(em
inglês em: WikiLeaks
Cablegate o8TRIPOLI374)
Traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
OBS.
Esse telegrama também foi publicado no jornal britânico The Telegraph,
dia 31/1/2011
(em inglês em: “LIBYA’S
NSC SOLICITS U.S. VIEWS ON CIVILIAN NUCLEAR COOPERATION & LETHAL MILITARY
EQUIPMENT SALES”)
____________________
TELEGRAMA
|
08TRIPOLI374
|
Assunto
|
O
Conselho de Segurança Nacional da Líbia (orig. NSC) consulta EUA sobre
colaboração nuclear civil & compra de equipamento militar letal [1]
|
Origem
|
Embaixada
dos EUA
|
Hora do
tel.
|
8/5/2008,
14h TUC [ing. UTC] [2]
|
Classificação
|
SECRETO/VEDADO
A ESTRANGEIROS (S/VE)
|
Fonte
|
|
Tels.
Citados
|
Ref A:
08TRIPOLI340, Ref B: 08TRIPOLI372
|
Citado
em
|
|
_________________
|
|
[outros
detalhes do cabeçalho aqui omitidos]
(S/VE)
Resumo: Alto
funcionário do Conselho de Segurança Nacional da Líbia perguntou o que pensa o
Governo dos EUA [orig.USG] sobre a possibilidade de cooperação nuclear
civil EUA-Líbia e vendas de equipamento militar letal à Líbia. Construir um
reator nuclear para usos pacíficos, principalmente como gerador de energia e
para dessalinização de água, é prioridade chave do Governo da Líbia [orig.
Governo da Líbia] e a Líbia prefere que uma empresa dos EUA ou o Governo
dos EUA forneçam orientação técnica e/ou assumam os esforços de construção. O
funcionário destacou que o Governo da Líbia está ansioso para resolver fatores
políticos bilaterais irritantes consideráveis (acusações relacionadas a
terrorismo em
tribunais dos EUA e a “Lei Lautenberg” [orig. Lautenberg
Amendment [3]],
antes do fim do mandato do atual governo dos EUA [4],
para assegurar maior cooperação e mais atividade comercial dos EUA na Líbia. Não
se sabe com certeza se a consulta ao Governo dos EUA sobre cooperação nuclear
civil e venda de equipamento militar letal ao Governo da Líbia foi plenamente
coordenada com outros elementos do Governo da Líbia. Atenção ao parágrafo 8, em
que essa embaixada solicita orientação. FIM DO RESUMO.
GOVERNO
DA LÍBIA QUER REATOR NUCLEAR PARA FINALIDADES CIVIS
2. (S/VE) Em reunião com o
vice-embaixador [STEVENS
[5]]
dia 7/5, XXX, da unidade de Relações Exteriores e Cooperação Internacional no
Conselho de Segurança Nacional da Líbia [orig. Foreign Liaison and
International Cooperation at Líbia’s National Security Council (NSC)],
perguntou o que pensa o Governo dos EUA sobre a possibilidade de cooperação
civil nuclear entre EUA e Líbia. XXX disse que construir um reator nuclear para
usos pacíficos, para aumentar a geração de energia e para dessalinização de água
é prioridade do Governo da Líbia. Segundo XXX , o Governo da Líbia prefere
fortemente que empresas dos EUA, de comum acordo com o Governo dos EUA, forneçam
orientação técnica e/ou assumam a construção. Se empresas dos EUA e/ou o Governo
dos EUA não estiverem interessados diretamente nesse projeto, o Governo da Líbia
deseja obter garantias de que o Governo dos EUA aprovará que a Líbia abra
concorrência internacional para outros países, para a construção de um reator
civil.
AFIRMAM
QUE A COOPERAÇÃO NUCLEAR COM EUA NÃO CONTRADIZ ESFORÇOS PARALELOS COM FRANÇA E
RÚSSIA
3.
