23/7/2012, Annie Machon e
Ray McGovern, Consortium News
“Will Downing St.
Memo Recur on Iran ?”
Traduzido pelo
pessoal da Vila
Vudu
Exclusivo:
Uma
década depois do infame “Memorando de Downing Street” [orig. Downing Street Memo] e sua
inteligência “reformada” para a invasão do Iraque, volta a pressão para que se
‘reformem’ os fatos – quase todos – de modo a viabilizar mais uma guerra, dessa
vez contra o Irã. O MI6 britânico e a CIA curvar-se-ão outra vez?
É
o que perguntam dois ex-analistas de inteligência, Annie Machon e Ray
McGovern.
Comentários
recentes vindos de Sir John Sawers, atual chefe do MI6 britânico
(serviço secreto de inteligência, equivalente britânico da CIA norte-americana),
nos obrigam a considerar a possibilidade de que Sawers se prepare para
“reformar” a inteligência sobre o Irã, exatamente como fez seu antecessor Sir John Scarlett, que “reformou” a inteligência
reunida sobre o Iraque.
É relativamente
bem conhecido o papel de Scarlett no período que antecedeu a invasão do Iraque,
quando se inventaram “dossiês pré-arranjados”, que ampliavam a ameaça das
inexistentes “armas de destruição em massa”. Dia 4 de julho passado, outra vez
acenderam-se as luzes de alerta contra manipulação política de informes de
inteligência, luminosas, em Londres, quando Sawers disse a altos funcionários da
burocracia britânica que o Irã está “a dois anos de tornar-se estado nuclear”.
De onde terá Sawers tirados esse preciso prazo de “dois
anos”?
Comentários
recentes vindos de Sir John Sawers, atual chefe do MI6 britânico
(serviço secreto de inteligência, equivalente britânico da CIA norte-americana),
nos obrigam a considerar a possibilidade de que Sawers se prepare para
“reformar” a inteligência sobre o Irã, exatamente como fez seu antecessor Sir John Scarlett, que “reformou” a inteligência
reunida sobre o Iraque.
É relativamente
bem conhecido o papel de Scarlett no período que antecedeu a invasão do Iraque,
quando se inventaram “dossiês pré-arranjados”, que ampliavam a ameaça das
inexistentes “armas de destruição em massa”. Dia 4 de julho passado, outra vez
acenderam-se as luzes de alerta contra manipulação política de informes de
inteligência, luminosas, em Londres, quando Sawers disse a altos funcionários da
burocracia britânica que o Irã está “a dois anos de tornar-se estado nuclear”.
De onde terá Sawers tirados esse preciso prazo de “dois anos”?
Desde 2007, o
parâmetro para avaliar o programa nuclear iraniano é a conclusão unânime de
todas as 16 agências de inteligência dos EUA, segundo as quais o Irã suspendeu
seu programa nuclear no final de 2003 e, até meados de 2007, não o havia
reativado. Essas conclusões têm sido validadas anualmente todos os anos, desde
então, apesar do que digam Israel e seus apoiadores neoconservadores, sem
apresentar qualquer prova.
O documento
conhecido como US National Intelligence Estimate (NIE) de 2007 ajudou a conter o
projeto de atacar o Irã em 2008, último ano do governo Bush/Cheney. É fato
registrado até nas memórias de George Bush, Decision Points, nas quais o autor
lastima a “surpreendente declaração da NIE: ‘Estamos muito fortemente
convencidos de que, no outono de 2003, Teerã suspendeu seu programa de armas
nucleares.’”
E Bush continua:
“Mas depois da NIE, como poderia eu explicar o uso dos militares para destruir
instalações nucleares de um país do qual a comunidade de inteligência dizia não
ter programa ativo de armas nucleares?” (Decision Points, p.
