13/12/2012, Pepe Escobar,
Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido e musicado pelo pessoal
da Vila Vudu
Para ler ao som
de “It’s only rock’roll, but I like
it” [É só rock’n roll, mas eu gosto],
dos Rolling Stones [com Tina Turner – por que não? – em 23/3/1988, (NTs)]
dos Rolling Stones [com Tina Turner – por que não? – em 23/3/1988, (NTs)]
Pepe Escobar |
Nessa
2ª-feira, a União Europeia (EU) recebeu, em Oslo, o Prêmio Nobel da Paz, por
promover a paz, a reconciliação, a democracia e os direitos humanos.
Que
emocionante. Observem o elenco selecionado para receber a honraria: o
espetacularmente inútil Herman van Rompuy (presidente do Conselho Europeu); o
espetacularmente medíocre Jose Manuel Barroso (presidente da Comissão Europeia);
e Martin Schulz, essa não entidade, presidente do Parlamento Europeu. Os Rolling
Stones podem estar geriátricos, mas, pelo menos, sabem comandar a massa.
Barroso
falou feito pudim de vinho do Douro; disse que a União Europeia é “poderosa
inspiração para muitos em todo o mundo”. Ora bolas! O caso de amor que as massas
chinesas vivem hoje com Audi e Prada não é inspirado exatamente pela União
Europeia. Disse também que a União Europeia é produto “do livre consenso dos
estados para partilhar a soberania”. Ora bolas! Os britânicos estão tão
entusiasmados com a tal partilha, que a vasta maioria da população quer pular
fora.
José Manuel Barroso |
Mas
Barroso argumentou bem, ao defender o euro: “Vamos defender o euro”.
O
que os noruegueses – os quais, espertamente, não se deixaram arrastar para a
União Europeia – fizeram foi entregar um Prêmio Nobel ao (desvalorizado,
detonado) Euro. Movimento de Relações Públicas. Afinal, não há dois membros da
União Europeia que concordem, numa linha, que seja, sobre impostos, regulação
para o turbocapitalismo, ou sobre o
que fazer de uma Grécia falida, nem de todos os países do “Clube Med” que logo
também estarão falidos; ou sobre o que estão fazendo, de verdade, aqueles
soturnos sujeitos do Banco Central Europeu.
Verdade
é que poucos, exceto a legião de burocratas de Bruxelas, com gordos cartões para
despesas, sabe para que serve, diabos, a União Europeia, além de servir para
almoçar em Paris e jantar em Parma sem precisar carregar o passaporte (oh, sim,
o que salva a União Europeia é a gastronomia fabulosa, pelo menos para os que
possam pagar).
A
União Europeia existe, basicamente, por causa do artigo 3º do Tratado de Lisboa;
espera-se que seja “economia social de mercado altamente competitiva”,
negociando em euros.
Sim , você tem todo o direito de continuar intrigado – porque
qualquer exame das manchetes recentes revela que esse esquema não está
funcionando. O esquema é comandado por uma casta de tecnocratas viciados em
“ajustes estruturais” que condenam dúzias de milhões ao fundo do poço da
austeridade. Como se aqueles burocratas de Bruxelas dissessem “Vocês estão ou
conosco – com o euro – ou contra nós (e, nesse caso, é guerra). O caso é que a
guerra econômica – contra cidadãos europeus – já ruge.
It's
only rock'n war... /
É só gritaria e guerra...
A
política externa da União Europeia também pode não passar de piada, 27 galinhas
degoladas atirando a esmo (e umas contra as outras) contra tudo, da Palestina à
admissão da Turquia. Mas se há coisa que a União Europeia faz bem feito é
produzir, pôr no mercado e vender armas a todos os envolvidos no business da guerra.
O
jornal Asia Times Online confirmou, de fonte independente (dois
diplomatas com base na EU) que os EUA – pelo seu braço armado dominado pelos
EUA, a OTAN – estão prontos para mais uma guerra, na Síria. Confirma-se assim
matéria recente, nessa linha, publicada no diário alemão Suddeutsche Zeitung (Moon
of Alabama oferece boa
tradução ao inglês).
Anders Fogh Rasmussen |
Os
diplomatas confirmaram ao jornal
ATol, que o secretário-geral da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) – o espetacularmente medíocre Anders Fogh Rasmussen –
comicha, de tanto que quer guerra na Síria, envolto na retórica de “a OTAN não
deve enterrar a cabeça na areia”.
Para
recitar suas linhas diretamente de Washington, Rasmussen conta com forte apoio
da Turquia, Grã-Bretanha e França, com a Alemanha apanhada em posição
extremamente ambivalente: o ministro alemão de Relações Exteriores, Guido
Westerwelle descartou a guerra, em favor de uma solução política.
Uma
coisa é um ataque de comichão a favor da guerra; acertar o negócio é outra. Até
a diretiva geral para que a OTAN comece o espetáculo na Síria tem de ser
aprovada por todos os 28 países da OTAN. Seja como for, o esqueleto do negócio é
o seguinte: Washington mantém a ordem dada ao seu fantoche dinamarquês Rasmussen
para que prossiga no serviço de preparar o caminho da guerra, por todos os meios
necessários.
