3/12/2012, Paul Craig
Roberts – Institute for Political
Economy - IPE
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Paul Craig Roberts |
Há
liberdade quando o governo é controlado pela lei; e a lei, pelos cidadãos. Assim
os pais fundadores dos EUA dispuseram, na Constituição dos EUA. E é a
Constituição que define os EUA. Todos os membros do governo e das Forças Armadas
juram obedecer à Constituição – ninguém jura que obedecerá ao governo, ao
presidente ou a algum partido ou ideologia – e defender a Constituição contra os
inimigos internos e externos.
Hoje,
o que é preciso é defendermos a Constituição, contra os inimigos da Constituição
que vivem dentro do “nosso próprio” governo. Os inimigos externos dos EUA são
minúsculos. Já os inimigos internos, esses, são legiões. São inimigos dos EUA –
com exceção dos ‘vazadores’ de notícias verdadeiras – todos os membros, agentes
e funcionários do governo dos EUA, Executivo, Legislativo (as exceções não
chegam a uma dúzia) e Judiciário (poucas exceções).
Os
três “poderes” do governo dos EUA uniram-se para destruir as liberdades civis
nesse país, em nome de uma mentira, uma invenção: a “guerra ao terror”. Ainda
que os EUA tivessem sido invadidos e fossem controlados por terroristas, que
terroristas conseguiriam causar mais mal aos EUA que o mal que nos faz “nosso
próprio” governo, que destruiu a Constituição dos EUA?
Quem não acredite que a
Constituição dos EUA foi destruída igualmente por Republicanos e Democratas, que
leia o livro que escrevi em coautoria com Lawrence
M. Stratton, The Tyranny Of Good Intentions [A Tirania
das Boas Intenções], e os cinco artigos cujos endereços aí vão, em
nota
[1].
Bradley Manning |
Bradley
Manning, do Exército dos EUA, cumpriu o juramento que fez ao alistar-se, de
respeitar o Código Militar dos EUA, os padrões de Nuremberg definidos pelo
governo dos EUA, tudo o que dispôs o Comandante das Forças Conjuntas do
Estado-Maior durante o governo George W. Bush e, também, que respeitaria a
própria consciência. Manning está sendo acusado de ter entregue a WikiLeaks o
vídeo em que se veem militares dos EUA assassinando dois jornalistas e uma dúzia
de inocentes que andam por uma rua. O vídeo pode (e deve) ser visto a seguir:
Depois
do assassinato dessas pessoas por soldados norte-americanos que jogavam vídeo
game com seres humanos vivos, um pai e duas crianças pararam a van em que
viajavam para ajudar os sobreviventes que agonizavam na rua. Os soldados
norte-americanos, movidos por sede de sangue, por incompetência ou pela própria
imensa maldade, assassinaram também o pai, e meteram duas balas de grosso
calibre no corpo das duas criancinhas.
Os
assassinos culparam o pai por trazer crianças para a zona de combate criada pela
incompetência, pela perversão ou pela maldade essencial dos soldados dos EUA, os
quais certamente ganham pontos por assassinar gente. Disseram que câmeras de
televisão foram tomadas por armas, o que justificaria o assassinato de 15
pessoas.
Em
seguida, algumas pessoas desarmadas, como se vê claramente no vídeo, entram em
um prédio.
Os
soldados dos EUA decidiram que aquelas pessoas desarmadas portavam armas e
mandaram três mísseis Hellfire contra
o prédio. Os soldados dos EUA então concluem o relatório, informando que todos
os “alvos” foram mortos.
Qualquer
cidadão norte-americano decente que assista a esse vídeo, terá ímpetos de
divulgá-lo. Se Manning entregou o vídeo a Wikeleaks, Manning é o melhor
norte-americano vivo, o mais moralmente digno e decente. E o que a consciência
moral está custando a Manning?
Até
aqui, já custou a Manning 900 dias de prisão ilegal, incomunicável, por ordem do
governo dos EUA. O governo do presidente John F. Kennedy durou 1.000 dias.