419)
De mãos atadas na
frente militar, floresceram as operações clandestinas dos EUA, que, à época,
apropriaram-se de $400 milhões para uma enorme escalada do lado obscuro da força
na luta contra o Irã, segundo fontes militares, de inteligência e do Congresso
citadas por Seymour Hersh em 2008.
A guerra tão
clandestina quanto real contra o Irã incluiu ataques de vírus de computadores,
assassinato de cientistas iranianos e o que os israelenses chamam de
desaparecimento “não natural” de altos funcionários, dentre os quais o
major-general da Guarda Revolucionária Hassan Moghaddam, pai do programa
iraniano de mísseis.
Moghaddam foi
morto numa violentíssima explosão, em novembro passado, com a revista Time citando “uma fonte da inteligência
ocidental” que teria dito que o Mossad estaria por trás da explosão. Mais
perigosas para o Irã são as severas sanções econômicas impostas ao país e cuja
imposição equivale a ato de guerra.
O
primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu e neoconservadores pró-Israel nos
EUA e por toda a parte têm pressionado a favor de imediato ataque ao Irã,
recolhendo cada pretexto que consigam encontrar ou inventar. Exemplo recente é
Netanyahu, que foi suspeitamente rápido ao aparecer com denúncias de que o Irã
estaria por trás do trágico atentado terrorista que matou turistas israelenses
na Bulgária, dia 18 de julho passado, apesar de as autoridades búlgaras e até a
Casa Branca já terem alertado no sentido de ainda precipitado atribuir
responsabilidades, naquele caso.
A acusação
instantânea, automática, feita por Netanyahu contra o Irã sugere fortemente que
ele esteja já à caça de desculpas ‘prévias’. Com o Golfo Persa em situação de
acidente à espera de acontecer, congestionado como está com navios de guerra dos
EUA, da Grã-Bretanha e outros – e sem canais de comunicação segura com os
comandantes da Marinha iraniana – nunca, mais do que hoje, esteve preparado o
cenário para um acidente, ou para ato de ativa provocação que gere rápida
escalada no conflito.
23
de julho, Dia da Infâmia
Estranhamente, o
discurso de Sawers dia 4 de julho aconteceu às vésperas de data importante – o
décimo aniversário de um triste dia para a inteligência britânica e
norte-americana que trabalhava sobre o Iraque. Dia 23 de julho de 2002, em
reunião em 10 Downing Street, o então chefe do MI6, John Dearlove, comunicou ao
primeiro-ministro Tony Blair e a outros altos funcionários do governo a conversa
que tivera com George Tenet, diretor da CIA, em Washington, três dias
antes.
Nos termos
oficiais do briefing (hoje conhecido como “Memorando Downing
Street”), que foi vazado para o London Times e publicado dia 1/5/2005, Dearlove explica
que George Bush decidira atacar o Iraque; e que a guerra devia ser “justificada
pela conjunção de terrorismo e armas de destruição em
massa”.
Quando o então
secretário de Assuntos Exteriores Jack Straw chamou a atenção para o argumento
“ralo”, Dearlove explicou como se nada houvesse, ali, de espantoso: “A
inteligência e os fatos estão sendo reformados em torno da
política”.
Não há anotação,
nos registros da conversa, de que alguém tenha tido crise de soluços – muito
menos que alguém tenha protestado contra declarar-se ali guerra absolutamente
injustificável, ou de que alguém tenha tentado abalar a determinação de Blair de
unir-se a Bush para fazerem o tipo de “guerra de agressão” que o Tribunal de
Nuremberg tornou expressamente ilegal depois da IIa. Guerra Mundial e ilegal
também nos termos da Carta das Nações Unidas.
Ajudado pela
conivência de seus espiões-chefes, o governo Blair abraçou ali uma prática
política sem qualquer controle democrático, indiferente aos informes e avaliação
de qualquer inteligência e regida por documentos falsificados, com desastrosas
consequências para o mundo.
