sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Al-Qaeda, os Talibã e as eleições presidenciais nos EUA


27/9/2012, Bahukutumbi Raman, Eurasia Review
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

B. Raman




B. Raman é Secretário Adjunto (aposentado) do Gabinete de Governo da Índia.
Atualmente é diretor do Instituto para Estudos Tópicos e 
sócio do Chennai Centre For China Studies, Índia.




Al-Qaeda no Waziristão Norte, al-Qaeda na Península Arábica, os Neo-Talibã do Afeganistão e Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP) estão acompanhando de bem perto a campanha eleitoral nos EUA.

Embora tenham elevado o tom da retórica contra o presidente Barack Obama, não estão ainda decididos sobre se seria de seu interesse trabalhar pela derrota de Obama aumentando o número de atos terroristas na região do Af-Pak e na área de Iraque-Síria-Líbia.

É alto o nível de revolta contra Obama em todos esses grupos. Deve-se ao aumento no número de ataques de drones contra a al-Qaeda e os Talibã na área dos Waziristões depois que Obama assumiu a presidência; ao assassinato de Osama bin Laden numa operação especial em Abbottabad na noite de 1-2/5/2011; ao assassinato de Abu Yahya al-Libi, clérigo líbio e mentor religioso da al-Qaeda, num ataque de drones no Waziristão dia 4/6 passado; ao assassinato de Anwar al-Awlaki, líder da al-Qaeda na Península Árabe, cidadão norte-americano de origem iemenita, num ataque de drones no Iêmen em setembro 2011; e a os EUA terem-se recusado a tomar medidas judiciais contra o produtor do filme anti-Islã cuja divulgação disparou uma onda de protestos, alguns violentos, de muçulmanos, em vários países.

A revolta, na al-Qaeda, contra Obama, era visível em duas recentes mensagens da al-Qaeda. Uma vídeo-mensagem de Ayman al-Zawahiri, emir da al-Qaeda, distribuída dia 10/9/2012, referia-se a Obama como mentiroso eleito para “trair” muçulmanos em todo o mundo, o qual, contudo, “está sendo derrotado no Afeganistão”.

Declaração distribuída pela al-Qaeda na Península Arábica depois do ataque ao consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia, dia 11/9/2012, que resultou na morte do embaixador dos EUA na Líbia e de outros três cidadãos norte-americanos, dizia:

O assassinato do Xeique Abu Yahya só aumenta o entusiasmo e a determinação dos filhos de Omar al-Mukhtar (herói da independência da Líbia) para buscar vingança contra os que atacam nosso Profeta. O levante de nosso povo na Líbia, Egito e Iêmen contra os EUA e suas embaixadas é aviso, para alertar os EUA de que a guerra que fazem aqui não é guerra contra grupos ou organizações, mas contra toda a nação islâmica que se rebelou contra a injustiça.

Conclamava a novas manifestações violentas contra embaixadas dos EUA no Oriente Médio e na África; e conclamava muçulmanos no ocidente a atacar interesses dos EUA em seus países de residência. “Que a expulsão de embaixadas e consulados leve à libertar as terras árabes da hegemonia e da arrogância dos EUA” – dizia o texto da declaração. O líder da al-Qaeda na Península Arábica é Nasser al-Wahishi.

Também a al-Qaeda no Paquistão e os neo-Talibã no Afeganistão subiram o tom da retórica contra Obama. Conclamaram para protestos contra o filme norte-americano e têm promovido maior número de atos e demonstrações de violência no Afeganistão e no Paquistão. Mas, simultaneamente, ainda não parecem seguros de que a derrota eleitoral de Obama nos EUA lhes interesse diretamente. Por mais que detestem Obama, ainda não sabem o que esperar de novas políticas de Mitt Romney em questões como ataques de drones, presença maior ou menor de tropas norte-americanas no Afeganistão e a inclusão de elementos moderados dos neo-Talibã num futuro governo em Cabul.

Para eles, Romney é elemento imprevisível, cujos planos sobre a retirada das tropas dos EUA, do Afeganistão, ainda são desconhecidos. Os EUA já completaram a retirada dos soldados “extra” enviados para o Afeganistão na “avançada” [“surge”] ordenada por Obama logo depois de assumir a presidência. Os locais têm motivos para esperar que Obama, se for reeleito, continue a reduzir o número de soldados em campo, o que muito interessa aos Talibã e à al-Qaeda.

Também no caso da al-Qaeda na Península Arábica, que controla as operações da al-Qaeda no Iêmen, Arábia Saudita, Líbia e Síria, a política de “mudança de regime” de Obama, que patrocina intervenções estrangeiras na região, tem-se mostrado útil e ajudado a reforçar as posições do grupo nas áreas conflagradas. Nesse caso, o que o grupo teme é que Obama, se for reeleito, aumente o número de ataques contra a al-Qaeda na Península Arábica, como aumentou contra a al-Qaeda na região do Af-Pak, logo que assumiu pela primeira vez a presidência, em 2009.

Ao mesmo tempo em que têm conclamado a uma intensificação das atividades anti-EUA, todas essas organizações têm evitado atos de revide desproporcional contra cidadãos norte-americanos ou contra interesses norte-americanos, entendendo que atos de revide desproporcional poderiam mover a opinião pública dos EUA contra Obama. Tudo indica que, ao mesmo tempo em que mantêm alto o tom retórico contra Obama, todos esses grupos estejam evitando ações que possam vir a reforçar o voto anti-Obama nos EUA.

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