Manning foi mantido preso e torturado por praticamente tanto tempo quando durou,
por aqui, inteiro, o sonho de Camelot.
E
o governo dos EUA escapou dessa, sem qualquer condenação. Os norte-americanos
não dão a mínima. Não é com eles. São estúpidos demais para entender que, uma
vez atropelada a lei, o próximo atropelado pode ser qualquer um deles.
Em
sua sanha para punir Manning, militares e civis norte-americanos não conseguem
entender que a lição que resta, aprendida pelos soldados, é que crimes contra a
humanidade não serão punidos; mas quem revele os crimes, sim, esses, serão
castigados.
Dia
29 de novembro, Bradley Manning depôs num tribunal federal sobre o confinamento
ilegal e a tortura que lhe foram impostos pelo governo dos EUA. O depoimento de
Manning não foi assunto na imprensa-empresa dos EUA. O New York Times,
nas palavras de Chris Floyd, “contentou-se com um resumo de telegrama copiado da
AP, enterrado no fundo da página 3” .
O
The Guardian britânico cobriu em detalhes o depoimento de Manning, em
duas matérias de 68 parágrafos. A opinião pública britânica está informada sobre
os crimes contra a humanidade cometidos pelo governo dos EUA e sobre as
violações da lei internacional e da lei norte-americana; os norte-americanos não
sabem de nada.
P. J. Crowley |
Investigação
formal conduzida pela ONU, para conhecer detalhes do tratamento ilegal, brutal e
desumano a que foi submetido Bradley Manning descobriu o que já se sabe: que o
governo dos EUA deu tratamento “cruel de desumano” a um de seus melhores
soldados. O porta-voz do Departamento de Estado, coronel P.J. Crowley,
demitiu-se publicamente, como protesto contra o tratamento que o governo dos EUA
deu a Manning.
A
imprensa-empresa, a mídia presstituta, manteve-se calada. [NR: a mídia
brasileira, não menos presstituta,
também].
Glenn
Greenwald, advogado constitucionalista, concluiu que:
“...os
jornalistas do establishment
norte-americano facilitaram, ao governo, cada passo dessa trajetória. A mídia
presstituta
autoapresenta-se como agente vigilante, mas nada irrita mais esses “jornalistas”
que alguém que realmente desafie os atos do poder”.
Greenwald
elogia Bradley Manning, que:
“...prestou
ao mundo tantos serviços vitalmente importantes. Mas, quando a corte marcial que
o julgar chegar afinal à sentença, que provavelmente será sentença de muitos
anos de cadeia, afinal se entenderá que o maior serviço que Manning prestou ao
seu país e ao mundo foi escancarar essa janela pela qual é possível ver,
diretamente, a alma política dos EUA”.
E
o que se vê por essa janela, da alma política dos EUA, é o mal, total mal. O
governo dos EUA é o Povo Eleito de Satã. Só isso, absolutamente mais nada, se
pode dizer de quem nos governa, tortura e oprime.
[1] Artigos recomendados (em inglês)
- 1/12/2012, Information Clearing House, Glenn Greenwald em: “Bradley Manning: A Tale Of Liberty Lost In America”
- 2/12/2012, Information
Clearing House, Glenn Greenwald em: “Bradley
Manning: Prisoners of Conscience - NYT and AP Launch Operation
Amnesia”
- 2/12/2012, Information Clearing House, Travis Holte em: “The Government Can Still Black Bag Any American”
- 01/12/2012, Information Clearing House, RT em “Treated Like ‘a Caged Animal’: Manning Breaks Silence in WikiLeaks Hearing”
- 29/11/2012, Democracy Now, em: “EXCLUSIVE: Julian Assange on WikiLeaks, Bradley Manning, Cypherpunks, Surveillance State”. Vídeo a seguir:
- 2/12/2012, Information
Clearing House, Russia Today, em:
“NSA
Whistleblower: Everyone in US Under Virtual Surveillance, All Info
Stored” - Vídeo a seguir:
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