quarta-feira, 11 de julho de 2012

Paquistão: “Cresce a fúria em Islamabad contra a OTAN”


12/7/2012, Malik Ayub Sumbal, Asia Times Online 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

 Malik Ayub Sumbal
ISLAMABAD. Dezenas de milhares de ativistas de organizações jihadi banidas chegaram a Islamabad essa semana, para protestos contra a decisão do governo do Paquistão de reabrir a rota de suprimentos da OTAN até o Afeganistão.

Uma coalizão de mais de 40 partidos religiosos, conhecida como Difah-e-Pakistan Council – Conselho de Defesa do Paquistão [ing. Defense of Pakistan Council (DOC)] – reuniu-se à frente do Parlamento em Islamabad. Os organizadores da manifestação falam de 500 mil manifestantes, mas o número real está mais próximo de 50 mil.

O protesto está sendo liderado por Hafiz Muhammad Saeed, comandante do Jamaat-ud-Dawa (JuD), conhecido formalmente como Lashkar-e-Taiba (LeT). O LeT tem sido acusado de responsável por vários ataques terroristas na Índia, dentre os quais o ataque, em 2001, contra o Parlamento indiano, e o ataque de novembro de 2008, em Mumbai. Em abril, os EUA anunciaram recompensa de $10 milhões pela prisão de Hafiz Saeed, acusado de ser o principal planejador da noite de terror em Mumbai. 

Outro grupo também banido, Harkat-ul-Mujahideen (HuM), também participa do que o DPC está chamando de “longa marcha sobre Islamabad”. O HuM é comandado por Maulana Fazlur Rehman Khalil, um dos cofundadores do grupo militante islamista Harakat-ul-Ansar, formado no início dos anos 1990 na Índia.

Maulana Fazlur
Rehman Khali
Segundo a página Global Jihad na internet, “Maulana Fazlur Rehman Khalil foi um dos cinco co-signatários, com Rifaai Taha, Ayman Al-Zawahiri e Sheikh Mir Hamza, secretário do grupo Jamiat-ul-Ulema-e-Pakistan, da fatwa que Osama Bin Laden lançou, dia 23/2/2008”. Intitulada “Frente Islâmica Mundial pela Jihad contra os Judeus e os Cruzados” [orig. The World Islamic Front for Jihad against the Jews and Crusaders], essa fatwa é considerada uma declaração de guerra, pela al-Qaeda, contra as democracias ocidentais lideradas pelos EUA.

Vários outros grupos participaram do protesto, entre os quais o Jamaat-i-Islami e o Ahle Sunnat Wal Jamaat, conhecido antigamente como Sipah-e-Sahaba no Paquistão (SSP). O SSP é dos mais conhecidos grupos sectários em ação no Paquistão; esteve envolvido no massacre de milhares de muçulmanos xiitas nos anos 1990s.

Malik Ishaq, um dos comandantes da organização (banida) Lashkar-i-Jhangvi, libertado há poucos meses da prisão de Kot Lakhpat em Lahore, também é alto comandante do DOC e participou ativamente da “longa marcha”.

Em novembro, o Paquistão fechou o trecho da estrada afegã da OTAN que cruza território paquistanês, como retaliação contra ataques de jatos dos EUA que mataram 24 soldados paquistaneses. Depois de meses de negociações, Islamabad afinal concordou em reabrir a estrada semana passada, depois de a secretária de Estado dos EUA Hillary Rodham Clinton ter pedido desculpas formais pelo assassinato dos soldados.

Rotas de suprimentos dos EUA-OTAN na Asia Central
O ministro do Interior do Paquistão Rehman Malik proibiu que as organizações banidas entrassem em Islamabad e ameaçou prender imediatamente os que desobedecessem. Mas as forças de segurança não fizeram nenhuma prisão. Críticos dizem que a ameaça de Malik teve o único objetivo de demonstrar aos EUA e à comunidade internacional que o governo do Paquistão continuará a manter-se longe das organizações banidas.

Hamid Gul
Ex-diretor geral do serviço secreto paquistanês Inter-Services Intelligence Agency (ISI), general Hamid Gul, confirmou, em entrevista por telefone a Asia Times Online que as forças de segurança “não se atreverão” a prender manifestantes reunidos e liderados por organizações legítimas. Gul falou de Gujranwala na província Punjab, onde liderava uma parte da longa marcha. 

Longo comboio de carros continua a rodar na direção de Islamabad – disse Gul. Muitos outros jihadis se reunirão ao comboio em frente ao prédio do Parlamento, e dizem que de lá não sairão, até que o governo do Paquistão volte a bloquear a rota pela qual passam suprimentos para a OTAN.

Falando aos manifestantes reunidos, líderes religiosos têm repetido que, a menos que a estrada de suprimentos para a OTAN seja fechada, os protestos podem converter-se em manifestações mais agressivas. O DoC também está convocando para outras “longas marchas” contra as linhas de suprimento da OTAN, nos dias 16-17 de julho, de Peshawar até Torkham, ponto de passagem na fronteira com o Afeganistão.

Fontes confiáveis confirmaram que militantes ativos no Baloquistão, nas Áreas Tribais sob Administração Federal e na privíncia Khyber Pakhtunkhwa já planejam ataques contra qualquer tipo de veículo que conduza suprimentos para a OTAN. Partidos religiosos também planejam fechar Peshawar e a passagem pelo desfiladeiro Khyber.

Funcionários e agentes dizem que vários grupos, também nas agências de inteligência do Paquistão, apoiam os protestos das organizações banidas, o que é novidade e indica rejeição às políticas dos EUA também nessas agências.

Rotas de suprimentos EUA-OTAN no Af-Pak congestionadas
“Se os EUA podem abrir a porta dos fundos de sua diplomacia, para negociar abertamente com os Talibã e a al-Qaeda, por que o Paquistão e seus órgãos de inteligência não poderiam apoiar jihadistas e organizações banidas que lutam pela sobrevivência do Paquistão como nação soberana?” – disse um alto funcionário de um dos serviços de inteligência do Paquistão, em entrevista a Asia Times Online.

“Essa guerra não é nossa, mas também sofremos duras perdas. Agora, atacam também a soberania do Paquistão. Nada mais esperem de nós, sobretudo contra quem não é nosso inimigo” – disse ele. – “Tudo tem limite.” 

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