(S/VE) O vice-embaixador [orig. CDA] observou que há notícias na imprensa
de que o Governo da Líbia já assinou acordos de cooperação nuclear civil com a
França, quando da visita do presidente Sarkozy a Trípoli, em julho de 2007, e
com a Rússia, durante visita do presidente Putin em abril. (Atenção : Como já
informamos [ref A], por insistência do Governo da Líbia e Rússia assinaram um
memorando de entendimento em que se comprometem a finalizar um acordo formal de
cooperação nuclear para usos civis, até o final de 2008. O Governo da Líbia
esperava firmar o acordo formal durante a visita de Putin, mas nada estava
oficialmente redigido antes da visita, e a Rússia recusou-se a assinar qualquer
documento sem mais consultas. Contatos russos disseram que o acordo formal – se
tivesse sido assinado – só estabeleceria um quadro geral para cooperação futura
e não visaria/não visa a qualquer projeto específico. Fim da nota.) XXX garantiu
que a cooperação nuclear civil EUA-Líbia complementaria, não contrariaria,
esforços paralelos de França e Líbia. Concedeu que não está plenamente informada
sobre as aspirações nucleares da Líbia; não sabe quantos reatores o Governo da
Líbia prevê construir. Mas reiterou que a dessalinização é objetivo primário.
PEDE
A POSIÇÃO DO GOVERNO DOS EUA SOBRE VENDA DE EQUIPAMENTO MILITAR LETAL
4.
(S/VE) Na sequência, XXX levantou a possibilidade de vendas de equipamentos
militares letais pelos EUA. Observando que a questão já havia sido levantada
durante a visita do secretário-assistente do setor Oriente Próximo [orig.
Near Eastern Affairs, NEA, órgão do Departamento de Estado] David Welch
em agosto de 2007, XXX destacou que “o tempo é curto”, do ponto de vista do
Governo da Líbia. A Líbia entendeu que ainda há questões bilaterais difíceis,
como os graves processos relacionados a terrorismo em tribunais dos EUA , e sabe
que construir confiança exigiu tempo; mas, se “houver outras questões políticas”
que impeçam que os EUA vendam equipamento militar letal para a Líbia, o Governo
da Líbia preferiria saber agora, para seguir outras opções.
O
GOVERNO DA LÍBIA ESTÁ ANSIOSO PARA RESOLVER IMPORTANTES QUESTÕES POLÍTICAS,
ANTES DO FINAL DO ANO
5.
(S/VE) Traçando uma linha de separação entre preocupações sobre potencial
nuclear e cooperação militar, de um lado, e, de outro, qualquer esforço para
chegar a acordo amplo nos processos relacionados a terrorismo nos tribunais dos
EUA, XXX destacou a importância de resolver questões políticas antes do fim do
mandato do atual governo dos EUA, para facilitar maior cooperação bilateral.
Reiterando pontos que já ouvimos antes, XXX observou que empresas
europeias e outras estão pesadamente envolvidas na Líbia; o Governo da Líbia
gostaria de ver mais empresas dos EUA ativas aqui. A Seção 1.083 da Lei de
Defesa Nacional de 2008 (a chamada “Lei Lautenberg”) complicou muito o ambiente
de negócios para empresas dos EUA na Líbia, que enfrentam hoje risco potencial
de encampação.
Manifestando preocupação com o risco de o próximo
governo dos EUA ter posições e ideias diferente4s sobre o reengajamento com a
Líbia, XXX reafirmou a
necessidade de pressa nos esforços para resolver os processos em curso nos EUA e
isentar empresas líbias e norte-americanas de qualquer aplicação da Lei
Lautenberg. XXX solicitou que o vice-chefe da Missão expressasse sua opinião
sobre o Grupo Livingston
[6],
organização lobbyista contratada para promover a reputação da Líbia em
Washington; e consultou sobre o status das negociações propostas nos principais
processos.
