.
A prisão aconteceu
depois do que o primeiro-ministro tailandês descreveu como “semanas de ação
coordenada com Israel”. Os israelenses parecem ter convencido o chefe de polícia
tailandês do que nunca passou de desconfiança sem qualquer evidência ou prova –
de que o tal homem estaria planejando massivo ataque terrorista semelhante ao
massacre em Mumbai, 2008, que incluiria a Embaixada de Israel, sinagogas,
empresas de turismo e restaurantes
kosher.
O libanês preso
foi acusado de ter com ele nitrato de amônia e adubo feito de uréia, materiais
que podem ser usados para fabricar bombas, mas nenhum dos outros itens sem os
quais não se fazem os artefatos explosivos. E o ex-chefe de polícia, hoje
secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional Tailandês, manifestou dúvidas
de que o homem fosse terrorista.
Não se deve
esquecer que os israelenses, naquele momento, planejavam o atentado terrorista
no qual seria assassinado o cientista iraniano Mostafa Ahmadi-Roshan, entre o
início e meados de janeiro. A história que os israelenses distribuíram, de que
algum massivo atentado terrorista estaria previsto para meados de janeiro e que
chegou às autoridades da Tailândia dia 22 de dezembro, foi extremamente
conveniente, para desviar a atenção para bem longe da inevitável imprensa
negativa que a ação de terroristas israelenses fatalmente geraria.
O governo Obama
aceitou as frouxas evidências recolhidas em Chipre e Bangkok como indícios
relevantes para a investigação sobre o atentado em Burgas, mas nenhum
funcionário ou especialista manifestou qualquer interesse pelo grave problema do
aumento considerável de atentados suicidas contra turistas israelenses.
Tanto quanto se
pode julgar, o motivo pelo qual o governo de Obama guarda o mais ensurdecedor
silêncio sobre esse grave problema é simples: todos os ataques terroristas desse
tipo têm sido assumidos, já há algum tempo, não pelo Hezbollah, mas pela
al-Qaeda ou por grupo que se declara afiliado da al-Qaeda.
O primeiro ataque
de homem-bomba contra turistas israelenses foi obra da al-Qaeda em Mombasa,
Quênia, em novembro de 2002. A operação envolveu tentativa de
derrubar com mísseis portáteis um jato israelense de passageiros, quando
decolava do aeroporto de Mombasa; depois, veio o triplo ataque com carros-bombas
e suicidas-bombas, contra um hotel de propriedade de israelenses em Mombasa. O míssil não
acertou o avião, mas os carros e suicidas-bombas mataram três turistas
israelenses e 10 quenianos.
O baixo número de
mortos israelenses mostra bem as intenções da al-Qaeda. Ao declarar-se autora
dos ataques em Mombasa, a rede Al-Qaeda declarou que seus ataques visavam “a
aliança judaico-cristã”; e prometeu novos e mais letais ataques a judeus em todo
o mundo.
Em outubro de
2004, três suicidas-bombas detonaram um caminhão carregado de explosivos no
Hilton Hotel em Taba e em dois outros
resorts no Mar Negro,
frequentados por turistas israelenses no Egito; a maioria dos 34 mortos eram
turistas israelenses. As Brigadas Abdullah Azzam, grupo afiliado da Al-Qaeda,
assumiram a autoria do ataque. A organização declarou que visava a “purificar a
terra de Taba, livrando-a da imundície e da corrupção dos netos de macacos e
porcos”.
Em julho de 2005,
mais três ataques terroristas com homens-bomba mataram pelo menos 88 pessoas
numa área de shopping &
hotel lotada de turistas, inclusive israelenses, na cidade de veraneio de Sharm
el Sheik, no Mar Vermelho egípcio. As Brigadas Abdullah Azzam mais uma vez
assumiram a autoria do ataque, que apresentaram como “contra os cruzados, os
sionistas e o renegado regime egípcio”.
As Brigadas
Abdullah Azzam foram declaradas “organização terrorista estrangeira”, pelo
Departamento de Estado dos EUA dia 24/5/2012. Muito estranhamente, a declaração
oficial cita 2009 como data da constituição do grupo; e ignora toda essa
história da participação das Brigadas AA em ataques-suicidas contra turistas
israelenses no Egito. Mas, sim, diz que as Brigadas têm bases no Líbano, de onde
são lançados ataques com foguetes contra bairros populosos no norte de Israel.
Ainda que o estado
norte-americano de segurança nacional não tenha interesse em reconhecer que o
atentado a bomba que matou israelenses em Burgas encaixa-se perfeitamente no
perfil das operações terroristas da al-Qaeda, não na ação do Hezbollah libanês,
nada justifica que a imprensa norte-americana também fracasse e contribua para
ocultar essa verdade inconveniente.
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