O ponto de vista do Irã
11/9/2012, Mohammad Farhad
Koleini, Iran Review - “US
Diplomacy vs. Tel Aviv’s Adventurism: Who Is the Final
Winner?”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Mohammad Farhad Koleini foi embaixador do Irã na Armênia e é especialista em
estudos estratégicos
Passados
os recentes esforços do primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, o qual,
parece, empenhava-se em exibir ao mundo retrato de Israel como organização
extremista e aventureirista, e depois que suas posições de hostilidade contra o
Irã foram quase completamente ignoradas pela opinião pública dentro e fora de
Israel, tudo indica que o governo de Netanyahu vê-se a braços com um sentimento
mórbido de ineficácia e baixa credibilidade.
Já
se veem sinais disso até em declarações de funcionários de Israel. Já
reconheceram que ninguém está dando atenção ao que Israel pensa ou diz, e a
indiferença às posições de Telavive já não se limita aos EUA. Apesar de todo o
empenho negativo de Israel, o Irã organizou e realizou com pleno sucesso um dos
maiores encontros internacionais já realizados naquele país. Por sua vez, a
secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton disse recentemente na capital da
Indonésia, Jakarta, que o Irã tem pleno direito de usar energia nuclear para
finalidades pacíficas, enfatizando que se devem empreender todos os esforços
para impedir que o Irã construa armas nucleares.
Assim
sendo, claramente demonstrou ao governo de Israel que de pouco adiantaram seus
esforços contra o Irã, dado que a posição dos EUA sobre o programa nuclear
iraniano não sofreu qualquer mudança essencial.
Relações
Irã-EUA
Segundo
algumas agências ocidentais de notícias, até alguns conselheiros próximos do
primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu já observam que divisões e
disputas graves de opinião dentro do establishment político em Israel, em
torno de ataque militar contra o Irã, podem levar até ao assassinato de altos
membros do governo israelense por forças políticas de oposição interna. Um
membro da alta direção do partido israelense Likud, que governa Israel, fez
explícita referência a essa possibilidade, em recente entrevista ao jornal
Maariv. Disse que, sob as circunstâncias atuais da política e da
sociedade israelense (no que tenha a ver com o Irã) é possível que alguns grupos
considerem medidas irracionais, como o assassinato de líderes israelenses.
Comentou o caso de Yigal Amir, o israelense que assassinou o ex-primeiro
ministro de Israel Yitzhak Rabin, dia 4/11/1995, por entender que, com seu
crime, estaria salvando Israel.
Joe Biden |
Pelo
outro lado, o vice-presidente dos EUA Joseph Biden falou sobre o Irã, ao atacar
o candidato Republicano à presidência, Mitt Romney, em discurso a trabalhadores
brancos em York, Pennsylvania , ainda
recentemente. Biden disse que o projeto de Romney, de fazer guerra contra a
Síria ou o Irã, atrasaria ainda mais a recuperação dos EUA, em momento em que o
país vai, aos poucos, superando uma das recessões econômicas mais graves que os
EUA conheceram. Analistas especialistas interpretaram que o alvo do discurso e
da manifestação de Biden contra novas guerras no Oriente Médio não foi só Mitt
Romney, mas também a cúpula governante em Telavive.
Todas
essas evidências demonstram que os pontos de vista e as posições de EUA e do
regime de Telavive sobre “linhas vermelhas” no campo político absolutamente já
não coincidem; que Telavive e EUA têm posições polarmente opostas sobre dois
conceitos chaves: o “limiar nuclear” e a “capacidade nuclear”.
Os
EUA entendem que a decisão iraniana de obter capacidade nuclear absolutamente
não implica qualquer decisão de construir bombas atômicas. De fato, o ocidente
já adota abordagem escrupulosa, acurada e profissional sobre o Irã “nuclear”,
consequência da firmeza com que o Irã já declarou que não tem qualquer interesse
em construir armas atômicas. De fato, a Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA) também já registra a mesma convicção sobre o programa de energia nuclear
do Irã, e confirmou, em seguidos relatórios, que não constatou qualquer desvio
no programa nuclear iraniano na direção de dar uso militar às competências
nucleares do país.