6.
(S/VE) No campo da cooperação, XXX propôs continuar e ampliar a troca de
visitantes de renome, ao mesmo tempo em que prosseguem os esforços para resolver
as dificuldades da Lei Lautenberg. Enfatizando nosso acordo com essa abordagem,
o Vice-chefe da Missão [orig. CDA] comentou as dificuldades que a
embaixada encontrara na tentativa de trazer visitantes dos EUA para programas
educacionais e culturais, referindo-se a comentários feitos por funcionários do
Ministério de Relações Exteriores, que declararam essas visitas pouco
recomendáveis porque as relações entre EUA e Líbia não estavam “plenamente
normalizadas” (ref B).
Expressando
surpresa, XXX concordou com informar o Conselheiro de Segurança Nacional,
Muatassim al-Gaddafi, para ver se o Conselho de Segurança Nacional pode ajudar a
aliviar essas dificuldades.
7.
(S/VE) COMENTÁRIO: Embora XXX estivesse claramente em missão para seu patrão,
Muatassim al-Gaddafi, do Conselho de Segurança Nacional, chamou-nos a atenção
que a consulta sobre ideias do Governo dos EUA sobre cooperação nuclear civil e
venda de equipamentos militares letais não tivesse sido mais plenamente
coordenada com outros elementos do Governo da Líbia (os equivalentes do
Ministério da Defesa e de Relações Exteriores, por exemplo) que normalmente são
ouvidos sobre essas questões. Desconfiamos que Muatassim possa estar querendo
explorar os parâmetros de áreas que possa forçar mais para uma cooperação
bilateral expandida. A consulta, mesmo assim, comprova que há expectativa em
alguns setores do Governo da Líbia de que a cooperação bilateral se expandirá
muito rapidamente – inclusive em áreas sensíveis – se se puder chegar a um
acordo amplo para os vários casos de processos relacionados a terrorismo nos
tribunais dos EUA e a Lei Lautenberg. Se se tem em mente o desapontamento do
Governo da Líbia, que esperava que o engajamento fosse aprofundado imediatamente
depois de sua decisão, em dezembro de 2003, de renunciar ao terrorismo e
desistir das Armas de Destruição em Massa, nós teremos de controlar as
expectativas líbias atuais e coordenar cuidadosamente nossa resposta a pedidos
de expansão e cooperação em áreas sensíveis. Fim do comentário.
8.
(S/VE) PEDIDO DE ORIENTAÇÃO: Solicitamos orientação sobre se e como essa
embaixada deve responder a consultas sobre ideias do Governo dos EUA sobre
possível cooperação nuclear civil e vendas de equipamentos militares letais.
FIM. [assina] STEVENS.
Notas dos
tradutores
[1] Orig. Libya's NSC Solicits
U.S. Views On Civilian Nuclear Cooperation & Lethal Military Equipment
Sales.
[2] “Tempo Universal
Coordenado”.
[3] Domestic Violence Offender Gun Ban
é a lei que, na origem, proíbe que pessoas condenadas por prática de
violência doméstica recebam porte de arma. Foi aprovada em 1996; é conhecida
como “emenda (ou lei) Lautenberg”, por ter sido encaminhada e defendida pelo
senador Frank Lautenberg (D-NJ) e sempre enfrentou furiosa resistência das
empresas produtoras de armas em geral e de suas organizações. Adiante, a mesma
lei foi usada para tentar impedir qualquer venda de armas a condenados por
terrorismo (que é o que se considera nessa referência, nesse telegrama.
[4] Em
maio de 2008, o presidente era Bush; Secretária de Estado, Condoleeza Rice.
Obama tomou posse dia 20/1/2009.
[5] Stevens foi vice-embaixador dos
EUA em Trípoli, de 2007
a 2009. Obama nomeou-o embaixador, dia
23/1/2009.
[6] Orig. Livingston
Group.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.