Os cidadãos
britânicos foram empanturrados, pelo Dossiê de Setembro (2002), com quantidades
astronômicas de inteligência forjada e em seguida, seis semanas antes do ataque
ao Iraque, meteram-lhes goela abaixo o “Dossiê Reformado”, baseado
principalmente numa tese de PhD já velha de 12 anos, baixada da Internet –
requentada por espiões e políticos mancomunados naquele golpe, como se lá
existisse alguma obscena inteligência premonitória.
Assim se fez a
guerra do Iraque. Só mentiras, que resultaram em centenas de milhares de mortos
e mutilados além de milhões de iraquianos sem casa, que vagam sem destino ou
futuro. Até agora, ninguém respondeu por esse crime.
Sir Richard Dearlove, que poderia ter
evitado tudo isso, se fosse íntegro o suficiente para falar, foi premiado com
aposentadoria com honras e salário integrais e foi nomeado Master de uma faculdade de Cambridge. John
Scarlett, o qual, como presidente do Comitê Conjunto de Inteligência, assinou os
dossiês falsificados, foi recompensado com um título de Cavaleiro e o emprego
de top espião no MI6. George W. Bush condecorou
George Tenet com a Medalha Presidencial da Liberdade – a mais alta condecoração
civil nos EUA.
Quem precisa de
mais provas? “São eles, todos eles, homens honrados” –– lembrança dos aliados do
assassino Brutus, na peça de Shakespeare, mas sem Marco Antônio que os exponha e
faça despertar a adequada resposta popular.
Aí de fato está o
problema: em vez de denunciados, acusados e julgados, para que respondam pelos
seus crimes, os tais “homens honrados” foram, ora... Foram homenageados. A
evidência de que todos se safaram oferece tenebroso exemplo a burocratas
ambiciosos, sempre prontos a deixar o jogo sujo correr solto e a navegar para
onde os mandem os ventos dominantes.
A homenagem fácil
e o favor nem detêm nem desincentivam os atuais e futuros chefes de inteligência
tentados a produzir e seguir inteligência corrompida, em vez de impor fatos aos
seus chefetes políticos, simples fatos não adulterados. Integridade? Nesse milieu, a integridade atrai perigos,
não homenagens. E pode acontecer de você ser expulso do
clube.
A
operação de “reformar” informação, no caso do Irã
Estaremos entrando
em mais uma rodada de informação “reformada” – agora sobre o Irã? Logo
saberemos. O primeiro-ministro de Israel Netanyahu, sobre o ataque terrorista na
Bulgária, já forneceu quantidade gigantesca de uma variação do mote de Dearlove
de dez anos atrás. Já opera na direção de justificar a guerra “pela conjunção de
terrorismo e armas de destruição em massa”.
Segundo o Jerusalem Post do dia 17 de julho, Netanyahu disse que
todos os países que entendem que o Irã é exportador mundial de terrorismo devem
unir-se a Israel e “declarar claramente o fato” – enfatizando a importância de
impedir que o Irã produza armas nucleares.
Em aparições no
domingo, no programa Face the
Nation da rede CBS e em Fox News Sunday, Netanyahu voltou
àquele tema. Culpou o Hizbollah libanês, apoiado pelo Irã, pelo ataque
terrorista na Bulgária. E convidou os telespectadores a imaginar o que
aconteceria se o regime mais perigoso do planeta obtivesse a mais perigosa das
armas.
Já se ouviu coisa
semelhante... Há dez anos.
O
chefe Sawers do MI6 modelará sua conduta hoje pela dos predecessores que, há dez
anos, “justificaram” a guerra ao Iraque? Cuidará, por sua vez, de “reformar” a
inteligência, para fazê-la caber na política de EUA/Grã-Bretanha para o Irã?
Cabe ao Parlamento exigir que Sawers se manifeste, antes que o um dia bulldog britânico seja arrastado, feito poodle, para mais uma guerra
desnecessária.
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