Por
vários caminhos, o que se vê hoje é que os EUA estão-se distanciando de Israel,
no que tenha a ver com políticas para o Irã. Já se veem notáveis diferenças
entre Washington e Telavive nas avaliações estratégicas sobre o pensamento,
propósitos e desejos do governo do Irã. A abordagem pela qual estão optando os
países ocidentais, especialmente os EUA, na direção de reconhecer a
racionalidade estratégica das decisões políticas iranianas é já muito diferente
da abordagem na qual insiste o governo de Netanyahu – que só parece preocupado,
hoje, em manter vivo seu Gabinete.
A
comunidade de inteligência de Israel já observou, em vários relatórios, que
mudanças geopolíticas na Região implicam graves ameaças ao regime em Israel, e
que deveriam ser preocupação prioritária de Telavive.
Hillary Clinton (E) e Mohammed Mursi (D) |
A
comunidade de inteligência israelense entende também que mudanças na política
externa do Egito, depois das eleições naquele país, e da posse do presidente
Mohamed Mursi, inclinado a construir novo equilíbrio no campo político regional
e internacional, além de uma solução para a questão síria que já começa a
configurar-se no horizonte, podem desencadear movimento de vingança contra
Israel em toda a região. Resultado disso, essas mudanças na região têm sido
repetidamente enumeradas como absolutas prioridades do regime sionista. Os
mesmos especialistas israelenses em segurança regional entendem que, em caso de
conflito que ameace a segurança de Israel, Telavive deve extrair todas as
vantagens possíveis de seu arsenal nuclear secreto – o que capacitaria Israel a
enfrentar qualquer possível ameaça de segurança.
De
fato, esses especialistas ignoram que a realidade em campo pode ser
dramaticamente diferente e levar a condições totalmente diferentes das que
examinam hoje.
O
que realmente se passa dentro da estrutura política israelense é que já
emergiram profundas dissonâncias, fissuras entre a comunidade política, a
opinião pública, a comunidade de inteligência e velhos profissionais da política
partidária em Telavive, sobre a questão do programa nuclear iraniano. Assim
sendo, não se vê ainda no horizonte nem alguma remota possibilidade de consenso,
por simples que seja, sobre a ação a tomar em relação ao Irã. Por isso,
inúmeras reuniões da comunidade de inteligência israelense tem sido simplesmente
canceladas, pouco depois de marcadas. Claro que os funcionários israelenses
informam aos veículos de mídia que os cancelamentos explicam-se porque teria
havido vazamento de informação de inteligência depois de uma daquelas reuniões.
Benyamin Netanyahu (E) e Barack Obama (D) |
A
mesma absoluta falta de consenso em Israel sobre como encaminhar as tratativas
com o Irã explica também porque o regime israelense tanto tem insistido em
lançar ameaças também contra os EUA, ao mesmo tempo em que tenta inverter os
fatos para implementar cenários mais favoráveis a Israel. Hoje, nos EUA, o
candidato Barack Obama já enfrenta campanha contrária, patrocinada diretamente
pelo governo de Netanyahu. O governo dos EUA, evidentemente, já viu e observa
esses movimentos.
O
alto custo de apoiar o regime sionista está convertido em problema real e
imediato para os EUA. Até agora, o problema ainda não está sendo discutido
abertamente, mas nas últimas semanas já se viram em circulação na grande mídia
norte-americana, que começam a discutir os motivos pelos quais, nos EUA, nenhuma
autoridade fala sobre as armas atômicas de Israel. Acredita-se que sejam os
primeiros sinais que Washington vê-se obrigada a dar a Telavive, para que
corrija o rumo de suas declarações e atitudes. Sabe-se que o embaixador dos EUA
em Telavive
Daniel B. Shapiro serviu-se de termos muito claros e duros, em
reunião com funcionários do governo de Israel, para lembrá-los de que Israel tem
de observar regras morais, manter a compostura e respeitar o decoro diplomático.
Além
da questão das principais ameaças que pesam contra Israel, os estudos da
inteligência israelense têm-se dedicado também a analisar as chances de sucesso
num possível ataque israelense que vise a destruir o programa de energia nuclear
iraniano. Sobre isso, os norte-americanos já têm análise feita. Para eles,
Israel não tem capacidade para destruir completamente, em ataque militar, as
instalações do programa nuclear do Irã.