Bem-vindos
à Síria, nova Líbia 2.0 – apesar de não haver jeito de Washington usar mais uma
vez a conversa fiada da Responsabilidade para Proteger [orig. Responsibility to Protect (R2P) no Conselho de Segurança da ONU.
Angela Merkel |
É,
Bruxelas, temos um problema. Tudo acontece no momento em que mísseis Patriots são deslocados para a fronteira
turca, com 400 soldados alemães. A opinião pública alemã não quer outra guerra
no mundo muçulmano. Em 2013, haverá eleições na Alemanha. Nem Angela Merkel nem
Westerwelle são suicidas.
A
conversa sobre os mísseis Patriots –
que “protegerão” a Turquia contra mísseis a serem lançados da Síria – saiu, sem
tirar nem pôr, do Manual de Uso de Armas de Enganação em Massa. Frederick Ben
Hodges, chefe do recém inventado Comando dos Aliados em Terra da OTAN [orig.
Allied Land Command], com base em Izmir, Turquia, contou à agência de notícias
da Anatolia que os Patriots lá
estarão para conter os mísseis químicos da Síria.
Como
se Bashar al-Assad, tanto quanto
Frau Merkel, fosse doido
suicida. Os únicos que realmente acreditam na invenção de propaganda instigada
pela inteligência em Washington – segundo a qual Damasco “pode” usar armas
químicas como último recurso é o cãozinho-de-madame, Rasmussen, e o clube
britânico-franco-turco de mediocridades políticas. Nada faz crer que a
propaganda da OTAN assuste o governo sírio.
Recep Tayyip Erdogan |
Quanto
ao espetacularmente errático primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, fez
pleno sentido em, pelo menos, uma coisa: é como uma febre, uma doença; o homem
só pensa em zona aérea de exclusão. Mesmo que a opinião pública turca não queira
guerra, nada cura Erdogan da tal doença. A máquina de propaganda de EUA/OTAN
tentou de tudo: de suborno a hordas de funcionários em Damasco, até culpar Assad
por mini-holocaustos semanais. Nada funcionou.
Os
chamados “rebeldes” – infestados de jihadistas-salafistas – só “controlam” áreas
rurais; pequenos enclaves de maioria sunita ou favelas em torno das grandes
cidades. Há cerca de 40 mil combatentes nos subúrbios de Damasco; podem estar
caminhando para cair diretamente numa monstruosa armadilha montada pelo Exército
Sírio.
Deve-se,
portanto, esperar que o dito “fator decisivo” tenha de fazer hora extra. Até que
o medo das tais armas químicas leve – como tantos querem? – à zona aérea de
exclusão, buscada como se fosse o Santo Graal.
...But
I like it /...
Mas eu gosto
Esqueçam
o sempre propagandeado Exército Sírio Livre [orig. Free Syrian Army (FSA)] “pró-democracia”. Não
passa de gangue financiada e logisticamente apoiada e organizada por EUA, OTAN e
as petromonarquias do Golfo Pérsico, exemplares de boa democracia; totalmente
infiltrado por jihadistas linha duríssima, sírios, líbios e iraquianos, que
matam civis indiscriminadamente, em nome da União Europeia, laureada com o
Prêmio Nobel da Paz e ardente defensora de direitos humanos.
Mas
não desistem. Sob o olhar vigilante dos EUA e do Clube CCGOTAN (Conselho de
Cooperação do Golfo e OTAN), rebeldes de alto escalão reuniram-se na Turquia na
6ª-feira passada, para eleger um “comando unificado de 30 membros”. Como é fácil
adivinhar, todos os 30 membros são ligados ou aos salafistas ou à Fraternidade
Muçulmana (FM); dos comandantes islamistas Jamal Marouf e Ahmad al-Issa, ao
ícone salafista coronel Abdelbasset al-Tawil. Os dois cabeças de Aleppo são –
claro! – salafistas. Tradução: exatamente os mesmos que o Departamento de Estado
(ainda) não redefiniu como “terroristas”.
O modus operandi genérico deve ser expandido: mais armas
financiadas por europeus para as gangues de jihadis-salafistas assassinos. A
França está fazendo chover euros sobre eles, a partir da fronteira turca. Na
quarta-feira, 12/12, os “Amigos da Síria” reúnem-se novamente em Marrakesh,
Marrocos, já pesadamente tendentes a votar com o núcleo “queremos guerra” do
Clube CCGOTAN.
Noruegueses,
vocês nada têm a perder, senão o senso do ridículo – se já não se foi, de vez,
também ele.
Afinal,
se uma União Europeia em ruínas, moeda em ruínas e tudo, pode meter na mala o
Prêmio Nobel da Paz de vocês... é hora, já, de entregar um Prêmio Nobel da
Guerra à OTAN, que nada faz além de guerra.
Rasmussen
não é nenhum Mick Jagger, mas já baba de vontade de guerra. É só gritaria e
guerra, mas ele gosta.
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