segunda-feira, 30 de julho de 2012

O atentado na Bulgária: “Tudo indica operação da Al-Qaeda” (não do Hezbollah)


Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Gareth Porter
Se se acompanha a cobertura na mídia noticiosa dos EUA do atentado à bomba em Burgas, Bulgária, parece fácil decidir pela responsabilidade do Hezbollah, que se confirmaria por outro plano recentemente descoberto de atentado, que aquele grupo libanês teria planejado contra israelenses em Chipre e noutros pontos. O New York Times cita fontes anônimas, funcionários do governo dos EUA, que teriam dito que o ataque em Burgas teria “todas as marcas registradas” de “atentado executado pelo Hezbollah, inclusive dada a prisão em Chipre, no início do mês de um suspeito de trabalhar como agente do Hezbollah e de planejar atentados contra turistas israelenses”.

Querem dizer então que a prisão de alguém “suspeito” de trabalhar como agente do Hezbollah, do qual se “suspeita” que planejasse matar turistas israelenses, seria prova da atividade de alguém em outro atentado que matou turistas israelenses? Bibi Netanyahu falou sobre o caso ao canal Fox News no domingo à noite, como se o libanês preso em Chipre fosse autor de tudo que foi feito em Burgas, exceto detonar a bomba. E a mesma conversa continua, idêntica, também na mídia-empresa em Israel.

Contudo, como noticiei no início da semana, o caso de Chipre é muitíssimo mais complexo do que Netanyahu e os tais funcionários anônimos do governo dos EUA só fazem repetir que seria.

Alto funcionário do governo de Chipre disse à agência Reuters que “Não se tem confirmação de que houvesse alvo em Chipre, muito menos de quem seria o alvo”. Além do mais, investigadores cipriotas creem que o libanês que prenderam, suspeito de planejar ataques a turistas israelenses, trabalhasse sozinho, o que afasta quase completamente qualquer probabilidade de que se tratasse de operação do Hezbollah.

O aspecto mais significativo talvez seja que não foi encontrado, associado ao libanês preso em Chipre, qualquer vestígio de bomba ou de materiais explosivos ou outros, indispensáveis para produzir alguma bomba. O governo de Chipre ainda não obteve qualquer tipo de prova que justificasse acusar formalmente o libanês preso (que não parece ter violado qualquer lei cipriota).

É indispensável preservar um saudável ceticismo em relação a tudo que cerca a prisão feita em Chipre, e muito mais indispensável é manter ativas as mais amplas dúvidas também em torno da prisão, em Bangkok, em meados de janeiro, de outro libanês, portador de passaporte sueco e também preso por suspeita de ser agente do Hezbollah.

A prisão aconteceu depois do que o primeiro-ministro tailandês descreveu como “semanas de ação coordenada com Israel”. Os israelenses parecem ter convencido o chefe de polícia tailandês do que nunca passou de desconfiança sem qualquer evidência ou prova – de que o tal homem estaria planejando massivo ataque terrorista semelhante ao massacre em Mumbai, 2008, que incluiria a Embaixada de Israel, sinagogas, empresas de turismo e restaurantes kosher.

O libanês preso foi acusado de ter com ele nitrato de amônia e adubo feito de uréia, materiais que podem ser usados para fabricar bombas, mas nenhum dos outros itens sem os quais não se fazem os artefatos explosivos. E o ex-chefe de polícia, hoje secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional Tailandês, manifestou dúvidas de que o homem fosse terrorista.

Não se deve esquecer que os israelenses, naquele momento, planejavam o atentado terrorista no qual seria assassinado o cientista iraniano Mostafa Ahmadi-Roshan, entre o início e meados de janeiro. A história que os israelenses distribuíram, de que algum massivo atentado terrorista estaria previsto para meados de janeiro e que chegou às autoridades da Tailândia dia 22 de dezembro, foi extremamente conveniente, para desviar a atenção para bem longe da inevitável imprensa negativa que a ação de terroristas israelenses fatalmente geraria.

O governo Obama aceitou as frouxas evidências recolhidas em Chipre e Bangkok como indícios relevantes para a investigação sobre o atentado em Burgas, mas nenhum funcionário ou especialista manifestou qualquer interesse pelo grave problema do aumento considerável de atentados suicidas contra turistas israelenses.

Tanto quanto se pode julgar, o motivo pelo qual o governo de Obama guarda o mais ensurdecedor silêncio sobre esse grave problema é simples: todos os ataques terroristas desse tipo têm sido assumidos, já há algum tempo, não pelo Hezbollah, mas pela al-Qaeda ou por grupo que se declara afiliado da al-Qaeda.

O primeiro ataque de homem-bomba contra turistas israelenses foi obra da al-Qaeda em Mombasa, Quênia, em novembro de 2002. A operação envolveu tentativa de derrubar com mísseis portáteis um jato israelense de passageiros, quando decolava do aeroporto de Mombasa; depois, veio o triplo ataque com carros-bombas e suicidas-bombas, contra um hotel de propriedade de israelenses em Mombasa. O míssil não acertou o avião, mas os carros e suicidas-bombas mataram três turistas israelenses e 10 quenianos.

O baixo número de mortos israelenses mostra bem as intenções da al-Qaeda. Ao declarar-se autora dos ataques em Mombasa, a rede Al-Qaeda declarou que seus ataques visavam “a aliança judaico-cristã”; e prometeu novos e mais letais ataques a judeus em todo o mundo.

Em outubro de 2004, três suicidas-bombas detonaram um caminhão carregado de explosivos no Hilton Hotel em Taba e em dois outros resorts no Mar Negro, frequentados por turistas israelenses no Egito; a maioria dos 34 mortos eram turistas israelenses. As Brigadas Abdullah Azzam, grupo afiliado da Al-Qaeda, assumiram a autoria do ataque. A organização declarou que visava a “purificar a terra de Taba, livrando-a da imundície e da corrupção dos netos de macacos e porcos”.

Em julho de 2005, mais três ataques terroristas com homens-bomba mataram pelo menos 88 pessoas numa área de shopping & hotel lotada de turistas, inclusive israelenses, na cidade de veraneio de Sharm el Sheik, no Mar Vermelho egípcio. As Brigadas Abdullah Azzam mais uma vez assumiram a autoria do ataque, que apresentaram como “contra os cruzados, os sionistas e o renegado regime egípcio”.

As Brigadas Abdullah Azzam foram declaradas “organização terrorista estrangeira”, pelo Departamento de Estado dos EUA dia 24/5/2012. Muito estranhamente, a declaração oficial cita 2009 como data da constituição do grupo; e ignora toda essa história da participação das Brigadas AA em ataques-suicidas contra turistas israelenses no Egito. Mas, sim, diz que as Brigadas têm bases no Líbano, de onde são lançados ataques com foguetes contra bairros populosos no norte de Israel.

Ainda que o estado norte-americano de segurança nacional não tenha interesse em reconhecer que o atentado a bomba que matou israelenses em Burgas encaixa-se perfeitamente no perfil das operações terroristas da al-Qaeda, não na ação do Hezbollah libanês, nada justifica que a imprensa norte-americana também fracasse e contribua para ocultar essa verdade inconveniente.

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