12/7/2012, Malik Ayub
Sumbal, Asia Times
Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Malik Ayub Sumbal |
ISLAMABAD.
Dezenas de milhares de ativistas de organizações jihadi banidas chegaram
a Islamabad essa semana, para protestos contra a decisão do governo do Paquistão
de reabrir a rota de suprimentos da OTAN até o Afeganistão.
Uma
coalizão de mais de 40 partidos religiosos, conhecida como Difah-e-Pakistan
Council – Conselho de Defesa do Paquistão [ing. Defense of Pakistan Council
(DOC)] – reuniu-se à frente do Parlamento em Islamabad. Os organizadores da
manifestação falam de 500 mil manifestantes, mas o número real está mais próximo
de 50 mil.
O
protesto está sendo liderado por Hafiz Muhammad Saeed, comandante do
Jamaat-ud-Dawa (JuD), conhecido formalmente como Lashkar-e-Taiba (LeT). O LeT
tem sido acusado de responsável por vários ataques terroristas na Índia, dentre
os quais o ataque, em 2001, contra o Parlamento indiano, e o ataque de novembro
de 2008, em Mumbai. Em abril, os EUA anunciaram recompensa de $10 milhões pela
prisão de Hafiz Saeed, acusado de ser o principal planejador da noite de terror
em Mumbai.
Outro grupo também
banido, Harkat-ul-Mujahideen (HuM), também participa do que o DPC está chamando
de “longa marcha sobre Islamabad”. O HuM é comandado por Maulana Fazlur Rehman
Khalil, um dos cofundadores do grupo militante islamista Harakat-ul-Ansar,
formado no início dos anos 1990 na Índia.
Maulana Fazlur Rehman Khali |
Segundo
a página Global Jihad na internet, “Maulana Fazlur Rehman Khalil foi um
dos cinco co-signatários, com Rifaai Taha, Ayman Al-Zawahiri e Sheikh Mir Hamza,
secretário do grupo Jamiat-ul-Ulema-e-Pakistan, da fatwa que Osama Bin
Laden lançou, dia 23/2/2008”. Intitulada “Frente Islâmica Mundial pela
Jihad contra os Judeus e os Cruzados” [orig. The World Islamic Front
for Jihad against the Jews and Crusaders], essa fatwa é
considerada uma declaração de guerra, pela al-Qaeda, contra as democracias
ocidentais lideradas pelos EUA.
Vários outros
grupos participaram do protesto, entre os quais o Jamaat-i-Islami e o Ahle
Sunnat Wal Jamaat, conhecido antigamente como Sipah-e-Sahaba no Paquistão (SSP).
O SSP é dos mais conhecidos grupos sectários em ação no Paquistão ; esteve
envolvido no massacre de milhares de muçulmanos xiitas nos anos
1990s.
Malik Ishaq, um dos
comandantes da organização (banida) Lashkar-i-Jhangvi, libertado há poucos meses
da prisão de Kot Lakhpat em Lahore, também é alto comandante do DOC e participou
ativamente da “longa marcha”.
Em
novembro, o Paquistão fechou o trecho da estrada afegã da OTAN que cruza
território paquistanês, como retaliação contra ataques de jatos dos EUA que
mataram 24 soldados paquistaneses. Depois de meses de negociações, Islamabad
afinal concordou em reabrir a estrada semana passada, depois de a secretária de
Estado dos EUA Hillary Rodham Clinton ter pedido desculpas formais pelo
assassinato dos soldados.
Rotas de suprimentos dos EUA-OTAN na Asia Central |
O
ministro do Interior do Paquistão Rehman Malik proibiu que as organizações
banidas entrassem em Islamabad e ameaçou prender imediatamente os que
desobedecessem. Mas as forças de segurança não fizeram nenhuma prisão. Críticos
dizem que a ameaça de Malik teve o único objetivo de demonstrar aos EUA e à
comunidade internacional que o governo do Paquistão continuará a manter-se longe
das organizações banidas.
Hamid Gul |
Ex-diretor
geral do serviço secreto paquistanês Inter-Services Intelligence Agency
(ISI), general Hamid Gul, confirmou, em entrevista por telefone a Asia Times
Online que as forças de segurança “não se atreverão” a prender manifestantes
reunidos e liderados por organizações legítimas. Gul falou de Gujranwala na
província Punjab, onde liderava uma parte da longa marcha.
Longo
comboio de carros continua a rodar na direção de Islamabad – disse Gul. Muitos
outros jihadis se reunirão ao comboio em frente ao prédio do Parlamento,
e dizem que de lá não sairão, até que o governo do Paquistão volte a bloquear a
rota pela qual passam suprimentos para a OTAN.
Falando aos
manifestantes reunidos, líderes religiosos têm repetido que, a menos que a
estrada de suprimentos para a OTAN seja fechada, os protestos podem converter-se
em manifestações mais agressivas. O DoC também está convocando para outras
“longas marchas” contra as linhas de suprimento da OTAN, nos dias 16-17 de
julho, de Peshawar até Torkham, ponto de passagem na fronteira com o
Afeganistão.
Fontes confiáveis
confirmaram que militantes ativos no Baloquistão, nas Áreas Tribais sob
Administração Federal e na privíncia Khyber Pakhtunkhwa já planejam ataques
contra qualquer tipo de veículo que conduza suprimentos para a OTAN. Partidos
religiosos também planejam fechar Peshawar e a passagem pelo desfiladeiro
Khyber.
Funcionários e
agentes dizem que vários grupos, também nas agências de inteligência do
Paquistão, apoiam os protestos das organizações banidas, o que é novidade e
indica rejeição às políticas dos EUA também nessas agências.
Rotas de suprimentos EUA-OTAN no Af-Pak congestionadas |
“Se os EUA podem
abrir a porta dos fundos de sua diplomacia, para negociar abertamente com os
Talibã e a al-Qaeda, por que o Paquistão e seus órgãos de inteligência não
poderiam apoiar jihadistas e organizações banidas que lutam pela
sobrevivência do Paquistão como nação soberana?” – disse um alto funcionário de
um dos serviços de inteligência do Paquistão, em entrevista a Asia
Times Online.
“Essa guerra não é
nossa, mas também sofremos duras perdas. Agora, atacam também a soberania do
Paquistão. Nada mais esperem de nós, sobretudo contra quem não é nosso inimigo”
– disse ele. – “Tudo tem limite.”
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