Usina Nuclear subterrânea de Fordow - Irã (Vista aérea - fevereiro de 2011) |
Por
exemplo, considerada a usina nuclear em Fordow, a capacidade militar do regime
sionista é significativamente menor que a requerida para destruir a usina. Assim
sendo, os norte-americanos entendem que qualquer ameaça que o regime sionista
lance contra o Irã não passa de ameaça de propaganda; os EUA sabem que Israel
nada conseguirá contra o Irã, com armas convencionais. Os norte-americanos, eles
sim, já contam com armas de alta capacidade de destruição. Mas são armas
norte-americanas, não israelenses, o que muda completamente a configuração do
problema.
Resultado
desse estado de coisas, estão em curso acalorados debates, não conjuntos, mas
paralelos, dentro do governo sionista e dentro do governo dos EUA, sobre as
possibilidades de sucesso de ataque militar contra o Irã. Nos dois casos,
discutem-se os riscos e os custos desse aventureirismo generalizado.
O
ataque levará a guerra em grande escala, que conflagrará toda a região?
Danificar a capacidade nuclear do Irã é o único ou principal objetivo? E o Irã,
se atacado, será levado a ascender a estágio completamente diferente de resposta
estratégica? São questões graves e sensíveis, que certamente ocupam muitos
agentes profissionais políticos e de inteligência, que sabem que, se atacado, o
Irã retaliará com explicável fúria.
Por
outro lado, outra importante questão é o que pode acontecer depois de um ataque
israelense contra instalações nucleares do Irã.
Os
norte-americanos creem que se Israel atacar, conseguirá, no máximo, retardar o
programa nuclear iraniano; exceto pelo retardamento, o ataque em nada alterará o
programa iraniano. Assim sendo, creem que o regime israelense está queimando
balas de festim, sem nenhum objetivo claro. Resultado disso, questão importante
sobre os debates estratégicos é que estimativas, abordagens e decisões
estratégicas são questões diferentes.
Hoje,
estamos falando sobre estimativas estratégicas com o objetivo final de saber em
que direção se movem as estimativas estratégicas do regime sionista, consideras
as reuniões não noticiadas – e interrompidas – que não chegam a conclusão
alguma, em Israel, nos últimos dias. No presente momento, a comunidade de
inteligência dos EUA tem alta probabilidade de discordar do que Israel deseja; e
Israel tenta usar suas cartas de inteligência e acrescenta informações de
inteligência manipulada na tentativa de modificar as estimativas hoje correntes
e conseguir que o ocidente modifique suas políticas para o Irã.
Parece
que Telavive tenta também conseguir que outros países ocidentais alinhem-se com
os objetivos dos sionistas, para ganhar peso na disputa com o governo dos EUA e
forjar uma nova aliança. O mais provável é que essa posição tenha recebido luz
vez do lobby sionista no Canadá, o que explicaria por que o governo
canadense decidiu repentinamente fechar sua embaixada em Teerã, sem que nada de
novo tenha acontecido entre os dois países que justifique a medida.
Sem
conexão com essa questão, o governo francês também assumiu posição correta
em relação ao Irã.
O ministro de Relações Exteriores da França declarou
oficialmente que um ataque, pelo regime sionista, contra o Irã, seria erro
grave.
Quando
se ouvem essas manifestações de Paris e Washington, ambas na mesma direção,
vê-se que a OTAN não acompanha a conduta de Israel no Oriente Médio. Resultado
disso tudo, ninguém deu atenção às posições sem orientação ou meta clara,
ficcionais, de Israel no Oriente Médio.
Não
só na opinião pública regional, também nos países da região e no plano
internacional, e até na sociedade israelense e entre tradicionais apoiadores de
Israel, o que se vê é uma larga fissura e profundas diferenças quanto à
estratégia a adotar em
relação ao Irã.
Simultaneamente,
alguns especialistas levantaram outra questão: que capacidade teria Israel para
comprometer-se em engajamento militar de longo prazo? Israel suportaria uma
longa guerra, que seria consequência quase inevitável de um possível ataque ao
Irã? Nisso, a maioria dos especialistas coincide.
Dizem
que a primeira preocupação é a capacidade do Irã para reagir, se for atacado; a
maioria dos especialistas reconhecem que é alta a probabilidade de o Irã ter
capacidade militar para retaliar. Mas Israel não teria capacidade de sustentar
ataque prolongado contra o Irã, dado que não tem um terceiro país que lhe
ofereça bases em solo, mas o Irã, sim, pode contar com essas bases.
