Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
Que
animal político de espécie jamais vista abre asas sobre o espectro geopolítico?
É agressivo com um falcão e suave como uma pomba; saltita como borboleta e
ferroa como abelha. Que estranho ser emplumado é esse falcãopombaborboletabelha (FPBA)?
Tratem
de acostumar-se com ele. O FPBA é nada mais nada menos que o President of the
United States (POTUS), Barack Obama. A pergunta que não quer calar é: e...
voará?
POTUS, em
penas e plumas de FPBA, fez entrada espetacular, ante as delegações de 192
países, na Assembleia Geral da ONU em New
York. O discurso, de 30 minutos, pode ser lido em vários
jornais [1]. Aqui, para facilitar,
em versão periquito: faremos qualquer negócio para impedir que o Irã vire
nuclear. Não abandonaremos os protagonistas da Primavera Árabe. Queremos mudança
de regime na Síria.
“Marte,
temos um problema...”. O Irã não cogita de construir arma nuclear (se cogita,
está longe de poder construí-la) – segundo a Agência Internacional de Energia
Atômica e um rosário de agências de inteligência dos EUA. Autênticos
protagonistas da Primavera Árabe – no Bahrain, dentre outros – já foram
abandonados. E quanto à mudança de regime na Síria, Washington nada conseguirá,
enquanto continuar metida com jihadistas salafistas.
POTUS ( Barack Obama) |
O
FPBA mais uma vez bateu na tecla do “defendendo valores democráticos em todo o
mundo”. O que nunca poderia admitir é que um Oriente Médio “Expandido” que
realmente acompanhe o desejo dos eleitores jamais se submeterá sem luta à visão
de mundo de Washington – sobretudo enquanto Washington continuar a submeter-se
cegamente a qualquer decisão de Israel. O próprio FPBA poderia citar, como bom
exemplo, o novo Egito, presidido agora por presidente da Fraternidade Muçulmana
(FM).
O
FPBA também desafiou o mundo árabe a usar seu “recém alcançado” abraço da
democracia, para proteger a liberdade de religião e de expressão.
O
que o FPBA nunca poderia admitir é que o tal abraço “recém alcançado” só foi
“recém alcançado” depois de 40 anos de pré-abraços tentativos frustrados, que se
espatifaram contra ditadores e petromonarcas patrocinados pelos EUA,
contra o desejo do próprio povo.
Quer
dizer: o FPBA convenientemente apagou, que ondas de árabes não esqueceram
aquelas longas décadas, quando Washington vivia amasiada com autocratas e
ditadores locais. E ainda vive: veja o caso da Arábia Saudita, como referência.
A
morte que desce dos céus
A
equipe de conselheiros pirados do FPBA sabe que política externa não vence
eleições nos EUA. Mas pode ser boa ajuda para perder mais uma.
FPBA (Barack Obama) |
Em
outras palavras, FPBA joga hoje essencialmente na retranca. Com uma ou outra
jogada de lado. Há quatro anos, ainda em estágio de vir-a-ser,
POTUS-Obama fez campanha eleitoral na linha do “Chega de guerras”. Agora,
o FPBA diz que ainda há algum espaço para uma solução diplomática no Irã, mas o
tempo é limitado. Implica não tirar da mesa a opção “mais guerra” – para delícia
do substancioso setor doido-por-guerras, o complexo industrial-militar-segurança
& mídia.
Disse
o FPBA que “Não há palavras que justifiquem a morte de inocentes (...) Não há
vídeo que justifique atacar uma embaixada. Não há massacre que justifique
explodirem um restaurante no Líbano, ou destruirem uma escola em Túnis, ou
causarem morte e destruição no Paquistão”.
Se
o FPBA tivesse lido o recém publicado e devastador relatório das faculdades de
Direito de Stanford e New York
University [2], construído a
partir de longas entrevistas com vítimas e testemunhas da guerra clandestina dos
aviões-robôs, drones, nas áreas tribais do Paquistão, teria visto o
verdadeiro efeito dos “ataques assinados” que o próprio FPBA ordenou, quando
acontece de os alvos serem selecionados por critérios baseados num nebuloso
“padrão de vida”.
Se
o FPBA acha que “nenhum vídeo justifica atacar uma embaixada”, teria de calar o
bico e reverter ao silêncio cósmico, porque nada justifica a matança de mulheres
e crianças pashtuns, de fato, morte norte-americana que nada discrimina e desce
dos céus, operação que aterroriza as 800 mil pessoas que vivem nos Waziristões,
norte e sul. Chance zero de o FPBA falar sobre essa guerra DE terror.
Verdade
seja dita: ele não falou foi sobre coisa alguma, zero, nada. Depois de 30
minutos de falação, sumiu feito falcão, e dedicou zero minutos em encontros
pessoais com líderes estrangeiros.
Voando
feito águia
Bill "Bubba" Clinton |
Cena
altamente contrastante com a aparição flash do FPBA na ONU, acontecia em
outro ponto de Manhattan: Sua Santidade, “Bubba”, Bill Clinton em pessoa, que
apresentava o candidato Republicano, Mitt Romney, apelido “O Robô”, a uma sala
repleta de Democratas, em evento da Clinton
Global Initiative, fulgurante operação de ajuda bipartidária [2a].
O
Robô, pelo menos, teve a elegância de admitir: “Se alguma coisa aprendi nessa
temporada eleitoral, é que algumas palavras de Bill Clinton fazem muito bem a
qualquer homem. Depois dessa introdução, acho que terei de esperar um ou dois
dias, para voltar ao normal”.
"O Robô" |
Não
há normalidade no horóscopo d’O Robô. Ao contrário. Está em viagem de dois dias,
de ônibus, pelo principal estado indeciso, Ohio. Segundo as mais recentes
pesquisas divulgadas pelo Washington Post, o FPBA está à frente
d’O Robô em Ohio, com 8 pontos de vantagem. Se o FPBA se mantiver
em pé em
Ohio e na Flórida – como parece, cada dia mais, que acontecerá
– a luta acabou.
Segundo
Nate Silver, o FPBA tem agora 77,7% de chances de vencer dia 6/11. 2,9% a mais
que na semana passada. [3]
Resta,
como Tom Engelhardt demonstra de forma impecável [4], é o FPBA investir em todos os
tipos de contorcionismos aéreos/retóricos para impedir que o mundo exploda bem
debaixo do seu nariz emplumado, nos próximos 40 dias. Se o mundo não explodir
nesse prazo, então o falcão-pomba-borboleta-abelha se metamorfoseará em águia
careca – ave formidável, que sobrevoará os escombros de um futuro distópico.
__________________
Notas
de rodapé
1.
25/9/2012, íntegra do discurso de Barack Obama na ONU, a seguir, em inglês:
2.
Assista a seguir, em inglês:
2a. Em: “Special
Remarks”, Mitt Romney
3. 25/9/2012, New York Times, Nate Silver, em: “Sept. 24: Deep Red Polling Mystery”.
4.
24/9/2012, redecastorphoto, Tom Engelhardt em: “Romney
já era. Agora é Obama contra o mundo”.
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