Não
faz muito, oficiais sírios em Damasco alertaram
Israel contra qualquer tentativa de atacar o Irã. Anunciaram
que a Síria pode usar seu sistema de mísseis, e devolver os sionistas ao ponto
em que estiveram anos atrás, destruindo parte considerável da infraestrutura do
país. Foi o que disse também o líder do Hezbollah libanês, Seyed Hassan
Nasrallah, para o caso de Israel atacar o Irã.
Além
disso, os fatos em campo mostram que Israel não suportaria engajamento militar
sequer de média duração.
Viu-se
claramente, além de qualquer dúvida, nos 22 dias de guerra de Israel contra Gaza
e nos 33 dias de guerra de Israel contra o Líbano, que o poder bélico israelense
é limitado, em condições de combate real.
Seyed Hassan Nasrallah |
Naquelas
duas guerras, o mundo viu que Israel é incapaz de sustentar guerra de mais longa
duração. Por isso, quando Seyed Hassan Nasrallah anunciou que, em qualquer
ataque que Israel venha a tentar no futuro, o Hezbollah, se for novamente
atacado, já não se limitará à guerra de defesa, e empreenderá ação ofensiva,
estava, de fato, enviando mensagem clara e expondo estratégia diferente, para
determinar o campo real de alternativas com as quais Israel deve operar.
Por
tudo isso, é fácil concluir que qualquer aventureirismo do regime sionista, que
implique atacar o Irã, gerará caos generalizado na região. E, dada a quantidade
escandalosa de ameaças e declarações belicosas do regime sionista, Israel será a
principal culpada pelo caos e pela guerra.
O
ocidente já dá sinais de ter entendido corretamente a situação real. É mais que
hora de o ocidente desistir de apenas aconselhar o regime sionista, e cuidar de
regular a conduta do governo de Netanyahu mediante ações tangíveis, práticas.
Entregue às próprias incompetências, é fortemente provável que o regime sionista
arraste toda a região a uma situação cuja reestabilização, recomposição e
controle será muito difícil.
Seja
como for, a questão de ser capaz de envolver-se e sustentar guerra prolongada,
agora ou em futuro mais distante, tem alta significação nos debates de
inteligência e militares, porque ajuda a traçar coordenadas mais realistas e
mais claramente demarcadas para toda a situação.
Assim
consideradas as coisas, todos os países dever-se-ão empenhar em alertar os
líderes sionistas contra as consequências de atacar o Irã.
Não por acaso,
altos especialistas da inteligência do regime sionista já declararam muito
abertamente que está fora de questão qualquer ataque israelense às instalações
nucleares iranianas. Já disseram também que, se atacar o Irã, Israel lamentará
por uma década as consequências do ataque.
(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirO Brasil, quando desce a ladeira, é pra sambar, como lembra a deliciosa canção dos Novos Bahianos.
Com Israel é diferente -- até porque o único grupo de samba de lá, o Samba de Jerusalém, é de esquerda, antissionista e a favor da causa palestina.
O descrédito internacional de Netanyhau, o rato que ruge, e de seus apoiadores sionistas, é visível e crescente. Piorou com as recentes ameaças ao Irã, que vêm sendo contestadas pela maioria dos países que poderiam apoiar Israel em caso de ataque ao país persa -- inclusive os EUA -- e às quais a cúpula dos não alinhados, encerrada em 31 de agosto em Teerã, deu o maior desdém. Os 120 países-membros, além dos 23 observadores, não somente deram apoio ao Irã como fizeram questão de incluir, no documento final, a declaração de que o Irã tem direito a usar a tecnologia nuclear para fins pacíficos, como todo país tem. Por ter assinado o Tratado de Não Proliferação de Armas Atômicas, o Irã comprometeu-se a não fabricá-las. Já Israel, que não assinou o acordo, tem 300 ogivas nucelares prontas para uso, com as quais ameaça o mundo e o obriga, juntamente com a ameaça de castigos financeiros por parte dos sionistas -- donos dos grandes bancos -- a dançar conforme sua música.
Parece que o mundo se cansou MESMO das diatribes dos sionistas, representados pelo Likud e outros partidos sionistas ainda mais à direita.
O artigo acima esclarece outros pontos sobre esse cansaço mundial. Leia também meu artigo "Os EUA cansaram de mimar Israel?" no Brasil de Fato da semana passada, e veja como Israel vem descendo a ladeira, e a descerá até espatifar-se lá embaixo. Insh'Allah!
Baby Siqueira Abrão